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CAPÍTULO TRINTA E UM

Os Cantos de Separação das Gopīs

Este capítulo narra como as gopīs, oprimidas por sentimentos de separação de Kṛṣṇa, sentaram-se na margem do Yamunā e começaram a orar por Sua audiência e a cantar Suas glórias.

Porque haviam dedicado suas mentes e as próprias vidas a Kṛṣṇa, as gopīs estavam fora de si devido à transcendental dor da saudade. Mas seu choro, que parece prova de infelicidade, mostra, na realidade, seu elevado estado de bem-aventurança transcendental. Como se diz, yata dekha vaiṣṇaver vyavahāra duḥkha/ niścaya jāniha sei paramānanda sukha: “Sempre que se vê um vaiṣṇava aparentemente infe­liz, deve-se saber com certeza que de fato ele está experimentando a mais elevada bem-aventurança espiritual.” Dessa maneira, cada uma das gopīs passou a se dirigir ao Senhor Śrī Kṛṣṇa segundo seu humor individual de êxtase, e todas elas Lhe suplicaram misericórdia.

À medida que os passatempos de Kṛṣṇa despontavam espontaneamente na mente das gopīs, elas cantavam suas canções, que aliviam a agonia daqueles que sofrem a dor ardente da separação de Kṛṣṇa e que concedem a suprema auspiciosidade. Elas cantavam: “Ó Senhor, ó amante, ó enganador, quando nos lembramos de Teu sorriso, de Teus olhares amorosos e de Teus passatempos com Teus amigos de infância, ficamos imensamente agitadas. Ao lembrarmo-nos de Teu rosto de lótus, ornado com cachos de cabelos negros cobertos com a poeira levantada pelas vacas, apegamo-nos irrevogavelmente a Ti. E quando lembramos como seguias as vacas de floresta em floresta com Teus delicados pés, sentimos muita dor.”

Em sua separação de Kṛṣṇa, as gopīs consideravam que um único momento era tal qual uma era inteira. Mesmo quando O viram anteriormente, elas acharam intolerável o piscar de suas pálpebras, pois, por uma fração de segundo, isso impedia que elas O vissem.

Os sentimentos extáticos que as gopīs sentiam pelo Senhor Kṛṣṇa podem parecer sintomas de luxúria, mas, na realidade, são manifestações de seu desejo puro de satisfazer os sentidos espirituais do Senhor Supremo. Não há nem o mais leve vestígio de luxúria neste comportamento das gopīs.

VERSO 1: As gopīs disseram: Ó amado, Teu nascimento na terra de Vraja tornou-a por demais gloriosa, e, em razão disso, Indirā, a deusa da for­tuna, sempre reside aqui. É apenas por Ti que nós, Tuas devotadas servas, mantemos nossas vidas. Estivemos procurando por Ti em toda parte, então, por favor, revela-Te a nós.

VERSO 2: Ó Senhor do amor, Teu olhar excede em beleza o verticilo do mais fino e perfeito lótus desabrochado em um lago durante o outono. Ó outorgador de bênçãos, estás matando as servas que se entregaram a Ti de livre e espontânea vontade, sem nenhum pagamento. Isso não é assassinato?

VERSO 3: Ó maior das personalidades, salvaste-nos repetidas vezes de todas as espécies de perigo, tais como a água envenenada, o ter­rível canibal Agha, as fortes chuvas, o demônio vento, o causti­cante raio de Indra, o demônio touro e o filho de Maya Dānava.

VERSO 4: Não és de fato o filho da gopī Yaśodā, ó amigo, mas sim a testemunha interna nos corações de todas as almas corporificadas. Porque o senhor Brahmā suplicou para que viesses proteger o universo, agora apareceste na dinastia Sātvata.

VERSO 5: Ó melhor dos Vṛṣṇis, Tua mão de lótus, que segura a mão da deusa da fortuna, concede destemor àqueles que se aproximam de Teus pés por medo da existência material. Ó amante, por favor, coloca sobre nossas cabeças essa mão de lótus que satisfaz todos os desejos.

VERSO 6: Ó destruidor do sofrimento do povo de Vraja, ó herói de todas as mulheres, Teu sorriso despedaça o falso orgulho de Teus devotos. Por favor, caro amigo, aceita-nos como Tuas servas e mostra-nos Teu belo rosto de lótus.

