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Capítulo Onze

O Rei Indra Aniquila os Demônios

Como se descreve neste capítulo, o grande santo Nārada Muni, sentindo muita compaixão dos demônios que foram mortos pelos se­mideuses, proibiu os semideuses de continuarem a matá-los. Foi então que Śukrācārya, através de seu poder místico, devolveu a vida a todos os demônios.

Tendo sido agraciados pela Suprema Personalidade de Deus, os semideuses, estando revigorados, voltaram a lutar contra os demônios. O rei Indra disparou o seu raio contra Bali, e, quando Bali caiu, seu amigo Jambhāsura atacou Indra, que, com seu raio, decapitou Jambhāsura. Ao tomar conhecimento de que Jambhāsura fora morto, Nārada Muni transmitiu a notícia aos parentes de Jambhāsura – Namuci, Bala e Pāka –, que se dirigiram então ao campo de ba­talha e atacaram os semideuses. Indra, o rei dos céus, decapitou Bala e Pāka e arremessou a arma conhecida como kuliśa, o raio, no ombro de Namuci. O raio, entretanto, não foi bem-sucedido, motivo pelo qual Indra ficou melancólico. Naquele momento, uma voz de alguém invisível veio do céu. A voz declarava: “Nenhuma arma seca ou úmida pode matar Namuci.” Ao ouvir essa voz, Indra começou a pensar em como Namuci poderia ser morto. Pensou, então, em usar espuma, que é algo que não é seco nem molhado. Usando uma arma de espu­ma, conseguiu matar Namuci. Assim, Indra e os outros semideuses mataram muitos demônios. Então, a pedido do senhor Brahmā, Nārada foi ter com os semideuses e os proibiu de continuar matando os demônios. Todos os semideuses, então, retornaram às suas moradas. Seguindo as instruções de Nārada, todos os demônios sobreviventes no campo de batalha levaram Bali Mahārāja até a montanha Asta. Ali, através do toque da mão de Śukrācārya, Bali Mahārāja recobrou seus sentidos e sua consciência, e aqueles demônios cujas cabeças e corpos não haviam sido completamente destroçados foram ressuscitados pelo poder místico de Śukrācārya.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Depois disso, pela suprema graça da Suprema Personalidade de Deus, Śrī Hari, todos os semideuses, encabeçados por Indra e Vāyu, reviveram. Uma vez vivificados, os semideuses co­meçaram a agredir severamente os mesmíssimos demônios que os haviam derrotado.

VERSO 2: Quando o poderosíssimo Indra ficou irado e pegou do seu raio para matar Mahārāja Bali, os demônios começaram a lamentar-se: “Ai de nós! Ai de nós!”

VERSO 3: Sóbrio e tolerante e bem equipado com parafernália bélica, Bali Mahārāja se colocou diante de Indra no grande campo de batalha. O rei Indra, que sempre carrega o raio em sua mão, dirigiu a Bali Mahārāja a seguinte repreensão.

VERSO 4: Indra disse: Ó patife, assim como um trapaceiro às vezes venda os olhos de uma criança e arrebata-lhe as posses, estás também ten­tando derrotar-nos apresentando certos poderes místicos, embora saibas que somos os mestres de todos esses poderes místicos.

VERSO 5: Aqueles tolos e patifes que, através do poder místico ou de meios mecânicos, querem elevar-se ao sistema planetário superior, ou que até mesmo se esforçam por ultrapassar os planetas superiores e alcançar o mundo espiritual ou a liberação, faço com que sejam enviados à mais baixa região do universo.

VERSO 6: Hoje, com meu raio, que tem centenas de bordas afiadas, eu, a mesma pessoa poderosa, deceparei tua cabeça, separando-a de teu corpo. Embora possas produzir tantos truques ilusórios, és dotado de um pobre fundo de conhecimento. Então, tenta persistir neste campo de batalha com teus amigos e parentes.

VERSO 7: Bali Mahārāja respondeu: Todos que estão presentes neste campo de batalha decerto estão sob a influência do tempo eterno e, de acordo com as atividades que lhes são designadas, estão destinados a obter, consecutivamente, fama, vitória, derrota e morte.

VERSO 8: Vendo as ações do tempo, aqueles que conhecem a verdade incon­testável jamais se rejubilam ou se lamentam em virtude de diferentes circunstâncias. Portanto, como estás jubiloso devido à tua vitória, não deves ser considerado muito sábio.

VERSO 9: Vós, semideuses, pensais que vós mesmos sois a causa median­te a qual conquistais fama e vitória. Devido à vossa ignorância, as pessoas santas se compadecem de vós. Portanto, embora vossas pa­lavras aflijam o coração, não as aceitamos.

