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CAPÍTULO OITENTA E UM

O Senhor Abençoa Sudāmā Brāhmaṇa

Este capítulo descreve como o Senhor Kṛṣṇa comeu um bocado de arroz em flocos trazido por Seu amigo Sudāmā e concedeu-lhe rique­za maior do que a do rei dos céus.

No decorrer da afetuosa conversa com Seu amigo Sudāmā, o Senhor Kṛṣṇa disse: “Meu querido brāhmaṇa, trouxeste-Me de casa algum presente? Considero muito importante até mesmo a menor ofe­renda de Meu devoto amoroso.” Mas o pobre brāhmaṇa estava en­vergonhado de oferecer a Kṛṣṇa Seu insignificante presente de arroz em flocos. Porém, como é a Superalma que mora em todos os cora­ções, o Senhor Kṛṣṇa sabia por que Sudāmā viera visitá-lO. Então, Ele agarrou o embrulho de arroz em flocos que Sudāmā estava es­condendo e comeu um punhado dele com grande prazer. Quando es­tava para comer um segundo bocado, Rukmiṇī-devī O deteve.

Sentindo-se como se tivesse voltado ao Supremo, Sudāmā passou aquela noite confortavelmente no palácio do Senhor Kṛṣṇa e, na manhã seguinte, partiu para casa. Enquanto caminhava pela estrada, ele pensava em quão afortunado era por ter sido tão honrado por Śrī Kṛṣṇa. Absorto nessa meditação, Sudāmā chegou ao local onde fica­va sua casa – e foi tomado de grande admiração. Em lugar de seu casebre em ruínas, ele viu uma série de palácios opulentos. Enquan­to estava ali parado, atônito, um grupo de belos homens e mulheres adiantou-se para saudá-lo com cantos e música. A esposa do brāhmaṇa, maravilhosamente adornada com joias celestiais, saiu do palá­cio e recebeu-o com grande amor e reverência. Sudāmā entrou em seu lar junto com ela, pensando que esta extraordinária transformação se devia com certeza à misericórdia do Senhor Supremo para com ele.

Daquele dia em diante, Sudāmā passou sua vida rodeado de sun­tuosa riqueza, mas ele manteve sua atitude de desapego e estava sempre cantando as glórias do Senhor Kṛṣṇa. Em pouco tempo ele desatou todos os vínculos do apego corpóreo e alcançou o reino de Deus.

VERSOS 1-2: [Śukadeva Gosvāmī disse:] O Senhor Hari, Kṛṣṇa, conhece perfeitamente o coração de todos os seres vivos e é especialmente dedicado aos brāhmaṇas. Enquanto conversava dessa maneira com o melhor dos duas vezes nascidos, o Senhor Supremo, a meta de todas as pessoas santas, sorrindo o tempo todo e olhando com afeição para aquele Seu querido amigo, o brāhmaṇa Sudāmā, disse-lhe as seguintes palavras.

VERSO 3: O Senhor Supremo disse: Ó brāhmaṇa, que presente trouxeste de casa para Mim? Considero grande até o menor presente oferecido com amor puro por Meus devotos, mas nem mesmo magníficas oferendas presenteadas por não-devotos Me agradam.

VERSO 4: Se alguém Me oferecer, com amor e devoção, folhas, flores, frutas ou água, Eu as aceitarei.

VERSO 5: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Mesmo depois de ter ouvido essas palavras, ó rei, o brāhmaṇa sentia-se constrangido demais para oferecer seus punhados de arroz em flocos ao esposo da deusa da fortuna. Ele simplesmente manteve-se cabisbaixo devido à vergonha.

VERSOS 6-7: Sendo a testemunha direta no coração de todos os seres vivos, o Senhor Kṛṣṇa sabia muito bem por que Sudāmā fora vê-lO. Assim, Ele pensou: “No passado, Meu amigo jamais Me adorou em troca de opulências materiais, mas agora ele vem até Mim para satisfazer sua casta e devotada esposa. Eu lhe darei riquezas que nem mesmo os semideuses imortais podem conseguir.”

VERSO 8: Pensando assim, o Senhor arrancou da roupa do brāhmaṇa os grãos de arroz em flocos amarrados em um velho pedaço de pano e exclamou: “O que é isto?”

