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CAPÍTULO SEIS

O Extermínio da Demônia Pūtanā

 Eis um resumo do sexto capítulo: Quando Nanda Mahārāja, seguindo as instruções de Vasudeva, regressava para casa, ele viu uma grande demônia estirada na estrada e, então, ouviu sobre sua morte.

Enquanto refletia no que Vasudeva lhe dissera a respeito das perturbações em Gokula, Nanda Mahārāja, o rei de Vraja, sentiu um pouco de medo e buscou refúgio nos pés de lótus de Śrī Hari. Nesse ínterim, Kaṁsa enviou à vila de Gokula uma Rākṣasī chamada Pūtanā, que perambulava de um lugar a outro matando bebezi­nhos. Evidentemente, onde quer que não haja consciência de Kṛṣṇa, há o perigo de essas Rākṣasīs aparecerem, mas, visto que a própria Suprema Personalidade de Deus estava em Gokula, Pūtanā pôde encontrar ali apenas sua própria morte.

Certo dia, Pūtanā veio do espaço exterior e chegou a Gokula, o lar de Nanda Mahārāja, e, exibindo seu poder místico, disfarçou­-se como uma belíssima mulher. Ganhando coragem, ela imediatamente entrou no quarto de dormir de Kṛṣṇa, embora não tivesse a permissão de ninguém – pela graça de Kṛṣṇa, ninguém a proibiu de entrar na casa ou no quarto, porque esse era o desejo de Kṛṣṇa. O bebê Kṛṣṇa, que parecia um fogo coberto por cinzas, olhou para Pūtanā e sentiu que teria de matar essa demônia que se apresen­tava a Ele como uma bela mulher. Sob o encanto e influência de yoga­māyā e da Personalidade de Deus, Pūtanā pegou Kṛṣṇa e colocou-O em seu colo, e nem Rohiṇī nem Yaśodā fizeram objeção alguma. A demônia Pūtanā ofereceu seu seio a Kṛṣṇa para Ele mamar, mas seu seio estava untado com veneno. A criança Kṛṣṇa, portanto, sugou o seio de Pūtanā com tanta força que, sentindo uma dor insuportá­vel, ela teve de assumir seu corpo original e caiu ao chão. Então, Kṛṣṇa começou a brincar sobre seus seios, assim como uma crianci­nha. Quando Kṛṣṇa brincou, as gopīs acalmaram-se, pegaram a criança e colocaram-nA em seus próprios colos. Após esse inciden­te, as gopīs tomaram precauções devido ao ataque da Rākṣasī. Mãe Yaśoda deu seu seio para a criança mamar e, em seguida, deitou-A no berço.

Enquanto isso, Nanda e seus associados, os vaqueiros, retornavam de Mathurā, e quando viram o grande cadáver de Pūtanā ficaram maravilhados. Todos se admiraram diante do fato de que Vasudeva previra esse acontecimento terrível, e louvaram o poder premonitório de Vasudeva. Os ha­bitantes de Vraja cortaram o gigantesco corpo de Pūtanā em pedaços, mas, como Kṛṣṇa sugara-lhe o seio, ela se libertara de todos os pecados e, portanto, quando os vaqueiros queimaram os pedaços de seu corpo na fogueira, a fumaça encheu o ar com uma fragrân­cia muito agradável. Embora quisesse matar Kṛṣṇa, Pūtanā acabou alcançando a morada do Senhor. Este incidente brinda-nos com a instrução de que, se alguém dedica algum apego a Kṛṣṇa, mesmo que cultivando uma relação de inimigo, alcança o sucesso por fim. O que dizer, então, dos devotos que naturalmente se apegam a Kṛṣṇa com amor? Ao ouvirem sobre o extermínio de Pūtanā e o bem-estar da criança, os habitantes de Vraja ficaram muito satisfeitos. Nanda Mahārāja colocou o bebê Kṛṣṇa em seu colo e ficou repleto de satisfação.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī continuou: Meu querido rei, enquanto estava a caminho de casa, Nanda Mahārāja ponderou que aquilo que Vasu­deva dissera não poderia ser falso ou inútil. Deveria haver algum perigo de perturbações em Gokula. Enquanto pensava no perigo que rondava seu belo filho, Kṛṣṇa, Nanda Mahārāja ficou com medo e refugiou-se nos pés de lótus do controlador supremo.

VERSO 2: Enquanto Nanda Mahārāja retornava a Gokula, a mesma malévola Pūtanā, que Kaṁsa anteriormente ocupara em matar bebês, vaga­va pelos municípios, cidades e vilas executando seu nefasto dever.