VERSO 10: Śukadeva Gosvāmī disse: Após dirigir a Indra, o rei dos céus, essas palavras cortantes, Bali Mahārāja, que podia subjugar qualquer outro herói, retesou seu arco e, puxando até o seu ouvido as flechas conhecidas como nārācas, lançou-as na direção de Indra. Então, ele voltou a castigar Indra com fortes palavras.

VERSO 11: Como os insultos que partiram de Mahārāja Bali diziam a verdade, o rei Indra não se ofendeu de modo algum, assim como um elefante açoitado pelo bastão de seu condutor não fica agitado.

VERSO 12: Quando Indra, o derrotador dos inimigos, estando desejoso de matar Bali Mahārāja, disparou contra este o seu infalível raio e cetro, Bali Mahārāja de fato caiu ao solo com o seu aeroplano, como uma montanha com suas asas cortadas.

VERSO 13: Ao ver que o seu amigo Bali havia caído, o demônio Jambhāsura apareceu diante de Indra, o inimigo, simplesmente para prestar a Bali Mahārāja seu serviço amistoso.

VERSO 14: O poderosíssimo Jambhāsura, carregado por um leão, aproximou-se de Indra e, com sua maça, golpeou-o fortemente no ombro. Ele também atingiu o elefante de Indra.

VERSO 15: Sendo golpeado pela maça de Jambhāsura, o elefante de Indra ficou confuso e ferido. Então, tocou seus joelhos no chão e perdeu a consciência.

VERSO 16: Em seguida, Mātali, o quadrigário de Indra, trouxe a quadriga de Indra, que era puxada por mil cavalos. Então, Indra deixou seu elefante e subiu na quadriga.

VERSO 17: Apreciando o serviço de Mātali, Jambhāsura, o melhor dos demô­nios, sorriu. Entretanto, ele atingiu Mātali na batalha, acertando-lhe um tridente de fogo abrasador.

VERSO 18: Embora a dor fosse extremamente severa, Mātali tolerou-a com grande paciência. Indra, no entanto, que ficou deveras irado com Jambhāsura, golpeou-o com seu raio e, então, decepou-lhe a cabeça.

VERSO 19: Quando Nārada Ṛṣi informou aos amigos e parentes de Jambhāsura que este fora morto, os três demônios chamados Namuci, Bala e Pāka apressaram-se em chegar ao campo de batalha.

VERSO 20: Repreendendo Indra com palavras ásperas e cruéis que machucavam o coração, esses demônios lançaram nele uma saraivada de flechas, assim como torrentes de chuva que lavam uma grande montanha.

VERSO 21: Dominando rapidamente a situação no campo de batalha, o demônio Bala causou tribulações a todos os mil cavalos de Indra, si­multaneamente despedaçando todos eles com o mesmo número de flechas.

VERSO 22: Pāka, outro demônio, atacou tanto a quadriga, com toda a sua parafernália, quanto o quadrigário Mātali, ajustando duas mil flechas a seu arco e disparando todas elas de uma só vez. Esse ato no campo de batalha foi de fato maravilhoso.

VERSO 23: Então, Namuci, outro demônio, atacou Indra e o feriu com quinze poderosíssimas flechas de pena dourada, que rugiam como uma nuvem cheia de água.

VERSO 24: Outros demônios alvejaram Indra, juntamente com sua quadriga e o seu quadrigário, com incessantes chuvas de flechas, assim como as nuvens cobrem o Sol na estação das chuvas.

VERSO 25: Os semideuses, sendo severamente oprimidos por seus inimigos e incapazes de ver Indra no campo de batalha, ficaram muito ansiosos. Não tendo capitão ou líder, começaram a se lamentar, como merca­dores em uma nau que sofre avarias no meio do oceano.

VERSO 26: Depois disso, Indra libertou-se da gaiola formada pela rede de flechas. Aparecendo com sua quadriga, bandeira, cavalo e quadrigário e, assim, satisfazendo o céu, a Terra e todas as direções, ele brilhava com muito fulgor, tal qual o Sol depois que a noite termina. Todos viram que Indra estava belo e resplandecente.

VERSO 27: Ao ver que seus próprios soldados estavam sendo bastante oprimidos pelos inimigos no campo de batalha, Indra, que é conhecido como Vajra-dhara, o portador do raio, ficou muito irado. Foi então que ele empunhou seu raio para matar os inimigos.

VERSO 28: Ó rei Parīkṣit, o rei Indra usou seu raio para cortar a cabeça de Bala e Pāka na presença de todos os seus parentes e seguidores. Dessa maneira, ele criou uma atmosfera muito amedrontadora no campo de batalha.

VERSO 29: Ó rei, ao ver o extermínio de Bala e Pāka, Namuci, outro demônio, ficou cheio de pesar e lamentação. Então, com muita ira, tentou seriamente matar Indra.