VERSO 9: “Meu amigo, trouxeste esta oferenda para Mim? Isso Me proporciona extremo prazer. Em verdade, estes poucos flocos de arroz hão de satisfazer não só a Mim, mas também todo o universo.”

VERSO 10: Após dizer isso, o Senhor Supremo comeu um punhado daque­le arroz e estava prestes a comer o segundo quando a devotada deusa Rukmiṇī segurou Sua mão.

VERSO 11: [A rainha Rukmiṇī disse:] Isso é mais do que suficiente, ó Alma do universo, para lhe assegurar abundância de todas as espécies de riquezas neste e no outro mundo. Afinal, a prosperidade de uma pessoa depende unicamente de Tua satisfação.

VERSO 12: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] O brāhmaṇa passou aquela noite no palácio do Senhor Acyuta depois de comer e beber a seu pleno contento. Ele sentia como se tivesse ido para o mundo espiritual.

VERSO 13: No dia seguinte, depois de ser honrado pelo Senhor Kṛṣṇa, o autossatisfeito mantenedor do universo, Sudāmā partiu para casa. O brāhmaṇa sentia muito prazer, meu querido rei, enquanto ca­minhava pela estrada.

VERSO 14: Embora aparentemente não tivesse recebido nenhuma riqueza do Senhor Kṛṣṇa, Sudāmā era muito tímido para tomar a iniciativa de pedi-la. Ele apenas voltou para casa, sentindo-se cem por cento satisfeito por ter tido uma audiência com o Senhor Supremo.

VERSO 15: [Sudāmā pensava:] o Senhor Kṛṣṇa é conhecido por ser devotado aos brāhmaṇas, e agora eu mesmo vi essa devoção. De fato, Ele, que traz no peito a deusa da fortuna, abraçou o mendigo mais pobre.

VERSO 16: Quem sou eu? Um pobre e pecaminoso amigo de um brāhmaṇa. E quem é Kṛṣṇa? A Suprema Personalidade de Deus, pleno de seis opulências. Não obstante, Ele Me abraçou com Seus dois braços.

VERSO 17: Ele me tratou como se eu fosse um de Seus irmãos, fazendo-me sentar no leito de Sua amada consorte. E porque eu estava fatigado, Sua rainha em pessoa abanou-me com uma cāmara de cauda de iaque.

VERSO 18: Embora seja o Senhor de todos os semideuses e o objeto de adoração para todos os brāhmaṇas, Ele me adorou como se eu fosse um semideus, massageando meus pés e prestando outros serviços humildes.

VERSO 19: O serviço devocional aos pés de lótus dEle é a causa fundamental de todas as perfeições que alguém pode encontrar no céu, na liberação, nas regiões subterrâneas e na Terra.

VERSO 20: Pensando: “Se esse pobre coitado ficar rico repentinamente, ele se esquecerá de Mim em sua inebriante felicidade”, o compassivo Senhor não me deu nem mesmo um pouco de riqueza.

VERSOS 21-23: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Pensando assim consigo mesmo, Sudāmā enfim chegou ao lugar onde ficava sua casa. Mas aquele lugar agora estava repleto, por todos os lados, de imponentes pa­lácios celestiais, os quais rivalizavam o brilho combinado do Sol, do fogo e da Lua. Havia esplêndidos quintais e jardins, cada qual cheio de bandos de aves a cantar e embelezado por reservató­rios de água em que cresciam lótus kumuda, ambhoja, kahlāra e utpala. Homens muito bem trajados e mulheres de olhos de corça mantinham-se de pé aguardando ordens. Admirado, Sudāmā pergunta­va a si mesmo: “O que é tudo isto? De quem é essa propriedade? Como é que tudo isso aconteceu?”

VERSO 24: Enquanto ele continuava a ponderar dessa maneira, os belos servos e servas, refulgentes como semideuses, adiantaram-se para saudar seu afortunadíssimo amo com sonoros cantos e música instrumental.

VERSO 25: Quando ouviu que seu marido havia chegado, a esposa do brāhmaṇa, tomada de júbilo, saiu da casa rapidamente e cheia de empolgação. Ela parecia a própria deusa da fortuna a emergir de sua divina morada.

