Capítulo Nove
Respostas Baseadas na Versão do Senhor
VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, a menos que sejamos influenciados pela energia da Suprema Personalidade de Deus, não há sentido para a relação da alma pura, em consciência pura, com o corpo material. Essa relação é exatamente como aquela de alguém que, estando sonhando, vê o próprio corpo agindo.
VERSO 2: Iludida, a entidade viva aparece em muitas formas oferecidas pela energia externa do Senhor. Enquanto desfruta nos modos da natureza material, a entidade viva aprisionada engana-se ao pensar em termos de “eu” e “meu”.
VERSO 3: Logo que se situa em sua glória constitucional e passa a desfrutar a transcendência que está além do tempo e da energia material, a entidade viva abandona de imediato os dois falsos conceitos da vida [eu e meu] e, então, torna-se plenamente manifesta como o eu puro.
VERSO 4: O rei, a Personalidade de Deus, estando muitíssimo satisfeito com o senhor Brahmā por causa de sua sincera penitência em bhakti-yoga, apresentou Sua forma eterna e transcendental diante de Brahmā. E esse objetivo serve para purificar a alma condicionada.
VERSO 5: O senhor Brahmā, o primeiro mestre espiritual, supremo no universo, não podia determinar a fonte de seu assento de lótus e, enquanto pensava em criar o mundo material, não podia entender a direção correta desse trabalho criativo, nem podia encontrar o processo para essa criação.
VERSO 6: Enquanto estava na água, ocupando-se com esse pensamento, duas vezes Brahmājī ouviu nas proximidades uma palavra de duas sílabas. Uma das sílabas foi tirada da décima sexta, e a outra, da vigésima primeira letra dos alfabetos sparśa, e ambas se juntaram para se tornarem a riqueza da ordem da vida renunciada.
VERSO 7: Quando ouviu o som, ele tentou encontrar quem o emitiu, procurando por todos os lados. Contudo, ao perceber que só ele estava ali presente, achou prudente se sentar com toda firmeza em seu assento de lótus e prestar atenção na execução de penitência, como fora instruído.
VERSO 8: Segundo o cálculo dos semideuses, o senhor Brahmā se submeteu a penitências por mil anos. Ele ouviu do céu esta vibração transcendental e a aceitou como divina. Então, controlou a mente e os sentidos, e as penitências que executou foram uma grande lição para as entidades vivas. Assim, ele é conhecido como o maior de todos os ascetas.
VERSO 9: A Personalidade de Deus, estando assim muito satisfeito com a penitência do senhor Brahmā, manifestou com alegria Sua morada pessoal, Vaikuṇṭha, o planeta supremo, acima de todos os outros. Essa morada transcendental do Senhor é adorada por todas as pessoas autorrealizadas, que estão livres de todas as espécies de sofrimentos e não são amedrontadas pela existência ilusória.
VERSO 10: Nessa morada pessoal do Senhor, os modos da ignorância e da paixão materiais não vigoram, tampouco existe alguma influência deles em bondade. Como não há predomínio da influência do tempo, o que se dizer, então, da energia ilusória externa? Ela não pode entrar nessa região. Sem discriminação, tanto os semideuses quanto os demônios adoram o Senhor como devotos.
VERSO 11: Descreve-se que os habitantes dos planetas Vaikuṇṭha têm uma reluzente tonalidade azul-celeste. Seus olhos assemelham-se a flores de lótus, sua roupa é de cor amarela, e seus traços físicos são muito atraentes. Todos têm a idade de jovens adolescentes, todos têm quatro braços, todos estão belamente decorados com colares de pérolas com medalhões ornamentais, e todos parecem refulgentes.
VERSO 12: Alguns deles têm a tonalidade refulgente como coral e diamantes, e têm guirlandas na cabeça, viçosas como flores de lótus, e alguns usam brincos.
VERSO 13: Os planetas Vaikuṇṭha também estão rodeados por vários aeroplanos, todos reluzentes e em brilhante situação. Esses aeroplanos pertencem aos grandes mahātmās, ou devotos do Senhor. As damas são tão belas como um raio devido ao seu matiz celestial, e tudo isso combinado parece o céu decorado com nuvens e raios.
VERSO 14: A deusa da fortuna, em sua forma transcendental, ocupa-se no serviço amoroso aos pés de lótus do Senhor e, impelida pelas abelhas negras, seguidoras da primavera, ela não só está ocupada em variado prazer – serviço ao Senhor, juntamente com suas companheiras inseparáveis –, mas também se ocupa em cantar as glórias das atividades do Senhor.
