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Capítulo Onze

As Qualidades Transcendentais de Vṛtrāsura

Este capítulo descreve as grandes qualidades de Vṛtrāsura. Porque os proeminentes comandantes dos demônios não seguiram o conse­lho de Vṛtrāsura e fugiram, Vṛtrāsura os tachou de covardes. Discursando com muita bravura, ele decidiu enfrentar sozinho os semideuses, que, ao verem a atitude de Vṛtrāsura, ficaram com tanto medo que quase desmaiaram, e Vṛtrāsura começou a pisoteá-los. Incapaz de tolerar essa afronta, Indra, o rei dos semideuses, atirou sua maça contra Vṛtrāsura, mas Vṛtrāsura era tão valente que, sem nenhuma dificuldade, agarrou a maça com sua mão esquerda e a usou para golpear o elefante de Indra. Recebendo o golpe desferido por Vṛtrāsura, o elefante, carregando Indra em suas costas, recuou treze metros e caiu.

Primeiramente, o rei Indra aceitara Viśvarūpa como sacerdote e, depois, matara-o. Mostrando a Indra suas atividades infames, Vṛtrāsura disse: “Se alguém é devoto do Senhor Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus, e dEle depende em todos os aspectos, é certo que ostenta vitória, opulência e paz mental. Semelhante pessoa nada ambiciona nos três mundos. O Senhor Supremo é tão bondoso que mostra favor especial a esse devoto, não lhe dando opu­lência que dificulte o seu serviço devocional. Portanto, desejo aban­donar tudo em prol do serviço ao Senhor. Quero sempre cantar as glórias do Senhor e me ocupar em Seu serviço. Que eu me desape­gue de minha família mundana e faça amizade com os devotos do Senhor. Não desejo ser promovido aos sistemas planetários supe­riores, nem mesmo a Dhruvaloka ou Brahmaloka, tampouco almejo me tornar invencível dentro deste mundo material. Não preciso de tais coisas.”

VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, Vṛtrāsura, o comandante dos demônios, transmitiu a seus oficiais conselhos dentro dos princípios da religião, mas os covardes comandantes demoníacos, determina­dos a fugir do campo de batalha, estavam tão apavorados que não puderam aceitar suas palavras.

VERSOS 2-3: Ó rei Parīkṣit, os semideuses, aproveitando-se de uma oportunidade favorável apresentada pelo tempo, atacaram o exército dos demônios pela retaguarda e começaram a rechaçar os soldados demoníacos, dispersando-os como se o exército não tivesse líder. Vendo a lamentável condição de seus soldados, Vṛtrāsura, o melhor dos asuras, que era chamado de Indraśatru, o inimigo de Indra, ficou muito pesaroso. Incapaz de tolerar esses reveses, parou e cen­surou fortemente os semideuses, falando com muita ira as seguintes palavras.

VERSO 4: Ó semideuses, esses soldados demoníacos nasceram em vão. Na verdade, eles foram expelidos dos corpos de suas mães tal qual excremento. Que valor há em matar tais inimigos pelas costas enquanto fugem de medo? Quem se considera um herói não deve matar o inimigo que está com medo de perder sua vida. Tal aniqui­lamento jamais é glorioso, tampouco promove o indivíduo aos planetas celestiais.

VERSO 5: Ó semideuses insignificantes, se realmente tendes fé em vosso heroísmo, se tendes paciência no âmago de vossos corações e se não ambicionais o gozo dos sentidos, por favor, permanecei diante de mim por um momento.

VERSO 6: Śukadeva Gosvāmī disse: Vṛtrāsura, o herói poderosíssimo e enraivecido, atemorizou os semideuses ao exibir seu corpo alto e forte. Quando ele rugiu com uma voz retumbante, quase todas as entidades vivas desmaiaram.

VERSO 7: Ao ouvirem Vṛtrāsura rugir tumultuosamente tal qual um leão, todos os semideuses desmaiaram e caíram ao solo, como se atingidos por raios.

VERSO 8: Vendo que, com medo, os semideuses fechavam seus olhos, Vṛtrāsura, pegando de seu tridente e fazendo a terra tremer sob o peso de sua grande força, esmagou os semideuses sob seus pés no campo de batalha, da mesma maneira que, na floresta, um elefante enlou­quecido esmaga bambus ocos.

