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Capítulo Quatro

O Serviço Devocional de Śrī Mādhavendra Purī

Em seu Amṛta-pravāha-bhāṣya, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura apresenta o seguinte resumo do quarto capítulo. Ao passar pelo caminho de Chatrabhoga e ir a Vṛddhamantreśvara, Śrī Caitanya Mahāprabhu alcançou a fronteira da Orissa. Em Seu caminho, gozou de bem-aventurança transcendental, cantando e pedindo doações em diversas vilas. Dessa maneira, chegou à célebre vila de Remuṇā, onde há uma Deidade de Gopīnātha. Ali, narrou a história de Mādhavendra Purī, conforme ouvira de Seu mestre espiritual, Īśvara Purī. A narração é a seguinte.

Certa noite, estando em Govardhana, Mādhavendra Purī sonhou que a Deidade de Gopāla encontrava-Se na floresta. Na manhã seguinte, convidou seus amigos da vizinhança a acompanhá-lo e escavarem para retirar a Deidade da floresta. Então, ele estabeleceu a Deidade de Śrī Gopālajī no topo da colina Govardhana com grande pompa. Adorou-se Gopāla e observou-se o festival de Annakūṭa. Em toda parte, soube-se desse festival, e muitas pessoas das vilas vizinhas foram participar dele.
Noutra noite, a Deidade de Gopāla apareceu novamente a Mādhavendra Purī em um sonho, pedindo-lhe que fosse a Jagannātha Purī em busca de um pouco de polpa de sândalo e untasse com ela o corpo da Deidade. Tendo recebido essa ordem, Mādhavendra Purī partiu de imediato para a Orissa. Viajando através da Bengala, chegou à vila de Remuṇā, onde recebeu um pote de leite condensado (kṣīra) oferecido à Deidade de Gopīnāthajī. Gopīnātha havia roubado esse pote de leite condensado e o dado a Mādhavendra Purī. Desde então, a Deidade de Gopīnātha ficou conhecida como Kṣīra-corā-gopīnātha, a Deidade que roubou o pote de leite condensado. Após chegar a Jagannātha Purī, Mādhavendra Purī recebeu permissão do rei para levar um maṇa de sândalo e 225 gramas de cânfora. Com o auxílio de dois homens, ele levou esses artigos para Remuṇā. Mais uma vez, viu em sonho que Gopāla, na colina Govardhana, desejava que se transformasse aquele mesmo sândalo em pasta, se misturasse essa pasta com cânfora e se untasse o corpo de Gopīnāthajī. Compreendendo que isso satisfaria a Deidade de Gopāla em Govardhana, Mādhavendra Purī cumpriu a ordem e regressou a Jagannātha Purī.

Śrī Caitanya Mahāprabhu narrou essa história ao Senhor Nityānanda Prabhu e a outros devotos e louvou o serviço devocional puro de Mādhavendra Purī. Ao recitar alguns versos compostos por Mādhavendra Purī, entrou em êxtase. Porém, vendo muitas pessoas reunidas à Sua volta, conteve-Se e comeu um pouco de prasāda de arroz-doce. Assim Ele passou aquela noite e, na manhã seguinte, partiu mais uma vez para Jagannātha Purī.

VERSO 1: Ofereço minhas respeitosas reverências a Mādhavendra Purī, que ganhou um pote de arroz-doce roubado por Śrī Gopīnātha, quem Se tornou célebre depois disso como Kṣīra-corā. Tendo-Se comprazido com o amor de Mādhavendra Purī, Śrī Gopāla, a Deidade em Govardhana, apareceu à vista do público.

VERSO 2: Todas as glórias ao Senhor Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias a Nityānanda Prabhu! Todas as glórias a Advaita Prabhu! E todas as glórias a todos os devotos do Senhor Caitanya!

VERSOS 3-4: O Senhor foi a Jagannātha Purī e visitou o templo do Senhor Jagannātha. Além disso, encontrou-Se com Sārvabhauma Bhaṭṭācārya. Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura narra muito pormenorizadamente todos esses passatempos em seu livro Caitanya-bhāgavata.

VERSO 5: Todas as atividades de Śrī Caitanya Mahāprabhu são naturalmente muito doces e maravilhosas, e, ao serem descritas por Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura, tornam-se uma chuva de néctar.

VERSO 6: Portanto, declaro com muita humildade que, como Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura já descreveu muito bem esses incidentes, seria muita ostentação de minha parte repetir a mesma coisa, e isso não seria muito bom. Não estou autorizado a isso.

VERSO 7: Portanto, apresento apenas uma sinopse de todos os eventos que Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura já descreveu no Caitanya-maṅgala [agora conhecido como Caitanya-bhāgavata].

VERSO 8: Alguns dos incidentes, porém, ele não descreveu pormenorizadamente, de modo que os tentarei descrever neste livro.

VERSO 9: Sendo assim, presto minhas respeitosas reverências aos pés de lótus de Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura. Espero não ofender seus pés de lótus com esta atitude.

VERSO 10: Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu em direção a Jagannātha Purī com quatro de Seus devotos, e cantou o santo nome do Senhor, o mantra Hare Kṛṣṇa, com grande avidez.

VERSO 11: Cada dia, Śrī Caitanya Mahāprabhu ia pessoalmente a uma vila e coletava grande quantidade de arroz e outros cereais para a preparação da prasāda.

VERSO 12: Havia muitos rios no caminho, e, em cada rio, havia um cobrador de impostos. No entanto, eles não impediam o Senhor, e Este lhes mostrava misericórdia. Finalmente, Ele chegou à vila de Remuṇā.

VERSO 13: A Deidade de Gopīnātha no templo em Remuṇā era muito atrativa. O Senhor Caitanya visitou o templo e Lhe prestou Suas reverências com grande devoção.