VERSO 15: O senhor Brahmā viu nos planetas Vaikuṇṭha a Personalidade de Deus, que é o Senhor de toda a comunidade de devotos, o Senhor da deusa da fortuna, o Senhor de todos os sacrifícios, e o Senhor do Universo, e que é servido pelos servos mais importantes, como Nanda, Sunanda, Prabala e Arhaṇa, Seus associados imediatos.
VERSO 16: A Personalidade de Deus, visto favoravelmente inclinado a Seus servidores amorosos, com Sua própria visão inebriante e atraente, parecia muitíssimo satisfeito. Tinha uma face sorridente, ornada com uma encantadora tonalidade avermelhada. Vestia roupas amarelas e usava brincos, e tinha um elmo sobre a cabeça. Possuía quatro braços, e Seu peito estava marcado com as linhas da deusa da fortuna.
VERSO 17: O Senhor estava sentado em Seu trono e estava rodeado por diferentes energias, como as quatro, dezesseis, cinco e seis opulências naturais, juntamente com outras energias insignificantes de caráter temporário. Mas Ele era o verdadeiro Senhor Supremo, desfrutando de Sua própria morada.
VERSO 18: O senhor Brahmā, vendo então a Personalidade de Deus em Sua plenitude, estava com o seu coração dominado pela alegria, e assim, em pleno amor e êxtase transcendentais, ficou com os olhos cheios de lágrimas de amor. Ele, então, prostrou-se diante do Senhor. Esse é o caminho da mais elevada perfeição para o ser vivo [paramahaṁsa].
VERSO 19: E vendo Brahmā diante de Si, o Senhor o considerou digno de criar os seres vivos, que seriam controlados como Ele quisesse, e estando assim muito satisfeito com ele, o Senhor cumprimentou Brahmā, dando-lhe um aperto de mãos, e, com um sorriso discreto, dirigiu-Lhe as seguintes palavras.
VERSO 20: A bela Personalidade de Deus dirigiu-Se ao senhor Brahmā: Ó Brahmā, estás impregnado de Vedas, e, em razão disso, fico muito satisfeito que durante tanto tempo tenhas realizado penitências para que possas criar. Dificilmente Me satisfaço com os pseudomísticos.
VERSO 21: Desejo-te boa sorte. Ó Brahmā, a Mim, que sou o outorgador de toda bênção, podes pedir tudo o que desejares. É oportuno saberes que a bênção última, que é o resultado de todas as penitências, é obter a percepção através da qual Eu sou entendido.
VERSO 22: A perfeição máxima do talento é obter a percepção pessoal acerca de Minhas moradas, e isso se tornou possível porque, na execução de rigorosa penitência, segundo Minha ordem, agiste com atitude submissa.
VERSO 23: Ó Brahmā impoluto, informo-te que fui Eu que então te ordenei que fizesses penitência quando estava perplexo em relação a qual era o teu dever. Essa penitência é Minha vida e alma, motivo pelo qual a penitência e Eu não somos diferentes.
VERSO 24: Crio este cosmos por meio dessa penitência, mantenho-o por intermédio da mesma energia, e aniquilo todo ele por meio da mesma energia. Portanto, o poder é simplesmente a penitência.
VERSO 25: O senhor Brahmā disse: Ó Personalidade de Deus, estás situado no coração de toda entidade viva como o diretor supremo, e, portanto, com Tua inteligência superior, que é livre de qualquer espécie de obstáculos, conheces todos os esforços.
VERSO 26: Apesar disso, meu Senhor, oro para que, por favor, satisfaças meu desejo. Por gentileza, então, informa-me como, apesar de Tua forma transcendental, assumes a forma mundana, embora não tenhas essa forma de modo algum.
VERSO 27: E [por favor, informa-me] como Tu, por Ti mesmo, manifestas diferentes energias para aniquilação, geração, aceitação e manutenção através de combinação e permutação.
VERSO 28: Ó senhor de todas as energias, por favor, dize-me filosoficamente tudo sobre elas. Atuas como a aranha que se cobre com sua própria energia, e Tua determinação é infalível.
VERSO 29: Por favor, fala-me para que eu possa aprender a temática, sendo instruído pela Personalidade de Deus, e possa agir como um instrumento para gerar entidades vivas sem eu ser condicionado por essas atividades.
