CAPÍTULO CINCO
O Encontro de Nanda Mahārāja e Vasudeva
Como se descreve neste capítulo, Nanda Mahārāja realizou muito pomposamente a cerimônia comemorativa do nascimento de seu filho recém-nascido. Então, ele foi até Kaṁsa para pagar os devidos impostos e encontrou-se com seu amigo íntimo Vasudeva.
Vṛndāvana inteira ficou muito jubilosa com o nascimento de Kṛṣṇa. Todos estavam dominados pela alegria. Portanto, o rei de Vraja, Mahārāja Nanda, quis realizar a cerimônia de nascimento do seu filho e assim o fez. Durante o grande festival, Nanda Mahārāja deu em caridade a todos os presentes tudo o que eles desejaram. Após o festival, Nanda Mahārāja encarregou os vaqueiros de proteger Gokula e depois foi a Mathurā pagar a Kaṁsa os impostos legais. Em Mathurā, Nanda Mahārāja encontrou-se com Vasudeva. Nanda Mahārāja e Vasudeva eram irmãos, e Vasudeva louvou a boa fortuna de Nanda Mahārāja porque sabia que Kṛṣṇa aceitara Nanda Mahārāja como Seu pai. Quando Vasudeva indagou de Nanda Mahārāja sobre o bem-estar da criança, Nanda Mahārāja informou-lhe tudo sobre Vṛndāvana, e Vasudeva ficou muito satisfeito com isso, embora expressasse seu pesar porque os vários filhos de Devakī haviam sido mortos por Kaṁsa. Nanda Mahārāja consolou Vasudeva, dizendo que tudo acontece de acordo com o destino e quem sabe disso não fica consternado. Esperando muitas perturbações em Gokula, Vasudeva aconselhou Nanda Mahārāja a não se demorar em Mathurā, mas a regressar a Vṛndāvana o mais rapidamente possível. Assim, Nanda Mahārāja despediu-se de Vasudeva e regressou a Vṛndāvana com outros vaqueiros em seus carros de boi.
VERSOS 1-2: Śukadeva Gosvāmī disse: Por natureza, Nanda Mahārāja era muito magnânimo, e quando o Senhor Śrī Kṛṣṇa apareceu como seu filho, ele se encheu de alegria. Portanto, após banhar-se e purificar-se e vestir-se adequadamente, ele convidou brāhmaṇas que sabiam recitar os mantras védicos. Após tomar as necessárias medidas para que esses brāhmaṇas qualificados recitassem auspiciosos hinos védicos, ele providenciou para que a cerimônia de nascimento de seu filho recém-nascido fosse celebrada nos padrões védicos, de acordo com as regras e regulações, e também promoveu a adoração aos semideuses e antepassados.
VERSO 3: Nanda Mahārāja deu dois milhões de vacas, completamente decoradas com roupas e joias, em caridade aos brāhmaṇas. Ele também lhes deu sete colinas de cereais, cobertas com joias e com roupas decoradas com incrustações de ouro.
VERSO 4: Ó rei, com o passar do tempo, a terra e as outras posses materiais purificam-se; banhando-se, o corpo purifica-se, e, através da limpeza, as coisas sujas purificam-se. Através de cerimônias purificatórias, o nascimento purifica-se; através da austeridade, os sentidos purificam-se, e, através da adoração e caridade oferecida aos brāhmaṇas, as posses materiais purificam-se. Através da satisfação, a mente purifica-se, e, através da autorrealização, ou consciência de Kṛṣṇa, a alma purifica-se.
VERSO 5: Os brāhmaṇas recitaram hinos védicos auspiciosos, que purificaram o ambiente com sua vibração. Os peritos em recitar antigas histórias como os Purāṇas, os peritos em recitar as histórias das famílias reais, e todos os recitadores gerais declamaram, enquanto cantores cantavam e muitas espécies de instrumentos musicais, como bherīs e dundubhis, eram tocadas em acompanhamento.
