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VERSO 27

athābhaje tvākhila-pūruṣottamaṁ
guṇālayaṁ padma-kareva lālasaḥ
apy āvayor eka-pati-spṛdhoḥ kalir
na syāt kṛta-tvac-caraṇaika-tānayoḥ

atha — portanto; ābhaje — eu me ocuparei em serviço devocional; tvā — a Vós; akhila — onipenetrante; pūruṣa-uttamam — a Suprema Personalidade de Deus; guṇa-ālayam — o reservatório de todas as qualidades transcendentais; padma-karā — a deusa da fortuna, que porta uma flor de lótus em sua mão; iva — como; lālasaḥ — estando dese­joso; api — de fato; āvayoḥ — de Lakṣmī e eu; eka-pati — um único amo; spṛdhoḥ — competindo; kaliḥ — desavença; na — não; syāt­ — ocorra; kṛta — tendo feito; tvat-caraṇa — a Vossos pés de lótus; eka-tānayoḥ — uma atenção.

Agora, desejo ocupar-me a serviço dos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus e quero servir assim como a deusa da fortuna, que porta uma flor de lótus em sua mão, porque Vossa Oni­potência, a Suprema Personalidade de Deus, é o reservatório de todas as qualidades transcendentais. Temo que a deusa da fortuna e eu possamos nos desentender, pois ambos estaremos atentamente ocu­pados no mesmo serviço.

SIGNIFICADO—Nesta passagem, o Senhor é chamado de akhila-pūruṣottama, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor de toda a criação. Puruṣa significa “o desfrutador”, e uttama, “o melhor”. Há diferentes classes de puruṣas, ou desfrutadores, dentro do universo. De um modo geral, pode-se dividi-los em três classes – os condicionados, os liberados e os eternos. Nos Vedas, o Senhor Supremo é chamado de o eterno supremo de todos os eternos (nityo nityānām). Tanto a Suprema Personalidade de Deus quanto as entidades vivas são eternas. Os eternos supremos são os viṣṇu-tattvas, ou seja, o Senhor Viṣṇu e Suas expansões. Assim, nitya se refere à Personalidade de Deus, desde Kṛṣṇa até Mahā-Viṣṇu, Nārāyaṇa e outras expansões do Senhor Kṛṣṇa. Como se afirma na Brahma-saṁhitā (rāmādi­-mūrtiṣu), existem milhões e trilhões de expansões do Senhor Viṣṇu, tais como Rāma, Nṛsiṁha, Varāha e outras encarnações. Todas elas são chamadas de eternas.

A palavra mukta refere-se às entidades vivas que jamais descem a este mundo material. Baddhas são as entidades vivas que estão vi­vendo quase eternamente dentro deste mundo material. As baddhas estão lutando arduamente neste mundo material para livrar-se das três espécies de sofrimentos da natureza material e gozar da vida, ao passo que as muktas já são liberadas. Elas não vêm jamais a este mundo material. O Senhor Viṣṇu é o amo deste mundo material, não sendo possível que a natureza material O controle. Consequen­temente, o Senhor Viṣṇu é chamado aqui de pūruṣottama, a melhor de todas as entidades vivas – a saber, viṣṇu-tattvas e jīva-tattvas. É uma grande ofensa, portanto, comparar o Senhor Viṣṇu ao jīva-­tattva ou considerá-los em nível de igualdade. Os filósofos māyāvādīs igualam as jīvas e o Senhor Supremo e os consideram a mesma coisa, mas essa é a maior das ofensas aos pés de lótus do Senhor Viṣṇu.

Aqui no mundo material, temos experiência prática de que uma pessoa superior é adorada por uma inferior. Do mesmo modo, pūruṣottama, o maior, a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, ou o Senhor Viṣṇu, é sempre adorado pelos outros. Portanto, Pṛthu Mahārāja decidiu ocupar-se a serviço dos pés de lótus do Senhor Viṣṇu. Pṛthu Mahārāja é considerado uma encarnação do Senhor Viṣṇu, mas é chamado de encarnação śaktyāveśa. Outra palavra significativa neste verso é guṇālayam, que se refere a Viṣṇu como o reservatório de todas as qualidades transcendentais. Os filó­sofos māyāvādīs aceitam a Verdade Absoluta como nirguṇa (“sem qualidades”), de acordo com o ponto de vista impersonalista, mas, na verdade, o Senhor é o reservatório de todas as boas qualidades. Uma das qualidades mais importantes do Senhor é Sua inclinação a Seus devotos, pela qual Ele é chamado de bhakta-vatsala. Os devo­tos sentem-se sempre muito inclinados a prestar serviço aos pés de lótus do Senhor, e o Senhor também Se sente muito inclinado a aceitar o serviço amoroso de Seus devotos. Nessa reciprocidade de serviço, há muitas trocas transcendentais, que são chamadas de atividades qualitativas transcendentais. Algumas das qualidades transcenden­tais do Senhor são que Ele é onisciente, onipresente, onipenetrante, todo-poderoso, a causa de todas as causas, a Verdade Absoluta, o reservatório de todos os prazeres, o reservatório de todo o conheci­mento, o todo-auspicioso e assim por diante.

Pṛthu Mahārāja desejou servir ao Senhor com a deusa da for­tuna, mas esse desejo não significa que ele estava situado na plata­forma de mādhurya-rasa. A deusa da fortuna dedica-se a servir ao Senhor na rasa de mādhurya, amor conjugal. Embora ela tenha sua posição sobre o peito do Senhor, a deusa da fortuna, em sua posição como devota, sente prazer em servir aos pés de lótus do Senhor. Pṛthu Mahārāja estava pensando somente nos pés de lótus do Senhor porque sua plataforma é de dāsya-rasa, ou serviço ao Senhor. Com o verso seguinte, aprenderemos que Pṛthu Mahārāja estava pensando na deusa da fortuna como a mãe universal, jagan­-mātā. Consequentemente, não havia possibilidade de ele competir com ela na plataforma de mādhurya-rasa. Não obstante, ele temia que ela pudesse sentir-se ofendida pelo fato de ele se ocupar a serviço do Senhor. Isso sugere que, no mundo absoluto, às vezes há competição entre servos no serviço ao Senhor, mas semelhante competição é sem malícia. Nos mundos Vaikuṇṭha, se um devoto sobressai em seu serviço ao Senhor, os outros devotos não ficam invejosos de seu excelente serviço, senão que, ao contrário, aspiram chegar à plataforma daquele serviço.

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