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CAPÍTULO CINQUENTA E CINCO

A História de Pradyumna

Este capítulo narra como Pradyumna nasceu como filho do Senhor Kṛṣṇa e, depois, foi raptado pelo demônio Śambara. Descreve também como Pradyumna matou Śambara e voltou para casa com uma esposa.

Kāmadeva (o Cupido), uma expansão do Senhor Vāsudeva, fora reduzido a cinzas pela ira do senhor Śiva e renasceu do ventre de Rukmiṇī como uma parte integrante de Pradyumna. Um demônio chama­do Śambara, pensando que Pradyumna era seu inimigo, raptou-O do berçário mesmo antes de ele ter dez dias. Śambara atirou Pradyumna no oceano e voltou para seu reino. Um poderoso peixe engoliu Pra­dyumna e foi pego em uma rede por pescadores. Eles presentearam Śambara com o grande peixe, e, quando seus cozinheiros o abriram, encontraram uma criança em sua barriga. Os cozinheiros deram o bebê à serva Māyāvatī, que se espantou ao vê-lO. Bem naquele mo­mento, apareceu Nārada Muni e disse-lhe quem era o bebê. De fato, Māyāvatī era a esposa de Kāmadeva, Ratidevī. Enquanto aguardava o renascimento de seu marido em um novo corpo, ela arrumara um empre­go como cozinheira na casa de Śambara. Agora que entendera quem era o menino, ela passou a sentir intensa afeição por Ele. Depois de pouquíssimo tempo, Pradyumna chegou a sua maturidade juvenil, fascinando todas as mulheres com Sua beleza.

Certa vez, Ratidevī aproximou-se de Pradyumna e mexeu as so­brancelhas em uma atitude conjugal. Dirigindo-Se a ela como Sua mãe, Pradyumna comentou que ela estava deixando de lado sua atitude maternal apropriada e se comportando como uma namorada apaixo­nada. Rati, então, contou a Pradyumna quem eram eles dois. Ela O acon­selhou a matar Śambara e, para ajudá-lO, ensinou-Lhe os mantras místicos conhecidos como Mahāmāyā. Pradyumna foi ter com Śambara e, depois de enfurecê-lo com vários insultos, desafiou-o para uma luta, após o que Śambara, irado, empunhou sua maça e caminhou para fora. O demônio lançou vários encantos mágicos em Pradyum­na, mas este desviou todos os encantos com os mantras Mahāmāyā e depois, com Sua espada, decapitou Śambara. Nesse momento, Ratidevī apareceu no céu e levou Pradyumna embora para Dvārakā.

Quando Pradyumna e Sua esposa entraram nos aposentos internos do palácio do Senhor Kṛṣṇa, as inúmeras e belas damas que ali es­tavam pensaram que Ele era o próprio Kṛṣṇa, pois Sua aparência e roupas assemelhavam-se imensamente às do Senhor. Por timidez, as damas correram de um lado a outro a fim de se esconderem. Depois de algum tempo, contudo, elas notaram pequenas diferenças entre a aparência de Kṛṣṇa e de Pradyumna, e uma vez entendendo que Ele não era o Senhor Kṛṣṇa, elas se reuniram ao redor dEle.

Ao ver Pradyumna, Rukmiṇī-devī sentiu-se dominada pelo amor maternal, e leite começou a escorrer espontaneamente de seus seios. Notando que Pradyumna parecia muitíssimo com Kṛṣṇa, ela ficou de­sejosa de saber quem Ele era. Ela se lembrou de como um de seus filhos fora raptado do berçário. “Se ainda estivesse vivo”, pensou ela, “Ele teria a mesma idade deste Pradyumna que está diante de mim.” Enquanto Rukmiṇī refletia assim, chegou o Senhor Kṛṣṇa em companhia de Devakī e Vasudeva. Embora tenha entendido perfei­tamente bem a situação, o Senhor ficou em silêncio. Então, Nārada Muni chegou ali e explicou tudo. Todos ficaram surpresos ao ouvirem a história e abraçaram Pradyumna com grande êxtase.

Porque a beleza de Pradyumna era tão semelhante à de Kṛṣṇa, as senhoras que tinham uma relação maternal com Pradyumna não podiam deixar de pensar nEle como seu amante conjugal. Ele era, afinal, o reflexo exato de Śrī Kṛṣṇa, de modo que era natural que elas O vissem dessa forma.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Kāmadeva [Cupido], uma expansão de Vāsudeva, fora anteriormente reduzido a cinzas pela ira de Rudra. Agora, para conseguir um novo corpo, ele se fundiu novamente no corpo do Senhor Vāsudeva.

