VERSO 41
manuḥ svayambhūr bhagavān bhavaś ca
ye ’nye tapo-jñāna-viśuddha-sattvāḥ
adṛṣṭa-pārā api yan-mahimnaḥ
stuvanty atho tvātma-samaṁ gṛṇīmaḥ
manuḥ — Svāyambhuva Manu; svayambhūḥ — senhor Brahmā; bhagavān — o poderosíssimo; bhavaḥ — senhor Śiva; ca — também; ye — que; anye — outros; tapaḥ — mediante austeridades; jñāna — mediante conhecimento; viśuddha — pura; sattvāḥ — cuja existência; adṛṣṭa pārāḥ — que não podem ver o fim; api — embora; yat — Vossas; mahimnaḥ — das glórias; stuvanti — eles oferecem orações; atho — portanto; tvā — a Vós; ātma-samam — de acordo com a capacidade; gṛṇīmaḥ — oferecemos orações.
Querido Senhor, mesmo grandes yogīs e místicos que são muito avançados, em virtude de austeridades e de conhecimento, e que se situaram plenamente em existência pura, bem como personalidades notáveis como Manu, o senhor Brahmā e o senhor Śiva, não podem alcançar o limite de Vossas glórias e potências. Todavia, eles oferecem suas orações de acordo com suas próprias capacidades. Da mesma maneira, nós, embora muito inferiores a essas personalidades, também oferecemos nossas orações de acordo com nossa própria capacidade.
SIGNIFICADO—O senhor Brahmā, o senhor Śiva, Manu (o pai da humanidade), grandes pessoas santas e também grandes sábios que se elevaram à plataforma transcendental através de austeridades e penitências, bem como através do serviço devocional, são imperfeitos em conhecimento quando comparados à Suprema Personalidade de Deus. Isso se aplica a qualquer pessoa neste mundo material. Ninguém pode ser igual ao Senhor Supremo em nada, muito menos em conhecimento. Em consequência disso, qualquer adoração oferecida à Suprema Personalidade de Deus jamais será completa. Não é possível alcançar os limites de todas as glórias do Senhor Supremo, que é ilimitado. Mesmo o próprio Senhor, sob Sua encarnação como Ananta, ou Śeṣa, não consegue descrever Suas próprias glórias. Embora Ananta tenha muitos milhares de rostos e esteja glorificando o Senhor há muitos e muitos anos, Ele não consegue alcançar os limites das glórias do Senhor. Assim, não é possível avaliar as glórias e potências do Senhor Supremo em sua plenitude.
Todavia, todos os que se ocupam em serviço devocional podem oferecer orações significativas ao Senhor. Todos estão situados em posições relativas, e ninguém é perfeito na glorificação ao Senhor. Começando com o senhor Brahmā e o senhor Śiva e descendo até nós, todos somos servos do Senhor Supremo. Estamos todos situados em posições relativas de acordo com o nosso próprio karma. Todavia, cada um de nós pode oferecer orações de coração e alma na medida em que pudermos apreciar as glórias do Senhor. Esta é a nossa perfeição. Mesmo quando alguém está na mais escura região da existência, ele pode oferecer orações ao Senhor de acordo com sua própria capacidade. O Senhor, portanto, diz na Bhagavad-gītā (9.32):
māṁ hi pārtha vyapāśritya
ye ’pi syuḥ pāpa-yonayaḥ
striyo vaiśyās tathā śūdrās
te ’pi yānti parāṁ gatim
“Ó filho de Pṛthā, todos os que se refugiam em Mim, mesmo que sejam de nascimento inferior – mulheres, vaiśyas [comerciantes], bem como śūdras [operários] – podem aproximar-se do destino supremo.”
Quem aceita seriamente os pés de lótus do Senhor purifica-se pela graça do Senhor e pela graça do servo do Senhor. Śukadeva Gosvāmī confirma esse fato: ye ’nye ca pāpā yad-apāśrayāśrayāḥ śudhyanti tasmai prabhaviṣṇave namaḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 2.4.18) Quem é levado até os pés de lótus do Senhor pelo esforço do servo do Senhor, o mestre espiritual, com certeza se purifica de imediato, por mais baixo que seja seu nascimento. Ele se qualifica a voltar ao lar, a voltar ao Supremo.