VERSO 30: Estando irado e rugindo como um leão, o demônio Namuci empunhou uma lança de aço, à qual estavam presos alguns sinos e que estava decorada com ornamentos de ouro. Ele gritou muito alto: “Agora, morrerás!” Então, apresentando-se diante de Indra para matá-lo, Namuci disparou sua arma.

VERSO 31: Ó rei, ao ver essa poderosíssima lança caindo ao chão como um meteoro abrasador, Indra, o rei dos céus, imediatamente a despedaçou com suas flechas. Então, estando muito irado, golpeou o ombro de Namuci com seu raio a fim de decepar sua cabeça.

VERSO 32: Embora o rei Indra arremessasse com muita força o seu raio contra Namuci, não pôde nem mesmo trespassar sua pele. É muito surpreendente que o famoso raio que havia varado o corpo de Vṛtrāsura nem mesmo pôde ferir levemente a pele do pescoço de Namuci.

VERSO 33: Ao perceber que o raio ricocheteou após alcançar o inimi­go, Indra ficou com muito medo e começou a se perguntar se isso havia acontecido em razão de algum poder miraculoso superior.

VERSO 34: Indra pensou: Outrora, quando muitas montanhas aladas voavam no céu e caíam ao chão, matando as pessoas, eu cortava suas asas com este mesmo raio.

VERSO 35: Vṛtrāsura era a essência das austeridades a que Tvaṣṭā se subme­teu, apesar do que o raio o matou. Na verdade, não apenas ele, mas também muitos outros heróis intrépidos, cuja pele não podia ser fe­rida por nenhuma classe de armas, foram mortos pelo mesmo raio.

VERSO 36: Mas agora, embora tenha sido arremessado contra um demônio menos importante, o mesmo raio não surtiu efeito. Portanto, embora ele estivesse na mesma categoria de um brahmāstra, tornou-se inútil como um bastão ordinário. Por conseguinte, deixarei de mantê-lo em minha posse.

VERSO 37: Śukadeva Gosvāmī continuou: Enquanto Indra estava taciturno e lamentava-se dessa maneira, ouviu-se uma voz sentenciosa proferir no céu as seguintes palavras: “Este demônio Namuci não pode ser aniquilado por nada seco nem úmido.”

VERSO 38: A voz também disse: “Ó Indra, porque dei a esse demônio a bênção de que ele jamais será morto por alguma arma seca ou úmida, deves descobrir outra maneira de matá-lo.”

VERSO 39:  Após ouvir a voz agourenta, Indra, com muita atenção, começou a meditar em como matar o demônio. Foi então que ele deduziu que deveria usar a espuma, visto que ela não é nem seca nem molhada.

VERSO 40: Assim, Indra, o rei dos céus, decepou a cabeça de Namuci com uma arma de espuma, que não era nem seca nem molhada. Então, todos os sábios satisfizeram Indra, a excelsa personalidade, derramando flores e guirlandas sobre ele, encobrindo-o quase completa­mente.

VERSO 41: Viśvāvasu e Parāvasu, os dois líderes dos Gandharvas, cantaram com grande felicidade. Os timbales dos semideuses ressoaram, e as Apsarās dançaram com alegria.

VERSO 42: Assim como leões matam veados em uma floresta, Vāyu, Agni, Varuṇa e outros semideuses começaram a matar os demônios que se opunham a eles.

VERSO 43: Ó rei, ao ver que era iminente a total aniquilação dos demônios, o senhor Brahmā enviou uma mensagem através de Nārada, que se apresentou perante os semideuses para fazê-los descontinuarem a luta.

VERSO 44: O grande sábio Nārada disse: Todos vós, semideuses, sois protegidos pelos braços de Nārāyaṇa, a Suprema Personalidade de Deus, e, por Sua graça, obtivestes o néctar. Pela graça da deusa da fortu­na, sois gloriosos em todos os sentidos. Portanto, por favor, cessai esta luta.

VERSO 45: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Aceitando as palavras de Nārada, os semideuses abrandaram sua ira e pararam de lutar. Louvados por seus seguidores, eles retornaram aos seus planetas celestiais.

VERSO 46: Seguindo as ordens de Nārada Muni, todos os demônios que permaneceram no campo de batalha pegaram Bali Mahārāja, que esta­va em uma situação precária, e o levaram à colina conhecida como Astagiri.

VERSO 47: Ali naquela colina, Śukrācārya ressuscitou todos os soldados demoníacos que, embora mortos, não houvessem perdido a cabeça, o tronco e os membros. Ele conseguiu isso através de seu mantra pessoal, co­nhecido como Saṁjīvanī.

VERSO 48: Bali Mahārāja era muito experiente nos afazeres universais. Quando, pela graça de Śukrācārya, recobrou seus sentidos e sua memória, pôde entender tudo o que havia acontecido. Portanto, embora tenha sido derrotado, não ficou lamentando-se.

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