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CAPÍTULO VINTE E CINCO

O Senhor Kṛṣṇa Ergue a Colina Govardhana

Este capítulo descreve como o senhor Indra deixou-se dominar pela ira quando os residentes de Vraja cancelaram seu sacrifício, como tentou castigá-los enviando um aguaceiro devastador a Vṛndāvana e como o Senhor Śrī Kṛṣṇa protegeu Gokula da chuva erguendo a colina Govardhana e usando-a como guarda-chuva durante sete dias.

Indra, irado com a interrupção do sacrifício a ele destinado e erroneamente julgando-se o supremo controlador, disse: “Muitas vezes, as pessoas abandonam a busca de conhecimento transcendental – o meio para se atingir a autorrealização – e imaginam que podem cruzar o oceano da existência material mediante sacrifícios fruitivos mundanos. De modo semelhante, estes vaqueiros se inebriaram de orgulho e me ofenderam ao se refugiarem em uma criança ignorante qualquer – Kṛṣṇa.”

Para eliminar esse suposto orgulho dos residentes de Vraja, Indra enviou as nuvens chamadas Sāṁvartaka, cuja função é facilitar a destruição do mundo. Ele as enviou para atormentar os vrajavāsīs com tempestades de chuva e granizo. A comunidade dos vaqueiros ficou muito perturbada com isso e se aproximou de Kṛṣṇa em busca de abrigo. Compreendendo que essa perturbação era obra de Indra, Kṛṣṇa decidiu despedaçar o falso prestígio de Indra e, dessa maneira, ergueu com uma só mão a colina Govardhana. Em seguida, convidou toda a comunidade dos vaqueiros a abrigar-se no espaço seco debaixo da montanha. Durante sete dias consecutivos, Ele sustentou a colina, até que por fim Indra percebeu o poder místico de Kṛṣṇa e ordenou que as nuvens se retirassem.

Quando os habitantes da vila dos vaqueiros emergiram de sob a montanha, Kṛṣṇa recolocou a colina Govardhana em seu lugar apropriado. Os vaqueiros estavam em êxtase, mostrando sintomas amorosos tais como derramamento de lágrimas e arrepio dos pelos do corpo. Eles abraçaram Kṛṣṇa e ofereceram-Lhe bênçãos de acordo com suas respectivas posições, enquanto os semideuses no céu lan­çavam chuvas de flores e cantavam louvores ao Senhor.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Meu querido rei Parīkṣit, ao saber que seu sacrifício fora deixado de lado, Indra ficou furioso com Nanda Mahārāja e os outros vaqueiros, que estavam aceitando Kṛṣṇa como seu Senhor.

VERSO 2: O irado Indra enviou as nuvens da destruição universal, chamadas Sāṁvartaka. Imaginando-se o controlador supremo, ele disse o seguinte.

VERSO 3: [Indra disse:] Vede só como estes vaqueiros moradores da floresta ficaram tão inebriados com sua prosperidade! Eles se renderam a um ser humano comum, Kṛṣṇa, e assim ofenderam os deuses.

VERSO 4: O fato de terem-se refugiado em Kṛṣṇa é tal qual a tola tentativa de homens que abandonam o conhecimento transcendental a respeito do eu e, em lugar disso, tentam atravessar o grande oceano da existência material nos barcos falsos dos sacri­fícios ritualísticos e fruitivos.

VERSO 5: Esses vaqueiros agiram com hostilidade para comigo ao refugiarem-se neste ser humano comum, Kṛṣṇa, que Se considera muito sábio, mas que não passa de um menino tolo, arrogante e tagarela.

VERSO 6: [Às nuvens da destruição, o rei Indra disse:] A prosperidade dessas pessoas levou-as à insanidade e ao orgulho, e sua arrogância tem o apoio de Kṛṣṇa. Ide agora e removei o orgulho deles e levai seus animais à destruição.

VERSO 7: Eu vos seguirei até Vraja, montado em meu elefante Airāvata e levando comigo os velozes e poderosos deuses dos ventos para dizimar a vila pastoril de Nanda Mahārāja.

VERSO 8: Śukadeva Gosvāmī disse: Sob a ordem de Indra, as nuvens da destruição universal, libertadas prematuramente de seus grilhões, foram para os campos de pastagem de Nanda Mahārāja. Ali, começaram a atormentar os habitantes de Vraja lançando sobre eles poderosas torrentes de chuva.

VERSO 9: Impelidas pelos terríveis deuses dos ventos, as nuvens resplandeciam com relâmpagos e ribombavam com trovões enquanto atiravam pedras de granizo.

VERSO 10: À medida que as nuvens soltavam torrentes de chuva tão maciças como colunas, a terra foi submersa na inundação, e o terreno alto não mais se distinguia do baixo.

VERSO 11: As vacas e outros animais, tremendo devido à chuva e vento excessivos, e os vaqueiros e suas esposas, afligidos pelo frio, aproximaram-se todos do Senhor Govinda em busca de abrigo.

VERSO 12: Tremendo devido à aflição provocada pelo severo aguaceiro e tentando cobrir suas cabeças e bezerros com os próprios corpos, as vacas aproximaram-se dos pés de lótus da Suprema Persona­lidade de Deus.

