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Capítulo Dois

Lembranças do Senhor Kṛṣṇa

VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Quando Vidura pediu que o grande devoto Uddhava falasse sobre as mensagens do mais querido [o Senhor Kṛṣṇa], Uddhava não conseguiu responder imediatamente por causa da excessiva ansiedade que sentiu ao se lembrar do Senhor.

VERSO 2: Era ele que, mesmo em sua infância, aos cinco anos de idade, estava tão absorto no serviço ao Senhor Kṛṣṇa que, ao ser chamado por sua mãe para tomar o desjejum matinal, não desejava tomá-lo.

VERSO 3: Assim é que Uddhava serviu ao Senhor continuamente desde a infância, e essa atitude de serviço não esmoreceu na velhice. Tão logo foi indagado acerca da mensagem do Senhor, ele imediatamente se lembrou de tudo a respeito dEle [o Senhor].

VERSO 4: Por um momento, ele emudeceu por completo, e seu corpo não se mexia. Ele se absorveu no néctar da lembrança dos pés de lótus do Senhor em êxtase devocional, e parecia estar mergulhando cada vez mais fundo naquele êxtase.

VERSO 5: Vidura observou que Uddhava manifestou todas as transformações corpóreas transcendentais provocadas pelo êxtase total, e que ele estava tentando enxugar de seus olhos as lágrimas da saudade. Assim, Vidura pôde entender que Uddhava tinha desenvolvido completamente um grande amor pelo Senhor.

VERSO 6: O grande devoto Uddhava voltou logo da morada do Senhor para o plano humano, e, enxugando os olhos, despertou suas reminiscências do passado e falou a Vidura com satisfação.

VERSO 7: Śrī Uddhava disse: Meu querido Vidura, o sol do mundo, o Senhor Κṛṣṇa, se pôs, e agora nossa casa foi engolida pela grande serpente do tempo. O que posso te dizer sobre o nosso bem-estar?

VERSO 8: Este universo, com todos os seus planetas, é muito desventurado. E mais desventurados ainda são os membros da dinastia Yadu, porque eles não puderam identificar o Senhor Hari como sendo a Personalidade de Deus, assim como os peixes não podem identificar a Lua.

VERSO 9: Todos os Yadus eram devotos experientes, eruditos e especialistas no estudo da psique. Além disso, estavam sempre com o Senhor em todos os tipos de diversões. Ainda assim, foram capazes de conhecê-lO apenas como o Supremo que vive em toda parte.

VERSO 10: Sob nenhuma circunstância podem as palavras de pessoas desorientadas pela energia ilusória do Senhor desviar a inteligência daqueles que são almas completamente rendidas.

VERSO 11: O Senhor Śrī Kṛṣṇa, que manifestou Sua forma eterna aos olhos de todos sobre a Terra, fez desaparecer Sua forma da vista daqueles que não eram capazes de vê-lO [tal como Ele é] por não executarem a penitência exigida.

VERSO 12: O Senhor apareceu no mundo mortal por intermédio de Sua potência interna, yoga-māyā. Ele veio em Sua forma eterna, que é exatamente adequada para Seus passatempos. Esses passatempos são maravilhosos para todos, mesmo para aqueles que têm orgulho de sua própria opulência, incluindo o próprio Senhor sob Sua forma como o Senhor de Vaikuṇṭha. Assim, Seu [de Śrī Kṛṣṇa] corpo transcendental é o ornamento de todos os ornamentos.

VERSO 13: Todos os semideuses dos sistemas planetários universais superior, inferior e intermediário reuniram-se no altar do sacrifício rājasūya executado por Μahārāja Yudhiṣṭhira. Após verem as belas características corpóreas do Senhor Kṛṣṇa, todos eles consideraram que Ele era a hábil criação última de Brahmā, o criador dos seres humanos.

VERSO 14: As donzelas de Vraja, após passatempos de risos, humor e troca de olhares, ficavam angustiadas quando Kṛṣṇa as deixava. Elas costumavam segui-lO com os olhos e, deste modo, com a inteligência atordoada, sentavam-se e não conseguiam completar seus afazeres domésticos.

VERSO 15: A Personalidade de Deus, o controlador todo-compassivo tanto da criação espiritual quanto da criação material, é não-nascido, mas, quando há atrito entre Seus pacíficos devotos e pessoas que estão nos modos materiais da natureza, Ele nasce assim como o fogo, acompanhado pelo mahat-tattva.

VERSO 16: Quando penso no Senhor Kṛṣṇa – em como Ele nasceu na prisão em que Vasudeva estava vivendo embora Ele seja não-nascido, em como Ele Se afastou da proteção do pai indo para Vraja e vivendo ali incógnito por temor ao inimigo, e em como, embora ilimitadamente poderoso, Ele fugiu de Mathurā amedrontado –, todos esses incidentes desorientadores me fazem sofrer.

VERSO 17: O Senhor Kṛṣṇa pediu perdão a Seus pais por Sua [de Kṛṣṇa e de Balarāma] incapacidade de servir a seus pés, devido a Eles terem Se afastado de casa pelo grande temor a Κaṁsa. Ele disse: “Ó mãe, ό pai, por favor, perdoai-nOs por esta incapacidade.” Todo esse comportamento do Senhor causa-me dor no coração.

