No edit permissions for Português

CAPÍTULO SETENTA E TRÊS

O Senhor Kṛṣṇa Abençoa os Reis Libertos

Este capítulo relata como o Senhor Śrī Kṛṣṇa, depois de libertar os reis aprisionados por Jarāsandha, misericordiosamente concedeu-lhes a Sua audiência e ofertou-lhes presentes dignos de reis.

Quando o Senhor Kṛṣṇa libertou os 20.800 reis que Jarasandha aprisionara, eles se prostraram de imediato no chão para Lhe prestar reverências. Então, levantaram-se e começaram a Lhe oferecer orações de mãos postas. Vendo seu aprisionamento como um ato de misericórdia do Senhor para destruir-lhes o falso orgulho, os reis suplicaram apenas pela bênção de receber qualquer coisa que lhes facilitasse a lembran­ça perpétua de Seus pés de lótus.

O Senhor garantiu aos reis que sua oração seria atendida. Ele os instruiu: “Adorai-Me mediante a execução de sacrifícios védicos e protegei vossos súditos segundo os princípios da religião. Fixando vossas mentes em Mim, gerai progênie e permanecei sempre equilibrados diante da felicidade e da tristeza. Assim, no fim de vossas vidas, com certeza Me alcançareis.”

O Senhor Kṛṣṇa, então, providenciou para que os reis fossem banhados e vestidos de modo conveniente e solicitou a Sahadeva que lhes oferecesse guirlandas de flores, polpa de sândalo, roupas finas e outros artigos apropriados para reis. Depois de mandar adorná-los com joias e ornamentos de ouro, Ele os colocou em quadrigas e os enviou para seus respectivos reinos. Conforme as ordens que o Senhor lhes dera, eles recomeçaram seus vários deveres.

O Senhor Kṛṣṇa, Bhīma e Arjuna, então, partiram para Indraprastha, onde se encontraram com o rei Yudhiṣṭhira e lhe relataram tudo o que havia acontecido.

VERSOS 1-6: Śukadeva Gosvāmī disse: Jarāsandha derrotara em combate e lançara na prisão 20.800 reis. Ao saírem da fortaleza Giridroṇī, aqueles reis pareciam sujos e maltrapilhos. Estavam emagrecidos devido à fome, seus rostos haviam definhado e eles estavam muito fracos em virtude de seu longo período de aprisionamento.

VERSO 7: Tendo o êxtase de contemplar o Senhor Kṛṣṇa afastado o cansaço de seu aprisionamento, os reis levantaram-se e, de mãos postas, ofereceram palavras de louvor àquele supremo mestre dos sentidos.

VERSO 8: Os reis disseram: Reverências a Vós, ó Senhor dos semideuses governantes, ó destruidor da aflição de Vossos devotos rendidos. Visto que nos rendemos a Vós, ó inexaurível Kṛṣṇa, por favor, salvai-nos desta terrível vida material, que nos deixou tão desalentados.

VERSO 9: Ó amo, Madhusūdana, não culpamos este rei de Magadha, pois, em verdade, é por Vossa misericórdia que os reis caem de sua posição régia, ó Senhor onipotente.

VERSO 10: Fascinado por sua opulência e poder administrativo, um rei perde todo o autocontrole e não consegue encontrar seu verda­deiro bem-estar. Desorientado assim por Vossa energia ilusória, ele imagina que suas posses temporárias são permanentes.

VERSO 11: Assim como homens de inteligência infantil consideram uma miragem no deserto como um reservatório d’água, da mesma forma aqueles que são irracionais contemplam as transformações ilusórias de Māyā como se estas fossem substanciais.

VERSOS 12-13: Antes, cegos pela embriaguez das riquezas, queríamos conquistar esta terra e, por isso, lutávamos uns contra os outros para alcançar a vitória, atormentando, sem nenhuma misericór­dia, nossos próprios súditos. Tomados de arrogância, nós Vos desprezávamos, ó Senhor, que estáveis diante de nós como a morte. Mas agora, ó Kṛṣṇa, esta Vossa poderosa forma chamada Tempo, movendo-se misteriosa e irresistivelmente, privou-nos de nossas opulências. Agora que, por Vossa misericórdia, destruístes nosso orgulho, rogamos a Vós pela capacidade de nos lembrarmos de Vossos pés de lótus.

VERSO 14: Nunca mais desejaremos um reino semelhante a uma miragem – um reino que deve ser servido em sistema escravo por este corpo mortal, que é apenas fonte de doenças e sofrimentos e que definha a cada momento. Tampouco, ó Senhor onipotente, desejaremos gozar os frutos celestiais das ações piedosas na próxima vida, já que a promessa de tais recompensas não passa de um vazio engo­do para os ouvidos.

