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VERSO 62

vipralabdho mahiṣyaivaṁ
sarva-prakṛti-vañcitaḥ
necchann anukaroty ajñaḥ
klaibyāt krīḍā-mṛgo yathā

vipralabdhaḥ — cativado; mahiṣyā — pela rainha; evam — assim; sarva — toda; prakṛti — existência; vañcitaḥ — sendo enganado; na icchan — sem desejar; anukaroti — costumava seguir e imitar; ajñaḥ — o rei tolo; klaibyāt — à força; krīḍā-mṛgaḥ — um animal de esti­mação; yathā — assim como

Dessa maneira, o rei Purañjana se viu cativado por sua bela esposa e, deste modo, foi enganado. Na verdade, ele foi enganado em toda a sua existência no mundo material. Mesmo contra o seu desejo, aquele pobre e tolo rei permanecia sob o controle de sua esposa, assim como um animal de estimação que dança de acordo com a ordem de seu dono.

SIGNIFICADO––A palavra vipralabdhaḥ é muito significativa neste verso. Vi significa “especificamente”, e pralabdha, “obtido”. Só para satis­fazer seus desejos, o rei obteve a rainha, e, deste modo, foi enganado pela existência material. Embora não o desejasse, ele permaneceu como um animal de estimação sob o controle da inteligência mate­rial. Assim como um macaco de estimação dança de acordo com os desejos de seu dono, o rei dançava de acordo com os desejos da rainha. O Śrīmad-Bhāgavatam (5.5.2) diz que mahat-sevāṁ dvāram āhur vimukteḥ: se alguém se associa com uma pessoa santa, um devoto, o caminho da liberação se abre a essa pessoa. Contudo, se ele se associa com uma mulher ou com uma pessoa muito apegada a uma mulher, seu caminho de cativeiro se torna completamente desimpedido.

Em geral, para avançar espiritualmente, é preciso abandonar a companhia de mulheres. É para isso que serve a ordem de sannyāsa, a ordem renunciada. Antes de tomar sannyāsa, ou renunciar intei­ramente o mundo material, é preciso praticar a abstenção do sexo ilícito. A vida sexual, lícita ou ilícita, é praticamente a mesma coisa, mas quem faz sexo ilícito fica cada vez mais aprisionado. Regulando sua vida sexual, resta-lhe uma possibilidade de, finalmente, poder renunciar ao sexo, ou renunciar à companhia de mulheres. Se isso puder ser feito, o avanço na vida espiritual acontecerá com muita facilidade.

Como alguém se torna prisioneiro pela associação com sua querida esposa é o que Nārada Muni explica neste capítulo. A atração pela esposa significa atração pelas qualidades materiais. Quem se sente atraído pela qualidade material da escuridão está na fase mais baixa da vida, ao passo que quem se sente atraído pela qualidade material da bondade está em uma posição melhor. Às vezes, observa­mos que quem está na plataforma da bondade material se sente mais ou menos atraído pelo cultivo de conhecimento. Esta é, evi­dentemente, uma posição melhor, pois o conhecimento faz com que tenhamos preferência por aceitar o serviço devocional. A menos que cheguemos à plataforma de conhecimento, a fase brahma-bhūta, não poderemos avançar em serviço devocional. Como Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā (18.54):

brahma-bhūtaḥ prasannātmā
na śocati na kāṅkṣati
samaḥ sarveṣu bhūteṣu
mad-bhaktiṁ labhate parām

“Aquele que está situado nessa posição transcendental compreende de imediato o Brahman Supremo e se torna completamente feliz. Ele nunca se lamenta nem deseja ter algo, e é equânime para com todas as entidades vivas. Nesse estado, ele passa a Me prestar serviço devocional puro.”

A plataforma do conhecimento é vantajosa por se tratar de um meio pelo qual se pode chegar à fase do serviço devocional. Contudo, se alguém adota o serviço devocional de forma direta, o conhecimento lhe é revelado sem ser preciso se esforçar separadamente. Confirma-se isso no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.7):

vāsudeve bhagavati
bhakti-yogaḥ prayojitaḥ
janayaty āśu vairāgyaṁ
jñānaṁ ca yad ahaitukam

O serviço devocional revela de forma automática o verdadeiro conhecimento de nossa existência material. Quem tem inteligência suficiente alcança de imediato a fase de renúncia à dita sociedade, família e amor, bem como a outras coisas. Enquanto estivermos apegados à sociedade, família e amor do mundo material, não haverá possibilidade de conhecimento. Tampouco haverá possibilidade de serviço devocional. Adotando diretamente o serviço devocional, contudo, enchemo-nos de conhecimento e renúncia. Dessa maneira, nossa vida se torna bem-sucedida.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do quarto canto, vigésimo quinto capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitu­lado “Descrição das Características do Rei Purañjana.”

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