VERSO 6: Vrajapura, a residência de Nanda Mahārāja, estava plenamente decorada com muitas variedades de festões e bandeiras, e, em diferentes lugares, construíram-se porteiras com muitas variedades de guirlandas de flores, pedaços de tecido e folhas de mangueira. Os pátios, os portões que davam para as ruas e tudo dentro dos aposentos das casas foram perfeitamente varridos e lavados.
VERSO 7: As vacas, os touros e os bezerros foram intensamente untados com uma mistura de cúrcuma e óleo, à qual se acrescentaram muitas variedades de minerais. Suas cabeças foram enfeitadas com penas de pavão, e eles foram enguirlandados e cobertos com tecidos e adornos de ouro.
VERSO 8: Ó rei Parīkṣit, os vaqueiros vestiram-se muito opulentamente, usando valiosos adornos e roupas, tais como casacos e turbantes. Decorados dessa maneira e carregando vários presentes em suas mãos, eles se dirigiram à casa de Nanda Mahārāja.
VERSO 9: As gopīs, as esposas dos vaqueiros, ficaram muito satisfeitas ao ouvir que mãe Yaśodā dera à luz um filho, e começaram a enfeitar-se primorosamente com roupas adequadas, adornos, unguento negro para os olhos e assim por diante.
VERSO 10: Estando seus rostos de lótus extraordinariamente belos, decorados com açafrão e kuṅkuma frescos, as esposas dos vaqueiros precipitaram-se para a casa de mãe Yaśodā com presentes em suas mãos. Devido à beleza natural, as esposas tinham quadris e seios volumosos, que se moviam à medida que elas corriam.
VERSO 11: Nas orelhas das gopīs, reluziam brincos de joias brilhantemente polidas, e de seus pescoços pendiam broches de metal. Seus braços estavam decorados com pulseiras, suas vestes tinham cores variadas, e, de seus cabelos, as flores caíam sobre a rua como chuva. Assim, enquanto se dirigiam à casa de Mahārāja Nanda, as gopīs, com seus brincos, seios e guirlandas agitando-se, ostentavam uma beleza reluzente.
VERSO 12: Oferecendo bênçãos à criança recém-nascida, Kṛṣṇa, as esposas e filhas dos vaqueiros disseram: “Que Te tornes rei de Vraja e, durante um longo tempo, mantenhas todos os seus habitantes.” Elas borrifaram com uma mistura de pó de cúrcuma, óleo e água o não-nascido Senhor Supremo e ofereceram suas orações.
VERSO 13: Agora que o onipenetrante e ilimitado Senhor Kṛṣṇa, o mestre da manifestação cósmica, chegara ao estado de Mahārāja Nanda, várias espécies de instrumentos musicais ressoavam para celebrar o grande festival.
VERSO 14: Com alegria, os vaqueiros comemoraram o grande festival, borrifando os corpos uns dos outros com uma mistura de coalhada, leite condensado, manteiga e água. Eles atiravam manteiga uns nos outros e, com ela, besuntavam os corpos uns dos outros.
VERSOS 15-16: A magnânima personalidade Mahārāja Nanda deu roupas, adornos e vacas em caridade aos vaqueiros para agradar ao Senhor Viṣṇu e, com isto, ele melhorou em todos os sentidos a condição de seu próprio filho. Ele fez caridade aos sūtas, māgadhas, vandīs e aos homens de todas as outras profissões, de acordo com seu grau de educação, e satisfez o desejo de todos.
VERSO 17: A afortunadíssima Rohiṇī, mãe de Baladeva, foi prestigiada por Nanda Mahārāja e Yaśodā, motivo pelo qual também se vestiu com esmero e se decorou com um colar, uma guirlanda e outros adornos. Ela estava ocupada em deslocar-se de um lugar a outro para receber as mulheres que compareceram ao festival.
VERSO 18: Ó Mahārāja Parīkṣit, o lar de Nanda Mahārāja é eternamente a morada da Suprema Personalidade de Deus e de Suas qualidades transcendentais e, portanto, sempre está naturalmente favorecido com toda opulência e riqueza. No entanto, com o aparecimento do Senhor Kṛṣṇa ali, começou a ser o lugar onde a deusa da fortuna executa seus passatempos.
