VERSO 15
sva-śānta-rūpeṣv itaraiḥ sva-rūpair
abhyardyamāneṣv anukampitātmā
parāvareśo mahad-aṁśa-yukto
hy ajo ’pi jāto bhagavān yathāgniḥ
sva-śānta-rūpeṣu — aos pacíficos devotos do Senhor; itaraiḥ — outros, não-devotos; sva-rūpaiḥ — de acordo com seus próprios modos da natureza; abhyardyamāneṣu — sendo perseguidos por; anukampita-ātmā — o Senhor completamente compassivo; para-avara — espiritual e material; īśaḥ — controlador; mahat-aṁśa-yuktaḥ — acompanhado pela porção plenária chamada mahat-tattva; hi — certamente; ajaḥ — o não-nascido; api — embora; jātaḥ — nasce; bhagavān — a Personalidade de Deus; yathā — como se; agniḥ — o fogo.
A Personalidade de Deus, o controlador todo-compassivo tanto da criação espiritual quanto da criação material, é não-nascido, mas, quando há atrito entre Seus pacíficos devotos e pessoas que estão nos modos materiais da natureza, Ele nasce assim como o fogo, acompanhado pelo mahat-tattva.
SIGNIFICADO—Os devotos do Senhor são por natureza pacíficos porque não têm anseios materiais. Uma alma liberada não tem anseios, daí ela não se lamentar. Aquele que quer possuir também se lamenta ao perder sua posse. Os devotos não têm anseios por posses materiais e não têm anseios pela salvação espiritual. Eles estão situados no transcendental serviço amoroso ao Senhor por uma questão de dever, e não se importam com onde estão ou como têm de agir. Os karmīs, os jñānīs e os yogīs anseiam todos por possuir alguns bens materiais ou espirituais. Os karmīs querem posses materiais, os jñānīs e os yogīs querem posses espirituais, mas os devotos não querem nenhum bem material ou espiritual. Eles apenas querem servir ao Senhor em qualquer lugar nos mundos material ou espiritual que o Senhor deseje, e o Senhor é sempre especificamente compassivo para com tais devotos.
Os karmīs, os jñānīs e os yogīs têm mentalidades particulares nos modos da natureza, de maneira que são chamados itara, ou não-devotos. Esses itaras, incluindo até mesmo os yogīs, às vezes perseguem os devotos do Senhor. Durvāsā Muni, um grande yogī, perseguiu Mahārāja Ambarīṣa porque este era um grande devoto do Senhor. O grande karmī e jñānī Hiraṇyakaśipu perseguiu o seu próprio filho vaiṣṇava, Prahlāda Mahārāja. Há muitos exemplos dessa perseguição pelos itaras aos pacíficos devotos do Senhor. Quando ocorre esse atrito, o Senhor, por Sua grande compaixão para com Seus devotos puros, aparece em pessoa, acompanhado por Suas porções plenárias que controlam o mahat-tattva.
O Senhor está em toda parte, tanto no domínio material quanto no domínio espiritual, e Ele aparece por causa de Seus devotos quando há atrito entre Seu devoto e o não-devoto. Assim como a eletricidade é gerada pelo atrito da matéria em qualquer parte, o Senhor, sendo onipenetrante, aparece por causa do atrito entre devotos e não-devotos. Quando o Senhor Kṛṣṇa aparece numa missão, todas as Suas porções plenárias O acompanham. Quando Ele apareceu como o filho de Vasudeva, houve divergências de opinião sobre Sua encarnação. Alguns diziam: “Ele é a Suprema Personalidade de Deus.” Alguns diziam: “Ele é uma encarnação de Nārāyaṇa”, e outros diziam: “Ele é a encarnação do Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu.” Mas, na realidade, Ele é a Suprema Personalidade de Deus original – kṛṣṇas tu bhagavān svayam – e Nārāyaṇa, os puruṣas e todas as outras encarnações O acompanham para funcionar como diferentes participantes de Seus passatempos. Mahad-aṁśa-yuktaḥ indica que Ele é acompanhado pelos puruṣas, que criam o mahat-tattva. Isso é confirmado nos hinos védicos, mahāntaṁ vibhum ātmānam.
O Senhor Kṛṣṇa apareceu, assim como a eletricidade, quando houve um atrito entre Κaṁsa, Vasudeva e Ugrasena. Vasudeva e Ugrasena eram devotos do Senhor, e Κaṁsa, um representante dos karmīs e dos jnānīs, era um não-devoto. Compara-se Kṛṣṇa, tal como Ele é, ao Sol. Ele apareceu inicialmente do oceano do ventre de Devakī, e gradualmente satisfez os habitantes dos locais que rodeiam Mathurā, assim como o Sol alenta as flores de lótus pela manhã. Após subir gradualmente até o meridiano de Dvārakā, o Senhor Se pôs como o Sol, deixando tudo na escuridão, como foi descrito por Uddhava.