VERSOS 76-77
yathā tṛṇa-jalūkeyaṁ
nāpayāty apayāti ca
na tyajen mriyamāṇo ’pi
prāg-dehābhimatiṁ janaḥ
yāvad anyaṁ na vindeta
vyavadhānena karmaṇām
mana eva manuṣyendra
bhūtānāṁ bhava-bhāvanam
yathā — como; tṛṇa-jalūkā — lagarta; iyam — esta; na apayāti — não vai; apayāti — vai; ca — também; na — não; tyajet — abandona; mriyamāṇaḥ — à hora da morte; api — mesmo; prāk — anterior; deha — com o corpo; abhimatim — identificação; janaḥ — uma pessoa; yāvat — enquanto; anyam — outro; na — não; vindeta — obtém; vyavadhānena — pelo término; karmaṇām — de atividades fruitivas; manaḥ — a mente; eva — decerto; manuṣya-indra — ó governante dos homens; bhūtānām — de todas as entidades vivas; bhava — da existência material; bhāvanam — a causa.
A lagarta passa de uma folha a outra, agarrando-se a uma folha antes de abandonar a outra. De modo semelhante, de acordo com seu trabalho anterior, a entidade viva é forçada a assumir outro corpo antes de abandonar aquele que tem. Isso porque a mente é o reservatório de toda espécie de desejos.
SIGNIFICADO—Uma entidade viva muito absorta em atividades materiais fica muito atraída pelo corpo material. Mesmo à hora da morte, ela pensa em seu corpo atual e nos parentes ligados a ele. Assim, ela permanece inteiramente absorta no conceito corpóreo de vida, tanto que, mesmo à hora da morte, ela detesta deixar seu corpo atual. Às vezes, observa-se que uma pessoa a ponto de morrer permanece em coma durante muitos dias antes de abandonar o corpo. Isso é comum entre ditos líderes e políticos, os quais pensam que, sem sua presença, todo o país e toda a sociedade serão tomados pelo caos. Isso se chama māyā. Os líderes políticos não gostam de deixar seus postos políticos, sendo forçados a deixá-los ao serem assassinados por um inimigo, ou com a chegada da morte. Através de um arranjo superior, a entidade viva recebe outro corpo, mas, devido à sua atração pelo corpo atual, ela não gosta de transferir-se a outro corpo. Assim, as leis da natureza forçam-na a aceitar outro corpo.
prakṛteḥ kriyamāṇāni
guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ
ahaṅkāra-vimūḍhātmā
kartāham iti manyate
“A alma espiritual confusa, sob a influência dos três modos da natureza material, julga-se autora de atividades que, na verdade, são executadas pela natureza.” (Bhagavad-gītā 3.27)
A natureza material é muito forte, e os modos materiais forçam todos a aceitarem outros corpos. Essa força é visível quando uma entidade viva transmigra de um corpo superior para um inferior. Quem age como cão ou como porco no corpo atual com certeza será forçado a aceitar um corpo de cão ou porco na próxima vida. Pode ser que alguém esteja desfrutando no corpo de um primeiro-ministro ou de um presidente, mas, ao entender que será forçado a aceitar o corpo de um cão ou de um porco, ele optará por não deixar o corpo atual. Portanto, ficará em coma muitos dias antes da morte. Essa tem sido a experiência de muitos políticos à hora da morte. Em conclusão, o próximo corpo já está determinado por controle superior. A entidade viva abandona imediatamente o corpo atual e entra em outro. Às vezes, no corpo atual, a entidade viva sente que muitos de seus desejos e imaginações não estão satisfeitos. Aqueles que sentem excessiva atração por sua situação na vida são forçados a permanecer em um corpo de fantasma e não têm permissão de aceitar outro corpo grosseiro. Mesmo no corpo de um fantasma, eles criam perturbações para vizinhos e parentes. A mente é a causa primordial de semelhante situação. De acordo com a mente de cada um, diversas espécies de corpos são gerados, e a pessoa é forçada a aceitá-los. Como se confirma na Bhagavad-gītā (8.6):
yaṁ yaṁ vāpi smaran bhāvaṁ
tyajaty ante kalevaram
taṁ tam evaiti kaunteya
sadā tad-bhāva-bhāvitaḥ
“Qualquer que seja o estado de existência de que alguém se lembre ao deixar o corpo, ó filho de Kuntī, esse mesmo estado ele alcançará impreterivelmente.” Em seu corpo e em sua mente, alguém pode pensar ou como um cão, ou como um deus, e a próxima vida lhe será concedida de acordo com isso. Explica-se o mesmo na Bhagavad-gītā (13.22):
puruṣaḥ prakṛti-stho hi
bhuṅkte prakṛtijān guṇān
kāraṇaṁ guṇa-saṅgo ’sya
sad-asad-yoni-janmasu
“Dessa forma, a entidade viva dentro da natureza material segue os caminhos da vida, desfrutando os três modos da natureza. Isso decorre de sua associação com essa natureza material. Assim, ela se encontra com o bem e o mal entre as várias espécies de vida.” A entidade viva pode transmigrar a corpos superiores ou inferiores, dependendo de seu contato com os modos da natureza material. Ao se associar com o modo da ignorância, ela obtém o corpo de um animal ou de um homem inferior, mas, ao se associar com o modo da bondade ou da paixão, obtém um corpo condizente. Confirma-se isso, também, na Bhagavad-gītā (14.18):
ūrdhvaṁ gacchanti sattva-sthā
madhye tiṣṭhanti rājasāḥ
jaghanya-guṇa-vṛtti-sthā
adho gacchanti tāmasāḥ
“Aqueles situados no modo da bondade gradualmente elevam-se aos planetas superiores, aqueles no modo da paixão vivem nos planetas terrestres, e aqueles no modo da ignorância descem para os mundos infernais.”
A causa fundamental de nosso contato com a matéria é a mente. Este grande movimento para a consciência de Kṛṣṇa é a maior dádiva para a sociedade humana porque está ensinando todos a sempre pensarem em Kṛṣṇa, executando serviço devocional. Dessa maneira, no final da vida, todos podem transferir-se para a companhia de Kṛṣṇa. Tecnicamente, isso se chama nitya-līlā-praviṣṭa, ingressar no planeta Goloka Vṛndāvana. A Bhagavad-gītā (18.55) explica:
bhaktyā mām abhijānāti
yāvān yaś cāsmi tattvataḥ
tato māṁ tattvato jñātvā
viśate tad anantaram
“Só é possível entender a Personalidade Suprema como Ele é através do serviço devocional. E, tendo plena consciência do Senhor Supremo através dessa devoção, pode-se ingressar no reino de Deus.” Depois que a mente estiver inteiramente absorta em consciência de Kṛṣṇa, será possível entrar no planeta conhecido como Goloka Vṛndāvana. Para entrar em contato com a Suprema Personalidade de Deus, é preciso compreender Kṛṣṇa. O processo de compreender Kṛṣṇa é o serviço devocional. Após compreender Kṛṣṇa como Ele é, qualificamo-nos a ingressar em Kṛṣṇaloka e associar-nos com Ele. A mente é a causa dessa elevada posição. A mente também pode fazer com que alguém obtenha um corpo de cão ou de porco. Portanto, a perfeição máxima da vida humana é absorver a mente sempre em consciência de Kṛṣṇa.