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CAPÍTULO SETENTA E UM

O Senhor Viaja para Indraprastha

Este capítulo relata como o Senhor Kṛṣṇa seguiu o conselho de Uddhava e foi para Indraprastha, onde os Pāṇḍavas celebraram Sua chegada com grande festividade.

O sábio Uddhava, sabendo do desejo íntimo do Senhor Kṛṣṇa, deu­-Lhe o seguinte conselho: “Conquistando todas as direções e, então, realizando o sacrifício Rājasūya, o rei Yudhiṣṭhira cumprirá todos os seus propósitos – derrotar Jarāsandha, proteger aqueles que se abri­garam em Ti e executar o Rājasūya-yajña. Assim, o poderoso inimi­go dos Yādavas será destruído, e os reis cativos ganharão a liberdade, e ambas as façanhas servirão para Te glorificar.”

Uddhava continuou: “O rei Jarāsandha só pode ser morto por Bhīma, e já que Jarāsandha é muito devotado aos brāhmaṇas, Bhīma deve disfarçar-se de brāhmaṇa, ir até Jarāsandha e pedir para lutar contra ele. Então, em Tua presença, Bhīma derrotará o demônio.”

Nārada Muni, os Yādavas mais velhos e o Senhor Kṛṣṇa, todos louvaram o plano de Uddhava, e o Senhor Kṛṣṇa, em seguida, montou em Sua quadriga e dirigiu-Se a Indraprastha, seguido por Suas devotadas rainhas. O Senhor Kṛṣṇa chegou logo àquela cidade. Ouvindo que Kṛṣṇa havia chegado, o rei Yudhiṣṭhira de imediato saiu da cidade para saudá-lO. Yudhiṣṭhira abraçou repetidas vezes o Senhor Kṛṣṇa, perdendo a consciência do mundo exterior em seu êxtase. Então, Bhīmasena, Arjuna, Nakula, Sahadeva e outros, cada qual O abraçou ou prostrou-se diante dEle, conforme a etiqueta.

Depois de ter saudado cada um como era conveniente, o Senhor Kṛṣṇa entrou na cidade enquanto uma fanfarra de muitos instrumentos musicais tocava e sábios cantavam hinos de reverências. As mulheres da cidade lançaram flores do alto dos terraços, enquanto comentavam a extrema boa fortuna das rainhas do Senhor.

Śrī Kṛṣṇa entrou no palácio real e ofereceu respeitos à rainha Kuntīdevī, que abraçou seu sobrinho, e Draupadī e Subhadrā ofereceram reverências ao Senhor. Então, Kuntīdevī pediu a Draupadī que adorasse as esposas do Senhor Kṛṣṇa.

A Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, satisfez o rei Yudhiṣṭhira permanecendo ali por alguns meses. Durante Sua estada, Ele gostava de passear por vários lugares. Ele saía de quadriga com Arjuna, seguido de muitos guerreiros e soldados.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo assim ouvido as declarações de Devarṣi Nārada e entendendo tanto a opinião da assembleia como a do Senhor Kṛṣṇa, o inteligentíssimo Uddhava começou a falar.

VERSO 2: Śrī Uddhava disse: Ó Senhor, como aconselhou o sábio, deves ajudar Teu primo a cumprir seu plano de execução do sacrifício Rājasūya e deves também proteger os reis que estão suplicando Tua proteção.

VERSO 3: Só quem venceu todos os oponentes em todas as direções pode realizar o sacrifício Rājasūya, ó onipotente. Portanto, em minha opinião, vencer Jarāsandha servirá às duas finalidades.

VERSO 4: Com esta tomada de atitude, haverá grande ganho para nós, e salvarás os reis. Assim, Govinda, serás glorificado.

VERSO 5: O invencível rei Jarāsandha é tão forte quanto dez mil elefan­tes. De fato, outros guerreiros poderosos não podem derrotá-lo. Apenas Bhīma tem a mesma força que ele.