VERSO 2: Gerado pela semente do Senhor Kṛṣṇa, Ele nasceu no ventre de Vaidarbhī e recebeu o nome de Pradyumna. Ele não era inferior a Seu pai sob nenhum aspecto.

VERSO 3: O demônio Śambara, que podia assumir qualquer forma que desejasse, raptou o bebê antes de este completar dez dias de vida. Entendendo que Pradyumna era seu inimigo, Śambara lançou-O ao mar e, então, voltou para casa.

VERSO 4: Um poderoso peixe engoliu Pradyumna, e esse peixe, junto de outros, ficou preso em uma rede imensa e foi apanhado por pescadores.

VERSO 5: Os pescadores deram aquele peixe extraordinário de presente a Śambara, que mandou seus cozinheiros levá-lo para a cozinha, onde se puseram a cortá-lo com um cutelo.

VERSO 6: Vendo um bebê na barriga do peixe, os cozinheiros deram-no para Māyāvatī, que ficou espantada. Então, Nārada Muni apareceu ali e explicou-lhe tudo sobre o nascimento da criança e como esta adentrou o abdômen do peixe.

VERSOS 7-8: Māyāvatī era de fato a célebre esposa de Cupido, Rati. En­quanto aguardava que seu marido conseguisse um novo corpo – visto que o seu anterior fora incinerado –, ela tinha sido incum­bida por Śambara de preparar vegetais e arroz. Māyāvatī enten­deu que esse bebê era, na verdade, Kāmadeva e, por isso, começou a sentir amor por Ele.

VERSO 9: Pouco tempo depois, esse filho de Kṛṣṇa – Pradyumna – alcançou Sua plena juventude. Ele encantava todas as mulheres que O fitavam.

VERSO 10: Meu querido rei, aproximando-se amorosamente de seu mari­do, cujos olhos eram largos como as pétalas de lótus, cujos braços eram muito compridos e que era o mais belo dos homens, Māyā­vatī, com um sorriso tímido e sobrancelhas erguidas, exibiu vários gestos indicativos de atração conjugal.

VERSO 11: O Senhor Pradyumna lhe disse: “Ó mãe, tua atitude mudou. Estás transgredindo os sentimentos próprios de uma mãe e comportando-se como uma amante.”

VERSO 12: Rati disse: És o filho do Senhor Nārāyaṇa e foste raptado da casa de Teus pais por Śambara. Eu, Rati, sou Tua legítima espo­sa, ó amo, porque Tu és o Cupido.

VERSO 13: Aquele demônio, Śambara, atirou-Te no mar quando ainda não tinhas nem dez dias de vida, e um peixe Te engoliu. Então, neste mesmo lugar, nós Te retiramos do abdômen do peixe, ó amo.

VERSO 14: Agora, mata este medonho Śambara, Teu formidável inimigo. Embora ele conheça centenas de feitiços, podes derrotá-lo com magia ilusória e outras técnicas.

VERSO 15: Tua pobre mãe, tendo perdido seu filho, chora por Ti como uma ave kurarī. Ela está dominada pelo amor por seu filho, assim como uma vaca que perdeu seu bezerro.

VERSO 16: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Falando desse modo, Māyāvatī deu ao magnânimo Pradyumna o conhecimento místico chamado Mahāmāyā, que destrói todos os outros feitiços ilusórios.

VERSO 17: Pradyumna aproximou-Se de Śambara e chamou-o para lutar, insultando-lhe com palavras intoleráveis para, deste modo, fomentar um conflito.

VERSO 18: Ofendido por aquelas ásperas palavras, Śambara ficou tão agi­tado quanto uma serpente chutada. Ele saiu, de maça em punho, com os olhos vermelhos de raiva.

VERSO 19: Śambara girou rapidamente sua maça e, então, atirou-a no sábio Pradyumna, produzindo um som tão estridente quanto o estrondo de um trovão.

VERSO 20: Enquanto a maça de Śambara vinha voando em Sua direção, o Senhor Pradyumna a derrubou com Sua maça. Em seguida, ó rei, Pradyumna arremessou Sua maça contra o inimigo com grande raiva.

VERSO 21: Recorrendo à magia negra dos Daityas que Maya Dānava lhe ensinara, Śambara de repente apareceu no céu e lançou uma tor­rente de armas sobre o filho de Kṛṣṇa.

VERSO 22: Atormentado por essa chuva de armas, o Senhor Raukmiṇeya, o poderosíssimo guerreiro, empregou a ciência mística chamada Mahāmāyā, que foi criada a partir do modo da bondade e que pode der­rotar qualquer outro poder místico.