VERSO 14: Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu prestou Suas reverências aos pés de lótus da Deidade de Gopīnātha, o turbante de flores sobre a cabeça de Gopīnātha caiu e pousou sobre a cabeça de Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 15: Ao cair sobre Sua cabeça o turbante da Deidade, Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito satisfeito e, assim, cantou e dançou de diversas maneiras com Seus devotos.

VERSO 16: Todos os servos da Deidade se encheram de admiração diante do intenso amor de Śrī Caitanya Mahāprabhu, de Sua beleza extraordinária e de Suas qualidades transcendentais.

VERSO 17: Tomados de amor por Śrī Caitanya Mahāprabhu, eles O serviram de muitas maneiras, e, naquela noite, o Senhor hospedou-Se no templo de Gopīnātha.

VERSO 18: O Senhor permaneceu lá porque estava muito ansioso por receber os restos do arroz-doce oferecido à Deidade de Gopīnātha, pois ouvira Īśvara Purī, Seu mestre espiritual, narrar o que uma vez acontecera ali.

VERSO 19: Aquela Deidade era amplamente conhecida como Kṣīra-corā-gopīnātha, e Caitanya Mahāprabhu contou a Seus devotos a história que fez com que a Deidade ficasse tão famosa.

VERSO 20: Outrora, a Deidade roubara um pote de arroz-doce para Mādhavendra Purī; por isso, ficou muito famosa como o Senhor que roubou o arroz-doce.

VERSO 21: Certa vez, Śrī Mādhavendra Purī viajou para Vṛndāvana, onde deu com a colina conhecida como Govardhana.

VERSO 22: Mādhavendra Purī andava quase louco em seu êxtase de amor a Deus, e não sabia se era dia ou noite. Ora levantava, ora caía ao solo. Não podia discriminar se estava em local adequado ou não.

VERSO 23: Após circum-ambular a colina, Mādhavendra Purī foi ao Govinda-kuṇḍa e tomou seu banho. Então, ele se sentou debaixo de uma árvore para fazer seu descanso noturno.

VERSO 24: Enquanto se encontrava sentado debaixo da árvore, um vaqueirinho desconhecido apareceu ali com um pote de leite, colocou-o perante Mādhavendra Purī e, sorrindo, falou-lhe o seguinte.

VERSO 25: “Por favor, bebe o leite que Eu trouxe. Por que não mendigas algum alimento para comeres? Que espécie de meditação estás praticando?”

VERSO 26: Ao ver a beleza daquele menino, Mādhavendra Purī ficou muito satisfeito. Ouvindo Suas doces palavras, esqueceu-se de toda fome e sede.

VERSO 27: Mādhavendra Purī disse: “Quem és Tu? Onde resides? E como sabias que estou jejuando?”

VERSO 28: O menino respondeu: “Senhor, sou um vaqueirinho e resido nesta vila. Em Minha vila, ninguém jejua.”

VERSO 29: “Nesta vila, uma pessoa pode mendigar alimentos dos outros e assim comer. Algumas pessoas bebem apenas leite, mas, se alguém não pede comida a ninguém, Eu lhe forneço todos os alimentos.”

VERSO 30: “As mulheres que vêm aqui pegar água te viram. Foram elas que Me forneceram este leite e mandaram que Eu viesse ter contigo.”

VERSO 31: O menino prosseguiu: “Preciso ir-Me logo para ordenhar as vacas, mas regressarei para pegar este pote de leite.”

VERSO 32: Dizendo isso, o menino deixou o local. Na verdade, Ele desapareceu de repente da vista de Mādhavendra Purī, cujo coração se encheu de espanto.

VERSO 33: Após beber o leite, Mādhavendra Purī lavou o pote e o deixou de lado. Ele olhou em direção ao caminho, mas o menino nunca mais voltou.

VERSO 34: Mādhavendra Purī não conseguiu dormir. Sentou-se e cantou o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Ao final da noite, cochilou um pouco, e suas atividades externas pararam.

VERSO 35: Em um sonho, Mādhavendra Purī viu o mesmíssimo menino. O menino apareceu ante ele e, segurando-lhe a mão, levou-o a uma moita na floresta.

VERSO 36: O menino mostrou a moita a Mādhavendra Purī e disse: “Resido nesta moita e, por causa disso, sofro muito sob o frio intenso, as torrentes de chuva, os ventos e o calor abrasante.”

VERSO 37: “Por favor, traze o povo da vila e faz com que Me tirem desta moita. Então, faz com que Me acomodem confortavelmente em cima da colina.”

VERSO 38: “Por favor, constrói um templo em cima daquela colina”, prosseguiu o menino, “e Me instala nesse templo. Depois disso, lava-Me com bastante água fria para limpar o Meu corpo.”

VERSO 39: “Faz muitos dias que venho te observando, e tenho Me perguntado: ‘Quando é que Mādhavendra Purī virá aqui para Me servir?’”

VERSO 40: “Aceitei teu serviço devido a teu amor extático por Mim. Sendo assim, vou aparecer, e todas as almas caídas se libertarão por meio de Minha audiência.”

VERSO 41: “Meu nome é Gopāla. Fui Eu que ergui a colina Govardhana. Fui instalado por Vajra, e a autoridade aqui sou Eu.”

VERSO 42: “Quando os muçulmanos atacaram, o sacerdote que Me servia Me escondeu nesta moita da floresta. Então, ele fugiu por temor ao ataque.”

VERSO 43: “Desde que o sacerdote foi embora, tenho permanecido nesta moita. Que bom que vieste aqui! Agora, tira-Me daqui com cuidado.”

VERSO 44: Após dizer isso, o menino desapareceu. Então, Mādhavendra Purī despertou e começou a meditar sobre o seu sonho.

VERSO 45: Mādhavendra Purī começou a se lamentar: “Vi o Senhor Kṛṣṇa diretamente sem poder reconhecê-lO!” Deste modo, ele caiu ao solo, absorto em amor extático.