VERSO 3: Meu querido rei, onde quer que alguém, em qualquer circunstân­cia, ocupe-se em executar serviço devocional, cantando e ouvindo [śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ], não pode haver nenhum perigo advindo de maus elementos. Portanto, enquanto a Suprema Personalidade de Deus estivesse pessoalmente presente, não havia por que ficar apreensivo de alguma ameaça a Gokula.

VERSO 4: Certa vez, a Rākṣasī Pūtanā, que podia locomover-se de acordo com seu desejo e vagava no espaço exterior, converteu-se, através de poderes místicos, em uma belíssima mulher e, assim, entrou em Gokula, a morada de Nanda Mahārāja.

VERSOS 5-6: Seus quadris eram volumosos, seus seios muito grandes e firmes, parecendo sobrecarregar sua cintura delgada, e ela estava vestida com muito esmero. Seu cabelo, adornado com uma guirlanda de flores mallikā, espalhava-se por seu belo rosto. Seus brincos eram brilhantes, e, conforme ela sorria de maneira muito atrativa, olhando para todos, sua beleza chamava a atenção de todos os habitantes de Vraja, especialmente dos homens. Ao verem-na, as gopīs pensaram que a bela deusa da fortuna, portando uma flor de lótus em sua mão, viera ver seu esposo, Kṛṣṇa.

VERSO 7: Enquanto buscava criancinhas, Pūtanā, cuja atividade era matá-las, entrou livremente na casa de Nanda Mahārāja, tendo sido enviada pela potência superior do Senhor. Sem pedir permissão a ninguém, ela entrou nos aposentos de Nanda Mahārāja, onde viu a criança dormindo no berço e com Seu poder ilimitado coberto como um poderoso fogo fica coberto por cinzas. Ela pôde perceber que essa criança não era comum, senão que Se destinava a matar todos os demônios.

VERSO 8: O Senhor Śrī Kṛṣṇa, a Superalma onipenetrante, deitado no berço, compreendeu que Pūtanā, uma bruxa muito hábil em matar criancinhas, viera matá-lO. Portanto, como se a temesse, Kṛṣṇa fechou Seus olhos. Assim, Pūtanā colocou no colo aquele que traria sua própria destruição, assim como uma pessoa sem inteligência põe sobre seu colo uma serpente adormecida, pensando que a serpente é uma corda.

VERSO 9: O coração da Rākṣasī Pūtanā era feroz e cruel, mas ela parecia uma mãe muito afetuosa. Logo, ela se assemelhava a uma espada afiada, guardada dentro de uma bainha bem delicada. Embora a vissem dentro do quarto, Yaśodā e Rohiṇī, encantadas com sua beleza, não a repeliram, senão que permaneceram silenciosas porque ela tra­tava a criança como se fosse Sua mãe.

VERSO 10: Naquele mesmo lugar, a terrível e perigosa Rākṣasī pôs Kṛṣṇa em seu colo e projetou seu seio em Sua boca. O mamilo de seu seio estava untado com um veneno perigoso e de ação instantânea, mas a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, ficando muito irado contra ela, segurou-lhe o seio, apertou-o com muita força com ambas as mãos e sugou tanto o veneno quanto sua vida.

VERSO 11: Insuportavelmente comprimida em cada ponto vital, a demônia Pūtanā começou a gritar: “Por favor, deixa-me! Deixa-me! Para de sugar meu seio!” Transpirando e com seus olhos arregalados e seus braços e pernas flácidos, ela gritava repetidas vezes.

VERSO 12: À medida que Pūtanā berrava a plenos pulmões, a Terra, com suas montanhas, e o espaço exterior, com seus planetas, tremiam. Os planetas inferiores e todas as direções estremeceram, e as pessoas caíam, temendo que raios estivessem abatendo-se sobre elas.

VERSO 13: Dessa maneira, a demônia Pūtanā, muito aflita quando seu seio foi atacado por Kṛṣṇa, perdeu sua vida. Ó rei Parīkṣit, abrindo amplamente sua boca e escancarando seus braços e pernas e com o ca­belo desgrenhado, ela caiu no campo de pastagem sob sua forma original de Rākṣasī, assim como Vṛtrāsura caiu ao ser morto pelo raio de Indra.

VERSO 14: Ó rei Parīkṣit, ao cair no solo, o gigantesco corpo de Pūtanā esmagou todas as árvores situadas em uma extensão de dezenove quilô­metros. Aparecendo em um corpo gigantesco, ela era certamente extra­ordinária.

