No edit permissions for Português

Capítulo Quatro

Gajendra Retorna ao Mundo Espiritual

Este quarto capítulo descreve o nascimento anterior de Gajendra e do crocodilo. Ele narra como o crocodilo se tornou um Gandharva e como Gajendra se tornou um associado da Suprema Personalidade de Deus.

No planeta Gandharva, havia um rei cujo nome era Hūhū. Certa vez, esse rei se divertia na água com mulheres, e, nesse folguedo, ele puxou a perna de Devala Ṛṣi, que também se banha­va na água. Diante disso, o sábio ficou muito irado e imediatamente o amaldiçoou a se tornar um crocodilo. O rei Hūhū ficou muito pesaroso ao receber aquela maldição e implorou o perdão do sábio, que, sentindo compaixão, conferiu-lhe a bênção de que se libertaria quando Gajendra fosse salvo pela Suprema Personalidade de Deus. Assim, o crocodilo foi liberto quando Nārāyaṇa o matou.

Quando, por misericórdia do Senhor, tornou-se um dos associa­dos do Senhor em Vaikuṇṭha, Gajendra obteve quatro braços. Essa conquista se chama sārūpya-mukti, ou a liberação na qual se re­cebe um corpo espiritual exatamente igual ao de Nārāyaṇa. Em seu nascimento anterior, Gajendra fora um grande devoto do Senhor Viṣṇu. Chamado Indradyumna, ele era o rei da região de Tāmila. Seguindo os princípios védicos, esse rei se afastou da vida familiar e construiu uma pequena cabana nas colinas Malayācala, onde, em silêncio, sempre adorava a Suprema Personalidade de Deus. Agastya Ṛṣi, juntamente com muitos discípulos, certa vez se aproximou do āśrama do rei Indradyumna, mas, como meditava na Suprema Personalidade de Deus, o rei não recebeu Agastya Ṛṣi apropriada­mente. Então, o ṛṣi ficou muito irado e amaldiçoou o rei a se tornar­ um elefante tolo. Em consequência dessa maldição, o rei nasceu como elefante e se esqueceu de todas as suas atividades devocionais anteriores. Entretanto, em seu nascimento como elefante, quando foi perigosamente atacado pelo crocodilo, ele se lembrou do servi­ço devocional que realizara em sua vida passada e, então, ocorreu-lhe a lembrança de uma oração que aprendera naquela vida. Devido a essa oração, ele voltou a receber a misericórdia do Senhor. Assim, foi imediatamente liberto e se tornou um dos associados de quatro braços do Senhor.

Na conclusão deste capítulo, Śukadeva Gosvāmī descreve a boa fortuna do elefante. Śukadeva Gosvāmī diz que quem ouve a nar­ração da liberação de Gajendra também pode obter a oportunidade de libertar-se. Śukadeva Gosvāmī descreve isso vividamente, momento no qual o capítulo termina.

VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Quando o Senhor libertou Gajendra, o rei dos elefantes, todos os semideuses, sábios e Gandharvas, enca­beçados por Brahmā e Śiva, louvaram essa atividade da Suprema Personalidade de Deus e derramaram flores sobre o Senhor e Gajendra.

VERSO 2: Timbales soaram nos planetas celestiais, os habitantes de Gandharva­loka começaram a dançar e cantar, enquanto os grandes sábios e os habitantes de Cāraṇaloka e Siddhaloka ofereciam orações a Puru­ṣottama, a Suprema Personalidade de Deus.

VERSOS 3-4: O melhor dos Gandharvas, o rei Hūhū, tendo sido amaldiçoado por Devala Muni, tornara-se um crocodilo. Agora, tendo sido liber­to pela Suprema Personalidade de Deus, assumiu uma belíssima forma de Gandharva. Compreendendo quem propiciara essa mise­ricórdia, ele imediatamente ofereceu suas respeitosas reverências, curvando a cabeça, e começou a recitar orações bem apropriadas ao Senhor transcendental, o eterno supremo, que é adorado pelos versos mais seletos.

VERSO 5: Tendo sido favorecido pela imotivada misericórdia da Suprema Personalidade de Deus e tendo reassumido sua forma original, o rei Hūhū circundou o Senhor e Lhe ofereceu reverências. Então, na presença de todos os semideuses, encabeçados por Brahmā, retor­nou a Gandharvaloka. Estava livre de todas as reações pecaminosas.

VERSO 6: Porque fora tocado diretamente pelas mãos da Suprema Persona­lidade de Deus, Gajendra, o rei dos elefantes, libertou-se imediata­mente de toda a ignorância e cativeiro materiais. Assim, recebeu a salvação sārūpya-mukti, mediante a qual adquiriu os mesmos traços corpóreos do Senhor, usando roupas amarelas e possuindo quatro braços.

VERSO 7: Este Gajendra fora anteriormente um vaiṣṇava e o rei da região conhecida como Pāṇḍya, que fica na província de Draviḍa [sul da Índia]. Em sua vida anterior, fora Indradyumna Mahārāja.

VERSO 8: Indradyumna Mahārāja se apartou da vida familiar e foi para as colinas Malaya, onde seu āśrama consistia em uma pequena cabana. Ele tinha o cabelo emaranhado e sempre executava austeridades. Certa vez, enquanto submetido a um voto de silên­cio, estava plenamente ocupado em adorar o Senhor e absorto no êxtase de amor ao Supremo.

