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CAPÍTULO SETENTA E SEIS

A Batalha entre Śālva e os Vṛṣṇis

Este capítulo relata como o demônio Śālva adquiriu uma enorme e aterradora aeronave, como ele a usou para atacar os Vṛṣṇis em Dvā­rakā e como o Senhor Pradyumna foi retirado do campo de batalha durante a luta subsequente.

Śālva era um dos reis que foram derrotados por ocasião do casa­mento de Rukmiṇī-devī. Tendo prometido que exterminaria da Terra todos os Yādavas, ele passou a adorar o senhor Śiva todos os dias através de uma prática que consistia em comer apenas um punhado de pó. Depois de passado um ano, Śiva apareceu diante de Śālva e pediu-lhe que escolhesse uma bênção. Śālva pediu uma máquina voa­dora que pudesse ir a qualquer lugar e que lançasse terror nos cora­ções tanto dos semideuses e demônios como dos seres humanos. O senhor Śiva concedeu esse pedido e solicitou a Maya Dānava que construísse para Śālva uma cidade de ferro voadora chamada Saubha. A bordo deste veículo, Śālva foi para Dvārakā, onde ele e seu enorme exército sitiaram a cidade. A partir de seu aeroplano, Śālva bombardeou Dvārakā com troncos de árvores, blocos de pedra e outros projéteis, e também pro­duziu um poderoso turbilhão que cobriu tudo de poeira.

Ao verem a situação caótica de Dvārakā e de seus residentes, Pradyumna, Sātyaki e os outros heróis Yadus saíram para combater as forças de Śālva. Pradyumna, o melhor dos guerreiros, destruiu com Suas armas divinas toda a mágica ilusória de Śālva, também atordoou o próprio Śālva. Dessa maneira, o aeroplano de Śālva começou a vagar sem rumo na terra, no céu e no topo das montanhas. Mas então um seguidor de Śālva chamado Dyumān, atingiu Pradyumna no peito com sua maça, ao que o quadrigário de Pradyumna, pen­sando que seu mestre estava seriamente ferido, retirou-O do campo de batalha. Mas Pradyumna logo recuperou a consciência e criticou asperamente Seu cocheiro por ter feito isso.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Agora, por favor, ouve, ó rei, outra maravilhosa façanha executada pelo Senhor Kṛṣṇa, que apareceu em Seu corpo semelhante ao humano para desfrutar de passatem­pos transcendentais. Ouve como Ele matou o senhor de Saubha.

VERSO 2: Śālva era amigo de Śiśupāla. Durante a cerimônia de casamen­to de Rukmiṇī, os guerreiros Yadus derrotaram-no em combate, juntamente com Jarāsandha e os outros reis.

VERSO 3: Śālva jurou na presença de todos os reis: “Exterminarei da Terra os Yādavas. Vede só minha bravura!”

VERSO 4: Tendo assim feito esse voto, o tolo rei passou a adorar o Senhor Paśupati [Śiva] como sua deidade através de uma prática que consistia em comer por dia um punhado de pó, e nada mais.

VERSO 5: O ilustre senhor Umāpati é conhecido como “aquele que logo se satisfaz”; contudo, só depois de um ano é que ele recompensou Śālva, que se aproximara dele em busca de abrigo, oferecendo­-lhe a bênção de sua escolha.

VERSO 6: Śālva escolheu como bênção um veículo que não pudesse ser destruído por semideuses, demônios, seres humanos, Gandharvas, Uragas ou Rākṣasas; um veículo que pudesse viajar para qualquer lugar que ele quisesse, e que aterrorizasse os Vṛṣṇis.

VERSO 7: O senhor Śiva disse: “Que assim seja.” Por sua ordem, Maya Dānava, que conquista as cidades de seus inimigos, construiu uma cidade de ferro voadora chamada Saubha e deu-a de presente a Śālva.

VERSO 8: Este veículo inexpugnável era repleto de trevas e podia ir a qualquer lugar. Após obtê-lo, Śālva foi para Dvārakā, lembrando­-se da inimizade dos Vṛṣṇis por ele.

VERSOS 9-11: Com um enorme exército, Śālva sitiou a cidade, ó melhor dos Bharatas, dizimando os parques e jardins adjacentes, as mansões e seus observatórios, portais formidáveis e paredes circunjacentes, e também as áreas públicas de lazer. De sua excelente aeronave, ele arremetia torrentes de armas, tais como pedras, troncos de árvores, raios, cobras e granizo. Surgiu, então, um feroz turbilhão que cobriu todas as direções com uma camada de poeira.

VERSO 12: Terrivelmente atormentada assim pela aeronave Saubha, a ci­dade do Senhor Kṛṣṇa não encontrava paz, ó rei, tal qual a Terra quando foi atacada pelas três cidades aéreas dos demônios.

