No edit permissions for Português

CAPÍTULO TRINTA

As Gopīs Procuram por Kṛṣṇa

Este capítulo descreve como as gopīs, atormentadas durante a longa noite de separação de Kṛṣṇa, vagaram como loucas de floresta em floresta em busca dEle.

Quando Śrī Kṛṣṇa desapareceu de repente da arena da dança da rāsa, as gopīs, com as mentes cem por cento absortas em pensar nEle, começaram a procurá-lO nas várias florestas. A todas as criaturas, móveis e inertes, elas pediram notícias do paradeiro de Kṛṣṇa. Por fim, ficaram tão perturbadas que começaram a imitar Seus passatempos.

Posteriormente, enquanto divagavam em um recanto da floresta, as gopīs viram as pegadas de Śrī Kṛṣṇa, que apareciam entremeadas com as de Śrīmatī Rādhārāṇī. A visão dessas pegadas deixou-as extrema­mente transtornadas, e elas declararam que, sem dúvida, Śrīmatī Rādhārāṇī devia ter adorado Kṛṣṇa com excelência extraordinária, pois Ela lograra o privilégio de associar-Se com Ele a sós. Mais adiante no caminho, as gopīs chegaram a um lugar onde já não era possível ver as pegadas de Śrīmatī Rādhārāṇī, de modo que concluíram que Kṛṣṇa devia ter levado Rādhārāṇī em Seus ombros. Em outro lugar, notaram que as pegadas de Kṛṣṇa mostravam marcas apenas dos dedos e, por isso, as gopīs concluíram que Ele estivera a colher flores para com elas enfeitar Sua amada. Ainda em outro lugar, as gopīs viram sinais que as levaram a imaginar que Śrī Kṛṣṇa estivera amarrando os cachos do cabelo de Śrīmatī Rādhārāṇī. Todos esses pensamentos provoca­ram pesar na mente das gopīs.

Por causa da atenção especial que recebeu de Kṛṣṇa, Śrī Rādhā começou a considerar-Se a mais afortunada das mulheres. Ela Lhe disse que não conseguia mais caminhar e que Ele teria de carregá-lA nos ombros. Porém, bem naquele momento, o Senhor Kṛṣṇa desapa­receu de Sua visão. Śrīmatī Rādhārāṇī, tomada de aflição, começou, então, a procurá-lO em toda parte. Quando, por fim, encontrou Suas amigas gopīs, Ela lhes contou o que acontecera. Em seguida, todas as gopīs saíram à procura de Kṛṣṇa na floresta, indo até onde alcançava o luar. Porém, como acabaram não tendo êxito, elas voltaram para a margem do Yamunā e simplesmente passaram a cantar as glórias de Kṛṣṇa, em extremo desamparo.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Quando o Senhor Kṛṣṇa desapareceu tão subitamente, as gopīs sentiram enorme pesar por perdê-lO de vista, tal qual um grupo de elefantas que perdeu seu companheiro.

VERSO 2: Em virtude da lembrança do Senhor Kṛṣṇa, os corações das vaqueirinhas foram arrebatados por Seus movimentos e sorrisos amorosos, por Seus olhares brincalhões e conversas encantado­ras e pelos muitos outros passatempos que Ele desfrutava com elas. Absortas assim em pensar em Kṛṣṇa, o Senhor de Ramā, as gopīs começaram a encenar Seus vários passatempos transcendentais.

VERSO 3: Porque as amadas gopīs estavam absortas em pensamentos sobre seu amado Kṛṣṇa, os corpos delas imitavam Seu modo de andar, Seu sorriso, Seu modo de contemplá-las, Sua fala e Suas outras características distintivas. Profundamente imersas em pensar nEle e enlouquecidas por lembrar Seus passatempos, elas declaravam umas às outras: “Eu sou Kṛṣṇa!”

VERSO 4: Cantando bem alto sobre Kṛṣṇa, elas procuraram-nO por toda a floresta de Vṛndāvana como um bando de mulheres ensandecidas. Chegaram até mesmo a perguntar às árvores sobre Ele, que, como a Superalma, está presente dentro e fora de todas as coisas criadas, tal qual o céu.

VERSO 5: [As gopīs disseram:] Ó árvore aśvattha, ó plakṣa, ó nyagrodha, vistes Kṛṣṇa? Aquele filho de Nanda Mahārāja foi embora depois de roubar nossas mentes com Seus sorrisos e olhares amorosos.

VERSO 6: Ó árvores kurabaka, aśoka, nāga, punnāga e campaka, o irmão mais novo de Balarāma, cujo sorriso remove a audácia de todas as mulheres orgulhosas, passou por aqui?

VERSO 7: Ó amabilíssima tulasī, a quem os pés de Go­vinda são tão queridos, viste o infalível passar por aqui, carregando-te e rodeado por enxames de abelhas?

VERSO 8: Ó mālati, ó mallikā, ó jāti e yūthikā, Mādhava passou por aqui, dando-vos prazer com o toque de Sua mão?