VERSO 6: Ele será derrotado em um combate isolado de quadrigas, e não quando estiver com suas cem divisões militares. Consideremos que Jarāsandha é tão devotado à cultura bramânica que jamais recusa pedidos de brāhmaṇas.

VERSO 7: Bhīma deve ir até ele disfarçado de brāhmaṇa e pedir-lhe caridade. Dessa maneira, conseguirá travar um combate isolado com Jarāsandha, e Bhīma, sem dúvida, matará Jarāsandha em Tua presença.

VERSO 8: Até mesmo o senhor Brahmā e o senhor Śiva agem apenas como Teus instrumentos na criação e aniquilação cósmicas, que são feitas, em última análise, por Ti, o Senhor Supremo, em Teu invisível aspecto de tempo.

VERSO 9: Em seus lares, as piedosas esposas dos reis cativos cantam sobre Teus nobres feitos – sobre como matarás o inimigo de seus maridos e os libertarás. As gopīs também cantam Tuas glórias – como mataste o inimigo de Gajendra, o rei dos elefantes; o inimigo de Sītā, a filha de Janaka; bem como os inimigos de Teus próprios pais. Também os sábios que conseguiram Teu refúgio Te glorificam como nós o fazemos.

VERSO 10: Ó Kṛṣṇa, a morte de Jarāsandha, que é decerto uma reação a seus pecados passados, trará imenso benefício. De fato, ela tornará possível a cerimônia de sacrifício que desejas.

VERSO 11: Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, Devarṣi Nārada, os Yadus an­ciãos e o Senhor Kṛṣṇa, todos acolheram bem a proposta de Ud­dhava, que era inteiramente auspiciosa e infalível.

VERSO 12: A onipotente Personalidade de Deus, o filho de Devakī, pediu permissão a Seus superiores para partir. Então, ordenou a Seus servos, chefiados por Dāruka e Jaitra, que se preparassem para a partida.

VERSO 13: Ó exterminador de inimigos, depois de providenciar a partida de Suas esposas, filhos e bagagem e despedir-Se do Senhor Saṅ­karṣaṇa e do rei Ugrasena, o Senhor Kṛṣṇa montou em Sua quadriga, que fora trazida por Seu cocheiro e tinha uma bandei­ra com o emblema de Garuḍa.

VERSO 14: Enquanto as vibrações que ressoavam das mṛdaṅgas, bherīs, timbales, búzios e gomukhas enchiam o céu em todas as direções, o Senhor Kṛṣṇa partiu em Sua viagem, acompanhado pelos prin­cipais oficiais de Seu corpo de quadrigas, elefantes, infantaria e cavalaria, e rodeado por Sua aterradora guarda pessoal.

VERSO 15 : As fiéis esposas do Senhor Acyuta, acompanhadas de seus filhos, seguiram o Senhor em palanquins de ouro levados por homens poderosos. As rainhas estavam adornadas com roupas finas, ornamentos, óleos perfumados e guirlandas de flores, e ro­deadas por soldados com espadas e escudos em punho.

VERSO 16: De todos os lados, prosseguiam mulheres belamente enfeitadas – criadas da família real, bem como cortesãs. Elas viajavam em palanquins e camelos, touros e búfalos, burros, mulas, carros de boi e elefantes. Seus veículos estavam abarrotados de tendas de relva, mantas, roupas e outros artigos para a viagem.

VERSO 17: O exército do Senhor ostentava guarda-sóis reais, abanos cāma­ra e enormes mastros com flâmulas tremulantes. Durante o dia, as excelentes armas, joias, elmos e armadura dos soldados refle­tiam os fulgurantes raios do Sol. Dessa maneira, o exército do Senhor Kṛṣṇa, barulhento devido aos gritos e tumulto, parecia um oceano agitado com ondas e peixes timiṅgilas.

VERSO 18: Honrado por Śrī Kṛṣṇa, o líder dos Yadus, Nārada Muni pros­trou-se diante do Senhor. Todos os sentidos de Nārada ficaram satisfeitos devido ao seu encontro com o Senhor Kṛṣṇa. Assim, depois de ouvir a decisão do Senhor e ser adorado por Ele, Nā­rada colocou-O firmemente em seu coração e prosseguiu viagem pelo céu.

