VERSO 27
teṣāṁ durāpaṁ kiṁ tv anyan
martyānāṁ bhagavat-padam
bhuvi lolāyuṣo ye vai
naiṣkarmyaṁ sādhayanty uta
teṣām — deles; durāpam — difícil de obter; kim — o que; tu — mas; anyat — qualquer outra coisa; martyānām — dos seres humanos; bhagavat-padam — o reino de Deus; bhuvi — no mundo; lola — oscilante; āyuṣaḥ — duração de vida; ye — aqueles; vai — com certeza; naiṣkarmyam — o caminho da liberação; sādhayanti — executam; uta — exatamente.
Neste mundo material, todo ser humano tem uma curta duração de vida, mas aqueles que se ocupam em serviço devocional voltam ao lar, voltam ao Supremo, pois realmente estão trilhando o caminho da liberação. Para pessoas assim, não há nada que não seja alcançável.
SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (9.33), o Senhor Kṛṣṇa diz: anityam asukhaṁ lokam imaṁ prāpya bhajasva mām. Aqui, o Senhor declara que este mundo material é cheio de sofrimentos (asukham) e, ao mesmo tempo, é muito instável (anityam). Portanto, nosso único dever é ocupar-nos em serviço devocional. Esse é o melhor fim que se pode dar à vida humana. Os devotos que se ocupam constantemente a serviço dos pés de lótus do Senhor obtêm não somente todos os benefícios materiais, mas também todos os benefícios espirituais, pois, no fim da vida, eles voltam ao lar, voltam ao Supremo. O destino deles é descrito neste verso como bhagavat-padam. A palavra padam significa “morada”, e bhagavat, “a Suprema Personalidade de Deus”. Deste modo, o destino dos devotos é a morada da Suprema Personalidade de Deus.
Também significativa neste verso é a palavra naiṣkarmyam, que significa “conhecimento transcendental”. A menos que alguém chegue à plataforma de conhecimento transcendental e preste serviço devocional ao Senhor, ele não é perfeito. De um modo geral, os processos de jñāna, yoga e karma são executados vida após vida antes que se obtenha a oportunidade de prestar serviço devocional puro ao Senhor. Essa oportunidade é dada pela graça de um devoto puro, e é somente dessa maneira que se pode realmente alcançar a liberação. No contexto dessa narração, as esposas dos semideuses ficaram arrependidas porque, embora tivessem a oportunidade de um nascimento em um sistema planetário superior, uma duração de vida de milhões de anos e todos os confortos materiais, elas não eram tão afortunadas como Pṛthu Mahārāja e sua esposa, que realmente as estavam superando. Em outras palavras, Pṛthu Mahārāja e sua esposa desdenharam a promoção aos sistemas planetários superiores e mesmo a Brahmaloka, pois a posição atingida por eles era incomparável. Na Bhagavad-gītā (8.16), o Senhor afirma que ābrahma-bhuvanāl lokāḥ punar āvartino ’rjuna: “Desde o planeta mais elevado no mundo material até o mais baixo, todos são lugares de sofrimento, onde ocorre a repetição de nascimentos e mortes.” Em outras palavras, mesmo que alguém vá ao planeta mais elevado, Brahmaloka, será obrigado a retornar aos sofrimentos de nascimento e morte. Além disso, no nono capítulo da Bhagavad-gītā (9.21), o Senhor Kṛṣṇa afirma:
te taṁ bhuktvā svarga-lokaṁ viśālaṁ
kṣīṇe puṇye martya-lokaṁ viśanti
“Após gozarem assim do prazer sensório celestial, eles voltam mais uma vez a este planeta mortal.” Dessa maneira, após se esgotarem os resultados de nossas atividades piedosas, somos obrigados a novamente retornar aos sistemas planetários inferiores e começar um novo capítulo de atividades piedosas. É por isso que se diz no Śrīmad-Bhāgavatam (1.5.12) que naiṣkarmyam apy acyuta-bhāva-varjitam: “O caminho da liberação não é de modo algum seguro, a não ser que se alcance o serviço devocional ao Senhor.” Mesmo quem é promovido ao brahmajyoti impessoal tem toda a possibilidade de cair neste mundo material. Se é possível cair do brahmajyoti, que está além dos sistemas planetários superiores neste mundo material, o que dizer, então, dos yogīs e karmīs comuns, que podem se elevar apenas até os planetas materiais superiores? Assim, as esposas dos habitantes dos sistemas planetários superiores não apreciavam muito os resultados de karma, jñāna e yoga.