VERSO 13: Vendo Seus súditos tão molestados, o glorioso e heroico Senhor Pradyumna disse-lhes: “Não temais”, e montou em Sua qua­driga.

VERSOS 14-15: Os principais comandantes dos guerreiros de quadriga – Sātya­ki, Cārudeṣṇa, Sāmba, Akrūra e seus irmãos mais novos, bem como Hārdikya, Bhānuvinda, Gada, Śuka e Sāraṇa – saíram da cidade com muitos outros arqueiros eminentes, todos munidos de armadura e protegidos por contingentes de soldados montados em quadrigas, elefantes e cavalos, e também por companhias de infantaria.

VERSO 16: Começou, então, uma tumultuosa e horripilante batalha entre as forças de Śālva e os Yadus, a qual se igualava às formidáveis batalhas entre demônios e semideuses.

VERSO 17: Com Suas armas divinas, Pradyumna destruiu em um instante todas as ilusões mágicas de Śālva, do mesmo modo que os quentes raios solares dissipam a escuridão da noite.

VERSOS 18-19: Todas as flechas do Senhor Pradyumna tinham haste de ouro, ponta de ferro e junta perfeitamente lisa. Com vinte e cinco delas, Ele derrubou o comandante-em-chefe de Śālva [Dyumān], e atingiu o próprio Śālva com outras cem. Então, trespassou cada um dos oficiais de Śālva com uma flecha, cada quadrigário com dez flechas, e seus cavalos e outras montarias com três flechas cada.

VERSO 20: Ao verem o glorioso Pradyumna realizar aquela estupenda e poderosa façanha, todos os soldados de ambos os lados O lou­varam.

VERSO 21: Em um momento, a aeronave mágica construída por Maya Dāna­va aparecia sob muitas formas idênticas e, no momento seguinte, tornava-se de novo uma só. Algumas vezes, era visível, e outras, não. Dessa maneira, os adversários de Śālva jamais tinham certe­za de onde ela estava.

VERSO 22: De um instante a outro, a aeronave Saubha aparecia na terra, no céu, em um pico de montanha ou na água. Como um bastão fla­mejante a girar, ela jamais permanecia no mesmo lugar.

VERSO 23: Onde quer que Śālva aparecesse com sua aeronave Saubha e seu exército, para lá os comandantes Yadus atiravam suas flechas.

VERSO 24: Śālva ficou perplexo ao ver seu exército e cidade aérea ator­mentados assim pelas flechas do inimigo, que feriam como o fogo e o Sol e eram tão intoleráveis como o veneno de uma cobra.

VERSO 25: Porque almejavam a vitória neste e no outro mundo, os heróis do clã Vṛṣṇi não abandonavam seus designados postos no campo de batalha, ainda que o dilúvio de armas lançadas pelos coman­dantes de Śālva os atormentasse.

VERSO 26: Dyumān, o ministro de Śālva, ferido antes por Śrī Pradyumna, precipitou-se agora em Sua direção e, rugindo alto, atingiu-O com sua maça de aço negro.

VERSO 27: O cocheiro de Pradyumna, o filho de Dāruka, pensou que o peito de seu valoroso chefe fora destroçado pela maça. Conhe­cendo bem seu dever religioso, ele retirou Pradyumna do campo de batalha.

VERSO 28: Recuperando logo a consciência, Pradyumna, o filho do Senhor Kṛṣṇa, disse a Seu quadrigário: “Ó cocheiro, isto Me é abominável: ter sido retirado do campo de batalha!”

VERSO 29: “Jamais se ouviu falar que alguém nascido na dinastia Yadu, a não ser Eu, tenha abandonado o campo de batalha. Agora, Minha reputação ficou maculada por causa de um cocheiro que pensa como um eunuco.”

VERSO 30: “O que direi a Meus pais, Rāma e Keśava, quando Eu Me encon­trar com Eles depois de ter simplesmente fugido da batalha? O que Lhes posso dizer que seja condizente com Minha honra?”

VERSO 31: “Com certeza, Minhas cunhadas rirão de Mim e dirão: ‘Ó herói, conta-nos como é que Teus inimigos fizeram de Ti seme­lhante covarde na batalha.’”

VERSO 32: O cocheiro respondeu: Ó longevo, fiz isso sabendo muito bem meu dever prescrito. Ó meu Senhor, o quadrigário deve proteger o amo da quadriga quando este está em perigo, e o amo também deve proteger seu quadrigário.

VERSO 33: Com esta regra em mente, retirei-Te do campo de batalha, pois foras golpeado pela maça de Teu inimigo, e, estando Tu incons­ciente, pensei que estivesses seriamente ferido.

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