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Capítulo Dez

A Batalha entre os Semideuses e os Demônios

O resumo do capítulo dez é o seguinte. Devido à inveja, a luta entre os demônios e os semideuses prosseguiu. Quando os semideu­ses, estando quase derrotados pelas manobras demoníacas, ficaram melancólicos, o Senhor Viṣṇu apareceu para eles.

Tanto os semideuses quanto os demônios são hábeis em ativida­des que envolvem a energia material, mas os semideuses são devo­tos do Senhor, ao passo que os demônios são exatamente o oposto. Os semideuses e os demônios bateram o Oceano de Leite para obter dele o néctar, mas os demônios, não sendo devotos do Senhor, não colheram benefício algum. Após alimentar os semideuses com o néctar, o Senhor Viṣṇu, montado nas costas de Garuḍa, retornou à Sua morada, mas os demônios, estando muito ressentidos, voltaram a declarar guerra aos semideuses. Bali Mahārāja, filho de Virocana, tornou-se o comandante-em-chefe dos demônios. Logo no começo da batalha, os semideuses se prepararam para matar os demônios. Indra, o rei dos céus, lutou contra Bali, e outros semideuses, tais como Vāyu, Agni e Varuṇa, combateram outros líderes dos demô­nios. Nessa luta, os demônios foram derrotados e, para escaparem da morte, começaram a recorrer a manobras materiais, através das quais manifestaram muitas ilusões, matando diversos soldados que estavam do lado dos semideuses. Os semideuses, não encontrando nenhum outro recurso, voltaram a se render à Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, que então apareceu e anulou todas as ilusões produzidas pelos malabarismos dos demônios. Heróis entre os demô­nios, tais como Kālanemi, Mālī, Sumālī e Mālyavān, lutaram contra a Suprema Personalidade de Deus e foram todos mortos pelo Senhor. Assim, os semideuses se livraram de todos os perigos.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, todos os demônios e Daityas ocupa­ram toda a sua atenção e esforço em bater o oceano, mas, como não eram devotos de Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, não conseguiram beber o néctar.

VERSO 2: Ó rei, após concluir os afazeres que consistiram em bater o oceano e alimentar com néctar os semideuses, que são Seus queridos devo­tos, a Suprema Personalidade de Deus retirou-Se daquele local e, montado em Garuḍa, partiu rumo à Sua própria morada.

VERSO 3: Vendo a vitória dos semideuses, os demônios ficaram inconforma­dos com sua opulência superior. Então, com as armas em riste, eles co­meçaram a marchar na direção dos semideuses.

VERSO 4: Em seguida, estando fortificados por terem bebido o néctar, os semideuses, que sempre se abrigam nos pés de lótus de Nārāyaṇa, usaram suas várias armas para, em um espírito belicoso, contra-atacar os demônios.

VERSO 5: Ó rei, às margens do Oceano de Leite, os semideuses e demônios passaram a travar uma furiosa batalha. A luta era tão terrível que bastava ouvir sobre ela para o ouvinte arrepiar-se.

VERSO 6: Naquela luta, ambos os grupos estavam extremamente irados no seu íntimo e, impelidos pela inimizade, golpeavam o rival com espa­das, flechas e várias outras armas.

VERSO 7: O som dos búzios, clarins, tambores, bherīs e ḍamarīs [timbales], bem como o barulho produzido pelos elefantes, cavalos e soldados, que lutavam tanto em quadrigas quanto a pé, eram tonitruantes.

VERSO 8: Naquele campo de batalha, os quadrigários lutavam com quadri­gários inimigos, os soldados de infantaria com a infantaria inimiga, os soldados de cavalaria com a cavalaria inimiga, e os soldados montados em elefantes com os soldados adversários que estavam montados em elefantes. Dessa maneira, a luta acontecia entre os mesmos tipos de rivais.

VERSO 9: Alguns soldados lutavam montados em camelos; outros, em elefantes; alguns, em asnos; outros, em macacos de rosto branco ou de rosto vermelho; alguns ainda, em tigres, e outros, em leões. Dessa maneira, todos se dedicavam a lutar.

