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CAPÍTULO QUARENTA E OITO

Kṛṣṇa Satisfaz Seus Devotos

Neste capítulo, o Senhor Śrī Kṛṣṇa primeiramente visita Trivakrā (também conhecida como Kubjā) e desfruta em sua companhia, após o que Ele visita Akrūra. O Senhor envia Akrūra a Hastināpura para agradar aos Pāṇ­ḍavas.

Depois de Uddhava ter relatado a Śrī Kṛṣṇa as notícias de Vraja, o Senhor foi à casa de Trivakrā, a qual estava decorada com variada ornamentação conducente ao desfrute sexual. Trivakrā acolheu Kṛṣṇa com grande respeito, dando-Lhe um assento elevado e, junto com suas companheiras, adorando-O. Ela também ofereceu um assento a Uddhava, como convinha à posição dele, mas esse apenas tocou no assento e sentou-se no chão.

O Senhor Kṛṣṇa, então, reclinou-Se em um leito opulento enquanto a serva Trivakrā se esmerava em banhar-se e enfeitar-se. Ela, em segui­da, aproximou-se de Kṛṣṇa, que a convidou para irem para a cama e passou a desfrutar com ela de várias maneiras. Por abraçar o Senhor Kṛṣṇa, Trivakrā livrou-se do tormento da luxúria. Ela pediu a Kṛṣṇa que ficasse ali por algum tempo, e o atencioso Senhor prometeu satisfazer seu pedido no momento oportuno. Ele, depois, regressou com Uddhava para Sua residência. Além de oferecer pasta de sândalo a Kṛṣṇa, Trivakrā nunca praticara nenhum ato piedoso; contudo, apenas em virtude da piedade deste único ato, ela alcançou a rara oportuni­dade de associar-se pessoalmente com Śrī Kṛṣṇa.

Śrī Kṛṣṇa, em seguida, foi à casa de Akrūra com o Senhor Baladeva e Uddhava. Akrūra honrou a eles três prostrando-se e oferecendo-­lhes assentos convenientes. Então, adorou Rāma e Kṛṣṇa, lavou-Lhes os pés e derramou a água em sua cabeça. Akrūra também Lhes ofereceu muitas orações.

O Senhor Kṛṣṇa ficou satisfeito com as orações de Akrūra e disse­-lhe que, como este era de fato Seu tio paterno, Kṛṣṇa e Balarāma deviam ser objeto de sua proteção e misericórdia. O Senhor Kṛṣṇa, então, louvou Akrūra como um santo e purificador dos pecadores e pediu-lhe que visitasse Hastināpura a fim de ver se os Pāṇḍavas, privados de seu pai, estavam bem. Por fim, o Senhor voltou para casa, levando Balarāma e Uddhava conSigo.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Em seguida, após assimilar o relató­rio de Uddhava, o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, a Alma onisciente de tudo o que existe, desejou satisfazer a serva Trivakrā, que estava perturbada pela luxúria. Com esse propósito, Ele foi à sua casa.

VERSO 2: A casa de Trivakrā estava opulentamente decorada com mobí­lia cara e repleta de alfaias sensuais destinadas a incitar o desejo sexual. Havia flâmulas, carreiras de cordões de pérolas, dosséis, leitos e assentos finos, e também incenso fragrante, lamparinas de óleo, guirlandas de flores e pasta de sândalo aromática.

VERSO 3: Ao ver que Ele chegara a sua casa, Trivakrā levantou-se às pressas de seu assento. Adiantando-se graciosamente com suas amigas, ela saudou com respeito o Senhor Acyuta oferecendo­-Lhe um excelente assento e outros artigos de adoração.

VERSO 4: Uddhava também recebeu um assento de honra, visto que era uma pessoa santa, mas ele apenas o tocou e sentou-se no chão. Então, o Senhor Kṛṣṇa, imitando as normas de conduta da socie­dade humana, logo Se colocou à vontade em uma cama opulenta.

VERSO 5: Trivakrā preparou-se banhando e ungindo o corpo, vestindo roupas finas, pondo joias, guirlandas e perfume, e também mascando noz de bétel, tomando uma bebida alcoólica aromática e assim por diante. Ela, então, aproximou-se do Senhor Mādhava com sorrisos tímidos e divertidos e com olhares sedutores.

