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CAPÍTULO NOVE

Mãe Yaśodā Amarra o Senhor Kṛṣṇa

Enquanto permitia que Kṛṣṇa bebesse o leite de seu seio, mãe Yaśodā se viu forçada a parar porque notou o leite fervendo na panela e trans­bordando sobre o fogão. Como as criadas estavam ocupadas em outros afazeres, ela parou de dar seu seio para Kṛṣṇa mamar e ime­diatamente foi cuidar do leite que transbordava. Kṛṣṇa ficou muito irado devido ao comportamento de Sua mãe e planejou um meio de quebrar os potes de iogurte. Porque Ele criou essa perturbação, mãe Yaśodā decidiu amarrá-lO. Esses incidentes são descritos neste capítulo.

Certo dia, estando as criadas ocupadas em outra tarefa, mãe Yaśodā pessoalmente batia o iogurte para fazer manteiga, e, durante essa atividade, Kṛṣṇa veio e pediu-lhe que O deixasse mamar. É claro que mãe Yaśo­dā imediatamente aceitou Seu pedido, mas, nesse momento, ela viu que, sobre o fogão, o leite quente estava transbordando e, por isso, ela logo parou de dar seu seio para Kṛṣṇa mamar e foi tentar impedir que o leite transbordasse no fogão. Kṛṣṇa, entretanto, tendo sido impedido de continuar mamando, ficou muito irado. Ele pegou um pedaço de pedra, quebrou o pote onde se batia manteiga e entrou em um quarto, onde começou a comer a manteiga recém-batida. Quando mãe Yaśodā, após cuidar do leite que transbordava, regressou e viu o pote quebrado, ela pôde entender que aquilo era obra de Kṛṣṇa, de modo que ela foi procurá-lO. Ao entrar no quarto, ela viu Kṛṣṇa em pé sobre o ulūkhala, um grande pilão para moer especiarias. Tendo virado o pilão de cabeça para baixo, Ele estava roubando a mantei­ga suspensa a partir do teto e distribuía a manteiga aos macacos. Logo que viu Sua mãe chegando, Kṛṣṇa começou a correr, e mãe Yaśodā colocou-se a persegui-lO. Após percorrer alguma distância, mãe Yaśodā conseguiu agarrar Kṛṣṇa, que, devido à Sua ofensa, estava chorando. Mãe Yaśodā, evidentemente, ameaçou punir Kṛṣṇa se Ele voltasse a agir daquela maneira, e resolveu amarrá-lO com uma corda. Infelizmente, quando chegava a hora de dar o nó na corda, faltava uma distância de dois dedos de corda. Quando ela ampliou a corda, adicionando outra corda, viu que faltavam dois dedos mais uma vez. Repetidamente ela tentava, e repetidamente obser­vava que à corda faltava o tamanho equivalente a dois dedos. Em razão disso, ela ficou muito cansada, e Kṛṣṇa, vendo a exaustão de Sua afetuosa mãe, consentiu em ser amarrado. Então, sentindo com­paixão, Ele não lhe mostrou Sua potência ilimitada. Depois que mãe Yaśodā amarrou Kṛṣṇa e ocupou-se em outros afazeres domésticos, Kṛṣṇa notou a presença de duas árvores yamala-arjuna, as quais, na ver­dade, eram Nalakūvara e Maṇigrīva, dois filhos de Kuvera condenados por Nārada Muni a se tornarem árvores. Então, por Sua misericórdia, Kṛṣṇa começou a dirigir-Se até as árvores, a fim de que o desejo de Narada Muni se realizasse.

VERSOS 1-2: Śrī Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Certo dia, quando viu que todas as criadas estavam ocupadas em outras tarefas domésticas, mãe Yaśodā pessoalmente começou a bater o iogurte. Enquanto batia, lembrava-se das atividades infantis de Kṛṣṇa e, ao seu próprio modo, compunha canções e deliciava-se em declamar para si mesma todas aquelas atividades.

