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CAPÍTULO QUARENTA E NOVE

A Missão de Akrūra em Hastināpura

Este capítulo descreve como Akrūra foi para Hastināpura, viu a atitude injusta de Dhṛtarāṣṭra para com seus sobrinhos, os Pāṇḍavas, e, então, retornou a Mathurā.

Por ordem do Senhor Kṛṣṇa, Akrūra foi para Hastināpura, onde se encontrou com os Kauravas e Pāṇḍavas e, então, dedicou-se a pro­curar saber como Dhṛtarāṣṭra estava tratando esses últimos. Essa tarefa manteria Akrūra em Hastināpura durante vários meses.

Vidura e Kuntīdevī descreveram a Akrūra, em detalhes, como os filhos de Dhṛtarāṣṭra, invejosos das sublimes qualidades dos Pāṇḍavas, haviam tentado aniquilá-los através de vários métodos perversos e estavam tramando mais atrocidades. Com lágrimas nos olhos, Kuntīdevī perguntou a Akrūra: “Meus pais e outros parentes, liderados por Kṛṣṇa e Balarāma, alguma vez pensaram em mim e meus filhos, e Kṛṣṇa algum dia virá para nos consolar em nossa aflição?” Então, Kuntīdevī pôs-se a cantar os nomes do Senhor Kṛṣṇa em busca de proteção e também cantou mantras que expressavam rendição a Ele. Akrūra garantiu a Kuntīdevī: “Visto que teus filhos nasceram de se­mideuses como Dharma e Vāyu, não há razão para temer que alguma desgraça recaia sobre eles; ao contrário, deves ter confiança de que, muito em breve, eles receberão a maior boa fortuna possível a alguém.”

Akrūra, então, transmitiu a Dhṛtarāṣṭra a mensagem de Kṛṣṇa e Balarāma. Akrūra disse ao rei: “Assumiste o trono real após a morte de Pāṇḍu. Vendo a todos com equanimidade, que é o dever religioso dos reis, deves proteger todos os teus súditos e parentes. Mediante tal comportamento justo, ganharás plena fama e boa fortuna. Mas se agires de outra maneira, conseguirás nada além de infâmia nesta vida e condena­ção a uma existência infernal na próxima. O ser vivo nasce sozinho, e sozinho abandona a vida. Sozinho ele desfruta os resultados de sua piedade e pecado. Se alguém deixa de compreender a verdadeira identidade do eu e, em vez disso, mantém seus descendentes à custa de más ações, então é certo que irá para o inferno. Deve-se, portanto, aprender a compreender a efemeridade da existência material, que é como o sonho de quem dorme, a ilusão de um mágico ou um voo da imaginação, e, dessa maneira, deve-se controlar a mente para se permanecer calmo e equilibrado.”

A isso, Dhṛtarāṣṭra respondeu: “Não posso prestar a devida atenção a tuas palavras benéficas, ó Akrūra, que são como o doce néctar da imortalidade. Porque o nó apertado da afeição por meus filhos me fez parcial para com eles, tuas declarações não podem fixar-se em minha mente. Ninguém pode transgredir o arranjo do Senhor Supre­mo; o propósito para o qual Ele fez Seu advento na dinastia Yadu se cum­prirá inevitavelmente.”

Conhecendo agora a mentalidade de Dhṛtarāṣṭra, Akrūra pediu permissão a seus queridos parentes e amigos e retornou a Mathurā, onde relatou tudo ao Senhor Kṛṣṇa e ao Senhor Balarāma.

VERSOS 1-2: Śukadeva Gosvāmī disse: Akrūra foi para Hastināpura, a cidade que se distinguia pela glória dos governantes Pauravas. Lá, ele viu Dhṛtarāṣṭra, Bhīṣma, Vidura e Kuntī, bem como Bāhlika e seu filho Somadatta. Viu também Droṇācārya, Kṛpācārya, Karṇa, Duryodhana, Aśvatthāmā, os Pāṇḍavas e outros amigos íntimos.

VERSO 3: Depois que Akrūra, o filho de Gāndinī, saudou todos os seus parentes e amigos de modo conveniente, estes lhe pediram notícias dos membros de suas famílias, e Akrūra, por sua vez, perguntou-lhes sobre o bem-estar deles.

VERSO 4: Ele permaneceu em Hastināpura durante vários meses para investigar a conduta do rei de espírito fraco, que tinha filhos perversos e se inclinava a ceder aos caprichos de conselheiros perni­ciosos.

VERSOS 5-6: Kuntī e Vidura descreveram em detalhes a Akrūra as más intenções dos filhos de Dhṛtarāṣṭra, que não podiam tolerar as emi­nentes qualidades dos filhos de Kuntī — tais como sua poderosa influência, habilidade militar, força física, bravura e humildade — nem a intensa afeição que os cidadãos tinham por eles. Kuntī e Vidura também relataram a Akrūra como os filhos de Dhṛtarāṣṭra haviam tentado envenenar os Pāṇḍavas e armar outras cons­pirações semelhantes.

VERSO 7: Kuntīdevī, aproveitando-se da visita de seu irmão Akrūra, aproximou-se dele confidencialmente. Enquanto se lembrava de sua terra natal, falou com lágrimas nos olhos.

VERSO 8: [A rainha Kuntī disse:] Ó pessoa gentil, acaso meus pais, ir­mãos, irmãs, sobrinhos, mulheres da família e amigas de infância ainda se lembram de nós?

