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CAPÍTULO SETENTA E NOVE

O Senhor Balarāma Parte em Peregrinação

Este capítulo descreve como o Senhor Baladeva satisfez os brāh­maṇas matando Balvala, banhou-Se em vários lugares sagrados de peregrinação e tentou dissuadir Bhīmasena e Duryodhana de lutar.

Na arena de sacrifício dos sábios na floresta de Naimiṣāraṇya, co­meçou a soprar um vento forte no dia da lua nova, espalhando um repulsivo cheiro de pus e cobrindo tudo de poeira. O demônio Balvala, com seu maciço corpo negro como breu e rosto muito amedron­tador, então apareceu ali carregando um tridente. Com Seu arado, o Senhor Baladeva capturou o demônio e, então, com Sua maça, desfe­riu-lhe um feroz golpe na cabeça, que o matou. Os sábios cantaram as glórias do Senhor Baladeva e ofertaram-Lhe suntuosos presentes.

O Senhor Balarāma, então, começou Sua peregrinação, durante a qual visitou muitos tīrthas sagrados. Quando teve notícia da batalha entre os Kurus e Pāṇḍavas, o Senhor foi até Kurukṣetra para tentar parar o duelo entre Bhīma e Duryodhana. Mas Ele não conseguiu dissuadi-los de lutar – tão profunda era a inimizade existente entre eles. Compreendendo que a luta era arranjo do destino, o Senhor Baladeva deixou o campo de batalha e voltou para Dvārakā.

Algum tempo depois, Balarāma retornou à floresta de Naimiṣāraṇya, onde os sábios executaram muitos sacrifícios de fogo em nome dEle. Em retribuição, o Senhor Baladeva concedeu aos sábios o conhecimento transcendental e revelou-lhes Sua identidade eterna.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Então, no dia da lua nova, ó rei, surgiu um vento terrível e assustador, espalhando poeira e um cheiro de pus por toda parte.

VERSO 2: A seguir, na arena de sacrifício, caiu uma chuva de coisas abomináveis enviada por Balvala, depois do que o próprio demônio apareceu com um tridente em mãos.

VERSOS 3-4: O imenso demônio parecia um amontoado de carvão preto. Seu tufo de cabelo e barba eram como cobre derretido, e seu rosto tinha presas horríveis e sobrancelhas franzidas. Ao vê-lo, o Senhor Balarāma pensou em Sua maça, que despedaça os exérci­tos dos inimigos, e em Seu arado, que castiga os demônios. Assim invocadas, Suas duas armas logo apareceram diante dEle.

VERSO 5: Com a ponta de Seu arado, o Senhor Balarāma agarrou o demônio Balvala, que voava pelo céu, e, com Sua maça, golpeou iradamente a cabeça daquele molestador de brāhmaṇas.

VERSO 6: Balvala gritou em agonia e caiu ao chão, com a testa quebrada a verter sangue. Ele lembrava uma montanha vermelha atingida por um raio.

VERSO 7: Os sublimes sábios honraram o Senhor Rāma com sinceras orações e concederam-Lhe bênçãos infalíveis. Em seguida, reali­zaram Seu banho ritualístico, assim como os semideuses formal­mente banharam Indra quando este matou Vṛtra.

VERSO 8: Eles deram ao Senhor Balarāma uma guirlanda Vaijayantī de flores de lótus que não murcham, na qual residia a deusa da fortuna, e também Lhe deram um conjunto de roupas e joias divinas.

VERSO 9: Então, recebendo permissão dos sábios, o Senhor foi com um grupo de brāhmaṇas ao rio Kauśikī, onde Se banhou. Dali, foi para o lago de onde flui o rio Sarayū.

VERSO 10: O Senhor seguiu o curso do Sarayū até chegar a Prayāga, onde Se banhou e executou rituais para agradar os semideuses e outros seres vivos. Em seguida, foi para o āśrama de Pulaha Ṛṣi.

VERSOS 11-15: O Senhor Balarāma banhou-Se nos rios Gomatī, Gaṇḍakī e Vipāśā, e também mergulhou no Śoṇa. Foi a Gayā, onde adorou Seus antepassados, e à foz do Ganges, onde executou abluções purificatórias. No monte Mahendra, viu o Senhor Paraśurāma e ofereceu-Lhe orações, após o que Se banhou nos sete braços do rio Godāvarī, e também nos rios Veṇā, Pampā e Bhīmarathī. Então, o Senhor Balarāma encontrou-Se com o Senhor Skanda e visitou Śrī-śaila, a morada do Senhor Giriśa. Nas províncias meridionais conhecidas como Draviḍa-deśa, o Senhor Supremo viu a colina sa­grada de nome Veṅkaṭa, bem como as cidades de Kāmakoṣṇī e Kāñcī, o excelso rio Kāverī e o santíssimo Śrī-raṅga, onde o Senhor Kṛṣṇa Se manifestou. Dali, foi para o monte Ṛṣabha, onde o Senhor Kṛṣṇa também mora, e para a Mathurā meridional. Então, foi até Setubandha, onde se destroem os mais graves pecados.