VERSOS 15-17: A boca da Rākṣasī estava cheia de dentes, cada um deles parecendo a relha de um arado. Suas narinas eram profundas como cavernas de montanhas, e seus seios pareciam grandes blocos de pedra caídos de uma colina. Seu cabelo desgrenhado tinha a cor do cobre. As cavidades de seus olhos pareciam profundos poços camuflados, suas coxas medonhas assemelhavam-se às margens de um rio, seus braços, pernas e pés pareciam grandes pontes, e seu abdômen parecia um lago seco. Os corações, ouvidos e cabeças dos vaqueiros e vaqueiras já estavam abalados com o grito da Rākṣasī, e, ao verem a espantosa ferocidade de seu corpo, ficaram ainda mais amedrontados.

VERSO 18: Sem medo, a criança Kṛṣṇa brincava na parte superior do seio da Rākṣasī Pūtanā, e, ao verem as maravilhosas atividades da criança, as gopīs imediatamente se adiantaram com muita alegria e pegaram-nO.

VERSO 19: Em seguida, mãe Yaśodā e Rohiṇī, juntamente com as outras gopīs mais velhas, agitaram a ponta da cauda de uma vaca para dar plena proteção à criança Śrī Kṛṣṇa.

VERSO 20: A criança foi completamente lavada com urina de vaca e, em seguida, salpicada de poeira levantada pelas passadas das vacas. Então, reci­taram-se diferentes nomes do Senhor enquanto se aplicava esterco de vaca em doze diferentes partes de Seu corpo, começando com a testa, como se faz ao aplicar tilaka. Dessa maneira, a criança rece­beu proteção.

VERSO 21: As gopīs primeiramente executaram o processo de ācamana, sorvendo um pouco de água da mão direita. Elas purificaram seus corpos e mãos com o nyāsa-mantra e, então, aplicaram o mesmo mantra no corpo da criança.

VERSOS 22-23: [Śukadeva Gosvāmī informou a Mahārāja Parīkṣit que as gopīs, seguindo o sistema adequado, protegeram Kṛṣṇa, seu filho, com este mantra] Que Aja proteja Tuas pernas; que Maṇimān proteja Teus joelhos; Yajña, Tuas coxas; Acyuta, a parte superior de Tua cintu­ra, e Hayagrīva, Teu abdômen. Que Keśava proteja Teu coração; Īśa, Teu peito; o deus do Sol, Teu pescoço; Viṣṇu, Teus braços; Urukrama, Teu rosto, e Īśvara, Tua cabeça. Que Cakrī proteja-Te pela frente; que Śrī Hari, Gadādharī, o portador da maça, proteja­-Te pelas costas, e que o portador do arco, que é conhecido como o inimigo de Madhu, e o Senhor Ajana, o portador da espada, protejam Teus dois lados. Que o Senhor Urugāya, o portador do búzio, proteja-Te em todos os cantos; que Upendra proteja-Te de cima; que Garuḍa proteja-Te no solo, e que o Senhor Haladhara, a Pessoa Suprema, proteja-Te de todos os lados.

VERSO 24: Que Hṛṣīkeśa proteja Teus sentidos, e Nārāyaṇa, Teu ar vital. Possa o mestre de Śvetadvīpa proteger o âmago de Teu coração, e que o Senhor Yogeśvara proteja a Tua mente.

VERSOS 25-26: Que o Senhor Pṛśnigarbha proteja Tua inteligência, e a Suprema Personalidade de Deus, Tua alma. Enquanto estiveres Te divertin­do, que Govinda Te proteja, e enquanto estiveres dormindo, que Mādhava Te guarde. Possa o Senhor Vaikuṇṭha proteger-Te enquanto estiveres caminhando, e possa o Senhor Nārāyaṇa, o esposo da deusa da fortuna, proteger-Te enquanto estiveres sentado. De modo semelhante, que o Senhor Yajñabhuk, o temível inimigo de todos os planetas maléficos, sempre proteja-Te enquanto aproveitas a vida.

VERSOS 27-29: As bruxas perversas conhecidas como Ḍākinīs, Yātudhānīs e Kuṣmāṇḍas são as maiores inimigas das crianças, e os maus espíritos tais como os Bhūtas, Pretas, Piśācas, Yakṣas, Rākṣasas e Vināyakas, e também bruxas como Koṭarā, Revatī, Jyeṣṭhā, Pūtanā e Mātṛkā, sempre estão dispostos a causar danos ao corpo, ao ar vital e aos sentidos, provocando perda de memória, loucura e sonhos ruins. Como as mais hábeis estrelas maléficas, todos eles criam grandes perturbações, especialmente para as crianças, mas podem-se exterminá-los simplesmente pronunciando o nome do Senhor Viṣṇu, pois, quando o nome do Senhor Viṣṇu ressoa, todos eles ficam com medo e vão embora.