VERSO 9: Ó cūta, ó priyāla, ó panasa, āsana e kovidāra, ó jambu, ó arka, ó bilva, bakula e āmra, ó kadamba e nīpa e todas vós, as demais plantas e árvores residentes nas margens do Yamunā e que dedi­cais vossa existência ao bem-estar alheio, nós gopīs perdemos nossas mentes, então, por favor, dizei-nos para onde Kṛṣṇa foi.

VERSO 10: Ó mãe terra, que austeridade executaste para conseguires o contato com os pés de lótus do Senhor Keśava, que te causou tão grande alegria a ponto de teus pelos estarem arrepiados? Pare­ces muito bela neste estado. Foi durante o atual aparecimento do Senhor que adquiriste este sintoma de êxtase, ou foi talvez muito antes, quando Ele pisou em ti em Sua forma de Vāmanadeva, o anão, ou até mesmo antes, quando Ele te abraçou em Sua forma de Varāhadeva, o javali?

VERSO 11: Ó amiga, esposa dos veados, o Senhor Acyuta esteve aqui com Sua amada, trazendo grande alegria a teus olhos? De fato, está soprando nesta direção a fragrância de Sua guirlanda de flores kunda, que se misturou com o kuṅkuma dos seios de Sua namo­rada quando Ele A abraçou.

VERSO 12: Ó árvores, vemos que estais prostradas. Quando o irmão mais novo de Rāma passou por aqui, seguido de abelhas inebriadas enxameando ao redor dos mañjarīs de tulasī que enfeitam Sua guirlanda, Ele reconheceu vossas reverências com Seus olhares afetuosos? Ele certamente estava com o braço descansando no ombro de Sua amada e levando na outra mão uma flor de lótus.

VERSO 13: Perguntemos a estas trepadeiras sobre Kṛṣṇa. Embora este­jam abraçando seu marido, esta árvore, elas com certeza devem ter sido tocadas pelas unhas de Kṛṣṇa, pois, em virtude do júbilo, estão manifestando erupções na pele.

VERSO 14: Tendo dito estas palavras, as gopīs, perturbadas em virtude de sua busca por Kṛṣṇa, começaram a encenar Seus vários passatempos, completamente absortas em pensar nEle.

VERSO 15: Uma gopī imitava Pūtanā, enquanto outra agia como o bebê Kṛṣṇa e fingia mamar no seio dela. Outra gopī, chorando em imitação ao bebê Kṛṣṇa, chutava uma gopī que fazia o papel do demônio-carrinho, Śakaṭāsura.

VERSO 16: Certa gopī assumiu o papel de Tṛṇāvarta e levou embora outra, que agia como o bebê Kṛṣṇa, enquanto uma outra gopī engati­nhava, com os guizos de tornozelo a tilintar à medida que ela ar­rastava os pés.

VERSO 17: Duas gopīs agiam como Rāma e Kṛṣṇa no meio de muitas outras, que faziam o papel de vaqueirinhos. Certa gopī encenava Kṛṣṇa matando o demônio Vatsāsura, representado por outra gopī, e duas outras gopīs interpretavam a morte de Bakāsura.

VERSO 18: Quando uma gopī imitava com perfeição a maneira de Kṛṣṇa chamar as vacas que se haviam desgarrado, de Ele tocar Sua flauta e de Ele Se desempenhar em vários esportes, as outras congratulavam-na exclamando: “Muito bem! Muito bem!”

VERSO 19: Outra gopī, com a mente fixa em Kṛṣṇa, caminhava com o braço descansando no ombro de uma amiga e declarava: “Sou Kṛṣṇa! Vede só meu andar gracioso!”

VERSO 20: “Não temais o vento e a chuva”, dizia uma gopī. “Eu vos salvarei.” E, em seguida, ela erguia seu xale sobre a cabeça.

VERSO 21: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Ó rei, certa gopī subiu nos ombros de outra e, pondo o pé na cabeça desta, disse: “Vai embora daqui, ó serpente perversa! Informo-te que Eu nasci neste mundo unicamente para castigar os invejosos.”

VERSO 22: Então, outra gopī tomou a palavra: Meus queridos vaqueirinhos, contemplai este furioso incêndio na floresta! Fechai logo os olhos e eu vos protegerei facilmente.

VERSO 23: Uma gopī atou sua esbelta companheira com uma guirlanda de flores e disse: “Agora vou amarrar este menino que quebrou os potes de manteiga e roubou a manteiga.” A segunda gopī, então, cobriu seu rosto e belos olhos, fingindo estar com medo.

VERSO 24: Enquanto imitavam dessa maneira os passatempos de Kṛṣṇa e perguntavam às trepadeiras e árvores onde poderia estar Kṛṣṇa, a Alma Suprema, aconteceu de as gopīs virem Suas pegadas em um recanto da floresta.

VERSO 25: [As gopīs disseram:] As marcas da bandeira, do lótus, do raio, do aguilhão para tanger elefantes, da cevada e assim por diante nestas pegadas caracterizam-nas muito bem como pertencentes àquela grande alma, o filho de Nanda Mahārāja.

