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CAPÍTULO TREZE

Brahmā Rouba os Meninos e os Bezerros

Este capítulo descreve como o senhor Brahmā tentou roubar os bezerros e os vaqueirinhos, e também narra a desorientação do senhor Brahmā e como ele finalmente conseguiu livrar-se de sua ilusão.

Embora o episódio referente a Aghāsura tenha ocorrido um ano antes, quando os vaqueirinhos tinham cinco anos de idade, eles disseram aos seis anos: “Isso aconteceu hoje.” Deu-se de fato o seguin­te. Após matar Aghāsura, Kṛṣṇa, juntamente com Seus associados, os vaqueirinhos, foi fazer um piquenique na floresta. Os bezerros, atraídos pela grama verde, afastaram-se pouco a pouco, motivo pelo qual os associados de Kṛṣṇa ficaram um pouco agitados, desejosos de reaver os bezerros. Kṛṣṇa, entretanto, encorajou os meninos, dizendo: “Lanchai tranquilamente. Eu procurarei os bezerros.” E assim o Senhor partiu. Então, apenas para examinar a potência de Kṛṣṇa, o senhor Brahmā roubou todos os bezerros e vaqueirinhos e os manteve em um lugar solitário.

Vendo que não conseguia encontrar os bezerros e os meninos, Kṛṣṇa pôde entender que aquilo era um truque de Brahmā. Então, a Suprema Personalidade de Deus, a causa de todas as causas, a fim de satisfazer o senhor Brahmā, bem como Seus próprios associados e as mães destes, expandiu-Se transformando-Se nos bezer­ros e meninos exatamente como eles eram antes. Dessa maneira, Ele experimentou outro passatempo. Um aspecto especial deste passatempo foi que as mães dos vaqueirinhos ficaram mais apegadas aos seus respectivos filhos, e as vacas ficaram mais apega­das aos seus bezerros. Depois de quase um ano, Baladeva observou que todos os vaqueirinhos e bezerros eram expansões de Kṛṣṇa. Nesse momento, Ele dirigiu perguntas a Kṛṣṇa e foi informado do que acontecera.

Passado exatamente um ano, Brahmā retornou e viu que, como antes, Kṛṣṇa estava ocupado com Seus amigos, com os bezerros e com as vacas. Então, tal qual Nārāyaṇa, todos os bezerros e vaquei­rinhos apresentaram-Se como formas de quatro braços. Então, Brahmā pôde entender a potência de Kṛṣṇa, e ficou atônito com os passatem­pos de Kṛṣṇa, seu Senhor adorável. Kṛṣṇa, entretanto, concedeu a Brahmā misericórdia imotivada e o libertou da ilusão. Então, Brahmā começou a oferecer orações em glorificação à Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 1: Śrīla Śukadeva Gosvāmī disse: Ó melhor dos devotos, afortuna­díssimo Parīkṣit, indagaste muito bem, pois, embora ouças constan­temente os passatempos do Senhor, percebes que Suas atividades se renovam a cada instante.

VERSO 2: Os paramahaṁsas, os devotos que aceitaram a essência da vida, são apegados a Kṛṣṇa no âmago de seus corações, e Ele é a meta de suas vidas. É da natureza deles falar somente em Kṛṣṇa a cada momento, como se esses tópicos fossem cada vez mais novos. Eles têm apego por esses tópicos assim como os materialistas são apegados aos tópicos referentes a mulheres e sexo.

VERSO 3: Ó rei, por favor, ouve-me com muita atenção. Embora as ativida­des do Senhor Supremo sejam muito confidenciais, e nenhum homem ordinário seja capaz de entendê-las, eu te falarei sobre elas, pois os mestres espirituais explicam ao discípulo submisso até mesmo temas que são muito confidenciais e difíceis de entender.

VERSO 4: Então, após salvar os meninos e bezerros da boca de Aghāsura, que era a morte personificada, o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Persona­lidade de Deus, levou todos eles à margem do rio e falou as seguintes palavras.

VERSO 5: Meus queridos amigos, vede só como a margem deste rio é extre­mamente bela devido à sua agradável atmosfera. E vede só como os lótus floridos atraem abelhas e pássaros com seu aroma. O zum­bido e o chilrear das abelhas e dos pássaros ecoam por todas as for­mosas árvores da floresta. Além disso, aqui a areia é limpa e macia. Portanto, este deve ser considerado o melhor lugar para nossas brin­cadeiras e passatempos.