VERSO 30: Śrīla Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Todas as gopīs, encabeçadas por mãe Yaśodā, estavam possuídas de afeição materna. Depois de elas cantarem esses mantras para protegerem a criança, mãe Yaśo­dā deu seu seio para a criança mamar e, então, levou-A para deitar-­Se em Seu berço.

VERSO 31: Enquanto isso, todos os vaqueiros, encabeçados por Nanda Mahā­rāja, retornavam de Mathurā, e ao verem o gigantesco corpo de Pūtanā estirado no caminho, eles ficaram tomados de grande espanto.

VERSO 32: Nanda Mahārāja e os outros gopas exclamaram: Meus queridos amigos, deveis saber que Ānakadundubhi, Vasudeva, tornou-se um grande santo ou um mestre do poder místico. Caso contrário, como ele poderia ter previsto essa calamidade e anunciado a mesma para nós?

VERSO 33: Com a ajuda de machados, os habitantes de Vraja cortaram em pedaços o gigantesco corpo de Pūtanā. Então, atiraram muito longe os pedaços, cobriram-nos com madeira e reduziram-nos a cinzas.

VERSO 34: Pelo fato de Kṛṣṇa ter sugado o seio da Rākṣasī Pūtanā quando Kṛṣṇa a matou, ela logo se libertou de toda a contaminação material. Suas reações pecaminosas automaticamente extinguiram-se, e, portanto, quando seu gigantesco corpo estava sendo queimado, a fumaça que emanava de seu corpo era fragrante como o incenso aguru.

VERSOS 35-36: Pūtanā sempre ansiava pelo sangue de crianças e, com esse dese­jo, veio matar Kṛṣṇa; porém, como ofereceu seu seio ao Senhor, ela alcançou o maior triunfo. O que dizer, então, daquelas que tinham por Kṛṣṇa natural devoção e afeição maternais e que ofereceram seus seios para Ele mamar ou ofereceram algo muito estimado, como algo que uma mãe oferece ao filho?

VERSOS 37-38: A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, sempre está situado no âmago do coração do devoto puro, e sempre Lhe oferecem orações personalidades adoráveis, tais como o senhor Brahmā e o senhor Śiva. Porque Kṛṣṇa abraçou o corpo de Pūtanā com grande prazer e sugou seu seio, embora fosse uma grande bruxa, ela alcançou a posição de mãe no mundo transcendental e, deste modo, obteve a perfeição máxima. O que dizer, então, das vacas em cujos úberes Kṛṣṇa mamava com grande prazer e que ofereciam seu leite com muito júbilo e afeição, procedendo exatamente como uma mãe?

VERSOS 39-40: A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, é o outorgador de muitas bênçãos, incluindo a liberação (kaivalya), ou a unidade na refulgência Brahman. As gopīs sempre sentiam amor materno por essa Personalidade de Deus, e Kṛṣṇa mamava em seus seios com plena satisfação. Portanto, devido ao seu relacionamento como mãe e filho, embora as gopīs estivessem ocupadas em várias atividades familia­res, ninguém jamais deve pensar que elas regressaram a este mundo material após deixarem seus corpos.

VERSO 41: Ao sentirem o cheiro da fragrância da fumaça que emanava do corpo incinerado de Pūtanā, muitos habitantes de Vrajabhūmi que moravam em lugares distantes ficaram atônitos. “De onde vem esta fragrância?”, perguntaram eles. Assim, foram ao local onde o corpo de Pūtanā estava sendo queimado.

VERSO 42: Ao ouvirem toda a história de como Pūtanā aparecera e, então, fora morta por Kṛṣṇa, os habitantes de Vraja, que vieram de lugares distantes, decerto ficaram admirados, e ofereceram à criança suas bênçãos pelo Seu maravilhoso ato de matar Pūtanā. Nanda Mahārāja, evidentemente, sentiu-se muito grato a Vasudeva, que previra o incidente, e simplesmente agradeceu-lhe, pensando como Vasuadeva era maravilhoso.

VERSO 43: Ó Mahārāja Parīkṣit, melhor dos Kurus, Nanda Mahārāja era muito liberal e simples. Ele imediatamente colocou seu filho Kṛṣṇa no colo, como se Kṛṣṇa tivesse retornado da morte, e, espontaneamente cheirando a cabeça de seu filho, Nanda Mahārāja, sem dúvida alguma, sentiu bem-aventurança transcendental.

VERSO 44: Toda pessoa que ouça com fé e devoção sobre como foi que Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, matou Pūtanā, e assim aplique­-se em ouvir estes passatempos infantis de Kṛṣṇa, decerto desenvolverá apego por Govinda, a pessoa suprema e original.

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