VERSO 19: Com palavras agradáveis, o Senhor dirigiu-Se ao mensageiro enviado pelos reis: “Meu querido mensageiro, desejo-vos toda a boa fortuna. Providenciarei para que o rei Māgadha seja morto. Não temais”.

VERSO 20: Após ouvir essas palavras, o mensageiro partiu e transmitiu aos reis exatamente a mensagem do Senhor. Ávidos por se liber­tarem, eles então aguardaram esperançosamente seu encontro com o Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 21: Enquanto viajava pelas províncias de Ānarta, Sauvīra, Marudeśa e Vinaśana, o Senhor Hari atravessou rios e passou por montanhas, cidades, vilas, pastagens e pedreiras.

VERSO 22: Depois de atravessar os rios Dṛṣadvatī e Sarasvatī, Ele passou por Pañcāla e Matsya e, por fim, chegou a Indraprastha.

VERSO 23: O rei Yudhiṣṭhira regozijou-se ao saber que o Senhor, quem os seres humanos raramente veem, havia então chegado. Acom­panhado por seus sacerdotes e queridos companheiros, o rei saiu ao encontro do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 24: Ao ressoar de cantos e instrumentos musicais juntamente com a alta vibração dos hinos védicos, o rei adiantou-se com grande reve­rência ao encontro do Senhor Hṛṣīkeśa, assim como os sentidos se adiantam para encontrar a consciência da vida.

VERSO 25: O coração do rei Yudhiṣṭhira derreteu-se de afeição quando viu seu mais querido amigo, o Senhor Kṛṣṇa, depois de tão longa separação, e ele abraçou o Senhor repetidas vezes.

VERSO 26: A forma eterna do Senhor Kṛṣṇa é a residência permanente da deusa da fortuna. Logo que O abraçou, o rei Yudhiṣṭhira livrou-­se de toda a contaminação da existência material. Havia lágrimas em seus olhos, e seu corpo tremia de êxtase. Ele imediatamen­te sentiu bem-aventurança transcendental, imergiu em um oceano de felicidade e esqueceu por completo que estava vivendo neste mundo material.

VERSO 27: Então, Bhīma, com os olhos cheios de lágrimas, riu de júbilo ao abraçar seu primo materno, Kṛṣṇa. Arjuna e os gêmeos – Na­kula e Saḥadeva – também abraçaram alegremente seu queri­díssimo amigo, o Senhor infalível, e choraram em profusão.

VERSO 28: Depois que Arjuna O havia abraçado mais uma vez e Nakula e Sahadeva Lhe haviam oferecido suas reverências, o Senhor Kṛṣṇa prostrou-Se diante dos brāhmaṇas e anciãos presentes, honrando assim de modo apropriado os respeitáveis membros dos clãs dos Kurus, Sṛñjayas e Kaikayas.

VERSO 29: Sūtas, Māgadhas, Gandharvas, Vandīs, bufões e brāhmaṇas, todos glorificavam o Senhor de olhos de lótus – alguns recitando orações, outros dançando e cantando –, enquanto mṛdaṅgas, búzios, timbales, vīṇās, paṇavas e gomukhas ressoavam em toda parte.

VERSO 30: Rodeado assim por Seus benévolos parentes e louvado de todos os lados, o Senhor Kṛṣṇa, a pedra preciosa da coroa daqueles que são célebres pela justiça, entrou na cidade decorada.

VERSOS 31-32: As estradas de Indraprastha estavam borrifadas com a água perfumada que gotejava das testas dos elefantes, e bandeiras coloridas, portais de ouro e jarros cheios d’água realçavam o es­plendor da cidade. Homens e moças passeavam belamente vesti­dos com requintadas roupas novas, adornados com guirlandas de flores e ornamentos, e ungidos com pasta aromática de sândalo. Toda casa exibia lamparinas reluzentes e oferendas em sinal de respeito, e dos orifícios das gelosias emanava incenso, embelezan­do ainda mais a cidade. Flâmulas tremulavam, e os telhados es­tavam enfeitados com cúpulas de ouro apoiadas sobre amplas bases de prata. Foi assim que o Senhor Kṛṣṇa viu a cidade real do rei dos Kurus.

