VERSO 12
sarvatrāskhalitādeśaḥ
sapta-dvīpaika-daṇḍa-dhṛk
anyatra brāhmaṇa-kulād
anyatrācyuta-gotrataḥ
sarvatra — toda parte; askhalita — irrevogável; ādeśaḥ — ordem; sapta-dvīpa — sete ilhas; eka — um; daṇḍa-dhṛk — o governante que porta o cetro; anyatra — exceto; brāhmaṇa-kulāt — brāhmaṇas e pessoas santas; anyatra — exceto; acyuta-gotrataḥ — descendentes da Suprema Personalidade de Deus (vaiṣṇavas).
Mahārāja Pṛthu era um rei irrivalizável e possuía o cetro para governar todas as sete ilhas na superfície do globo. Ninguém podia desobedecer às suas ordens irrevogáveis, exceto as pessoas santas, os brāhmaṇas e os descendentes da Suprema Personalidade de Deus [os vaiṣṇavas].
SIGNIFICADO—Sapta-dvīpa refere-se às sete grandes ilhas, ou continentes, na superfície do globo: (1) Ásia, (2) Europa, (3) África, (4) América do Norte, (5) América do Sul, (6) Austrália e (7) Oceania. Na era moderna, as pessoas têm a impressão de que, durante o período védico ou as eras pré-históricas, os Estados Unidos e muitas outras partes do mundo não haviam sido descobertos, mas isso não é verdade. Pṛthu Mahārāja governou o mundo inteiro milhares de anos antes da dita era pré-histórica, e aqui se menciona claramente que, naqueles dias, todas as diferentes partes do mundo eram, não somente conhecidas, mas também governadas por um só rei, Mahārāja Pṛthu. O país onde Pṛthu Mahārāja residia deve ter sido a Índia, porque se afirma no décimo primeiro verso deste capítulo que ele vivia no trecho de terra entre os rios Ganges e Yamunā. Este trecho de terra, que se chama Brahmāvarta, consiste naquilo que é conhecido na era moderna como as regiões do Punjab e do norte da Índia. Fica evidente que os reis da Índia outrora governaram todo o mundo e que sua cultura era védica.
A palavra askhalita indica que ninguém em todo o mundo podia desobedecer às ordens do rei. Semelhantes ordens, contudo, nunca eram dadas com o intento de controlar pessoas santas ou os descendentes da Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu. O Senhor Supremo é conhecido como Acyuta, e o Senhor Kṛṣṇa é chamado assim por Arjuna na Bhagavad-gītā (senayor ubhayor madhye rathaṁ sthāpaya me ’cyuta). Acyuta se refere àquele que não cai por nunca ser influenciado pelos modos da natureza material. Ao cair de sua posição original para o mundo material, a entidade viva se torna cyuta, o que significa que ela se esquece de sua relação com Acyuta. Na verdade, toda entidade viva é parte integrante, ou filha, da Suprema Personalidade de Deus. Ao ser influenciada pelos modos da natureza material, a entidade viva se esquece dessa relação e pensa em termos de diferentes espécies de vida; porém, quando retorna à sua consciência original, ela não observa tais designações corpóreas. Indica-se isso na Bhagavad-gītā (5.18) através das palavras paṇḍitāḥ sama-darśinaḥ.
As designações materiais criam diferenciação em termos de casta, cor, credo, nacionalidade etc. Diferentes gotras, ou designações familiares, são distinções em termos do corpo material, mas quem atinge a consciência de Kṛṣṇa se torna de imediato um dos Acyuta-gotras, ou descendentes da Suprema Personalidade de Deus, e assim se torna transcendental a todas as considerações de casta, credo, cor e nacionalidade.
Pṛthu Mahārāja não tinha controle sobre brāhmaṇa-kula, que se refere aos estudiosos eruditos no conhecimento védico, nem sobre os vaiṣṇavas, que estão acima das considerações do conhecimento védico. Portanto, afirma-se:
arcye viṣṇau śilā-dhīr guruṣu nara-matir vaiṣṇave jāti-buddhir
viṣṇor vā vaiṣṇavānāṁ kali-mala-mathane pāda-tīrthe ’mbu-buddhiḥ
śrī-viṣṇor nāmni mantre sakala-kaluṣa-he śabda-sāmānya-buddhir
viṣṇau sarveśvareśe tad-itara-sama-dhīr yasya vā nārakī saḥ
“Pensar que a Deidade no templo é feita de madeira ou pedra, pensar que o mestre espiritual na sucessão discipular é um homem comum, pensar que o vaiṣṇava no Acyuta-gotra pertence a determinada casta ou determinado credo ou pensar que o caraṇāmṛta ou a água do Ganges são águas comuns – estas são características de um habitante do inferno.” (Padma Purāṇa)
A partir dos fatos apresentados neste verso, parece que a população em geral deve ser controlada por um rei até que chegue à plataforma de vaiṣṇavas ou brāhmaṇas, que não estão sob o controle de ninguém. Brāhmaṇa se refere àquele que conhece o Brahman, ou o aspecto impessoal da Verdade Absoluta, e o vaiṣṇava é aquele que serve à Suprema Personalidade de Deus.