VERSO 13: [Os vaqueiros e vaqueiras dirigiram-se ao Senhor:] Ó Kṛṣṇa, ó afortunadíssimo Kṛṣṇa, por favor, salva as vacas da ira de Indra! Ó Senhor, és muito afeiçoado a Teus devotos. Por favor, salva-nos também.

VERSO 14: Ao ver os habitantes de Sua Gokula praticamente inconscien­tes devido ao ataque da chuva de granizo e das rajadas de vento, o Supremo Senhor Hari compreendeu que aquilo era obra do irado Indra.

VERSO 15: [Śrī Kṛṣṇa pensou:] Por termos impedido o sacrifício a ele destinado, Indra provocou esta ferocíssima chuva fora de época, acompanhada de terríveis ventos e granizo.

VERSO 16: Por meio de meu poder místico, anularei por completo esta perturbação causada por Indra. Semideuses como Indra orgulham-se de sua opulência e, por tolice e engano, consideram­-se o Senhor do universo. Agora, destruirei essa ignorância.

VERSO 17: Visto que os semideuses são dotados do modo da bondade, o falso orgulho de se considerar o Senhor decerto não deveria afetá-­los. Ao romper o falso prestígio de pessoas destituídas de bonda­de, Meu propósito é trazer-lhes alívio.

VERSO 18: Devo, portanto, proteger a comunidade dos vaqueiros por meio de Minha potência transcendental, porque sou seu abrigo, sou seu senhor, e eles de fato são Minha própria família. Afinal, fiz o voto de proteger Meus devotos.

VERSO 19: Tendo dito isso, o Senhor Kṛṣṇa, que é o próprio Viṣṇu, apanhou com uma só mão a colina Govardhana e ergueu-a com tanta facilidade como uma criança levanta um cogumelo.

VERSO 20: O Senhor, então, dirigiu-Se à comunidade dos vaqueiros: Ó mãe, ó pai, ó residentes de Vraja, se quiserdes, podeis vir agora para debaixo desta colina com vossas vacas.

VERSO 21: Não deveis temer que esta montanha caia de Minha mão. E não tenhais medo do vento e da chuva, pois já providenciei vossa salvação destas aflições.

VERSO 22: Com suas mentes assim acalmadas pelo Senhor Kṛṣṇa, todos eles entraram debaixo da colina, onde encontraram amplo espa­ço para si e para todas as suas vacas, carroças, servos e sacerdo­tes, e também para todos os outros membros da comunidade.

VERSO 23: Esquecendo a fome e a sede e deixando de lado toda consideração acerca de prazeres pessoais, o Senhor Kṛṣṇa ficou de pé sustentando a colina durante sete dias enquanto o povo de Vraja O contemplava.

VERSO 24: Ao observar essa exibição de poder místico do Senhor Kṛṣṇa, Indra ficou espantadíssimo. Deposto de sua plataforma de falso orgulho, e frustradas suas intenções, ele ordenou a suas nuvens que desistissem.

VERSO 25: Vendo que o vento e a chuva terríveis agora tinham cessado, que o céu desanuviara e que o Sol aparecera, o Senhor Kṛṣṇa, o levantador da colina Govardhana, dirigiu as seguintes pala­vras à comunidade de vaqueiros.

VERSO 26: Meus queridos vaqueiros, por favor, saí com vossas esposas, filhos e bens. Abandonai vosso temor. O vento e a chuva cessa­ram, e a enchente dos rios baixou.

VERSO 27: Após juntar suas respectivas vacas e carregar sua parafernália nas carroças, os vaqueiros saíram. As mulheres, crianças e velhos seguiram-nos aos poucos.

VERSO 28: Enquanto todas as criaturas vivas olhavam, a Suprema Personalidade de Deus colocou a colina em seu lugar original, como era anteriormente.

VERSO 29: Dominados pelo amor extático, todos os residentes de Vṛndāvana adiantaram-se para saudar Śrī Kṛṣṇa segundo sua relação individual com Ele – alguns O abraçando, outros se prostrando diante dEle e assim por diante. As esposas dos vaqueiros oferta­ram água misturada com iogurte e cevada integral em sinal de honra e derramaram chuvas de bênçãos auspiciosas sobre Ele.

VERSO 30: Mãe Yaśodā, mãe Rohiṇī, Nanda Mahārāja e Balarāma, o mais forte dos fortes, todos abraçaram Kṛṣṇa e, tomados pela afei­ção, ofereceram-Lhe suas bênçãos.

VERSO 31: Nos céus, ó rei, todos os semideuses, incluindo os Siddhas, Sādhyas, Gandharvas e Cāraṇas, cantaram os louvores do Senhor Kṛṣṇa e derramaram chuvas de flores com grande satisfação.

VERSO 32: Meu querido Parīkṣit, os semideuses no céu fizeram ressoar seus búzios e timbales, e os melhores dos Gandharvas, liderados por Tumburu, começaram a cantar.

VERSO 33: Rodeado por Seus amorosos amigos vaqueirinhos e pelo Senhor Balarāma, Kṛṣṇa então voltou para onde Ele estivera apascentando as vacas. As vaqueirinhas regressaram a suas casas cantando alegremente a respeito do soerguimento da colina Govardhana e de outras gloriosas atividades do Senhor Kṛṣṇa, que haviam tocado tão profundamente seus corações.

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