VERSO 26: Quando a casta dama viu seu marido, seus olhos encheram-se de lágrimas de amor e ansiedade. Enquanto mantinha os olhos fechados, ela se prostrou solenemente diante dele e o abraçou em seu cora­ção.

VERSO 27: Sudāmā surpreendeu-se ao ver sua esposa. Brilhando no meio de criadas adornadas com medalhões de pedras preciosas, ela pa­recia tão refulgente quanto uma semideusa em seu aeroplano ce­lestial.

VERSO 28: Com prazer, ele levou sua esposa consigo e entrou em casa, onde havia centenas de pilares incrustados de pedras preciosas, assim como no palácio do senhor Mahendra.

VERSOS 29-32: Na casa de Sudāmā, havia camas tão macias e brancas quanto a espuma do leite, feitas de marfim e ornamentadas de ouro. Havia também divãs com pés de ouro, bem como majestosos abanos cāmara, tronos de ouro, almofadas macias e reluzentes dosséis enfeitados com pingentes de pérolas. Nas paredes de cris­tal cintilante, incrustadas de esmeraldas, brilhavam lamparinas ornadas de pedras preciosas, e as mulheres do palácio andavam todas adornadas com gemas valiosas. Enquanto observava esta luxuosa opulência de todas as variedades, o brāhmaṇa calmamen­te ponderava consigo mesmo sobre sua inesperada prosperidade.

VERSO 33: [Sudāmā pensou:] Sempre fui pobre. Com certeza, a única maneira possível para alguém tão desafortunado como eu poder ficar rico subitamente é que o Senhor Kṛṣṇa, o opulentíssimo líder da dinastia Yadu, deve ter olhado de relance para mim.

VERSO 34: Afinal, meu amigo Kṛṣṇa, o mais insigne dos Dāśārhas e o desfrutador de ilimitada riqueza, percebeu que eu tinha a intenção secreta de Lhe pedir caridade. Assim, embora não tenha dito nada sobre isso quando nos encontramos, Ele de fato me conce­deu a mais abundante riqueza. Desse modo, Ele agiu como uma misericordiosa nuvem de chuva.

VERSO 35: O Senhor considera mesmo Suas maiores bênçãos como insignificantes, ao passo que magnifica até um pequeno serviço presta­do a Ele por Seu devoto benquerente. Dessa maneira, com prazer a Alma Suprema aceitou um único punhado do arroz em flocos que levei para Ele.

VERSO 36: A um devoto carente de compreensão espiritual, o Senhor Su­premo não concederá as maravilhosas opulências deste mundo – poder régio e bens materiais. De fato, em Sua infinita sabedo­ria, o Senhor não-nascido bem sabe como o inebriamento decor­rente do orgulho pode causar a queda dos homens ricos.

VERSO 37: O Senhor é o reservatório sumamente compassivo de todas as qualidades transcendentais. Que vida após vida eu O sirva com amor, amizade e companheirismo, e que eu cultive tal firme apego por Ele mediante a companhia preciosa de Seus devotos.

VERSO 38: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Assim fixando firmemente sua determinação por meio de uma inteligência espiritual, Sudāmā permaneceu cem por cento devotado ao Senhor Kṛṣṇa, o abrigo de todos os seres vivos. Livre de ganância, ele desfrutou, junto de sua esposa, os prazeres dos sentidos que lhe haviam sido outorgados, sempre com a ideia de, por fim, renunciar a todo gozo dos sentidos.

VERSO 39: O Senhor Hari é o Deus de todos os deuses, o senhor de todos os sacrifícios e o governante supremo. Contudo, Ele aceita os santos brāhmaṇas como Seus mestres, de modo que não existe deidade superior a eles.

VERSO 40: Assim, vendo como o inconquistável Senhor Supremo é, não obstante, conquistado por Seus próprios servos, o querido amigo brāhmaṇa do Senhor sentiu os restantes nós do apego material dentro de seu coração serem cortados mediante a força de sua meditação constante no Senhor. Em pouco tempo, ele alcançou a morada suprema do Senhor Kṛṣṇa, o destino dos grandes santos.

VERSO 41: O Senhor sempre manifesta aos brāhmaṇas um favor especial. Qualquer um que ouça esta narrativa da bondade do Senhor Su­premo para com os brāhmaṇas, desenvolverá amor pelo Senhor e, desta maneira, será liberto do cativeiro do trabalho material.

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