VERSO 46: Mādhavendra Purī chorou por algum tempo, mas, então, fixou sua mente em cumprir a ordem de Gopāla. Dessa maneira, pôde se tranquilizar.

VERSO 47: Após tomar seu banho matinal, Mādhavendra Purī entrou na vila e reuniu todo o povo. Falou, então, o seguinte.

VERSO 48: “O proprietário desta vila, Govardhana-dhārī, encontra-Se na floresta. Vamos todos lá resgatá-lO daquele lugar.”

VERSO 49: “Como o matagal é muito denso, não seremos capazes de entrar na floresta. Portanto, trazei machados e pás para abrirmos o caminho.”

VERSO 50: Após ouvir isso, todo o povo acompanhou Mādhavendra Purī com grande prazer. Seguindo sua orientação, cortaram arbustos, abriram um caminho e entraram na floresta.

VERSO 51: Ao verem a Deidade coberta de sujeira e grama, todos ficaram tomados de espanto e prazer.

VERSO 52: Após limpar o corpo da Deidade, alguns deles disseram: “A Deidade é muito pesada. Ninguém A consegue mover.”

VERSO 53: Como a Deidade era muito pesada, alguns dos homens mais fortes se reuniram para carregá-lA até o topo da colina. Mādhavendra Purī também foi até lá.

VERSO 54: Uma grande pedra foi convertida em trono, sobre o qual se instalou a Deidade. Colocaram outra pedra grande atrás da Deidade como apoio.

VERSO 55: Todos os sacerdotes brāhmaṇas da vila se reuniram com nove potes d’água, e a água do lago Govinda-kuṇḍa foi levada até ali e filtrada.

VERSO 56: Quando a Deidade estava sendo instalada, novecentos potes d’água foram trazidos do Govinda-kuṇḍa. Ouviam-se sons musicais de clarins e tambores e o canto de mulheres.

VERSO 57: Durante o festival, na cerimônia de instalação, algumas pessoas cantaram e outras dançaram. Todo o leite, iogurte e a manteiga clarificada da vila foram trazidos para o festival.

VERSO 58: Diversas preparações e doces, bem como outras espécies de presentes, foram levados para lá. Sou incapaz de descrever tudo isso.

VERSO 59: Os moradores da vila trouxeram grande quantidade de folhas de tulasī, flores e diversas espécies de vestimentas. Então, Śrī Mādhavendra Purī começou pessoalmente o abhiṣeka (cerimônia do banho).

VERSO 60: Após, pelo canto do mantra, afastarem-se todas as coisas inauspiciosas, a cerimônia do banho da Deidade começou. Primeiro, massageou-se a Deidade com grande quantidade de óleo, de modo que Seu corpo ficou bem lustroso.

VERSO 61: Após o primeiro banho, foram dados banhos adicionais com pañca-gavya e, então, com pañcāmṛta. Realizou-se, enfim, o mahā-snāna com ghī e água, que haviam sido trazidos em cem potes.

VERSO 62: Terminado o mahā-snāna, massagearam mais uma vez a Deidade com óleo perfumado e lustraram Seu corpo. Então, realizaram a última cerimônia de banho com água perfumada mantida dentro de um búzio.

VERSO 63: Depois de limpo o corpo da Deidade, Ela foi bem vestida com novos trajes. Então, colocaram polpa de sândalo, guirlandas de tulasī e outras guirlandas de flores perfumadas sobre o corpo da Deidade.

VERSO 64: Após o fim da cerimônia de banho, acenderam incensos e lamparinas e ofereceram toda espécie de alimentos à Deidade. Entre esses alimentos, estavam incluídos iogurte, leite e tantos doces quantos foram recebidos.

VERSO 65: Primeiro, ofereceram-se à Deidade muitas variedades de comida; depois, água potável e perfumada em potes novos, e, então, água para lavar a boca. Por fim, ofereceu-se pān misturado com diversos condimentos.

VERSO 66: Após a última oferenda de tāmbūla e pān, realizou-se bhoga-ārātrika. Finalmente, todos ofereceram diversas orações e, então, reverências, prostrando-se, em plena rendição, como varas perante a Deidade.

VERSO 67: Ao ficarem sabendo que a Deidade ia ser instalada, as pessoas da vila trouxeram todo o seu suprimento de arroz, dāl e farinha de trigo. Trouxeram quantidades tão grandes que lotaram toda a superfície do topo da colina.

VERSO 68: Enquanto os moradores da vila traziam seus suprimentos de arroz, dāl e farinha, os oleiros dali traziam toda sorte de panelas de cozinha. Assim, de manhã, começaram a cozinhar.

VERSO 69: Dez brāhmaṇas cozinharam os cereais, e cinco brāhmaṇas cozinharam tanto os legumes secos quanto os líquidos.

VERSO 70: As preparações de legumes foram feitas de diversas espécies de espinafres, raízes e frutas colhidas na floresta, e alguém fez baḍā e baḍi socando o dāl. Dessa maneira, os brāhmaṇas prepararam toda classe de alimentos.

VERSO 71: De cinco a sete homens prepararam uma grande quantidade de capātīs, que foram suficientemente cobertos com ghī [manteiga clarificada], assim como o foram todos os legumes, arroz e dāl.

VERSO 72: Todo o arroz cozido foi amontoado sobre folhas de palāśa, e essas ficaram sobre panos novos estendidos no chão.

VERSO 73: Em volta do monte de arroz cozido, havia pilhas de capātīs, e, em volta destes, puseram todos os legumes e preparações de legumes líquidos dentro de diversos potes.

VERSO 74: Potes de iogurte, leite, leitelho, śikhariṇī, arroz-doce, nata e creme foram colocados ao lado dos legumes.

VERSO 75: Dessa maneira, realizou-se a cerimônia de Annakūṭa, e Mādhavendra Purī Gosvāmī pessoalmente ofereceu tudo a Gopāla.

