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VERSO 81

śiṣya kahe, — ‘īśvara-tattva sādhi anumāne’
ācārya kahe, — ‘anumāne nahe īśvara-jñāne

śiṣya kahe — os discípulos disseram; īśvara-tattva — a verdade do Absoluto; sādhi — obtemos; anumāne — por hipóteses; ācārya kahe — Gopīnātha Ācārya respondeu; anumāne — por hipóteses; nahe — não há; īśvara-jñāne — verdadeiro conhecimento da Suprema Personalidade de Deus.

Os discípulos do Bhaṭṭācārya disseram: “Nós obtemos conhecimento da Verdade Absoluta através de hipóteses lógicas.”Gopīnātha Ācārya respondeu: “Não se pode alcançar verdadeiro conhecimento da Suprema Personalidade de Deus por meio de tais hipóteses lógicas ou argumentos.”

SIGNIFICADO—Os filósofos māyāvādīs em particular estabelecem certas hipóteses sobre a Verdade Absoluta. Segundo raciocinam eles, no mundo material verificamos que tudo é criado. Se procurarmos a origem de algo, encontraremos um criador. Portanto, deve haver um criador desta imensa manifestação cósmica. Raciocinando assim, eles chegam à conclusão de que um poder superior criou esta manifestação cósmica. Os māyāvādīs não aceitam que esse grande poder seja uma pessoa. Seus cérebros não podem conciliar o fato de que uma pessoa possa criar esta imensa manifestação cósmica. Isso porque, assim que pensam em uma pessoa, pensam em uma pessoa dentro do mundo material com potência limitada. Às vezes, os filósofos māyāvādīs aceitam o Senhor Kṛṣṇa ou o Senhor Rāma como Bhagavān, mas pensam no Senhor como uma pessoa que tem um corpo material. Os māyāvādīs não entendem que a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, tem um corpo espiritual. Eles pensam em Kṛṣṇa como uma grande personalidade, um ser humano, dentro do qual há o supremo poder impessoal, Brahman. Portanto, concluem, por fim, que o Brahman impessoal é o Supremo, e não a pessoa Kṛṣṇa. Essa é a base da filosofia māyāvādī. No entanto, podemos compreender a partir dos śāstras que a refulgência do Brahman são os raios do corpo de Kṛṣṇa:

yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi-
koṭiṣv aśeṣa-vasudhādi-vibhūti-bhinnam
tad brahma niṣkalam anantam aśeṣa-bhūtaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

“Eu sirvo à Suprema Personalidade de Deus, Govinda, o Senhor primordial, cujo corpo transcendental é revestido da refulgência conhecida como brahmajyoti. Esse brahmajyoti, que é ilimitado, insondável e onipenetrante, é a causa da criação de um número ilimitado de planetas com variedades de climas e condições de vida específicas.” (Brahma-saṁhitā 5.40)

Os filósofos māyāvādīs estudam a literatura védica, mas não entendem que a Verdade Absoluta, na última fase de percepção, é a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa. Eles aceitam o fato de que há um criador desta manifestação cósmica, mas isso é anumāna (hipótese). A lógica do filósofo māyāvādī é como a experiência de quem vê fumaça em uma colina. Ao haver um incêndio florestal em uma colina alta, a primeira coisa que se vê é a fumaça. Assim como se pode deduzir a existência de incêndio pela fumaça, os filósofos māyāvādīs concluem que deve haver um criador da manifestação cósmica.

Os discípulos de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya queriam evidências provando que Śrī Caitanya Mahāprabhu era realmente o criador da manifestação cósmica. Somente então O aceitariam como a Suprema Personalidade de Deus, a causa original da criação. Gopīnātha Ācārya respondeu que ninguém poderia jamais entender a Suprema Personalidade de Deus por adivinhações. Como Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā (7.25):

nāhaṁ prakāśaḥ sarvasyayoga-māyā-samāvṛtaḥ
mūḍho ’yaṁ nābhijānāti
loko mām ajam avyayam

“Eu nunca Me manifesto aos tolos e não-inteligentes; para eles, Eu estou coberto por Minha energia criativa eterna [yogamāyā], e, deste modo, o mundo iludido não conhece a Mim, que sou não-nascido e infalível.” A Suprema Personalidade de Deus reserva-Se o direito de não Se expor aos não-devotos. Somente devotos fidedignos podem compreendê-lO. Em outro trecho da Bhagavad-gītā (18.55), o Senhor Kṛṣṇa diz que bhaktyā mām abhijānāti: “Só posso ser compreendido pelo processo devocional.” No quarto capítulo da Bhagavad-gītā, o Senhor Kṛṣṇa diz: bhakto ’si me sakhā ceti rahasyaṁ hy etad uttamam. Aqui, o Senhor Kṛṣṇa informa a Arjuna que lhe está revelando os segredos da Bhagavad-gītā porque ele é Seu devoto. Arjuna não era sannyāsī nem vedāntista nem brāhmaṇa. Contudo, ele era devoto de Kṛṣṇa. A conclusão é que temos que compreender a Suprema Personalidade de Deus consultando os devotos. O próprio Śrī Caitanya Mahāprabhu diz: guru-kṛṣṇa-prasāde pāya bhakti-latā-bīja. (Caitanya-caritāmṛta, Madhya 19.151)

Podem-se citar mais evidências para mostrar que, sem a misericórdia de um devoto ou sem a misericórdia de Kṛṣṇa, não se pode compreender quem é Kṛṣṇa e quem é a Suprema Personalidade de Deus. Confirma-se isso no verso seguinte.

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