VERSO 3: Vestindo um sári amarelo açafroado, com um cinto em volta de seus quadris volumosos, mãe Yaśodā puxava a corda própria para bater, fazendo um esforço considerável; suas pulseiras e brincos agitavam-se e vibravam e todo o seu corpo trepidava. Devido ao intenso amor que sentia pelo seu filho, seus seios estavam úmidos de leite. Seu rosto, com suas belíssimas sobrancelhas, transpirava copiosa­mente, e flores mālatī caíam de seu cabelo.

VERSO 4: Enquanto mãe Yaśodā batia manteiga, o Senhor Kṛṣṇa, desejando beber o leite de seu seio, apareceu diante dela e, para aumentar-lhe o prazer transcendental, agarrou o bastão próprio para bater a manteiga e, então, impediu-a de continuar executando sua tarefa.

VERSO 5: Então, mãe Yaśodā abraçou Kṛṣṇa, colocou-O sentado em seu colo e, com grande amor e afeição, começou a olhar para o rosto do Senhor. Devido à sua intensa afeição, o leite escorria de seu seio. Contudo, ao ver que, sobre o fogão, a leiteira estava com o leite fervendo e transbor­dando, ela imediatamente deixou seu filho e foi cuidar do leite que derramava, embora a criança ainda não estivesse plenamente satis­feita com a quantidade de leite que bebera do seio de Sua mãe.

VERSO 6: Estando muito irado e mordendo Seus lábios vermelhos com Seus dentes, Kṛṣṇa, com lágrimas falsas em Seus olhos, quebrou o recipiente de iogurte com um pedaço de pedra. Então, Ele entrou em um quarto e começou a comer em um lugar solitário a manteiga recém-batida.

VERSO 7: Mãe Yaśodā, após retirar o leite quente do fogão, retornou ao local onde se batia leite, e, ao ver que o recipiente de iogurte fora quebrado e que Kṛṣṇa não estava presente, ela concluiu que Kṛṣṇa quebrara o pote.

VERSO 8: Naquele momento, Kṛṣṇa, tendo virado de cabeça para baixo um pilão de madeira próprio para moer especiarias, estava sentado sobre este e, de acordo com Sua vontade, distribuía aos macacos preparações lácteas, tais como iogurte e manteiga. Como estava roubando, Ele olhava em volta com grande ansiedade, suspeitando que pudesse ser castigado por Sua mãe. Mãe Yaśodā, ao vê-lO, aproximou-se dEle pelas costas muito cuidadosa­mente.

VERSO 9: Ao ver Sua mãe com uma vara na mão, o Senhor Śrī Kṛṣṇa rapi­damente desceu do topo do pilão e começou a fugir como se estivesse com muito medo. Embora os yogīs tentem capturá-lO como o Paramātmā através da meditação, desejando entrar na refulgência do Senhor após grandes austeridades e penitências, eles não conseguem alcançá-lO. Mas mãe Yaśodā, pensando que a mesma Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, era seu filho, começou a perseguir Kṛṣṇa para agarrá-lO.

VERSO 10: Enquanto seguia Kṛṣṇa, mãe Yaśodā, com sua cintura fina ficando sobrecarregada pelos seus pesados seios, naturalmente teve de redu­zir sua velocidade. Como perseguia Kṛṣṇa muito rapidamente, seu ca­belo se soltou, e as flores em seu cabelo caíam atrás dela. Entretanto, ela não deixou de capturar seu filho Kṛṣṇa.

VERSO 11: Ao ser pego por mãe Yaśodā, Kṛṣṇa foi ficando mais e mais assustado e admitiu ser um ofensor. À medida que olhava para Kṛṣṇa, Yaśodā via que, estando Ele chorando, Suas lágrimas misturavam-se com o unguento negro em volta de Seus olhos, e, quando Ele esfregava Seus olhos com as mãos, espalhava o unguento por todo o Seu rosto. Mãe Yaśodā, segurando seu belo filho pela mão, começou a censurá-lo compassivamente.