VERSOS 10-12: Ó rei, alguns soldados lutavam montados em abutres, águias, patos, falcões e pássaros bhāsa. Alguns lutavam sobre as costas de timiṅgilas, que podem devorar enormes baleias, alguns lutavam montados em sarabhas, e outros o faziam montados em búfalos, rinocerontes, vacas, touros, vacas selvagens e aruṇas. Outros lutavam montados em chacais, ratos, lagartos, coelhos, seres humanos, bodes, veados negros, cisnes e ja­valis. Dessa maneira, montados em animais aquáticos, terrestres e aéreos, incluindo animais com corpos deformados, os dois exércitos se defrontaram e deram prosseguimento à luta.

VERSOS 13-15: Ó rei, ó descendente de Mahārāja Pāṇḍu, os soldados dos semi­deuses e dos demônios estavam decorados com dosséis, bandeiras coloridas e sombrinhas com cabos feitos de joias preciosas e pérolas. Ademais, estavam decorados com abanos feitos de penas de pavão e também com outros abanos. Os soldados, com suas roupas superiores e inferiores balançando com a brisa, apresentavam uma marcante beleza natural, e, à luz do sol radiante, seus escudos, adornos e armas limpas e afiadas pareciam ofuscantes. Assim, as fileiras de soldados pareciam dois oceanos com grupos de seres aquá­ticos.

VERSOS 16-18: Para aquela batalha, o imensamente célebre comandante-em-chefe, Mahā­rāja Bali, filho de Virocana, sentou-se em um maravilhoso aeroplano chamado Vaihāyasa. Ó rei, esse aeroplano belamente decorado fora construído pelo demônio Maya e estava equipado com armas próprias para toda classe de combate. Ele era inconcebível e indescritível. Na verdade, era ora visível, ora invisível. Sentado nesse aeroplano, coberto por uma bela sombrinha protetora e sendo abanado pela melhor das cāmaras, Mahārāja Bali, cercado por seus capitães e comandantes, parecia a Lua a surgir à noite, ilu­minando todas as direções.

VERSOS 19-24: Mahārāja Bali estava cercado por todos os lados pelos comandan­tes e capitães dos demônios, sentados em suas respectivas quadrigas. Entre eles, estavam os seguintes demônios: Namuci, Śambara, Bāṇa, Vipracitti, Ayomukha, Dvimūrdhā, Kālanābha, Praheti, Heti, Ilvala, Śakuni, Bhūtasantāpa, Vajradaṁṣṭra, Virocana, Hayagrīva, Śaṅkuśirā, Kapila, Meghadundubhi, Tāraka, Cakradṛk, Śumbha, Niśumbha, Jambha, Utkala, Ariṣṭa, Ariṣṭanemi, Tripurādhipa, Maya, os filhos de Puloma, os Kāleyas e Nivātakavaca. Todos esses demônios foram privados de sua parte do néctar e compartilharam mera­mente do trabalho de bater o oceano. Agora, eles lutavam contra os semideuses e, para animar seus exércitos, faziam um som tumul­tuoso como o rugir de leões e sopravam fortemente seus búzios. Ao ver essa situação de seus ferozes rivais, Balabhit, o senhor Indra, ficou extremamente irado.

VERSO 25: Montado em Airāvata, um elefante que pode ir a qualquer lugar e que mantém um suprimento de água e vinho que são por ele es­guichados, o senhor Indra parecia exatamente o Sol nascendo em Udayagiri, onde existem reservatórios de água.

VERSO 26: Cercando o senhor Indra, o rei dos céus, estavam os semideuses, sentados em várias espécies de veículos e decorados com bandeiras e armas. Presentes entre eles, encontravam-se Vāyu, Agni, Varuṇa e outros governantes de vários planetas, juntamente com seus as­sociados.

VERSO 27: Os semideuses e demônios se colocaram uns diante dos outros e se insultaram mutuamente com palavras que feriam o coração. Então, aproximaram-se e, aos pares, começaram a lutar face a face.

VERSO 28: Ó rei, Mahārāja Bali lutou contra Indra; Kārttikeya, contra Tāraka; Varuṇa, contra Heti, e Mitra, contra Praheti.

VERSO 29: Yamarāja lutou contra Kālanābha; Viśvakarmā, contra Maya Dānava; Tvaṣṭā, contra Śambara, e o deus do Sol, contra Virocana.