VERSO 23: O demônio, então, lançou centenas de armas místicas pertencentes aos Guhyakas, Gandharvas, Piśācas, Uragas e Rākṣasas, mas o Senhor Kārṣṇi, Pradyumna, derrubou todas essas armas.

VERSO 24: Desembainhando Sua espada de gume afiado, Pradyumna de­cepou violentamente a cabeça de Śambara, com seu bigode ver­melho, elmo e brincos.

VERSO 25: Enquanto os residentes dos planetas superiores derramavam chuvas de flores sobre Pradyumna e ofereciam-Lhe louvores, Sua esposa apareceu no céu e transportou-O através do espaço de volta para a cidade de Dvārakā.

VERSO 26: Ó rei, quando o Senhor Pradyumna e Sua esposa desceram do céu e entraram nos aposentos internos do magnífico palácio de Kṛṣṇa, que estavam repletos de lindas mulheres, eles pareciam uma nuvem acompanhada pelo raio.

VERSOS 27-28: Ao verem Sua tez azul-escura da cor de uma nuvem de chuva, Suas roupas de seda amarela, Seus braços compridos e olhos avermelhados, Seu encantador rosto de lótus adornado com um agradável sorriso, Seus finos ornamentos e Seu grosso cabelo azul encaracolado, as mulheres do palácio pensaram que Ele era o Senhor Kṛṣṇa. Por isso, elas, ficando tímidas, esconderam-se aqui e ali.

VERSO 29: Pouco a pouco, por causa de leves diferenças entre Sua aparência e a de Kṛṣṇa, as damas perceberam que Ele não era o Senhor. Deleitadas e surpresas, aproximaram-se de Pradyumna e Sua consorte, que era uma joia entre as mulheres.

VERSO 30: Vendo Pradyumna, a Rukmiṇī de voz doce e olhos negros lem­brou-se de seu filho perdido, e seus seios umedeceram de afeição.

VERSO 31: [Śrīmatī Rukmiṇī-devī disse:] Quem é esta joia entre os ho­mens, que tem olhos de lótus? De quem Ele é filho, e que mulher O carregou no ventre? E quem é esta que Ele aceitou como es­posa?

VERSO 32: Se meu filho desaparecido, que foi raptado do berçário, ainda estivesse vivo em algum lugar, Ele teria a mesma idade e aparên­cia deste jovem.

VERSO 33: Mas como é possível que este jovem se pareça tanto com meu próprio Senhor, Kṛṣṇa, o manejador do arco Śārṅga, em Sua forma corpórea e membros, em Seu andar e tom de voz, e em Seu olhar sorridente?

VERSO 34: Sim, Ele deve ser o mesmo menino que carreguei no ventre, pois sinto grande afeição por Ele, e meu braço esquerdo está tre­mendo.

VERSO 35: Enquanto a rainha Rukmiṇī conjeturava dessa maneira, o Senhor Kṛṣṇa, filho de Devakī, chegou ao local com Vasudeva e Devakī.

VERSO 36: Embora tivesse perfeito conhecimento do que se passara, o Senhor Janārdana permaneceu em silêncio. O sábio Nārada, porém, explicou tudo, a começar pelo rapto do menino por parte de Śambara.

VERSO 37: Ao ouvirem esta história muitíssimo espantosa, as mulheres do palá­cio do Senhor Kṛṣṇa, radiantes de júbilo, saudaram Pradyumna, que estivera desaparecido por muitos anos, mas que agora estava de volta, como se regressasse da morada dos mortos.

VERSO 38: Devakī, Vasudeva, Kṛṣṇa, Balarāma e todas as mulheres do palácio, em especial a rainha Rukmiṇī, abraçaram o jovem casal e se regozijaram.

VERSO 39: Ouvindo que o desaparecido Pradyumna voltara para casa, os residentes de Dvārakā declararam: “Oh! A providência permitiu o retorno desta criança, como se voltasse da morte!”

VERSO 40: Não é de surpreender que as mulheres do palácio, que deviam ter afeição maternal por Pradyumna, confidencialmente sentis­sem atração extática por Ele, como se este fosse o próprio Senhor de suas vidas. Afinal, o filho parecia exatamente com o pai. De fato, Pradyumna era um reflexo perfeito da beleza do Senhor Kṛṣṇa, o abrigo da deusa da fortuna, e apareceu diante de seus olhos como o próprio Cupido. Já que até mesmo as mulheres que estavam no nível de Sua mãe sentiam atração conjugal por Ele, então o que se dizer de como as outras mulheres se sentiam ao vê-lO?

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