VERSO 6: Chamando Sua amada, que estava ansiosa e tímida diante da expectativa deste novo contato, o Senhor, segurando-lhe as mãos enfeitadas de pulseiras, puxou-a para a cama. Ele assim desfru­tou em companhia daquela bela jovem, cujo único vestígio de piedade era o fato de ela ter oferecido bálsamo ao Senhor.

VERSO 7: Apenas por aspirar a fragrância dos pés de lótus de Kṛṣṇa, Trivakrā expurgou a ardente luxúria que o Cupido despertara em seus seios, peito e olhos. Com seus braços, ela abraçou seu aman­te, Śrī Kṛṣṇa, a personificação da bem-aventurança, entre seus seios e assim abandonou sua persistente aflição.

VERSO 8: Tendo assim obtido o Senhor Supremo, que é difícil de alcan­çar, mediante o simples ato de Lhe oferecer bálsamo para o corpo, a desafortunada Trivakrā apresentou ao Senhor da liberação o seguinte pedido.

VERSO 9: [Trivakrā disse:] Ó amado, por favor, fica aqui comigo mais alguns dias e desfruta. Não posso tolerar ficar sem Tua compa­nhia, ó pessoa de olhos de lótus!

VERSO 10: Prometendo-lhe satisfazer esse seu desejo luxurioso, o atencioso Kṛṣṇa, Senhor de todos os seres, apresentou Seus respeitos a Trivakrā e, então, regressou com Uddhava para Sua própria opulentíssima residência.

VERSO 11: O Senhor Viṣṇu, o Senhor Supremo de todos os senhores, é, em geral, difícil de alcançar. Quem O adora de modo conveniente e depois escolhe a bênção do gozo mundano dos sentidos é, sem dúvida, possuidor de uma pobre inteligência, pois se satisfaz com um resultado insignificante.

VERSO 12: Então, o Senhor Kṛṣṇa, querendo fazer algumas coisas, foi à casa de Akrūra com Balarāma e Uddhava. O Senhor também desejava satisfazer Akrūra.

VERSOS 13-14: Quando Akrūra viu seus próprios parentes, que eram as maiores das personalidades sublimes, vindo à distância, ele se levantou com grande alegria. Após abraçá-los e saudá-los, Akrūra pros­trou-se diante de Kṛṣṇa e Balarāma e foi, por sua vez, saudado por Eles. Então, depois que seus hóspedes haviam sentado, ele os adorou de acordo com as regras das escrituras.

VERSOS 15-16: Ó rei, Akrūra banhou os pés do Senhor Kṛṣṇa e do Senhor Balarāma e, em seguida, despejou a água em sua cabeça. Presenteou-Os­ com roupas finas, pasta de sândalo aromática, guirlandas de flores e joias excelentes. Depois de adorar assim os dois Senhores,­ ele prostrou a cabeça no chão. Então, pôs-se a massagear os pés do Senhor Kṛṣṇa, colocando-os em seu colo, e, de cabeça baixa em sinal de humildade, dirigiu-se a Kṛṣṇa e Balarāma com as seguintes palavras.

VERSO 17: [Akrūra disse:] É nossa boa fortuna que Vós, ó Senhores, matastes o perverso Kaṁsa e seus seguidores, assim poupando de interminável sofrimento a Vossa dinastia e trazendo-lhes a prosperidade.

VERSO 18: Vós ambos sois a Pessoa Suprema original, a causa do universo e sua própria substância. Nem a mais ínfima causa sutil ou produto manifesto da criação existe à parte de Vós.

VERSO 19: Ó Suprema Verdade Absoluta, com Vossas energias pessoais, criais este universo e, então, entrais nele. Desse modo, pode-se perceber-Vos em muitas formas diferentes tanto pelo processo de ouvir as autoridades quanto pela experiência direta.

VERSO 20: Assim como os elementos primários – terra e assim por dian­te – manifestam-se em abundante variedade entre todas as espécies de vida móvel e inerte; da mesma maneira, Vós, o Espírito Supremo, único e independente, pareceis ser múltiplo entre os variados objetos de Vossa criação.

VERSO 21: Vós criais, destruís e ainda mantendes este universo com Vossas energias pessoais – os modos da paixão, ignorância e bondade –, mas nunca Vos enredais nesses modos ou nas atividades que eles geram. Visto que sois a fonte original de todo o conhecimen­to, o que poderia fazer com que a ilusão Vos atasse em algum momento?