VERSO 76: Encheram-se muitos potes com água perfumada para beber, e o Senhor Śrī Gopāla, que estivera faminto por muitos dias, comeu tudo o que se Lhe ofereceu.

VERSO 77: Apesar de Śrī Gopāla ter comido todas as oferendas, ainda assim, pelo toque de Sua mão transcendental, tudo permaneceu como antes.

VERSO 78: Mādhavendra Purī Gosvāmī percebeu transcendentalmente como Gopāla comera tudo apesar de o alimento ter permanecido o mesmo; não há nada secreto para os devotos do Senhor.

VERSO 79: Em um dia, organizou-se o maravilhoso festival e a instalação de Śrī Gopālajī. Decerto que tudo isso foi consumado pela potência de Gopāla. Ninguém senão o devoto pode compreender isto.

VERSO 80: Mādhavendra Purī ofereceu água para Gopāla lavar Sua boca, e deu-Lhe nozes de bétel para Ele mastigar. Então, enquanto realizava o ārati, todo o povo cantava: “Jaya! Jaya!” [“Todas as glórias a Gopāla!”]

VERSO 81: Fazendo arranjos para o Senhor descansar, Śrī Mādhavendra Purī trouxe um catre novo, sobre o qual estendeu um lençol novo e, assim, deixou a cama pronta.

VERSO 82: Construiu-se um templo temporário, cobrindo-se a cama de todos os lados com um acolchoado de palha. Assim, havia uma cama e um acolchoado de palha para cobri-la.

VERSO 83: Após fazer o Senhor deitar-Se na cama para descansar, Mādhavendra Purī reuniu todos os brāhmaṇas que haviam preparado a prasāda e lhes disse: “Agora, alimentai a todos suntuosamente, desde as crianças até os idosos!”

VERSO 84: Todas as pessoas ali reunidas se sentaram para honrar a prasāda, e, pouco a pouco, foram servidas. Os brāhmaṇas e suas esposas foram servidos primeiro.

VERSO 85: Não só as pessoas da vila de Govardhana tomaram prasāda, mas também aquelas procedentes de outras vilas. Elas também viram a Deidade de Gopāla e partilharam da prasāda.

VERSO 86: Vendo a influência de Mādhavendra Purī, todas as pessoas ali reunidas ficaram maravilhadas. Perceberam que a cerimônia de Annakūṭa, que se realizara antes, na época de Kṛṣṇa, agora se repetia pela misericórdia de Śrī Mādhavendra Purī.

VERSO 87: Naquela ocasião, Mādhavendra Purī iniciou todos os brāhmaṇas presentes no culto vaiṣṇava e os ocupou em diferentes classes de serviço.

VERSO 88: Após descansar, a Deidade deve ser desperta ao final do dia, e deve-se de imediato Lhe oferecer um pouco de comida e água.

VERSO 89: Ao espalhar-se por toda a região a notícia de que o Senhor Gopāla aparecera em cima da colina Govardhana, todas as pessoas das vilas vizinhas foram ver a Deidade.

VERSO 90: Uma após a outra, as vilas iam com alegria rogar a Mādhavendra Purī que lhes reservasse um dia para a realização da cerimônia de Annakūṭa. Assim, por algum tempo, dia após dia, realizou-se a cerimônia de Annakūṭa.

VERSO 91: Śrī Mādhavendra Purī não comia nada durante todo o dia, mas, à noite, após fazer a Deidade deitar-Se para descansar, tomava uma preparação láctea.

VERSO 92: Na manhã seguinte, começou novamente a prestação de serviço à Deidade, e o povo de uma vila chegou com toda espécie de alimentos.

VERSO 93: Os habitantes da vila levavam para a Deidade de Gopāla tantos cereais, ghī, iogurte e leite quantos tinham em sua vila.

VERSO 94: No dia seguinte, quase como antes, houve uma cerimônia de Annakūṭa. Todos os brāhmaṇas prepararam alimentos, e Gopāla os aceitou.

VERSO 95: O local ideal para praticar a consciência de Kṛṣṇa é Vrajabhūmi, ou Vṛndāvana, onde as pessoas se sentem naturalmente inclinadas a amar a Kṛṣṇa e Kṛṣṇa sente-Se naturalmente inclinado a amá-las.

VERSO 96: De diferentes vilas, vieram multidões de pessoas para ver a Deidade de Gopāla, e tomaram suntuosa mahā-prasāda. Ao verem a forma sobre-excelente do Senhor Gopāla, desapareceram todas as lamentações e tristezas que tinham.

VERSO 97: Todas as vilas da vizinhança de Vrajabhūmi [Vṛndāvana] ficaram sabendo do aparecimento de Gopāla, e todas as pessoas dessas vilas foram vê-lO. Dia após dia, todas elas realizaram a cerimônia de Annakūṭa.

VERSO 98: Dessa maneira, não só as vilas vizinhas, mas também todas as outras províncias, ficaram sabendo do aparecimento de Gopāla. Assim, vieram pessoas de toda parte, trazendo grande variedade de presentes.

VERSO 99: As pessoas de Mathurā, que são grandes capitalistas, também trouxeram vários presentes e os ofereceram perante a Deidade em serviço devocional.

VERSO 100: Assim, chegaram incontáveis presentes de ouro, prata, vestimentas, artigos perfumados e comestíveis. O tesouro de Gopāla aumentava diariamente.

VERSO 101: Um riquíssimo kṣatriya da ordem real construiu um templo, outrem fez utensílios de cozinha, e outrem construiu muros de proteção.

VERSO 102: Cada família residente da terra de Vrajabhūmi contribuiu com uma vaca. Dessa maneira, milhares de vacas se tornaram propriedade de Gopāla.

VERSO 103: Por fim, chegaram da Bengala dois brāhmaṇas pertencentes à ordem renunciada, e Mādhavendra Purī, gostando muito deles, acolheu-os em Vṛndāvana e lhes deu toda classe de confortos.