VERSO 7: Teus pés de lótus destroem os pecados passados de todas as almas corporificadas que se rendem a eles. Esses pés seguem as vacas nos pastos e são a morada eterna da deusa da fortuna. Já que certa vez puseste esses pés nos capelos da grande serpente Kāliya, por favor, coloca-os sobre nossos seios e arranca a luxú­ria de nossos corações.

VERSO 8: Ó pessoa de olhos de lótus, Tua doce voz e palavras encantadoras, que atraem a mente dos inteligentes, estão a nos confundir mais e mais. Nosso querido herói, por favor, revive Tuas servas com o néctar de Teus lábios.

VERSO 9: O néctar de Tuas palavras e as descrições de Tuas atividades são a vida e alma daqueles que sofrem neste mundo material. Estas narrações, transmitidas por sábios eruditos, erradicam as reações pecaminosas e concedem boa fortuna a quem quer que as ouça. Estas narrações difundem-se por todo o mundo e são cheias de poder espiritual. Aqueles que propagam a mensagem de Deus decerto são as pessoas mais munificentes.

VERSO 10: Teus sorrisos, Teus doces olhares amorosos, os passatempos íntimos e conversas confidenciais que desfrutamos conTigo – tudo isso é auspicioso para a meditação e toca o nosso coração. Ao mesmo tempo, no entanto, ó enganador, estas coisas agitam muito nossas mentes.

VERSO 11: Querido senhor, caro amante, quando deixas a vila dos vaqueiros para apascentar as vacas, nossas mentes se perturbam com a ideia de que Teus pés, mais belos do que um lótus, serão espetados pelas pontiagudas cascas de cereais e pela grama e plantas ásperas.

VERSO 12: No fim do dia, Tu nos mostras repetidas vezes o Teu rosto de lótus, coberto de cachos de cabelo azul-escuro e todo empoeirado. Dessa maneira, ó herói, despertas desejos luxuriosos em nossas mentes.

VERSO 13: Teus pés de lótus, que são adorados pelo senhor Brahmā, satisfazem os desejos de todos os que se prostram diante deles. Eles são o ornamento da Terra e, em tempo de perigo, são o objeto adequado de meditação. Ó destruidor da ansiedade, por favor, coloca esses pés de lótus sobre nossos seios.

VERSO 14: Ó herói, tem a bondade de distribuir para nós o néctar de Teus lábios, que realça o prazer conjugal e subjuga o pesar. Este néctar é saboreado por completo por Tua flauta ressonante e faz as pessoas esquecerem qualquer outro apego.

VERSO 15: Quando partes para a floresta durante o dia, uma minúscula fração de segundo torna-se como um milênio para nós, pois não podemos ver Tua pessoa. E até mesmo quando podemos olhar avidamente para Teu belo rosto, tão encantador com seu adorno de cabelos cacheados, nossas pálpebras, que foram elaboradas pelo tolo criador, dificultam esse prazer.

VERSO 16: Querido Acyuta, sabes muito bem por que viemos até aqui. Quem, senão um enganador como Tu, abandonaria mulheres jovens que vieram ver-Te no meio da noite, encantadas pelo som alto de Tua flauta? Apenas com o objetivo de ver-Te, rejeitamos por completo nossos maridos, filhos, ancestrais, irmãos e outros parentes.

VERSO 17: Nossas mentes muitas vezes se confundem ao pensarmos nas conversas íntimas que tivemos conTigo em segredo, e sentimos o despertar da luxúria em nossos corações e nos lembramos de Teu rosto sorridente, Teus olhares amorosos e Teu largo peito, o lugar de repouso da deusa da fortuna. Assim experimentamos o mais se­vero desejo de estar conTigo.

VERSO 18: Ó amado, Teu aparecimento todo-auspicioso destrói a aflição daqueles que residem nas florestas de Vraja. Nossas mentes anseiam por Tua associação. Por favor, dá-nos apenas um pouco desse remédio, que neutraliza a doença do coração de Teus devotos.

VERSO 19: Ó amadíssimo! Teus pés de lótus são tão macios que os colocamos gentilmente sobre nossos seios, temendo que se machuquem. Nossa vida depende inteiramente de Ti. Por isso, nossas mentes se enchem de preocupação, temendo que os seixos machuquem Teus tenros pés enquanto perambulas pelos caminhos da floresta.

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