VERSO 30: Ó meu Senhor, ó não-nascido, trocaste comigo um aperto de mão assim como um amigo procede com outro amigo [como se estivéssemos na mesma posição]. Estarei ocupado na criação das diferentes espécies de entidades vivas, e estarei ocupado em Teu serviço. Não serei perturbado, mas peço-Te que nada disso me leve a pensar com orgulho que eu sou o Supremo.
VERSO 31: A Personalidade de Deus disse: Nas escrituras, o conhecimento descrito a Meu respeito é muito confidencial e deve ser assimilado em conexão com o serviço devocional. A parafernália necessária para esse processo está sendo explicada por Mim. Podes aceitá-lo com cuidado.
VERSO 32: Tudo o que é Meu, a saber, Minha verdadeira forma eterna e Minha existência, cor, qualidades e atividades transcendentais – que tudo seja despertado dentro de ti através da verdadeira percepção, por Minha misericórdia imotivada.
VERSO 33: Brahmā, sou Eu, a Personalidade de Deus, que existia antes da criação, quando não havia nada além de Mim. Tampouco havia a natureza material, a causa desta criação. Aquilo que agora vês também sou Eu, a Personalidade de Deus, e, após a aniquilação, o que permanecer também serei Eu, a Personalidade de Deus.
VERSO 34: Ó Brahmā, tudo o que pareça ter algum valor, mas não está relacionado coMigo, não tem realidade. Tem por certo que isso é Minha energia ilusória, aquele reflexo que parece estar na escuridão.
VERSO 35: Ó Brahmā, por favor, toma conhecimento de que os elementos universais entram no cosmos e, ao mesmo tempo, não entram no cosmos; de modo semelhante, Eu mesmo também existo dentro de todas as coisas criadas e, ao mesmo tempo, estou fora de tudo.
VERSO 36: A pessoa que busca a Suprema Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus, deve decerto empreender essa busca em todas as circunstâncias, em todo espaço e tempo, tanto direta quanto indiretamente, até este ponto.
VERSO 37: Ó Brahmā, apenas segue esta conclusão mediante concentração rixa da mente, e nenhum orgulho te perturbará, nem na devastação parcial nem na final.
VERSO 38: Śukadeva Gosvāmī disse a Mahārāja Parīkṣit: A Suprema Personalidade de Deus, Hari, depois de ser visto em Sua forma transcendental, instruindo Brahmājī, o líder das entidades vivas, desapareceu.
VERSO 39: Com o desaparecimento da Suprema Personalidade de Deus, Hari, que é o objeto de desfrute transcendental para os sentidos dos devotos, Brahmā, de mãos postas, começou a recriar o universo, cheio de entidades vivas, como era antes.
VERSO 40: Certa vez, então, o antepassado de todas as entidades vivas e o pai da religiosidade, o senhor Brahmā, situou-se nos atos dos princípios reguladores, desejando o verdadeiro interesse para o bem-estar de todas as entidades vivas.
VERSO 41: Nārada, o mais querido dos filhos herdeiros de Brahmā, sempre pronto a servir seu pai, segue à risca as instruções dele, com seu comportamento exemplar, sua mansidão e controle dos sentidos.
VERSO 42: Nārada agradou muito a seu pai e desejou saber tudo sobre as energias de Viṣṇu, o mestre de todas as energias, pois Nārada era o maior de todos os sábios e o maior de todos os devotos, ó rei.
VERSO 43: O grande sábio Nārada também fez perguntas minuciosas a seu pai Brahmā, o bisavô de todo o universo, após vê-lo muito satisfeito.
VERSO 44: Logo a seguir, o pai [Brahmā], com muita satisfação, narrou a seu filho Nārada o texto védico suplementar, o Śrīmad-Bhāgavatam, que foi descrito pela Personalidade de Deus e que contém dez características.
VERSO 45: Na sequência, ó rei, o grande sábio Nārada instruiu o Śrīmad-Bhāgavatam ao ilimitadamente poderoso Vyāsadeva, que, na margem do rio Sarasvatī, meditava no serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, a Verdade Absoluta.
VERSO 46: Ó rei, as perguntas com as quais procuras saber como o universo se manifestou a partir da gigantesca forma da Personalidade de Deus, bem como outras perguntas, serão por mim respondidas minuciosamente através da explicação dos quatro versos já mencionados.