VERSO 104: Mādhavendra Purī iniciou, então, aqueles dois brāhmaṇas, encarregando-os do serviço diário ao Senhor. Esse serviço era executado continuamente, e a adoração à Deidade se tornou esplêndida. Assim, Mādhavendra Purī ficou muito satisfeito.

VERSO 105: Dessa maneira, realizou-se a adoração à Deidade no templo muito esplendidamente por dois anos. Então, certo dia, Mādhavendra Purī teve um sonho.

VERSO 106: Em seu sonho, Mādhavendra Purī viu Gopāla, que dizia: “A temperatura de Meu corpo ainda não baixou. Por favor, traz sândalo da província da Malaya e unta com a polpa o Meu corpo para Me refrescar.”

VERSO 107: “Traze polpa de sândalo de Jagannātha Purī. Por favor, vai depressa. Já que ninguém mais pode fazer isso, tu deves fazer isso.”

VERSO 108: Após ter este sonho, Mādhavendra Purī Gosvāmī ficou muito contente devido ao êxtase de amor a Deus e, a fim de cumprir a ordem do Senhor, partiu para o leste rumo à Bengala.

VERSO 109: Antes de partir, Mādhavendra Purī tomou todas as providências para manter regular a adoração à Deidade, e atribuiu diversos deveres a diferentes pessoas. Então, obedecendo à ordem de Gopāla, partiu para a Bengala.

VERSO 110: Chegando Mādhavendra Purī à casa de Advaita Ācārya em Śāntipura, o Ācārya ficou muito satisfeito de ver o amor extático a Deus que transparecia em Mādhavendra Purī.

VERSO 111: Advaita Ācārya pediu para ser iniciado por Mādhavendra Purī. Após O iniciar, Mādhavendra Purī partiu para o sul da Índia.

VERSO 112: Chegando ao sul da Índia, Śrī Mādhavendra Purī visitou Remuṇā, onde Se encontra Gopīnātha. Ao ver a beleza da Deidade, Mādhavendra Purī ficou comovido.

VERSO 113: No corredor do templo, do qual as pessoas em geral avistavam a Deidade, Mādhavendra Purī cantou e dançou. Então, sentou-se ali e perguntou a um brāhmaṇa que espécie de alimentos eles ofereciam à Deidade.

VERSO 114: Pela excelência das preparações, Mādhavendra Purī percebeu, por dedução, que se ofereciam apenas os melhores comestíveis.

VERSO 115: Mādhavendra Purī pensou: “Vou perguntar ao sacerdote que alimentos se oferecem a Gopīnātha, de modo que, fazendo arranjos em nossa cozinha, possamos oferecer alimentos semelhantes a Śrī Gopāla.”

VERSO 116: Ao ser indagado sobre esse assunto, o sacerdote brāhmaṇa explicou, em pormenores, que tipo de alimento era oferecido à Deidade de Gopīnātha.

VERSO 117: O sacerdote brāhmaṇa disse: “À noite, oferecem arroz-doce à Deidade em doze potes de barro. Como o sabor desse arroz é tão bom quanto néctar [amṛta], ele se chama amṛta-keli.”

VERSO 118: “Esse arroz-doce é famoso em todo o mundo como gopīnātha-kṣīra. Ele não é oferecido em nenhuma outra parte.”

VERSO 119: Enquanto Mādhavendra Purī conversava com o sacerdote brāhmaṇa, o arroz-doce foi levado perante a Deidade para Lhe ser oferecido. Ao ouvir isso, Mādhavendra Purī pensou o seguinte.

VERSO 120: “Se me dessem um pouco de arroz-doce sem eu pedir, eu, então, poderia prová-lo e fazer uma preparação semelhante para oferecer ao meu Senhor Gopāla.”

VERSO 121: Mādhavendra Purī ficou muito envergonhado de ter desejado provar o arroz-doce, e de imediato se colocou a pensar no Senhor Viṣṇu. Enquanto pensava assim no Senhor Viṣṇu, a oferenda foi concluída, após o que começou a cerimônia de ārati.

VERSO 122: Após o fim do ārati, Mādhavendra Purī prestou suas reverências à Deidade e, então, deixou o templo. Ele não disse mais nada a ninguém.

VERSO 123: Mādhavendra Purī evitava mendigar. Era inteiramente desapegado e indiferente às coisas materiais. Ele não esmolava. Se alguém lhe oferecia algum alimento, ele comia; caso contrário, jejuava.

VERSO 124: Um paramahaṁsa como Mādhavendra Purī fica sempre satisfeito no serviço amoroso ao Senhor. A fome e a sede materiais não podem impedir suas atividades. Ele desejou provar um pouco do arroz-doce oferecido à Deidade; considerou, portanto, ter cometido uma ofensa ao desejar comer o que estava sendo oferecido à Deidade.

VERSO 125: Mādhavendra Purī deixou o templo e foi sentar-se no mercado da vila, que estava vazio. Sentado ali, começou a cantar. Neste ínterim, o sacerdote do templo fez a Deidade deitar-Se para dormir.

VERSO 126: Ao terminar seus deveres diários, o sacerdote foi descansar. Em um sonho, ele viu a Deidade de Gopīnātha vir conversar com ele, e Ela falava o seguinte.

VERSO 127: “Por favor, levanta-te e abre a porta do templo. Guardei um pote de arroz-doce para o sannyāsī Mādhavendra Purī.”

VERSO 128: “Este pote de arroz-doce está logo atrás da Minha cortina de pano. Tu não o viste por causa de Meus truques.”

VERSO 129: “Um sannyāsī chamado Mādhavendra Purī está sentado no mercado vazio. Por favor, leva este pote de arroz-doce que está atrás de Mim e o entrega para ele.”

VERSO 130: Ao despertar do sonho, o sacerdote se levantou de imediato da cama e decidiu tomar banho antes de entrar no aposento da Deidade. Então, abriu a porta do templo.