VERSO 6: Acho que devemos almoçar aqui, uma vez que já estamos com fome por estar muito tarde. Aqui, os bezerros podem beber água, andar vagarosamente de um lado a outro e comer grama.

VERSO 7: Aceitando a sugestão do Senhor Kṛṣṇa, os vaqueirinhos deixaram os bezerros beber a água do rio e, então, amarraram-nos a árvores onde havia grama verde e delicada. Depois, os meninos abriram seus cestos de alimento e, com grande prazer transcendental, come­çaram a comer com Kṛṣṇa.

VERSO 8: Como o verticilo de uma flor de lótus cercado por suas pétalas e folhas, Kṛṣṇa, sentado no centro, ficou circundado por fileiras de amigos, todos os quais pareciam muito belos. Cada um deles tentava dirigir seu olhar a Kṛṣṇa, na esperança de que Kṛṣṇa olhasse para ele. Dessa maneira, todos comeram seu almoço na floresta.

VERSO 9: Entre os vaqueirinhos, alguns puseram seu almoço sobre flores, alguns puseram sobre folhas, frutas ou montes de folhas, alguns puseram nos próprios cestos, enquanto outros puseram em cascas de árvores ou sobre rochas. Eis o que as crianças imaginavam serem seus pratos enquanto comiam seu al­moço.

VERSO 10: Todos os vaqueirinhos desfrutaram de seu almoço com Kṛṣṇa, mostrando uns aos outros os diferentes sabores das diferentes varie­dades de preparações que haviam trazido de casa. Saboreando as preparações uns dos outros, eles começaram a rir e a provocar risos uns nos outros.

VERSO 11: Kṛṣṇa é yajña-bhuk – isto é, Ele come somente oferendas de yajña –, mas, para manifestar Seus passatempos infantis, agora Ele Se sentava tendo a Seu lado direito Sua flauta apertada à cintura por Sua roupa, e, à Sua esquerda, tinha Sua corneta de chifre e o bastão para conduzir vacas. Segurando em Sua mão uma deliciosa preparação de iogurte e arroz, e com pedaços de frutas entre Seus dedos, estava sentado como o verticilo de uma flor de lótus, olhando para todos os Seus amigos, brincando pessoalmente com eles e fazendo-os rir jubilosamente enquanto comia. Nesse momento, os cidadãos do céu assistiam a essa cena, maravilhados em ver como a Personalidade de Deus, que só come em yajña, estava agora comendo com Seus amigos na floresta.

VERSO 12: Ó Mahārāja Parīkṣit, enquanto os vaqueirinhos, que no âmago de seus corações só conheciam Kṛṣṇa, estavam comendo seu almoço na floresta, os bezerros, atraídos pela grama verde, afastaram-se muito, embrenhando-se na floresta.

VERSO 13: Ao ver que Seus amigos vaqueirinhos estavam assustados, Kṛṣṇa, o temível controlador até mesmo do próprio medo, disse o seguinte, somente para aliviá-los do temor: “Meus queridos amigos, não pareis de comer. Trarei os bezerros de volta a este lugar, indo procurá-los pessoalmente.”

VERSO 14: “Eu procurarei os bezerros”, disse Kṛṣṇa. “Não inter­rompais a vossa diversão.” Então, carregando Seu iogurte e arroz em Sua mão, a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, imediatamente saiu em busca dos bezerros de Seus amigos. Para satisfazer Seus amigos, Ele começou a procurar em todas as montanhas, cavernas de montanhas, moitas e passagens estreitas.

VERSO 15: Ó Mahārāja Parīkṣit, Brahmā, que reside no sistema planetário superior no céu, observara o poderosíssimo Kṛṣṇa executar as ativi­dades que consistiram em matar e libertar Aghāsura, o que o deixou atônito. Agora, esse mesmo Brahmā queria mostrar um pouco de seu próprio poder e ver o poder de Kṛṣṇa, que estava ocupado em Seus passatempos infantis, como se estivesse brincando com vaqueirinhos comuns. Portanto, na ausência de Kṛṣṇa, Brahmā levou todos os meninos e bezerros para outro lugar. Assim, ele se colocou em uma situação complexa, pois, em um futuro muito próximo, veria o grande poder de Kṛṣṇa.