VERSO 15: Por favor, dizei-nos como podemos lembrar-nos constantemen­te de Vossos pés de lótus, apesar de continuarmos no ciclo de nasci­mentos e mortes neste mundo.

VERSO 16: Repetidas vezes, oferecemos nossas reverências ao Senhor Kṛṣṇa, Hari, o filho de Vasudeva. Essa Alma Suprema, Govinda, destrói o sofrimento de todos os que se rendem a Ele.

VERSO 17: Śukadeva Gosvāmī disse: Assim os reis, agora livres do cativeiro, glorificaram o Senhor Supremo. Então, meu querido Parīkṣit, aquele misericordioso outorgador de abrigo dirigiu-lhes a palavra com uma voz gentil.

VERSO 18: A Suprema Personalidade de Deus disse: De agora em diante, meus queridos reis, tereis firme devoção por Mim, a Alma Suprema e o Senhor de tudo o que existe. Garanto-vos que isso aconte­cerá, como desejais.

VERSO 19: Afortunadamente, chegastes à conclusão correta, meus queri­dos reis, e o que falastes é verdadeiro. Posso ver que a falta de autocontrole dos seres humanos, a qual nasce de seu inebriamen­to com a opulência e o poder, leva simplesmente à loucura.

VERSO 20: Haihaya, Nahuṣa, Veṇa, Rāvaṇa, Naraka e muitos outros governantes de semideuses, homens e demônios caíram de suas elevadas posições por causa do fascínio pela opulência material.

VERSO 21: Compreendendo que este corpo material e tudo o que se relaciona com ele têm um começo e um fim, adorai-Me mediante sacrifícios védicos e, com inteligência clara, protegei vossos súditos de acordo com os princípios da religião.

VERSO 22: Ao viverdes vossas vidas, procriando gerações de descendentes e deparando-vos com felicidade e sofrimento, nascimento e morte, mantende vossas mentes sempre fixas em Mim.

VERSO 23: Desapegai-vos do corpo e de tudo o que se relaciona com ele. Permanecendo autossatisfeitos, atende-vos firmemente aos vossos votos enquanto concentrais vossas mentes por completo em Mim. Dessa maneira, acabareis por alcançar-Me, a Suprema Verda­de Absoluta.

VERSO 24: Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo assim instruído os reis, o Senhor Kṛṣṇa, o mestre supremo de todos os mundos, ocupou servos e servas em banhá-los e decorá-los.

VERSO 25: Ó descendente de Bharata, o Senhor, então, mandou que o rei Sahadeva os honrasse com oferendas de roupas, joias, guirlandas e pasta de sândalo adequadas à realeza.

VERSO 26: Depois de terem sido adequadamente banhados e adornados, o Senhor Kṛṣṇa providenciou para que eles recebessem preparações de primeira classe. Além disso, presenteou-os com vários artigos, tais como noz-de-bétel, convenientes ao prazer dos reis.

VERSO 27: Honrados pelo Senhor Mukunda e livres de tribulação, os reis brilhavam com esplendor, e seus brincos reluziam, assim como a Lua e outros corpos celestes brilham no céu no final da estação das chuvas.

VERSO 28: O Senhor, em seguida, providenciou para os reis quadrigas puxadas por excelentes cavalos e adornadas com pedras preciosas e ouro. Então, agradando-os com palavras afáveis, dispensou-os para seus reinos.

VERSO 29: Assim libertos de toda dificuldade por Kṛṣṇa, a maior das personalidades, os reis partiram. Enquanto viajavam, pensavam unicamente nEle, o Senhor do universo, e em Seus maravilhosos feitos.

VERSO 30: Os reis contaram a seus ministros e outros cortesãos o que a Personalidade de Deus havia feito e, então, executaram diligentemente as ordens que Ele lhes dera.

VERSO 31: Tendo providenciado para que Bhīmasena matasse Jarāsandha, o Senhor Keśava aceitou a adoração oferecida pelo rei Sahadeva e, então, acompanhado dos dois filhos de Pṛthā, partiu.

VERSO 32: Quando chegaram a Indraprastha, os heróis vitoriosos sopraram seus búzios, trazendo júbilo a seus amigos benquerentes e pesar a seus inimigos.

VERSO 33: Os residentes de Indraprastha ficaram muito satisfeitos ao ouvir aquele som, pois compreenderam que agora o rei de Ma­gadha descansava em paz. O rei Yudhiṣṭhira sentiu que seus de­sejos, então, estavam realizados.

VERSO 34: Bhīma, Arjuna e Janārdana ofereceram seus respeitos ao rei e informaram-no sobre tudo o que haviam feito.

VERSO 35: Ao ouvir a narração do grande favor que o Senhor Keśava misericordiosamente lhe concedera, o rei Dharmarāja derramou lágrimas de êxtase e, devido a seu intenso amor, não conseguiu dizer nada.

« Previous Next »