VERSO 131: Seguindo as orientações da Deidade, o sacerdote encontrou o pote de arroz-doce atrás da cortina de pano. Retirou o pote e limpou com um pano o local onde havia sido guardado. Então, saiu do templo.

VERSO 132: Fechando a porta do templo, dirigiu-se à vila com o pote de arroz-doce. Ele gritava em cada tenda do mercado à procura de Mādhavendra Purī.

VERSO 133: Segurando o pote de arroz-doce, o sacerdote gritava: “Quem tem por nome Mādhavendra Purī, por favor, vem e pega este pote! Gopīnātha roubou este pote para ti!”

VERSO 134: O sacerdote prosseguiu: “Ó sannyāsī chamado Mādhavendra Purī, por favor, vem pegar este pote de arroz-doce e desfruta da prasāda com grande felicidade! És a pessoa mais afortunada dentro destes três mundos!”

VERSO 135: Ao ouvir esse convite, Mādhavendra Purī apareceu e se identificou. Então, o sacerdote lhe entregou o pote de arroz-doce e lhe prestou reverências, se prostrando como uma vara perante ele.

VERSO 136: Assim que o sacerdote relatou os pormenores da história do pote de arroz-doce, Śrī Mādhavendra Purī se absorveu em amor extático por Kṛṣṇa.

VERSO 137: Ao ver os sintomas de amor extático manifestos em Mādhavendra Purī, o sacerdote ficou maravilhado. Pôde entender o motivo pelo qual Kṛṣṇa ficara tão agradecido a ele, e viu que a ação de Kṛṣṇa era condizente.

VERSO 138: O sacerdote prestou reverências a Mādhavendra Purī e regressou ao templo. Então, em êxtase, Mādhavendra Purī comeu o arroz-doce que Kṛṣṇa lhe oferecera.

VERSO 139: Depois disso, Mādhavendra Purī lavou o pote e o quebrou em pedaços. Então, com todo cuidado, guardou todos os pedaços embrulhados em seu manto.

VERSO 140: Cada dia, Mādhavendra Purī comia um pedaço daquele pote de barro e, após o comer, era prontamente arrebatado pelo êxtase. Essas histórias são maravilhosas!

VERSO 141: Tendo quebrado o pote e embrulhado os pedaços em sua roupa, Mādhavendra Purī começou a pensar: “Amanhã de manhã, quando as pessoas souberem que o Senhor me deu um pote de arroz-doce, haverá grandes multidões.”

VERSO 142: Pensando assim, Śrī Mādhavendra Purī prestou suas reverências a Gopīnātha naquele local e deixou Remuṇā antes do amanhecer.

VERSO 143: Após caminhar muito, Mādhavendra Purī chegou, por fim, a Jagannātha Purī, que também é conhecida como Nīlācala. Ali, viu o Senhor Jagannātha e ficou arrebatado em êxtase amoroso.

VERSO 144: Quando se absorvia no êxtase de amor a Deus, Mādhavendra Purī ora se punha de pé, ora caía ao solo. Ora ria, dançava e cantava. Dessa maneira, ele gozou de bem-aventurança transcendental ao ver a Deidade de Jagannātha.

VERSO 145: Quando Mādhavendra Purī chegou a Jagannātha Purī, as pessoas já estavam sabendo de sua reputação transcendental. Por isso, multidões de pessoas vieram e lhe prestaram toda classe de respeitos com devoção.

VERSO 146: Mesmo que alguém não goste dela, a reputação lhe advém predestinada pela providência. De fato, sua reputação transcendental fica sendo conhecida no mundo inteiro.

VERSO 147: Temendo sua reputação [pratiṣṭhā], Mādhavendra Purī fugiu de Remuṇā. Contudo, a reputação trazida pelo amor a Deus é tão sublime que acompanha o devoto como se o perseguisse.

VERSO 148: Mādhavendra Purī quis partir de Jagannātha Purī, pois o povo o estava honrando como um grande devoto; contudo, isso ameaçou estorvar sua coleta de sândalo para a Deidade de Gopāla.

VERSO 149: Śrī Mādhavendra Purī contou a todos os servos do Senhor Jagannātha e a todos os grandes devotos dali a história do aparecimento de Śrī Gopāla.

VERSO 150: Ao ouvirem que a Deidade de Gopāla queria sândalo, todos os devotos em Jagannātha Purī se esforçaram para coletá-lo com muito prazer.

VERSO 151: Aqueles que eram amigos de funcionários do governo se encontraram com eles e lhes pediram cânfora e sândalo, no que foram atendidos.

VERSO 152: Designaram um brāhmaṇa e um servo para carregarem o sândalo para Mādhavendra Purī. Deram-lhe também o dinheiro necessário para as despesas de viagem.

VERSO 153: Para que Mādhavendra Purī conseguisse passar pelos coletores de pedágio ao longo do caminho, os funcionários do governo lhe forneceram os necessários papéis de exoneração, os quais foram entregues em sua mão.

VERSO 154: Dessa maneira, Mādhavendra Purī partiu para Vṛndāvana com a carga de sândalo e, após alguns dias, chegou mais uma vez à vila de Remuṇā e ao templo local de Gopīnātha.

VERSO 155: Ao chegar ao templo de Gopīnātha, Mādhavendra Purī prestou suas respeitosas reverências muitas vezes aos pés de lótus do Senhor. No êxtase do amor, começou a dançar e a cantar sem parar.

VERSO 156: Ao rever Mādhavendra Purī, o sacerdote de Gopīnātha lhe prestou todos os respeitos e, dando-lhe a prasāda de arroz-doce, fez com que comesse.

VERSO 157: Mādhavendra Purī descansou aquela noite no templo, mas, antes do final da noite, teve outro sonho.

VERSO 158: Mādhavendra Purī sonhou que Gopāla aparecia perante ele e dizia: “Ó Mādhavendra Purī, já recebi todo o sândalo e a cânfora.”