VERSO 16: Em seguida, ao perceber que não conseguia encontrar os bezerros, Kṛṣṇa retornou à margem do rio, mas não viu os vaqueirinhos ali também. Assim, Ele começou a procurar tanto os bezerros quanto os meninos, como se não fosse capaz de entender o que acontecera.

VERSO 17: Ao ver-Se incapaz de encontrar os bezerros e seus protetores, os vaqueirinhos, em parte alguma da floresta, Kṛṣṇa subitamente pôde entender que aquilo era obra do senhor Brahmā.

VERSO 18: Depois disso, simplesmente para dar prazer a Brahmā e às mães dos bezerros e dos vaqueirinhos, Kṛṣṇa, o criador de toda a mani­festação cósmica, expandiu-Se sob a forma de bezerros e meninos.

VERSO 19: Através de Seu aspecto Vāsudeva, Kṛṣṇa simultaneamente expan­diu-Se no número exato de vaqueirinhos e bezerros ausentes, com seus mesmíssimos traços físicos, seus tipos específicos de mãos, pernas e outros membros, seus bastões, cornetas e flautas, suas lancheiras, seus tipos específicos de roupas e adornos postos de várias maneiras, seus nomes, idades e formas, e suas atividades e características espe­ciais. Expandindo-Se dessa maneira, o belo Kṛṣṇa provou a afirma­ção samagra-jagad viṣṇumayam: “O Senhor Viṣṇu é onipenetrante.”

VERSO 20: Expandindo-Se agora de modo a aparecer como todos os bezer­ros e vaqueirinhos, todos eles inalterados, e ao mesmo tempo apare­cer como seu líder, Kṛṣṇa entrou em Vrajabhūmi, a terra de Seu pai, Nanda Mahārāja, do mesmo modo como costumava fazer en­quanto desfrutava da companhia deles.

VERSO 21: Ó Mahārāja Parīkṣit, Kṛṣṇa, que Se dividira como diferentes bezerros e também como diferentes vaqueirinhos, entrou em diferentes estábulos como os bezerros e, então, em diferentes lares como os diferen­tes meninos.

VERSO 22: As mães dos meninos, ao ouvirem os sons das flautas e cornetas que eram tocadas pelos seus filhos, imediatamente deixaram suas tarefas domésticas, colocaram seus meninos no colo, abraçaram-nos com ambos os braços e começaram a alimentá-los com o leite de seus seios, que fluía devido ao amor extremo, especificamente por Kṛṣṇa. Na verdade, Kṛṣṇa é tudo, mas, naquele momento, expressando amor e afeição extremos, elas sentiam prazer especial em alimentar Kṛṣṇa, o Parabrahman, e Kṛṣṇa bebia o leite de Suas respectivas mães como se fosse uma bebida nectárea.

VERSO 23: Em seguida, ó Mahārāja Parīkṣit, como se requer de acordo com o ciclo programado de Seus passatempos, Kṛṣṇa retornava no começo da noite, entrava na casa de cada um dos vaqueirinhos, e ocupava-Se exatamente como os antigos meninos, vivificando então suas mães com um prazer transcendental. As mães cuidavam dos meninos massa­geando-os com óleo, banhando-os, untando seus corpos com polpa de sândalo, decorando-os com adornos, cantando mantras proteto­res, decorando seus corpos com tilaka e alimentando-os. Dessa ma­neira, as mães serviam a Kṛṣṇa pessoalmente.

VERSO 24: Em seguida, todas as vacas entravam em seus diferentes estábu­los e começavam a mugir bem alto, chamando seus respectivos be­zerros. Quando os bezerros chegavam, as mães começavam a lamber repetidas vezes os corpos dos bezerros e alimentá-los profusamente com o leite que fluía de seus úberes.

VERSO 25: Anteriormente, desde o começo, as gopīs tinham afeição materna por Kṛṣṇa. Na verdade, a afeição que elas sentiam por Kṛṣṇa excedia até mesmo sua afeição pelos seus próprios filhos. Ao manifestarem sua afeição, portanto, elas faziam distinção entre Kṛṣṇa e seus filhos, mas agora essa distinção desaparecera.