VERSOS 30-31: O semideus Aparājita lutou contra Namuci, e os dois irmãos Aśvinī-kumāra lutaram contra Vṛṣaparvā. O deus do Sol lutou contra os cem filhos de Mahārāja Bali, encabeçados por Bāṇa, e o deus da Lua lutou contra Rāhu. O semideus controlador do ar lutou contra Puloma, e Śumbha e Niśumbha lutaram contra a supremamente poderosa energia material, Durgādevī, que se chama Bhadra Kālī.

VERSOS 32-34: Ó Mahārāja Parīkṣit, exterminador dos inimigos [Arindama], o senhor Śiva lutou contra Jambha, e Vibhāvasu lutou contra Mahiṣāsura. Ilvala, juntamente com seu irmão Vātāpi, bateu-se com os filhos do senhor Brahmā. Durmarṣa lutou contra o Cupido; o demônio Utkala, contra a semideusa Mātṛkā; Bṛhaspati, contra Śukrācārya, e Śanaiścara [Saturno], contra Narakāsura. Os Maruts lutaram contra Nivātakavaca; os Vasus, contra os demônios Kālakeyas; os semideuses Viśvedevas, contra os demônios Paulomas, e os Rudras, contra os demônios Krodhavaśas, que eram vítimas da ira.

VERSO 35: Todos esses semideuses e demônios se reuniram no campo de ba­talha com ânimo belicoso e investiram uns contra os outros com muito ímpeto. Todos desejando a vitória, eles lutaram aos pares, agredindo-se severamente com flechas, espadas e lanças afiadas.

VERSO 36: Eles cortaram as cabeças uns dos outros usando armas tais como bhuśuṇḍis, cakras, maças, ṛṣṭis, paṭṭiśas, śaktis, ulmukas, prāsas, paraśvadhas, nistriṁśas, lanças, parighas, mudgaras e bhindipālas.

VERSO 37: Os elefantes, cavalos, quadrigas, quadrigários, soldados de infantaria e várias classes de carregadores, juntamente com os seus condutores, foram dilacerados. Os braços, coxas, pescoços e pernas dos solda­dos foram decepados, e suas bandeiras, arcos, escudos e ornamentos foram destroçados.

VERSO 38: Devido ao impacto produzido pelas pernas dos demônios e semideuses e pelas rodas das quadrigas ao entrarem em contato com a solo, partículas de poeira levantaram-se violentamente na direção do céu e fizeram uma nuvem de poeira que, estendendo-se até o Sol, cobria todas as direções do espaço exterior. Porém, quando às partículas de poeira se juntaram gotas de sangue que eram salpicadas por todo o espaço, a nuvem de poeira não pôde continuar flutuando no céu.

VERSO 39: No decorrer da luta, o campo de batalha ficou coberto com as ca­beças decapitadas dos heróis, sendo que seus olhos ainda olhavam fixamente, e seus dentes persistiam comprimindo os lábios com muita ira. Os elmos e brincos desprenderam-se daquelas cabeças decepa­das. Igualmente, muitos braços, decorados com adornos e segurando várias armas, espalhavam-se em diversos locais, bem como muitas pernas e coxas, que pareciam trombas de elefantes.

VERSO 40: Muitos troncos sem cabeça foram produzidos naquele campo de ba­talha. Empunhando armas, aqueles troncos fantasmais, que podiam ver com os olhos das cabeças caídas, arremetiam-se contra os soldados inimigos.

VERSO 41: Então, com dez flechas, Mahārāja Bali atacou Indra e, com três flechas, atacou Airāvata, o elefante carregador de Indra. Com quatro flechas, ele atacou os quatros cavaleiros que defendiam as pernas de Airāvata e, com uma flecha, atacou o condutor do elefante.

VERSO 42: Antes de que as flechas de Mahārāja Bali conseguissem atingi-lo, Indra, o rei dos céus, que é hábil no manuseio de flechas, sorriu e contra-atacou as flechas com flechas de outro tipo, conhecidas como bhalla, as quais eram extremamente pontiagudas.

VERSO 43: Ao ver as hábeis façanhas militares de Indra, Bali Mahārāja não pôde conter a sua ira. Então, ele empunhou outra arma, conhecida como śakti, que ardia como um grande tição incendiário. Todavia, Indra despedaçou essa arma quando a mesma ainda estava nas mãos de Bali.