VERSO 26: As gopīs começaram a seguir a trilha de Kṛṣṇa, como mostravam Suas muitas pegadas, mas, ao verem que essas marcas esta­vam de todo misturadas com as de Sua consorte mais querida, elas se perturbaram e falaram o seguinte.

VERSO 27: [As gopīs disseram:] Aqui vemos as pegadas de alguma gopī que certamente andou com o filho de Nanda Mahārāja. Ele deve ter posto Seu braço no ombro dEla, assim como um elefante descansa Sua tromba no ombro de uma elefanta que o acompanha.

VERSO 28: Com certeza, essa gopī em particular adorou perfeitamente a todo-poderosa Personalidade de Deus, Govinda, pois Ele ficou tão satisfeito com Ela que, abandonando o restante de nós, Ele A levou para um lugar isolado.

VERSO 29: Ó mocinhas! A poeira dos pés de lótus de Govinda é tão sagra­da que até mesmo Brahmā, Śiva e a deusa Ramā colocam essa poeira em suas cabeças para dissipar as reações pecaminosas.

VERSO 30: As pegadas desta gopī especial muito nos perturbam. De todas as gopīs, somente Ela foi levada para um lugar isolado, onde está des­frutando dos lábios de Kṛṣṇa. Prestai atenção! Não podemos ver Suas pega­das aqui! Decerto a grama e os brotos estavam machucando as macias solas dos pés dEla, então Seu amante A carregou.

VERSO 31: Por favor, observai, minhas queridas gopīs, como as pegadas do luxurioso Kṛṣṇa neste lugar estão mais fundas no chão. Car­regar o peso de Sua amada deve ter sido difícil para Ele. E, neste lugar, aquele menino inteligente deve tê-lA colocado no chão para colher algumas flores.

VERSO 32: Vede só como, neste lugar, o querido Kṛṣṇa colheu flores para Sua amada. Aqui, porque estava na ponta dos pés para alcançar as flores, Ele deixou a impressão apenas da parte da frente de Seus pés.

VERSO 33: Com certeza, Kṛṣṇa sentou-Se aqui com Sua namorada a fim de arrumar-Lhe os cabelos. O rapaz luxurioso deve ter feito uma coroa para aquela mocinha luxuriosa com as flores que colhera.

VERSO 34: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] O Senhor Kṛṣṇa desfrutou com aquela gopī, embora Ele, sendo autossatisfeito e completo em Si mesmo, desfrute apenas internamente. Dessa maneira, por contraste, Ele mostrou a desventura dos homens luxuriosos comuns e das mulheres duras de coração.

VERSOS 35-36: Enquanto vagueavam assim, com suas mentes tomadas de per­plexidade, as gopīs apontavam vários sinais que caracterizavam os passatempos de Kṛṣṇa. A gopī específica que Kṛṣṇa levara para uma floresta isolada, depois de ter abandonado todas as outras jovens, passou a considerar-se a melhor das mulheres. “Meu amado rejeitou todas as outras gopīs”, pensava Ela, “em­bora elas sejam impelidas pelo próprio Cupido. Ele escolheu re­ciprocar Seu amor apenas coMigo.”

VERSO 37: Enquanto o casal de amantes passava por uma parte da flores­ta de Vṛndāvana, a gopī especial começou a sentir-Se orgulho­sa. Ela disse ao Senhor Keśava: “Não posso mais caminhar. Por favor, carrega-Me para onde quiseres ir.”

VERSO 38: Assim solicitado, o Senhor Kṛṣṇa respondeu: “Simplesmente sobe em Meu ombro.” Mas logo após dizer isso, Ele desapareceu. Então, Sua amada consorte de imediato sentiu grande remorso.

VERSO 39: Ela gritava: Ó senhor! Meu amante! Ó queridíssimo, onde estás? Onde estás? Por favor, ó pessoa de braços poderosos, ó amigo, revela-Te para Mim, Tua pobre serva!

VERSO 40: Śukadeva Gosvāmī disse: Enquanto continuavam a procurar a trilha de Kṛṣṇa, as gopīs descobriram ali perto sua infeliz amiga. Ela estava perplexa devido à separação de Seu amante.

VERSO 41: Ela lhes contou como Mādhava Lhe oferecera muito respeito, mas como, em seguida, Ela fora desonrada por causa de Seu mau com­portamento. As gopīs ficaram extremamente atônitas ao ouvirem isso.

VERSO 42: Em busca de Kṛṣṇa, as gopīs então entraram nas profundezas da floresta tão longe quanto alcançava a luz do luar. Mas quando se viram mergulhadas nas trevas, decidiram voltar.

VERSO 43: Com suas mentes absortas em pensar nEle, elas conversavam sobre Ele, encenavam Seus passatempos e sentiam-se tomadas por Sua presença. Enquanto cantavam bem alto as glórias das qualidades transcendentais de Kṛṣṇa, elas se esqueceram por com­pleto de seus lares.

VERSO 44: As gopīs retornaram à margem do Kālindī. Meditando em Kṛṣṇa e esperando avidamente Sua chegada, elas se sentaram juntas para cantar sobre Ele.

« Previous Next »