VERSO 26: Embora os habitantes de Vrajabhūmi, os vaqueiros e vaqueiras, anteriormente tivessem mais afeição por Kṛṣṇa do que pelos seus próprios filhos, agora, por um ano, a sua afeição pelos seus próprios filhos aumentava continuamente, pois Kṛṣṇa agora Se tornara seus filhos. Não havia limite para o aumento de sua afeição pelos seus filhos, que agora eram Kṛṣṇa. Todos os dias, encontravam nova inspiração para amar seus filhos tanto quanto amavam Kṛṣṇa.

VERSO 27: Dessa maneira, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, tendo Ele próprio Se trans­formado nos vaqueirinhos e grupos de bezerros, mantinha-Se através de Si mesmo. Assim, Ele deu continuidade a Seus passatempos tanto em Vṛndāvana quanto na floresta por um ano.

VERSO 28: Certo dia, faltando cinco ou seis noites para completar um ano, Kṛṣṇa, apascentando os bezerros, entrou na floresta juntamente com Balarāma.

VERSO 29: Em seguida, enquanto pastavam sobre a colina Govardhana, as vacas olharam para baixo, tentando encontrar alguma grama verde, e viram seus bezerros pastando perto de Vṛndāvana, não muito longe.

VERSO 30: Ao verem do topo da colina Govardhana seus próprios bezer­ros, as vacas se esqueceram de si mesmas e de seus guardadores devido à intensa afeição, e embora o caminho fosse muito áspero, pre­cipitaram-se rumo a seus bezerros com muita ansiedade, cada uma correndo como se usasse apenas um único par de pernas. Com seus úberes repletos de leite transbordante, suas cabeças e caudas ergui­das, e suas gibas movendo-se com seus pescoços, elas correram impetuosamente até alcançarem seus bezerros para alimentá-los.

VERSO 31: As vacas haviam dado à luz novos bezerros, mas, enquanto desciam da colina Govardhana, as vacas, devido à forte afeição pelos bezerros mais velhos, deixaram os bezerros mais velhos beber o leite de seus úberes e, então, passaram a lamber os corpos dos be­zerros sofregamente, como se quisessem engoli-los.

VERSO 32: Os vaqueiros, tendo sido incapazes de impedir que as vacas se di­rigissem a seus bezerros, sentiram-se simultaneamente envergonhados e irados. Eles atravessaram a áspera estrada com muita dificuldade, mas, quando desceram e viram seus próprios filhos, ficaram do­minados por grande afeição.

VERSO 33: Naquele momento, todos os pensamentos dos vaqueiros imergiram na doçura do amor paterno, que foi despertado pela visão de seus filhos. Experimentando uma grande atração, a ira deles desapareceu por completo, eles ergueram seus filhos, abraçaram-nos e desfruta­ram do prazer mais elevado, cheirando a cabeça de seus filhos.

VERSO 34: Depois disso, os vaqueiros mais velhos, muito emotivos após abraçarem seus filhos, aos poucos e com grande difi­culdade e relutância pararam de abraçá-los e retornaram à floresta. Contudo, à medida que os homens se lembravam de seus filhos, lágrimas começavam a cair de seus olhos.

VERSO 35: Devido ao aumento da afeição, as vacas tinham constante apego até mesmo por aqueles bezerros que eram crescidos e haviam parado de mamar em suas mães. Ao ver esse apego, Baladeva foi incapaz de compreender a razão disso e, assim, começou a considerar da se­guinte maneira.

VERSO 36: Que maravilhoso fenômeno é este? A afeição de todos os habitan­tes de Vraja, incluindo Eu, para com estes meninos e bezerros está aumentando como nunca antes, parecendo com nossa afeição pelo Senhor Kṛṣṇa, a Superalma de todas as entidades vivas.

VERSO 37: Que poder místico é este, e de onde ele veio? Trata-se de um semideus ou de uma demônia? Deve ser a energia ilusória de Meu mestre, o Senhor Kṛṣṇa, pois quem mais poderia confundir-Me?

VERSO 38: Munido desse pensamento, o Senhor Balarāma foi capaz de ver, com o olho do conhecimento transcendental, que todos esses bezer­ros e amigos de Kṛṣṇa eram expansões da forma de Śrī Kṛṣṇa.