VERSO 33: Ao ouvirem que o Senhor Kṛṣṇa, o reservatório de prazer para os olhos humanos, chegara, as jovens da cidade correram até a estrada real para vê-lO. Elas abandonaram seus deveres domés­ticos e chegaram até a deixar seus maridos na cama, e, em sua avidez, os laços de seus cabelos e vestidos se soltaram.

VERSO 34: Estando a estrada real toda ocupada por elefantes, cavalos, quadrigas e soldados de infantaria, as mulheres subiram ao ter­raço de suas casas, de onde podiam ver o Senhor Kṛṣṇa e Suas rainhas. As damas da cidade lançaram flores sobre o Senhor, abraçaram-nO em suas mentes e expressaram suas cordiais boas-vindas com amplos olhares sorridentes.

VERSO 35: Observando as esposas do Senhor Mukunda que passavam na estrada como estrelas a acompanhar a Lua, as mulheres exclama­vam: “O que essas damas fizeram para que o melhor dos homens concedesse aos olhos delas a alegria de Seus generosos sorrisos e divertidos olhares de soslaio?”

VERSO 36: Em vários lugares, os cidadãos locais aproximaram-se trazendo oferendas auspiciosas para o Senhor Kṛṣṇa, e impecáveis líde­res das associações de profissionais adiantaram-se para adorar o Senhor.

VERSO 37: Com olhos arregalados, os membros da família real aproxima­ram-se empolgados para amorosamente saudar o Senhor Mukunda, após o que o Senhor entrou no palácio real.

VERSO 38: Quando a rainha Pṛthā viu seu sobrinho Kṛṣṇa, o mestre dos três mundos, seu coração se encheu de amor. Levantando-se de seu sofá juntamente com sua nora, ela abraçou o Senhor.

VERSO 39: O rei Yudhiṣṭhira levou respeitosamente o Senhor Govinda, o Supremo Deus dos deuses, a seus aposentos pessoais. O rei estava tão dominado pelo júbilo que não conseguia lembrar-se de todos os rituais de adoração.

VERSO 40: O Senhor Kṛṣṇa reverenciou Sua tia e as esposas de Seus su­periores, ó rei, e, em seguida, Draupadī e a irmã do Senhor reve­renciaram-nO.

VERSOS 41-42: Encorajada por sua sogra, Draupadī adorou todas as espo­sas do Senhor Kṛṣṇa, incluindo Rukmiṇī; Satyabhāmā; Bhadrā; Jāmbavatī; Kālindī; Mitravindā, a descendente de Śibi; a casta Nāgnajitī, e as outras rainhas do Senhor que estavam presentes. Draupadī honrou todas essas rainhas com presentes, tais como roupas, guirlandas de flores e joias.

VERSO 43: O rei Yudhiṣṭhira providenciou que Kṛṣṇa descansasse e cuidou de que todos os que O acompanhavam – a saber, Suas rainhas, soldados, ministros e secretários – estivessem confortavelmente acomodados. O rei também providenciou para que eles, enquanto fossem hóspedes dos Pāṇḍavas, experimentassem um tipo diferente de recepção a cada dia.

VERSOS 44-45: Querendo agradar ao rei Yudhiṣṭhira, o Senhor residiu em Indraprastha por vários meses. Durante Sua estada, Ele e Arjuna satisfizeram o deus do fogo oferecendo-lhe a floresta Khāṇḍava, e salvaram Maya Dānava, que então construiu para o rei Yudhiṣ­ṭhira um salão celestial de assembleias. O Senhor também apro­veitou a oportunidade para passear de quadriga em companhia de Arjuna, rodeado por uma escolta de soldados.

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