VERSO 9: Enquanto Indradyumna Mahārāja se ocupava em meditação extá­tica, adorando a Suprema Personalidade de Deus, o grande sábio Agastya Muni chegou ali, cercado por seus discípulos. Ao ver que Mahārāja Indradyumna, o qual se sentava em um lugar solitário, per­manecia silencioso e não o recebeu segundo a etiqueta, o Muni ficou muito irado.

VERSO 10: Então, Agastya Muni proferiu a seguinte maldição contra o rei: Esse rei Indradyumna não é nem um pouco cortês. Vil e destituído de educação, insultou um brāhmaṇa. Que entre, portanto, na região das trevas e receba um corpo rude e estúpido de elefante.

VERSOS 11-12: Śukadeva Gosvāmī continuou: Meu querido rei, após ter lançado essa maldição sobre o rei Indradyumna, Agastya Muni deixou aquele lugar juntamente com seus discípulos. Como era um devoto, o rei aceitou de bom grado a maldição proferida por Agastya Muni porque esse era o desejo da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, embora em sua próxima vida obtivesse um corpo de elefante, devido ao serviço devocional, lembrou-se de como adorar o Senhor e oferecer-Lhe orações.

VERSO 13: Ao libertar o rei dos elefantes, tirando-o das garras do crocodilo, e da existência material, que se assemelha a um crocodilo, o Senhor concedeu-lhe o status de sārūpya-mukti. Na presença dos Gandharvas, Siddhas e outros semideuses, que louvavam as maravilhosas ativida­des transcendentais do Senhor, o Senhor, sentado nas costas de Seu carregador, Garuḍa, retornou à Sua absolutamente admirável morada e levou Gajendra conSigo.

VERSO 14: Meu querido rei Parīkṣit, acabei de descrever o maravilhoso poder que Kṛṣṇa manifestou ao libertar o rei dos elefantes. Ó melhor da dinastia Kuru, todos aqueles que ouvem esta narração qualificam-se para serem promovidos aos sistemas planetários superiores. Pelo simples fato de ouvirem esta narração, ganham reputação de devotos, não são afetados pela contaminação de Kali-yuga e jamais têm sonhos ruins.

VERSO 15: Portanto, pela manhã, após se levantarem da cama, aqueles que desejam seu próprio bem-estar – especialmente os brāhmaṇas, os kṣatriyas, os vaiśyas e, em particular, os brāhmaṇas vaiṣṇavas – devem recitar esta narração como ela é, sem alterá-la, para anular a ocorrência de sonhos ruins.

VERSO 16: Ó melhor da dinastia Kuru, a Suprema Personalidade de Deus, a Superalma de todos, estando então satisfeito, dirigiu-Se a Gajendra diante de todos ali presentes e proferiu as seguintes bênçãos.

VERSOS 17-24: A Suprema Personalidade de Deus disse: Livres de todas as reações pecaminosas estão aqueles que se levantam da cama no final da noite, de manhã bem cedo e, com muita atenção, concentram suas mentes por completo em Minha forma; em tua forma; neste lago; nesta mon­tanha; nas cavernas; nos jardins; nos canaviais; nos bambuais; nas árvores celestiais; nos aposentos residenciais do senhor Brahmā e do senhor Śiva; nos três picos da montanha Trikūṭa, feitos de ouro, prata e ferro; em Minha agradabilíssima morada [o Oceano de Leite]; na ilha branca, Śvetadvīpa, que sempre brilha com raios espirituais; em Minha marca de Śrīvatsa; na joia Kaustubha; em Minha guirlanda Vaijayantī; em Minha maça Kaumodakī; em Meu disco Sudarśana e búzio Pāñcajanya; em Meu carregador, Garuḍa, o rei dos pás­saros; em Meu leito, Śeṣa Nāga; na expansão da Minha energia, a deusa da fortuna; no senhor Brahmā; em Nārada Muni; no senhor Śiva; em Prahlāda; em Minhas encarnações de Matsya, Kūrma e Varāha; em Minhas ilimitadas atividades sumamente auspiciosas, que fomentam a piedade naqueles que as ouvem; no Sol; na Lua; no fogo; no mantra oṁkāra; na Verdade Absoluta; na totalidade da energia material; nas vacas e nos vaiśyas; no serviço devocio­nal; nas esposas de Soma e Kaśyapa, todas as quais são filhas do rei Dakṣa; nos rios Ganges, Sarasvatī, Nandā e Yamunā [Kālindī]; no elefante Airāvata; em Dhruva Mahārāja; nos sete ṛṣis, e nos seres humanos piedosos.

VERSO 25: Meu querido devoto, para aqueles que se levantam da cama no final da noite e Me oferecem as orações que Me dedicaste, reservo uma residência eterna no mundo espiritual ao fim desta vida.

VERSO 26: Śrī Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Após conceder essa instrução, o Senhor, que é conhecido como Hṛṣīkeśa, soprou Seu búzio Pāñcajanya e, dessa maneira, satisfez todos os semideuses, encabeçados pelo senhor Brahmā. Então, Ele montou nas costas de Seu carregador, Garuḍa.

« Previous Next »