VERSO 12: Mãe Yaśodā estava sempre dominada por intenso amor a Kṛṣṇa, não sabendo quem era Kṛṣṇa ou quão poderoso Ele era. Devido à afeição materna por Kṛṣṇa, ela nunca nem mesmo procurou saber quem Ele era. Portanto, ao ver que seu filho ficara com medo excessivo, ela jogou fora a vara e desejou amarrá-lO para que Ele não conti­nuasse cometendo travessuras.

VERSOS 13-14: A Suprema Personalidade de Deus não tem começo nem fim, ex­terior ou interior, frente ou posterior. Em outras palavras, Ele é onipenetrante. Porque não está sob a influência do elemento tempo, para Ele não há diferença entre passado, presente e futuro; Ele existe em Sua própria forma transcendental em todos os tempos. Sendo absoluto, estando situado além da relatividade, nEle não há distin­ções, tais como causa e efeito, embora Ele seja a causa e o efeito de tudo. Essa pessoa imanifesta, que está além da percepção dos sentidos, agora apareceu como uma criança humana, e mãe Yaśodā, considerando-O seu filho comum, pegou uma corda e amarrou-O a um pilão de madeira.

VERSO 15: Quando tentava amarrar a criança desobediente, mãe Yaśodā viu que a corda era curta, faltando-lhe no comprimento a distância equi­valente à largura de dois dedos. Assim, ela pegou outra corda e a emendou com a primeira.

VERSO 16: Essa nova corda também era curta, faltando-lhe no comprimento a medida equivalente a dois dedos, e quando se juntou outra corda a ela, ainda faltavam dois dedos. Por mais cordas que ela juntasse, todas eram insuficientes; o comprimento que faltava não se completava.

VERSO 17: Assim, mãe Yaśodā juntou todas as cordas disponíveis na casa, apesar do que não conseguiu amarrar Kṛṣṇa. As amigas de mãe Yaśodā, as gopīs mais velhas da vizinhança, sorriam e desfrutavam do acontecimento divertido. Igualmente, mãe Yaśodā, embora empreen­desse tanto esforço, também sorria. Todas elas estavam admiradas.

VERSO 18: Devido ao árduo esforço empreendido por mãe Yaśodā, todo o seu corpo ficou coberto pela transpiração, as flores caíram de seu cabelo e seu penteado se desfez. Ao ver Sua mãe tão fatigada, a criança Kṛṣṇa teve misericórdia dela e Se deixou amarrar.

VERSO 19: Ó Mahārāja Parīkṣit, todo este universo, com seus grandes e in­signes semideuses, tais como o senhor Śiva, o senhor Brahmā e o senhor Indra, está sob o controle da Suprema Personalidade de Deus. Entretanto, o Senhor Supremo tem um atributo transcenden­tal: Ele aceita ficar sob o controle de Seus devotos. Kṛṣṇa demonstrou isso agora neste passatempo.

VERSO 20: Nem o senhor Brahmā, nem o senhor Śiva, nem mesmo a deusa da fortuna, que é sempre a melhor metade do Senhor Supremo, podem obter da Suprema Personalidade de Deus, o salvador deste mundo material, uma misericórdia semelhante àquela recebida por mãe Yaśodā.

VERSO 21: A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, o filho de mãe Yaśodā, é acessível aos devotos ocupados em serviço amoroso espontâneo, mas Ele não é muito acessível aos especuladores mentais, àqueles que se empenham em obter a autorrealização através de rigorosas aus­teridades e penitências, ou àqueles que consideram o corpo como sendo igual ao eu.

VERSO 22: Enquanto mãe Yaśodā estava muito atarefada com afazeres domésticos, o Senhor Supremo, Kṛṣṇa, notou as árvores gêmeas conhecidas como yamala-arjuna, que foram semideuses, filhos de Kuvera, em um milênio anterior.

VERSO 23: Em seu nascimento anterior, esses dois filhos, conhecidos como Nalakūvara e Maṇigrīva, eram extremamente opulentos e afortunados. Contudo, devido ao orgulho e falso prestígio, eles não se importavam com ninguém, de modo que Nārada Muni os amaldiçoou a se tornarem árvores.

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