VERSO 9: Vendo a disposição de Vṛtrāsura, Indra, o rei dos céus, exasperou-­se e atirou nele uma de suas grandes maças, cuja ação é extrema­mente difícil de ser anulada. Contudo, quando a maça se dirigia a ele, Vṛtrāsura não teve nenhuma dificuldade de agarrá-la com sua mão esquerda.

VERSO 10: Ó rei Parīkṣit, o poderoso Vṛtrāsura, o inimigo do rei Indra, cheio de ira e fazendo um som estrondoso no campo de batalha, golpeou com aquela maça a cabeça do elefante de Indra. Por esse ato heroi­co, os soldados de ambos os lados glorificaram-no.

VERSO 11: Golpeado pela maça que estava no poder de Vṛtrāsura, o elefante Airāvata parecia uma montanha ao ser atingida por um raio, e, sen­tindo muita dor e cuspindo o sangue acumulado em sua boca ma­chucada, recuou treze metros. Em grande aflição e levando Indra em suas costas, o elefante caiu.

VERSO 12: Ao ver o elefante carregador tão fatigado e ferido e ao ver que Indra ficara taciturno porque seu carregador fora atingido daquela maneira, a grande alma Vṛtrāsura, seguindo os princípios religio­sos, não voltou a atacar Indra com a maça. Aproveitando dessa opor­tunidade, Indra tocou o elefante com sua mão produtora de néctar, aliviando, assim, a dor do animal e curando-lhe as lesões. Então, o elefante e Indra se levantaram silenciosamente.

VERSO 13: Ó rei, quando o grande herói Vṛtrāsura viu que Indra, seu inimigo e matador de seu irmão, estava disposto a lutar e permanecia diante dele segurando o raio em sua mão, Vṛtrāsura se lembrou da cruel­dade com que Indra matara seu irmão. Relembrando as atividades perversas de Indra, enlouqueceu em meio a lamentações e confusão. Rindo com sar­casmo, falou as seguintes palavras.

VERSO 14: Śrī Vṛtrāsura disse: Aquele que matou um brāhmaṇa, aquele que matou o seu mestre espiritual – na verdade, aquele que matou meu irmão –, agora, por boa fortuna, está face a face comigo, como meu inimigo. Ó criatura das mais abomináveis, quando eu trespassar teu coração de pedra com meu tridente, eu me livrarei da dívida que tenho para com meu irmão.

VERSO 15: Somente com o propósito de viver nos planetas celestiais foi que mataste meu irmão mais velho – um brāhmaṇa autorrealizado, impecável e qualificado, que fora designado teu sacerdote principal. Ele era teu mestre espiritual, mas, embora confiasses a ele a realização de teu sacrifício, mais tarde, não mostraste nenhuma miseri­córdia ao decepar suas cabeças do mesmo modo que uma pessoa abate um animal.

VERSO 16: Indra, és desprovido de toda a decência, misericórdia, glória e boa fortuna. Como, devido às reações de tuas atividades fruitivas, estás destituído dessas boas qualidades, mereces ser condenado até mesmo pelos canibais [Rākṣasas]. Agora, trespassarei o teu corpo com o meu tridente, e, depois que morreres contorcendo-te em meio a dores, nem mesmo o fogo te tocará; somente os abutres comerão o teu corpo.

VERSO 17: És cruel por natureza. Se os outros semideuses, desconhecendo o meu poder, seguirem-te e atacarem-me com suas armas em riste, deceparei suas cabeças com este tridente afiado. Com essas ca­beças, executarei um sacrifício a Bhairava e aos outros líderes dos fantasmas, juntamente com suas hostes.

VERSO 18: Mas se, nesta batalha, decepares minha cabeça com teu raio e ma­tares meus soldados, ó Indra, ó grande herói, sentirei imenso prazer em oferecer o meu corpo às outras entidades vivas [tais como os chacais e os abutres]. Assim, terei cumprido minhas obrigações com relação ao meu karma, e minha fortuna será receber a poeira dos pés de lótus de grandes devotos, como Nārada Muni.

