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VERSO 45

yan maithunādi-gṛhamedhi-sukhaṁ hi tucchaṁ
kaṇḍūyanena karayor iva duḥkha-duḥkham
tṛpyanti neha kṛpaṇā bahu-duḥkha-bhājaḥ
kaṇḍūtivan manasijaṁ viṣaheta dhīraḥ

yat — aquilo que (se presta ao gozo dos sentidos materiais); maithuna-ādi — representado pelas conversas referentes a sexo, pela leitura de publicações sobre sexo ou pelo desfrute da vida sexual (no lar ou fora, tal como em um clube); gṛhamedhi-sukham — toda espécie de felicidade material baseada no apego à família, sociedade, amizade etc.; hi — na verdade; tuccham — insignificante; kaṇḍūyanena — com a coceira; karayoḥ — das duas mãos (para aliviar a coceira); iva — como; duḥkha-duḥkham — diferentes classes de infelicidade (pelas quais a pessoa tem que passar após essa coceira de gozo sensorial); tṛpyanti — ficam satisfeitas; na — nunca; iha — no gozo dos sentidos materiais; kṛpaṇāḥ — as pessoas tolas; bahu-duḥkha-bhājaḥ — sujeitas a várias espécies de infelicidade material; kaṇḍūti-vat — se alguém consegue aprender com essa coceira; manasi-jam — que é uma simples invenção mental (não existe verdadeira felicidade); viṣaheta — tolera (tal coceira); dhīraḥ — (ele pode tornar-se) uma pessoa muito perfeita e sóbria.

A vida sexual se compara ao atrito de duas mãos para o alívio de uma coceira. Os gṛhamedhis, os pretensos gṛhasthas que não têm conhecimento espiritual, pensam que essa coceira é o nível máxima de felicidade, embora, na verdade, seja uma fonte de angústia. Os kṛpaṇas, os tolos que são exatamente o oposto dos brāhmaṇas, não se fartam de mergulhar no gozo sensual. Entretanto, aqueles que são dhīras, os indivíduos sóbrios que toleram essa coceira, não estão sujeitos aos sofrimentos dos tolos e patifes.

SIGNIFICADO—Os materialistas pensam que se entregar ao gozo sexual é a maior felicidade neste mundo material e, portanto, elaboram planos para satisfazer os seus sentidos, em especial os órgãos genitais. De um modo geral, isso ocorre em toda parte, notadamente no mundo ocidental, onde se fazem arranjos regulares para que a vida sexual vigore de qualquer maneira. Na verdade, contudo, ninguém jamais conseguiu ser feliz com isso. Nem mesmo os hippies, que abandonaram todos os confortos materiais propiciados por seus pais e avós, não podem dispensar a prazerosíssima felicidade da vida sexual. Tais pessoas são aqui descritas como kṛpaṇas, avaros. A forma de vida humana é uma grande dádiva, pois, nessa forma de vida, pode-se alcançar a meta da existência. Infelizmente, entretanto, devido à falta de educação e de cultura, as pessoas se tornam vítimas da falsa felicidade da vida sexual. Prahlāda Mahārāja, portanto, aconselha que ninguém se deixe desencaminhar por essa civilização envolta em gozo dos sentidos, e muito menos alguém deve ficar sob o encanto da vida sexual. Ao contrário, todos devem ser sóbrios, evitar o gozo dos sentidos e ter consciência de Kṛṣṇa. A pessoa luxuriosa, que é comparada a um avaro estúpido, jamais obtém felicidade através do gozo dos sentidos. A influência da natureza material é muito difícil de ser superada, mas, como Kṛṣṇa afirma na Bhagavad-gītā (7.14), mām eva ye prapadyante, māyām etāṁ taranti te: se alguém se submete voluntariamente aos pés de lótus de Kṛṣṇa, pode salvar-se com muita facilidade.

Com referência à insignificante felicidade da vida sexual, Yāmunācārya diz a esse respeito:

yadāvadhi mama cetaḥ kṛṣṇa-padāravinde
nava-nava-rasa-dhāmanudyata rantum āsīt
tadāvadhi bata nārī-saṅgame smaryamāne
bhavati mukha-vikāraḥ suṣṭu niṣṭhīvanaṁ ca

“Desde que me ocupei no transcendental serviço amoroso a Kṛṣṇa, obtendo nele um prazer que se renova a cada instante, sempre que penso em prazer sexual, cuspo no pensamento e meus lábios se contorcem de desgosto.” Anteriormente, Yāmunācārya fora um rei que desfrutara de felicidade sexual de várias maneiras, mas, desde o momento em que passou a se ocupar a serviço do Senhor, obteve bem-aventurança espiritual e passou a detestar pensar em vida sexual. Se pensamentos sexuais iam até ele, cuspia neles com desgosto.

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