VERSO 44: Em seguida, uma por uma, Mahārāja Bali usou a lança, prāsa, to­mara, ṛṣṭis e outras armas, mas todas as armas que ele empunhava eram imediatamente despedaçadas por Indra.

VERSO 45: Meu querido rei, Bali Mahārāja então desapareceu e recorreu a ilusões demoníacas. Em seguida, uma montanha gigante, gerada da ilusão, apareceu acima da cabeça dos soldados dos semideuses.

VERSO 46: Daquela montanha, caíam árvores queimando em um incêndio florestal. Lascas de pedra, com bordas afiadas como picaretas, também caíam e esmagavam a cabeça dos soldados dos semideuses.

VERSO 47: Escorpiões, grandes serpentes e muitos outros animais venenosos, bem como leões, tigres, javalis e grandes elefantes, todos começaram a cair sobre os soldados dos semideuses, esmagando tudo.

VERSO 48: Ó meu rei, muitas centenas de demônias e demônios carnívoros, completamente nus e carregando tridentes em suas mãos, apareceram então, bradando os lemas: “Despedaçai-os! Tres­passai-os!”

VERSO 49: Nuvens ameaçadoras, fustigadas por ventos fortes, apareceram em seguida no céu. Emitindo muito gravemente o som de trovoadas, começaram a derramar carvões em brasa.

VERSO 50: Um grande fogo devastador criado por Bali Mahārāja começou a queimar todos os soldados dos semideuses. Esse fogo, acompanhado de rajadas de ventos, parecia tão terrível como o fogo Sāṁvartaka, que aparece no momento da dissolução.

VERSO 51: Depois, remoinhos aquáticos e ondas marítimas, agitados por ferozes rajadas de vento, apareceram em toda parte, diante da visão de todos, provocando uma furiosa inundação.

VERSO 52: Enquanto essa atmosfera mágica era criada na luta pelos demônios invisíveis, que eram hábeis nessas ilusões, os soldados dos semi­deuses sentiam-se abatidos.

VERSO 53: Ó rei, ao perceberem que não conseguiriam encontrar maneira al­guma de anular as atividades dos demônios, os semideuses, de todo o coração, meditaram na Suprema Personalidade de Deus, o criador do universo, que então apareceu imediatamente.

VERSO 54: A Suprema Personalidade de Deus, cujos olhos parecem as pétalas de um lótus recém-desabrochado, sentou-Se nas costas de Garuḍa, apoiando Seus pés de lótus nos ombros deste. Vestido de amarelo, decorado pela joia Kaustubha e pela deusa da fortuna e usando um elmo e brincos inestimáveis, o Senhor Supremo, portando várias armas em Suas oito mãos, tornou-Se visível aos semideuses.

VERSO 55: Assim como os perigos em um sonho cessam quando a pessoa desperta, as ilusões criadas pelos malabarismos dos demônios foram desfeitas pelo poder transcendental da Suprema Personalidade de Deus logo que Ele entrou no campo de batalha. Na verdade, pelo simples fato de se lembrar da Suprema Personalidade de Deus, o indivíduo se livra de todos os perigos.

VERSO 56: Ó rei, ao ver que a Suprema Personalidade de Deus, montado em Garuḍa, estava no campo de batalha, o demônio Kālanemi, que era carregado por um leão, logo pegou de seu tridente, brandiu-o e disparou-o contra a cabeça de Garuḍa. A Suprema Personalidade de Deus, Hari, o mestre dos três mundos, imediatamente agarrou o tridente e, com a mesmíssima arma, matou o inimigo Kālanemi, juntamente com o seu carregador, o leão.

VERSO 57: Em seguida, dois poderosíssimos demônios chamados Mālī e Sumālī foram mortos pelo Senhor Supremo, que os decapitou com o Seu disco. Então, Mālyavān, outro demônio, atacou o Senhor. Com sua potente maça, o demônio, que rugia como um leão, arremeteu contra Garuḍa, o senhor dos pássaros, que nascem de ovos. Contudo, a Su­prema Personalidade de Deus, a pessoa original, usou Seu disco para também decepar a cabeça daquele inimigo.

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