VERSO 159: “Agora, simplesmente deves moer todo o sândalo junto da cânfora e, então, untar com a polpa o corpo de Gopīnātha todos os dias, até acabar toda a polpa.”

VERSO 160: “Não há diferença entre o Meu corpo e o corpo de Gopīnātha. Eles são a mesma coisa. Portanto, se untares com a polpa de sândalo o corpo de Gopīnātha, também untarás o Meu naturalmente. Assim, a temperatura de Meu corpo baixará.”

VERSO 161: “Não deves hesitar em agir segundo Minha ordem. Crê em Mim e faze o que for necessário.”

VERSO 162: Após dar essas instruções, Gopāla desapareceu, e Mādhavendra Purī despertou. Ele imediatamente mandou chamar todos os servos de Gopīnātha, que foram ter com ele.

VERSO 163: Mādhavendra Purī disse: “Untai o corpo de Gopīnātha com esta cânfora e este sândalo que eu trouxe para o Gopāla em Vṛndāvana. Fazei isso regularmente, todos os dias.”

VERSO 164: “Se untardes o corpo de Gopīnātha com a polpa de sândalo, Gopāla Se refrescará. Afinal, a Suprema Personalidade de Deus é plenamente independente; Sua ordem é todo-poderosa.”

VERSO 165: Os servos de Gopīnātha ficaram muito satisfeitos ao ouvir que, no verão, toda a polpa de sândalo seria usada para untar o corpo de Gopīnātha.

VERSO 166: Mādhavendra Purī disse: “Estes dois ajudantes regularmente moerão o sândalo, e vós também deveis conseguir mais duas pessoas para vos ajudar. Eu vos pagarei um salário.”

VERSO 167: Dessa maneira, Gopīnāthajī foi suprido com polpa de sândalo moído todos os dias. Os servos de Gopīnātha ficaram muito satisfeitos com isso.

VERSO 168: A polpa de sândalo foi assim aplicada sobre o corpo de Gopīnātha até que todo o estoque terminou. Mādhavendra Purī permaneceu ali até esse momento.

VERSO 169: No final do verão, Mādhavendra Purī regressou a Jagannātha Purī, onde permaneceu com grande prazer durante todo o período de Cāturmāsya.

VERSO 170: Assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu louvou pessoalmente as características nectáreas de Mādhavendra Purī, saboreando todo esse néctar enquanto o relatava aos devotos.

VERSO 171: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu disse a Nityānanda Prabhu: “Vê só quão afortunado é Mādhavendra Purī! Acaso encontrarias no mundo alguém tão afortunado quanto ele?”

VERSO 172: Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu: “Mādhavendra Purī era tão afortunado que Kṛṣṇa apareceu pessoalmente para ele sob o pretexto de lhe entregar leite. Por três vezes, o Senhor deu ordens a Mādhavendra Purī em sonhos.”

VERSO 173: “Sentindo-Se grato devido aos sentimentos amorosos de Mādhavendra Purī, o próprio Senhor Kṛṣṇa apareceu como a Deidade de Gopāla e, aceitando o serviço dele, libertou o mundo inteiro.”

VERSO 174: “Por causa de Mādhavendra Purī, o Senhor Gopīnātha roubou o pote de arroz-doce. Assim, ficou famoso como Kṣīra-corā [o ladrão que furtou o arroz-doce].”

VERSO 175: “Mādhavendra Purī untou com polpa de sândalo o corpo de Gopīnātha e, dessa maneira, ficou saturado de amor a Deus.”

VERSO 176: “Nas províncias da Índia governadas pelos muçulmanos, havia bastante inconveniência em viajar com sândalo e cânfora. Por causa disso, Mādhavendra Purī acabaria encontrando problemas. A Deidade de Gopāla levou isso em conta.”

VERSO 177: “O Senhor é muito misericordioso e apegado a Seus devotos. De tal modo, ao untarem Gopīnātha com polpa de sândalo, o esforço de Mādhavendra Purī foi coroado de êxito.”

VERSO 178: Caitanya Mahāprabhu colocou o padrão de intenso amor de Mādhavendra Purī ante o julgamento de Nityānanda Prabhu. “Todas as suas atividades amorosas são incomuns”, disse Caitanya Mahāprabhu. “Na verdade, fica-se tomado de espanto ao ouvir sobre suas atividades.”

VERSO 179: Caitanya Mahāprabhu continuou: “Śrī Mādhavendra Purī costumava permanecer sozinho. Ele era inteiramente renunciado e sempre muito silencioso. Desinteressava-se de todas as coisas materiais e, temendo falar sobre coisas mundanas, andava sempre sem companhia.”

VERSO 180: “Após receber as ordens transcendentais de Gopāla, essa grande personalidade viajou por milhares de quilômetros mendigando para poder coletar o sândalo.”

VERSO 181: “Embora Mādhavendra Purī sentisse fome, não mendigava alimento para comer. Essa era a pessoa renunciada que levava uma carga de sândalo a favor de Śrī Gopāla.”

VERSO 182: “Sem considerar seus confortos pessoais, Mādhavendra Purī carregou cerca de quarenta quilos de sândalo e vinte tolās [cerca de 230 gramas] de cânfora para untar o corpo de Gopāla. Esse prazer transcendental era suficiente para ele.”

VERSO 183: “Já que havia restrições contra a exportação de sândalo da província da Orissa, o fiscal de impostos confiscou o estoque, mas Mādhavendra Purī lhe mostrou os papéis de exoneração dados pelo governo e, graças a isso, escapou das dificuldades.”

VERSO 184: “Mādhavendra Purī não estava nada ansioso durante a longa jornada até Vṛndāvana, atravessando as províncias governadas pelos muçulmanos e repletas de um número incontável de sentinelas.”