VERSO 39: O Senhor Baladeva disse: “Ó controlador supremo! Diferentemente do que Eu pensava antes, estes meninos não são grandes semideuses. Tampouco estes bezerros são grandes sábios como Nārada. Agora posso ver que sozinho estás manifestando-Te em todas as diferentes variedades. Embora sejas um, existes nas diferentes formas de bezer­ros e meninos. Por favor, explica-Me isso brevemente.” Re­cebendo essa solicitação do Senhor Baladeva, Kṛṣṇa explicou toda a situação, e Baladeva compreendeu.

VERSO 40: Ao regressar após ter transcorrido um instante de tempo (de acordo com sua própria medida), o senhor Brahmā viu que, embora pelos cálculos humanos já houvesse passado um ano completo, o Senhor Kṛṣṇa, depois de todo aquele tempo, estava ocupado em brincar com os meninos e bezerros, que eram Suas expansões, exatamente como antes.

VERSO 41: O senhor Brahmā pensou: Todos os meninos e bezerros que havia em Gokula, eu os mantive dormindo na rede da minha potência mística, e até hoje eles não voltaram a acordar.

VERSO 42: Um número semelhante de meninos e bezerros brincou com Kṛṣṇa por um ano inteiro, mas eles são diferentes daqueles ilu­didos por minha potência mística. Quem são eles? De onde vieram?

VERSO 43: Assim, o senhor Brahmā, refletindo demoradamente, tentou dis­tinguir entre aqueles dois conjuntos de meninos, cada um dos quais tinha uma existência separada. Ele tentou entender quem era real e quem não era real, mas não o foi capaz de modo algum.

VERSO 44: Assim, porque o senhor Brahmā quis mistificar o onipenetrante Senhor Kṛṣṇa, que nunca pode ser mistificado, mas que, ao contrá­rio, mistifica todo o universo, ele mesmo se desorientou pelo seu próprio poder místico.

VERSO 45: Assim como não tem importância a escuridão que a neve produz na noite escura ou a luz que um vaga-lume acende à luz do dia, o poder místico de uma pessoa inferior que tenta usá-lo contra uma pessoa de maior poder é incapaz de surtir algum efeito; ao contrário, o poder dessa pessoa inferior é ofuscado.

VERSO 46: Então, enquanto o senhor Brahmā observava, todos os bezerros e meninos que os apascentavam imediatamente pareceram assumir a tonalidade de nuvens azuis e carregadas e estar vestidos com roupas de seda amarela.

VERSOS 47-48: Todas aquelas personalidades tinham quatro braços, portando em Suas mãos búzio, disco, maça e flor de lótus. Eles usavam elmos na cabeça, brincos em Suas orelhas e guirlandas de flores silvestres em torno do pescoço. Na porção superior do lado di­reito de Seu peito, estava o emblema da deusa da fortuna. Ademais, usavam braceletes em Seus braços, a joia Kaustubha em volta de Seus pescoços, que eram marcados com três linhas como um búzio, e pulseiras em Seus pulsos. Com sininhos de tornozelo, adornos em Seus pés, e cintos sagrados em volta de Suas cinturas, todos pa­reciam muito belos.

VERSO 49: Todas as partes de Seus corpos, da cabeça aos pés, estavam plena­mente decoradas com frescas e tenras guirlandas de folhas de tula­sī oferecidas pelos devotos dedicados a adorar o Senhor através das atividades piedosas mais grandiosas, a saber, ouvir e cantar.

VERSO 50: Aquelas formas Viṣṇu, com Seu sorriso puro, semelhante ao crescente brilho da Lua, e com os olhares de soslaio lançados por Seus olhos avermelhados, criavam e protegiam os desejos de Seus devotos, como se agissem nos modos da paixão e bondade.

VERSO 51: Todos os seres, móveis e inertes, desde o senhor Brahmā de quatro cabeças até a mais insignificante entidade viva, haviam assumido formas e adoravam de diferentes maneiras aquelas Viṣṇu-mūrtis, de acordo com suas respectivas capacidades, com vários meios de adoração, tais como dança e canto.

