VERSO 42
rājovāca
kṛto me ’nugrahaḥ pūrvaṁ
hariṇārtānukampinā
tam āpādayituṁ brahman
bhagavan yūyam āgatāḥ
rājā uvāca — o rei disse; kṛtaḥ — feita; me — a mim; anugrahaḥ — misericórdia imotivada; pūrvam — anteriormente; hariṇā — pela Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu; ārta-anukampinā — compassivo com as pessoas aflitas; tam — isto; āpādayitum — para confirmá-lo; brahman — ó brāhmaṇa; bhagavan — ó poderoso; yūyam — todos vós; āgatāḥ — chegastes aqui.
O rei disse: Ó brāhmaṇa, ó poderoso, anteriormente o Senhor Viṣṇu me concedeu Sua misericórdia imotivada, indicando que viríeis à minha casa, e, para confirmar essa bênção, todos vós viestes.
SIGNIFICADO—Quando o Senhor Viṣṇu apareceu na grande arena de sacrifício no momento em que o rei Pṛthu realizava um grande sacrifício (aśvamedha), Ele predisse que, dentro em breve, os Kumāras viriam e dariam conselhos ao rei. Portanto, Pṛthu Mahārāja lembrou-se da misericórdia imotivada do Senhor e, dessa maneira, deu boas-vindas à chegada dos Kumāras, que estavam cumprindo a predição do Senhor. Em outras palavras, quando o Senhor faz uma predição, Ele cumpre essa predição através de algum de Seus devotos. Do mesmo modo, o Senhor Caitanya Mahāprabhu predisse que tanto Seus gloriosos nomes quanto o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa seriam difundidos em todas as cidades e vilas do mundo. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura e Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda desejam cumprir esta grande predição, e nós estamos seguindo seus passos.
Com respeito a Seus devotos, o Senhor Kṛṣṇa disse a Arjuna que kaunteya pratijānīhi na me bhaktaḥ praṇaśyati: “Ó filho de Kuntī, declara audaciosamente que Meu devoto jamais perecerá.” (Bhagavad-gītā 9.31) A ideia é que o próprio Senhor poderia fazer tais declarações, mas era Seu desejo fazê-las através de Arjuna e assim certificar-Se duplamente de que Sua promessa jamais seria quebrada. O próprio Senhor promete, e Seus devotos íntimos cumprem a promessa. O Senhor faz muitas promessas para o benefício da humanidade sofredora. Embora o Senhor seja muito compassivo com a humanidade sofredora, os seres humanos, de um modo geral, não se revelam muito ansiosos por servi-lO. Podemos comparar essa atitude com a relação que existe entre o pai e o filho; o pai está sempre ansioso acerca do bem-estar do filho, muito embora o filho esqueça ou despreze o pai. A palavra anukampinā é significativa; o Senhor é tão compassivo com as entidades vivas que Ele próprio vem a este mundo para beneficiar as almas caídas.
yadā yadā hi dharmasya
glānir bhavati bhārata
abhyutthānam adharmasya
tadātmānaṁ sṛjāmy aham
“Sempre e onde quer que haja um declínio da prática religiosa, ó descendente de Bharata, e um aumento predominante da irreligião –, nesse momento, Eu próprio desço.” (Bhagavad-gītā 4.7)
Assim, é por compaixão que o Senhor aparece sob Suas diferentes formas. O Senhor Śrī Kṛṣṇa apareceu neste planeta por compaixão pelas almas caídas, o senhor Buddha apareceu por compaixão pelos pobres animais que estavam sendo mortos pelos demônios, o Senhor Nṛsiṁhadeva apareceu por compaixão por Prahlāda Mahārāja. Concluindo, o Senhor é tão compassivo com as almas caídas neste mundo material que Ele próprio vem ou envia Seus devotos e Seus servos para cumprir Seu desejo de que todas as almas caídas voltem ao lar, voltem ao Supremo. Deste modo, o Senhor Śrī Kṛṣṇa ensinou a Bhagavad-gītā a Arjuna para o benefício de toda a sociedade humana. Os homens inteligentes devem, portanto, considerar seriamente este movimento para a consciência de Kṛṣṇa e utilizar-se plenamente das instruções da Bhagavad-gītā, pregadas sem adulteração por Seus devotos puros.