VERSOS 16-17: Ali em Setubandha [Rāmeśvaram], o Senhor Halāyudha deu aos brāhmaṇas dez mil vacas em caridade. Então, visitou os rios Kṛtamālā e Tāmraparṇī e as grandes montanhas Malayas. Na cordilheira Malaya, o Senhor Balarāma encontrou Agastya Ṛṣi sentado em meditação. Depois de prostrar-Se diante do sábio, o Senhor ofereceu-lhe orações e, então, recebeu bênçãos dele. Des­pedindo-Se de Agastya, prosseguiu até o litoral do oceano meri­dional, onde viu a deusa Durgā sob sua forma de Kanyā-kumārī.

VERSO 18: Em seguida, foi para Phālguna-tīrtha e banhou-Se no lago sa­grado Pañcāpsarā, onde o Senhor Viṣṇu Se manifestara direta­mente. Nesse lugar, distribuiu outras dez mil vacas.

VERSOS 19-21: O Senhor Supremo, então, viajou pelos reinos de Kerala e Tri­garta, visitando a cidade sagrada do senhor Śiva, Gokarṇa, onde o senhor Dūrjaṭi [Śiva] manifesta-se em pessoa. Depois de ter visitado também a deusa Pārvatī, que reside em uma ilha, o Senhor Balarāma foi para o distrito sagrado de Śūrpāraka e banhou-Se nos rios Tāpī, Payoṣṇī e Nirvindhyā. Em seguida, entrou na flo­resta Daṇḍaka e foi até o rio Revā, ao longo do qual se encontra a cidade de Māhiṣmatī. Então, banhou-Se em Manu-tīrtha e ter­minou voltando para Prabhāsa.

VERSO 22: O Senhor ouviu de alguns brāhmaṇas como todos os reis envolvidos na batalha entre os Kurus e os Pāṇḍavas haviam sido mortos. A partir dessa informação, concluiu que a Terra agora se aliviara de seu fardo.

VERSO 23: Querendo parar a luta de maça que estava então sendo trava­da entre Bhīma e Duryodhana no campo de batalha, o Senhor Balarāma foi para Kurukṣetra.

VERSO 24: Ao verem o Senhor Balarāma, Yudhiṣṭhira, o Senhor Kṛṣṇa, Arjuna e os irmãos gêmeos Nakula e Sahadeva ofereceram-Lhe reverências e ficaram em silêncio, pensando: “O que será que Ele veio nos dizer?”

VERSO 25: Ao encontrar Duryodhana e Bhīma com maças em suas mãos, cada qual disputando furiosamente pela vitória enquanto se mo­viam em círculos com muita destreza, o Senhor Balarāma disse-­lhes o seguinte.

VERSO 26: [O Senhor Balarāma disse:] Rei Duryodhana! E Bhīma! Escutai! Vós guerreiros sois iguais em capacidade de combate. Sei que um de vós tem maior força física, enquanto o outro possui melhor treinamento em técnica.

VERSO 27: Uma vez que sois adversários tão equiparados em poder de com­bate, não vejo como um de vós possa ganhar ou perder este duelo. Portanto, por favor, descontinuai essa luta inútil.

VERSO 28: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Eles não atenderam ao pedido do Senhor Balarāma, ó rei, embora ele fosse lógico, pois sua ini­mizade mútua era irrevogável. Cada qual ficava lembrando os insultos e injúrias que o outro lhe infligira.

VERSO 29: Concluindo que a luta era um arranjo do destino, o Senhor Balarāma regressou a Dvārakā. Ali, foi saudado por Ugrasena e Seus outros parentes, que ficaram todos satisfeitos ao vê-lO.

VERSO 30: Mais tarde, o Senhor Balarāma regressou a Naimiṣāraṇya, onde os sábios alegremente ocuparam-nO, a personificação de todo o sacrifício, na execução de várias espécies de sacrifícios védicos. O Senhor Balarāma agora havia Se afastado da guerra.

VERSO 31: O onipotente Senhor Balarāma concedeu aos sábios o conheci­mento espiritual puro, mediante o qual eles puderam ver o universo inteiro dentro dEle e também vê-lO presente em tudo.

VERSO 32: Depois de executar as oblações avabhṛtha juntamente com Sua espo­sa, o Senhor Balarāma, belamente vestido e adornado, e rodeado por Seus parentes mais próximos e outros familiares e amigos, parecia tão esplêndido quanto a Lua rodeada por seus raios re­fulgentes.

VERSO 33: Inúmeros outros passatempos como estes foram realizados pelo poderoso Balarāma, o ilimitado e incomensurável Senhor Supre­mo, cujo místico poder yogamāyā faz com que Ele pareça um ser humano.

VERSO 34: Todas as atividades do ilimitado Senhor Balarāma são surpreendentes. Quem quer que se lembre delas regularmente ao amanhecer e à tardinha se tornará muito querido à Suprema Personalidade de Deus, Śrī Viṣṇu.

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