VERSO 52: Todas as viṣṇu-mūrtis estavam cercadas pelas opulências, encabeçadas por aṇimā-siddhi; pelas potências místicas, encabeçadas por Ajā, e pelos vinte e quatro elementos que participam na criação do mundo material, encabeçados pelo mahat-tattva.

VERSO 53: Então, o senhor Brahmā viu que kāla (o fator tempo), svabhāva (a própria natureza que alguém adquire através da associação), saṁskāra (reforma), kāma (desejo), karma (atividade fruitiva) e os guṇas (os três modos da natureza material) – a própria independên­cia deles estando inteiramente subordinada à potência do Senhor – tinham todos adquirido formas e também estavam adorando aquelas viṣṇu-mūrtis.

VERSO 54: Todas as viṣṇu-mūrtis tinham formas eternas e ilimitadas, plenas de conhecimento e bem-aventurança, cuja existência estava além da influência do tempo. Sua grande glória jamais poderia ser sequer tocada pelos jñānīs ocupados em estudar as Upaniṣads.

VERSO 55: Assim, o senhor Brahmā viu o Brahman Supremo, mediante cuja energia todo este universo, com seus seres vivos móveis e inertes, manifesta-se. Ao mesmo tempo, ele também viu todos os bezerros e meninos como expansões do Senhor.

VERSO 56: Então, pelo poder da refulgência daquelas viṣṇu-mūrtis, o senhor Brahmā, com seus onze sentidos impactados pelo evento surpreendente e aturdidos pela bem-aventurança transcendental, silenciou-se, assim como um boneco de barro de uma criança na presença da deidade da vila.

VERSO 57: O Brahman Supremo está além da especulação mental, é auto­manifesto, existindo em Sua própria bem-aventurança, e está além da energia material. Ele é conhecido por intermédio das joias mais valiosas dos Vedas, que refutam o conhecimento irrelevante. Assim, em relação com esse Brahman Supremo – a Personalidade de Deus, cuja glória fora mostrada pela manifestação de todas as formas de Viṣṇu de quatro braços –, o senhor Brahmā, o senhor de Sarasvatī, foi mistificado. “O que é isto?”, ele quis saber, e então não foi capaz nem mesmo de ver. O Senhor Kṛṣṇa, entendendo a posição de Brahmā, removeu então de uma vez a cortina, Sua yogamāyā.

VERSO 58: O senhor Brahmā recuperou então sua consciência externa e le­vantou-se, assim como um morto que volta a viver. Abrindo seus olhos com grande dificuldade, ele viu o universo, juntamente com ele mesmo.

VERSO 59: Então, olhando para todas as direções, o senhor Brahmā imediatamente viu Vṛndāvana diante dele, cheia de árvores, que eram o meio de subsistência para os habitantes e que, em todas as estações, eram igualmente aprazíveis.

VERSO 60: Vṛndāvana é a morada transcendental do Senhor, onde não há fome, ira ou sede. Embora sejam inimigos por natureza, tanto os seres humanos quanto os animais ferozes ali convivem em amizade transcendental.

VERSO 61: Então, o senhor Brahmā viu a Verdade Absoluta – que é única e inigualável, que possui conhecimento pleno e que é ilimitada – assu­mindo o papel de uma criança em uma família de vaqueiros e, como antes, estava completamente sozinha com um pouco de comida em Sua mão, procurando em toda parte os bezerros e Seus amigos vaqueirinhos.

VERSO 62: Após ver isso, o senhor Brahmā rapidamente desceu de seu cisne carregador, estirou-se ao chão como uma vara dourada e, com as extremidades das quatro coroas que estavam sobre suas cabeças, tocou os pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa. Oferecendo suas reverências, ele banhou os pés de Kṛṣṇa com a água de suas lágrimas de alegria.

VERSO 63: Repetidamente levantando-se e caindo diante dos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa por um longo tempo, o senhor Brahmā não se cansava de lembrar-se daquilo que acabara de ver: a grandeza do Senhor.

VERSO 64: Então, levantando-se muito gradualmente e enxugando seus dois olhos, o senhor Brahmā olhou para Mukunda. O senhor Brahmā, com sua cabeça curvada, sua mente concentrada e seu corpo trêmulo, começou, com palavras sufocadas, a oferecer lou­vores ao Senhor Kṛṣṇa com muita humildade.

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