VERSO 9: Acaso meu sobrinho Kṛṣṇa, a Personalidade Suprema e o compassivo abrigo dos devotos, ainda Se lembra dos filhos de Sua tia? E Seu irmão Rāma, aquele de olhos de lótus, também Se lembra deles?

VERSO 10: Agora que estou sofrendo no meio de meus inimigos como uma corça cercada de lobos, Kṛṣṇa virá trazer consolo a mim e a meus filhos órfãos mediante Suas palavras?

VERSO 11: Kṛṣṇa, Kṛṣṇa! Ó magnífico yogī! Ó Alma Suprema e prote­tor do universo! Ó Govinda! Por favor, concede Tua proteção a mim, que me rendi a Ti. Eu e meus filhos estamos sendo dominados pelo infortúnio.

VERSO 12: Para aqueles que temem a morte e o renascimento, não vejo outro abrigo senão Teus libertadores pés de lótus, pois és o Senhor Supremo.

VERSO 13: Ofereço minhas reverências a Ti, Kṛṣṇa, o puro supremo, a Verdade Absoluta e a Superalma, o Senhor do serviço devocional puro e a fonte de todo o conhecimento. Aproximo-me de Ti em busca de abrigo.

VERSO 14: Śukadeva Gosvāmī disse: Meditando assim nos membros de sua família e também em Kṛṣṇa, o Senhor do universo, tua bi­savó, Kuntīdevī, tomada de pesar, colocou-se a chorar copiosamente, ó rei.

VERSO 15: Tanto Akrūra, que partilhava o sofrimento e a felicidade da rainha Kuntī, quanto o ilustre Vidura consolaram a rainha lembrando-lhe a maneira extraordinária como seus filhos haviam nascido.

VERSO 16: A ardente afeição que o rei Dhṛtarāṣṭra sentia por seus filhos fizera-o agir injustamente com os Pāṇḍavas. Pouco antes de partir, Akrūra se aproximou do rei, que estava sentado entre seus ami­gos e partidários, e transmitiu-lhe a mensagem que seus parentes – o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Balarāma – haviam enviado por pura amizade.

VERSO 17: Akrūra disse: Ó meu querido filho de Vicitravīrya, ó engrandecedor da glória dos Kurus, tendo falecido teu irmão Pāṇḍu, agora assumiste o trono real.

VERSO 18: Por dar proteção religiosa à Terra, agradar a teus súditos com teu caráter nobre e tratar todos os teus parentes com equanimidade, é certo que lograrás êxito e glória.

VERSO 19: Se agires de outra maneira, contudo, as pessoas te condenarão neste mundo, e, na próxima vida, entrarás nas trevas do inferno. Permanece equânime, portanto, com os filhos de Pāṇḍu e os teus próprios.

VERSO 20: Neste mundo, ninguém tem relação permanente alguma com ninguém mais, ó rei. Se não podemos ficar para sempre nem mesmo com o próprio corpo, o que se dizer, então, de esposa, fi­lhos e os demais.

VERSO 21: Toda criatura nasce sozinha, e sozinha morre, e sozinha experimenta as justas recompensas de suas ações boas e más.

VERSO 22: Disfarçados de dependentes queridos, estranhos roubam de um homem tolo sua riqueza adquirida por meios escusos, assim como a prole do peixe bebe toda a água que o sustenta.

VERSO 23: Um tolo se entrega ao pecado para manter sua vida, riqueza, filhos e outros parentes porque pensa: “Estas coisas são mi­nhas.” No fim, porém, essas mesmas coisas todas o abandonam, deixando-o frustrado.

VERSO 24: Abandonada por seus ditos dependentes, ignorante da verdadeira meta da vida, indiferente a seu verdadeiro dever e sem ter cumprido seus propósitos, a alma tola entra na escuridão cegante do inferno, levando consigo suas reações pecaminosas.

VERSO 25: Portanto, ó rei, encarando este mundo como um sonho, uma ilusão de mágico ou um voo da imaginação, por favor, controla tua mente com inteligência e torna-te equilibrado e tranquilo, meu senhor.

VERSO 26: Dhṛtarāṣṭra disse: Ó senhor da caridade, jamais me farto de ouvir tuas auspiciosas palavras. De fato, sou como um mortal que obteve o néctar dos deuses.

VERSO 27: Mesmo assim, gentil Akrūra, porque meu oscilante coração deixou-se influenciar pelo preconceito decorrente da afeição por meus filhos, estas tuas agradáveis palavras não podem permanecer fixas ali, assim como o relâmpago não se fixa em uma nuvem.

VERSO 28: Quem pode desafiar os preceitos do Senhor Supremo, que ago­ra fez Seu advento na dinastia Yadu para diminuir o fardo da Terra?

VERSO 29: Ofereço minhas reverências a Ele, a Suprema Personalidade de Deus, que cria este universo mediante a inconcebível atividade de Sua energia material e, então, distribui os diversos modos da natureza entrando dentro da criação. A partir dEle, cujos passatempos têm significados insondáveis, procedem tanto o ciclo enredador de nascimentos e mortes quanto o processo de libertação do mesmo.

VERSO 30: Śukadeva Gosvāmī disse: Depois de ter assim avaliado a ati­tude do rei, Akrūra, o descendente de Yadu, pediu permissão a seus estimados parentes e amigos e retornou à capital dos Yādavas.

VERSO 31: Akrūra relatou ao Senhor Balarāma e ao Senhor Kṛṣṇa como Dhṛtarāṣṭra estava se comportando em relação aos Pāṇḍavas. Assim, ó descendente dos Kurus, ele cumpriu o propósito para o qual fora enviado.

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