VERSO 19: Ó rei dos semideuses, uma vez que eu, teu inimigo, estou postado diante de ti, por que não arremessas o teu raio contra mim? O ataque em que arrojaste tua maça contra mim foi tão inútil como um pedido de dinheiro feito por um miserável, mas, em contraste, o raio que carregas não será inútil. Não tenhas dúvida alguma em relação a isso.

VERSO 20: Ó Indra, rei dos céus, o raio que carregas para me matar foi revestido com o poder do Senhor Viṣṇu e da força das austeridades de Dadhīci. Como vieste aqui de forma a me matar de acordo com as ordens do Senhor Viṣṇu, não há dúvida de que serei morto quando dispa­rares o teu raio. O Senhor Viṣṇu aliou-Se a ti. Portanto, tua vitória, opulência e todas as boas qualidades estão garantidas.

VERSO 21: Pela força do teu raio, eu me livrarei do cativeiro material e abandonarei este corpo e este mundo de desejos materiais. Fixando minha mente nos pés de lótus do Senhor Saṅkarṣaṇa, alcançarei o destino de grandes sábios, tais como Nārada Muni, conforme disse o Senhor Saṅ­karṣaṇa.

VERSO 22: Aqueles que se rendem plenamente aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus e estão sempre pensando nesses pés de lótus são acei­tos e reconhecidos pelo Senhor como Seus próprios assistentes ou servos pessoais. O Senhor jamais concede a esses servos as brilhan­tes opulências dos sistemas planetários – superior, inferior ou intermediário – existentes neste mundo material. Quando alguém possui opulência em qualquer uma dessas três partes do universo, suas posses naturalmente alimentam inimizades, ansiedades, agitação mental, orgulho e beligerância. Assim, ele tem que se submeter a muitos esforços para aumentar e manter suas posses, e sente uma grande infelicidade ao perdê-las.

VERSO 23: Nosso Senhor, a Suprema Personalidade de Deus, proíbe a Seus devotos buscarem inutilmente religião, desenvolvimento econômi­co e gozo dos sentidos. Ó Indra, pode-se, então, concluir quão bondoso é o Senhor. Tal misericórdia é acessível somente aos devotos imaculados, e não a pessoas que aspiram ganhos materiais.

VERSO 24: Ó meu Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus, serei capaz de novamente ser um servo de Vossos servos eternos e que encontram refúgio somente aos Vossos pés de lótus? Ó Senhor de minha vida, poderei mais uma vez me tornar servo deles para que a minha mente possa sempre pensar em Vossos atributos transcendentais, minhas palavras sempre glo­rifiquem esses atributos e meu corpo sempre se ocupe em prestar serviço amoroso à Vossa Onipotência?

VERSO 25: Ó meu Senhor, fonte de todas as oportunidades, não desejo desfrutar em Dhruvaloka, nos planetas celestiais nem no planeta onde reside o senhor Brahmā, tampouco quero ser o governante supremo de todos os planetas terrestres ou dos sistemas planetários inferio­res. Não desejo ser o mestre dos poderes do yoga místico, tampouco quero a liberação se eu tiver de abandonar Vossos pés de lótus.

VERSO 26: Ó Senhor de olhos de lótus, assim como os filhotes de pássaros que ainda não têm asas desenvolvidas ficam sempre à espera do mo­mento em que sua mãe retornará para alimentá-los, assim como os bezerrinhos amarrados com as cordas esperam ansiosamente a hora da ordenha, quando poderão beber o leite de suas mães, ou assim como uma esposa taciturna cujo esposo está longe de casa sempre almeja que ele retorne e a satisfaça em todos os aspectos, eu sempre aspiro a obter a oportunidade de Vos prestar serviço direto.

VERSO 27: Ó meu Senhor, meu mestre, como resultado de minhas atividades fruitivas, estou perambulando por este mundo material. Portanto, simplesmente busco amizade na companhia de Vossos devotos piedo­sos e iluminados. Sob o encanto de Vossa energia externa, continuo apegado a meu corpo, esposa, filhos e lar, mas quero definitivamente acabar com esse apego. Que minha mente, minha consciência e tudo o que eu tenho apeguem-se apenas a Vós.

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