VERSO 18: Quem, após inalar a poeira de Seus pés de lótus mesmo que só uma vez, conseguiria se esquecer dela? Simplesmente por franzir Suas sobrancelhas, Kṛṣṇa deu o golpe mortal naqueles que estavam oprimindo a Terra.

VERSO 19: Tu viste pessoalmente como o rei de Cedi [Śiśupāla] logrou o sucesso na prática de yoga, embora odiasse o Senhor Kṛṣṇa. Mesmo os verdadeiros yogīs ambicionam esse sucesso com grande interesse através da execução de várias práticas. Quem pode tolerar a separação dEle?

VERSO 20: Certamente os outros que foram lutadores no Campo de Batalha de Kurukṣetra foram purificados pela investida das flechas de Arjuna, e, enquanto viam o rosto de lótus de Kṛṣṇa, tão agradável aos olhos, eles atingiram a morada do Senhor.

VERSO 21: O Senhor Śrī Kṛṣṇa é o Senhor de todos os tipos de tríades e é independentemente supremo na consecução de todos os tipos de fortuna. Ele é adorado pelos eternos mantenedores da criação, que Lhe oferecem a parafernália de adoração tocando-Lhe os pés com seus milhões de elmos.

VERSO 22: Portanto, ό Vidura, por acaso não é doloroso, para nós que somos servos dEle, quando nos lembramos de que Ele [o Senhor Kṛṣṇa] costumava apresentar-Se perante o rei Ugrasena, que estava sentado no trono real, e dava-lhe explicações, dizendo: “Ó Meu senhor, peço permissão para informar-te o seguinte”?

VERSO 23: Ai de mim! Como poderei me refugiar em alguém mais misericordioso do que aquele que concedeu a posição de mãe a uma demônia [Pūtanā], embora ela fosse infiel e tivesse preparado um veneno mortal para ser sugado de seu seio?

VERSO 24: Eu considero que os demônios, os quais são hostis ao Senhor, são superiores aos devotos porque, enquanto lutam com o Senhor, absortos em pensamentos de inimizade, eles são capazes de ver o Senhor sendo transportado no ombro de Garuḍa, o filho de Tārkṣya [Kaśyapa], e levando a arma roda em Sua mão.

VERSO 25: Quando Brahmā orou à Personalidade de Deus, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, para que trouxesse prosperidade à Terra, Ele foi gerado por Vasudeva no ventre de sua esposa Devakī na prisão do rei de Bhoja.

VERSO 26: Depois disso, Seu pai, temendo Kaṁsa, levou-O aos pastos de Mahārāja Nanda, e ali Ele viveu por onze anos, como uma chama coberta, com Baladeva, Seu irmão mais velho.

VERSO 27: Em Sua infância, o Senhor Todo-poderoso andava rodeado por vaqueirinhos e bezerros, e assim Ele viajava pela margem do rio Yamunā, através de jardins densamente cobertos de árvores e cheios de vibrações de pássaros chilreantes.

VERSO 28: Ao manifestar Suas atividades exatamente adequadas à infância, o Senhor era visível apenas aos olhos dos residentes de Vṛndāvana. Ora Ele chorava, ora Ele ria, tal qual uma criança, e, agindo dessa maneira, Ele parecia um leãozinho.

VERSO 29: Enquanto apascentava os belíssimos touros, o Senhor, que era o reservatório de toda opulência e fortuna, costumava tocar Sua flauta, e assim Ele animava os Seus fiéis seguidores, os vaqueirinhos.

VERSO 30: Os grandes magos que eram capazes de assumir qualquer forma foram empregados por Kaṁsa, o rei de Βhoja, para matar Kṛṣṇa, mas, no transcurso de Seus passatempos, o Senhor os matou tão facilmente como uma criança despedaça bonecos.

VERSO 31: Os habitantes de Vṛndāvana ficaram perplexos diante de grandes dificuldades porque uma certa porção do Yamunā fora envenenada pelo maior dos répteis [Kāliya]. O Senhor castigou o rei serpente dentro da água e expulsou-o dali, e, após sair da água, Ele fez com que as vacas bebessem a água e provou que ela voltara a seu estado natural.

VERSO 32: Kṛṣṇa, o Senhor Supremo, desejou utilizar a opulenta força financeira de Mahārāja Nanda para adorar as vacas, e também quis ensinar uma lição a Indra, o rei do céu. Assim, Ele aconselhou Seu pai a fazer a adoração a go, ou o pasto e as vacas, com a ajuda de brāhmaṇas eruditos.

VERSO 33: Ó sóbrio Vidura, o rei Indra, ao ser insultado em sua honra, derramou água incessantemente sobre Vṛndāvana, o que deixou os habitantes de Vraja, a terra das vacas, muito aflitos. No entanto, o compassivo Senhor Kṛṣṇa salvou-os do perigo com Seu passatempo do guarda-chuva, a colina Govardhana.

VERSO 34: Na terceira estação do ano, o Senhor desfrutou como a beleza central da assembleia das mulheres, atraindo-as com Suas belas canções em uma noite de outono iluminada pelo luar.

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