VERSO 185: “Embora Mādhavendra Purī não tivesse um centavo consigo, ele não temia passar pelos fiscais de impostos. Seu único prazer era levar a carga de sândalo a Vṛndāvana para Gopāla.”

VERSO 186: “Este é o resultado natural do intenso amor por Deus. O devoto não leva em conta inconveniências ou impedimentos pessoais. Em todas as circunstâncias, ele quer servir à Suprema Personalidade de Deus.”

VERSO 187: “Śrī Gopāla quis mostrar quão intensamente Mādhavendra Purī amava Kṛṣṇa; pediu-lhe, portanto, que fosse a Nīlācala buscar sândalo e cânfora.”

VERSO 188: “Com grandes aborrecimentos e após muito esforço, Mādhavendra Purī trouxe a carga de sândalo a Remuṇā. Contudo, por estar muito contente, não fez caso de toda a dificuldade.”

VERSO 189: “Para colocar à prova o intenso amor de Mādhavendra Purī, Gopāla, a Suprema Personalidade de Deus, mandou-o trazer sândalo de Nīlācala, e, tendo Mādhavendra Purī passado por essa prova, o Senhor tornou-Se muito misericordioso para com ele.”

VERSO 190: “Tal comportamento exibido em serviço amoroso entre o devoto e Śrī Kṛṣṇa, o objeto de amor do devoto, é transcendental. Não é possível que um homem comum o compreenda. Homens comuns não têm sequer tal capacidade.”

VERSO 191: Após dizer isso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu leu o famoso verso de Mādhavendra Purī. Esse verso é tal qual a Lua: ilumina o mundo inteiro.

VERSO 192: Ao esfregar-se continuamente o sândalo da Malaia, seu aroma aumenta. Analogamente, meditando sobre este verso, sua importância aumenta.

VERSO 193: Assim como se considera a Kaustubha-maṇi a mais valiosa das pedras preciosas, considera-se este verso o melhor dos doces poemas.

VERSO 194: Na verdade, foi a própria Śrīmatī Rādhārāṇī quem recitou esse verso, que se manifestou nas palavras de Mādhavendra Purī unicamente pela misericórdia dEla.

VERSO 195: Apenas Śrī Caitanya Mahāprabhu tem saboreado a poesia desse verso. Nenhuma quarta pessoa é capaz de entendê-lo.

VERSO 196: Mādhavendra Purī recitou este verso repetidas vezes até o fim de sua existência material. Proferindo, portanto, este verso, alcançou a meta última da vida.

VERSO 197: “Ó Meu Senhor! Ó tão misericordioso amo! Ó mestre de Mathurā! Quando Te verei de novo? Por não Te ver, Meu agitado coração tem se sentido inseguro. Ó amadíssimo, o que farei agora?”

VERSO 198: Ao recitar este verso, Śrī Caitanya Mahāprabhu de imediato caiu ao solo inconsciente. Arrebatado, perdeu o controle sobre Si mesmo.

VERSO 199: Quando o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu caiu ao solo tomado de amor extático, o Senhor Nityānanda O tomou ao colo. Chorando, Śrī Caitanya Mahāprabhu, então, colocou-Se de pé mais uma vez.

VERSO 200: Manifestando emoções extáticas, o Senhor começou a correr daqui para ali fazendo ruídos ressonantes. Ora Ele ria, ora chorava, ora dançava e cantava.

VERSO 201: Caitanya Mahāprabhu não conseguia recitar o verso inteiro. Ele apenas dizia “Ayi dīna! Ayi dīna!” repetidamente. Desse modo, sem poder falar, somente torrentes de lágrimas corriam de Seus olhos.

VERSO 202: Tremor, transpiração, lágrimas de alegria, choque, empalidecimento, desapontamento, melancolia, perda da memória, orgulho, júbilo e humildade – tudo isso era visível no corpo de Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 203: Esse verso revelou a porta do amor extático, e, quando essa foi exibida, todos os servos de Gopīnātha viram Caitanya Mahāprabhu dançar em êxtase.

VERSO 204: Vendo muitas pessoas se aglomerarem à Sua volta, Śrī Caitanya Mahāprabhu voltou à Sua consciência externa. Nesse ínterim, terminara a oferenda à Deidade, seguida de animada execução de ārati.

VERSO 205: Depois de colocar as Deidades para descansar, o sacerdote saiu do templo e ofereceu todos os doze potes de arroz-doce ao Senhor Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 206: Ao ver todos os potes de arroz-doce, restos deixados por Gopīnātha, colocados à Sua frente, Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito satisfeito. A fim de servi-los aos devotos, aceitou cinco daqueles potes.

VERSO 207: Os sete potes restantes foram separados dos outros e entregues ao sacerdote. Em seguida, os cinco potes de arroz-doce que o Senhor aceitara foram distribuídos entre os cinco devotos, que comeram, então, a prasāda.

VERSO 208: Por ser idêntico à Deidade de Gopīnātha, Śrī Caitanya Mahāprabhu já provara e comera dos potes de arroz-doce. Todavia, só para manifestar o serviço devocional, comeu mais uma vez dos potes de arroz-doce como um devoto.

VERSO 209: Śrī Caitanya Mahāprabhu passou aquela noite no templo ocupado em canto congregacional. De manhã, após assistir ao maṅgala-ārati, Ele partiu.

VERSO 210: Dessa maneira, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu saboreou pessoalmente, com Sua própria boca, as qualidades transcendentais de Gopālajī, Gopīnātha e Śrī Mādhavendra Purī.

VERSO 211: Assim, acabo de descrever tanto as glórias transcendentais do afeto do Senhor Caitanya Mahāprabhu por Seus devotos quanto o limite máximo de amor extático por Deus.

VERSO 212: Aquele que ouve esta narração com fé e devoção alcança o tesouro do amor a Deus aos pés de lótus de Śrī Kṛṣṇa.

VERSO 213: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta seguindo seus passos.

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