VERSO 19: Śukadeva Gosvāmī continuou: Em seguida, meu querido rei Parīkṣit, ó melhor protetor da dinastia Kuru, Nanda Mahārāja, tendo designado os vaqueiros locais para proteger Gokula, foi a Mathurā para pagar ao rei Kaṁsa os impostos anuais.
VERSO 20: Ao ficar sabendo que Nanda Mahārāja, seu queridíssimo amigo e irmão, viera a Mathurā e já pagara os impostos a Kaṁsa, Vasudeva foi até a residência de Nanda Mahārāja.
VERSO 21: Ao tomar conhecimento de que Vasudeva viera, Nanda Mahārāja ficou dominado pelo amor e afeição, sentindo-se muito satisfeito, como se seu corpo tivesse recuperado a vida. Subitamente vendo Vasudeva ali presente, ele se levantou e o abraçou com ambos os braços.
VERSO 22: Ó Mahārāja Parīkṣit, tendo honrosamente recebido essas boasvindas de Nanda Mahārāja, Vasudeva sentou-se muito tranquilamente e perguntou sobre seus dois próprios filhos, pois sentia imenso amor por eles.
VERSO 23: Meu querido irmão Nanda Mahārāja, em idade tão avançada ainda não tinhas absolutamente nenhum filho e perdeste toda a esperança de que algum dia virias a ter um. Portanto, é sinal de grande fortuna que agora tenhas um filho.
VERSO 24: Também é devido à boa fortuna que estou te vendo. Tendo obtido esta oportunidade, sinto-me como se tivesse renascido. Muito embora a pessoa esteja presente neste mundo, encontrar-se com amigos íntimos e parentes queridos neste mundo material é algo extremamente difícil.
VERSO 25: Muitas tábuas e gravetos, incapazes de permanecerem juntos, são arrastados pela força das ondas de um rio. Igualmente, embora estejamos intimamente relacionados com amigos e membros familiares, somos incapazes de permanecer juntos devido às nossas várias ações passadas e devido às ondas do tempo.
VERSO 26: Meu querido amigo Nanda Mahārāja, na região onde vives com teus amigos, a floresta é favorável aos animais, às vacas? Espero que não haja nenhuma doença ou inconveniente. A região precisa ser repleta de água, grama e outros vegetais.
VERSO 27: Meu filho Baladeva, sendo criado por ti e por tua esposa, Yaśodādevī, considera-vos pai e mãe. Ele está vivendo muito pacificamente em teu lar com Sua verdadeira mãe, Rohiṇī?
VERSO 28: Quando os amigos e parentes de alguém estão devidamente situados, sua religião, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos, como se descreve nos textos védicos, são benéficos. Caso contrário, se os amigos e parentes estão aflitos, esses três elementos não podem oferecer felicidade alguma.
VERSO 29: Nanda Mahārāja disse: Oh! O rei Kaṁsa matou tantos de teus filhos, nascidos de Devakī! E tua única filha, a caçula, entrou nos planetas celestiais.
VERSO 30: Todo homem decerto é controlado pelo destino, que determina os resultados de suas atividades fruitivas. Em outras palavras, cada qual tem filhos ou filhas devido ao imperceptível destino, e quando os filhos ou filhas deixam de estar presentes, isso também se deve ao destino imperceptível. O destino é o controlador último de todos. Aquele que sabe disso nunca se confunde.
VERSO 31: Vasudeva disse a Nanda Mahārāja: Agora, meu querido irmão, como pagaste a Kaṁsa os impostos e também me viste, não te demores muito neste lugar. Seria melhor retornares a Gokula, porque sei que podem estar ocorrendo algumas perturbações por lá.
VERSO 32: Śukadeva Gosvāmī disse: Depois que Vasudeva deu esse conselho a Nanda Mahārāja, Nanda Mahārāja e seus associados, os vaqueiros, pediram permissão a Vasudeva, atrelaram seus bois e começaram sua viagem rumo a Gokula.