VERSO 22: Já que nunca se demonstrou que sois coberto por designações corpóreas materiais, deve-se concluir que, para Vós, não existem nem nascimento em sentido literal nem dualidade alguma. Portanto, jamais Vos sujeitais a cativeiro ou liberação, e, se pareceis fazê-lo, é só porque desejais que Vos vejamos assim, ou apenas porque carecemos de discriminação.

VERSO 23: Originalmente, enunciastes o milenar caminho religioso dos Vedas para o benefício de todo o universo. Sempre que esse caminho é obstruído por pessoas malévolas que trilham o caminho do ateísmo, assumis uma de Vossas encarnações, que estão todas no transcendental modo da bondade.

VERSO 24: Sois esta mesma Pessoa Suprema, meu Senhor, e agora aparecestes no lar de Vasudeva com Vossa porção plenária. Fizestes isso para aliviar o fardo da Terra através do extermínio de centenas de exércitos conduzidos por reis que são expansões dos inimigos dos semideuses, e também para difundir a fama de nossa dinastia.

VERSO 25: Hoje, ó Senhor, meu lar tornou-se afortunadíssimo porque entrastes nele. Sendo a Verdade Suprema, englobais em Vós os antepassados, as criaturas comuns, os seres humanos e os semideuses, e a água que lava Vossos pés purifica os três mundos. Em verdade, ó pessoa transcendente, sois o mestre espiritual do universo.

VERSO 26: Que pessoa erudita se aproximaria de alguém que não Vós em busca de refúgio, visto que sois o afetuoso, grato e verdadeiro benquerente de Vossos devotos? Àqueles que Vos adoram com amizade sincera, outorgais tudo o que eles desejam, até a Vós mesmo, apesar do que nunca aumentais nem diminuís.

VERSO 27: É por nossa grande fortuna, Janārdana, que agora estais visí­vel ante nós, pois até mesmo os mestres do yoga e os principais semideuses só podem alcançar esta meta mediante enorme dificuldade. Por favor, cortai logo as cordas de nosso apego ilusório a filhos, esposa, riqueza, amigos influentes, lar e corpo. Todo este apego não passa do efeito de Vossa energia material ilusória.

VERSO 28: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Dessa maneira, adorado e glorificado plenamente por Seu devoto, o Supremo Senhor Hari, com um sorriso, dirigiu-Se a Akrūra, encantando-o por completo com Suas palavras.

VERSO 29: O Senhor Supremo disse: És Nosso mestre espiritual, tio pater­no e amigo louvável, e somos como teus filhos, sempre dependen­tes de tua proteção, sustento e compaixão.

VERSO 30: Almas sublimes como tu são aqueles a quem realmente devemos servir e as mais adoráveis autoridades para quem deseja o bem supremo na vida. Os semideuses costumam se preocupar com seus interesses pessoais, mas os devotos santos nunca procedem assim.

VERSO 31: Ninguém pode negar que existem lugares santos com rios sagrados nem que os semideuses aparecem em formas de deidades feitas de terra e pedra. Mas estes purificam a alma apenas depois de muito tempo, ao passo que as pessoas santas purificam só pelo fato de serem vistas.

VERSO 32: És de fato o melhor de Nossos amigos, então, por favor, vai até Hastināpura e, como o benquerente dos Pāṇḍavas, procura saber como eles estão passando.

VERSO 33: Ouvimos dizer que, quando o pai dos jovens Pāṇḍavas faleceu, o rei Dhṛtarāṣṭra levou-os, junto com a angustiada mãe deles, para a capital e que agora eles estão morando lá.

VERSO 34: De fato, o influenciável Dhṛtarāṣṭra, filho de Ambikā, caiu sob o controle de seus perversos filhos, de modo que aquele rei cego não está tratando com imparcialidade os filhos de seu irmão.

VERSO 35: Vai e averigua se Dhṛtarāṣṭra está agindo bem ou não. Quando descobrirmos o que se passa, faremos os necessários arranjos para ajudar Nossos queridos amigos.

VERSO 36: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Depois de apresentar instruções completas a Akrūra, a Suprema Personalidade de Deus, Hari, regres­sou à Sua residência, acompanhado pelo Senhor Saṅkarṣaṇa e Uddhava.

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