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Capítulo Quinze

Nārada e Aṅgirā Instruem o Rei Citraketu

Neste capítulo, Aṅgirā Ṛṣi, juntamente com Nārada, consola Citraketu tanto quanto possível. Aṅgirā e Nārada Ṛṣi compareceram de maneira a aliviar a excessiva lamentação do rei, instruindo-o sobre o significado da vida espiritual.

Os grandes santos Aṅgirā e Nārada explicaram que a relação entre pai e filho não é real; é uma mera representação da energia ilusória. A relação não existia antes, tampouco perdurará. Pelo arranjo do tempo, a relação existe apenas no presente. Ninguém deve lamentar as perdas temporárias. Toda a manifestação cósmica é temporária; mesmo que exista, ela não é permanente. Pela orientação da Suprema Personalidade de Deus, todas as coisas criadas no mundo material são transitórias. Por um arranjo temporário, um pai gera um filho, ou uma entidade viva se torna filho de um suposto pai. Este arranjo temporário é feito pelo Senhor Supremo. Nem o pai, nem o filho existem de maneira independente.

À medida que ouvia os grandes sábios, o rei ficou aliviado de sua falsa lamentação, e quis saber qual a identidade deles. Os grandes sábios mostraram quem eles eram e o fizeram compreender que todos os sofrimentos se devem ao conceito de vida corpórea. Quem entende sua identidade espiritual e se rende à Suprema Personalidade de Deus, a pessoa espiritual suprema, torna-se feliz de verdade. Quando alguém busca a felicidade na matéria, é certo que lamen­tará as perdas sofridas em suas relações corpóreas. Autorrealização significa compreender espiritualmente a relação que reciprocamos com Kṛṣṇa. Tal realização põe fim à nossa dolorosa vida material.

VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Enquanto o rei Citraketu, dominado pela lamentação, parecia um segundo cadáver ao lado do cadáver de seu filho, os dois grandes sábios, Nārada e Aṅgirā, começaram a lhe conferir as seguintes instruções acerca da consciência espiritual.

VERSO 2: Ó rei, que relação tem contigo o corpo morto pelo qual te lamentas, e que relação tens com ele? Talvez digas que agora tendes um elo de pai e filho, mas por acaso essa relação existia antes? Será que ela realmente existe agora? Continuará a existir no futuro?

VERSO 3: Ó rei, assim como pequenas partículas de areia ora se agrupam, ora se separam devido à força das ondas, as entidades vivas que aceitaram corpos materiais ora se unem, ora se separam devido à força do tempo.

VERSO 4: Ao serem espalhadas no solo, as sementes se transformam em plantas algumas vezes e, outras vezes, não o fazem. Às vezes, o solo não é fértil, e a semeadura é improdutiva. Do mesmo modo, às vezes um pai em potencial, sendo impelido pela potência do Senhor Supremo, pode gerar um filho, mas, outras vezes, a concepção não ocorre. Portanto, ninguém deve lamentar-se pela artificial relação de paternidade, que, em úl­tima análise, é controlada pelo Senhor Supremo.

VERSO 5: Ó rei, tu e nós – teus conselheiros, tuas esposas e teus minis­tros –, bem como todas as coisas móveis e imóveis existentes em todo o cosmo neste momento, estamos em uma situação temporária. Antes do nosso nascimento, essa situação inexistia, e, após a nossa morte, ela deixará de existir. Portanto, nossa situação atual é tem­porária, embora não seja falsa.

VERSO 6: A Suprema Personalidade de Deus, o mestre e proprietário de tudo, decerto não está interessado na manifestação cósmica temporária. Não obstante, assim como um menino que está na praia cria algo pelo qual não se interessa, o Senhor, mantendo tudo sob o Seu controle, causa a criação, a manutenção e a aniquilação. Ele cria, ocupando um pai em gerar um filho, Ele mantém, ocupando um governante ou rei em cuidar do bem-estar público, e Ele aniquila através dos agentes da morte, tais como as serpentes. Os agentes da criação, manutenção e aniquilação não têm potência independente, porém, devido ao encanto da energia ilusória, alguém pode julgar-se o criador, mantenedor e aniquilador.

VERSO 7: Assim como uma semente pode dar origem a outra semente, ó rei, do mesmo modo, de um corpo [o corpo do pai], por intermédio de outro corpo [o corpo da mãe], surge um terceiro corpo [o corpo do filho]. Como os elementos do corpo material são eternos, a entidade viva que aparece por intermédio desses elementos materiais também é eterna.

VERSO 8: As categorias gerais ou específicas, tais como nacionalidade e individualidade, são imaginações de pessoas que não são avançadas em conhecimento.

VERSO 9: Śrī Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Assim esclarecido pelas instruções de Nārada e Aṅgirā, o rei Citraketu se sentiu esperançoso com esse conhecimento. Passando as mãos em seu rosto contraído, o rei começou a falar.

VERSO 10: O rei Citraketu disse: Simplesmente para dissimular vossas iden­tidades, viestes aqui vestidos de avadhūtas, pessoas liberadas, mas vejo que, entre todos os homens, sois os mais elevados em sabe­doria. Conheceis todas as coisas como elas são. Portanto, sois as maiores de todas as grandes personalidades.

VERSO 11: Os brāhmaṇas que são elevados à posição de vaiṣṇavas, os mais queridos servos de Kṛṣṇa, às vezes se vestem como loucos. Simples­mente para beneficiar materialistas como eu, que vivemos apega­dos ao gozo dos sentidos, e só para dissipar nossa ignorância, esses vaiṣṇavas, seguindo seu próprio desejo, vagueiam pela superfície do globo.

VERSOS 12-15: Ó grandes almas, tomei conhecimento de que, entre as pessoas gran­diosas e perfeitas que vagueiam pela superfície da Terra para minis­trar conhecimento àqueles que andam cobertos pela ignorância, estão Sanat-kumāra, Nārada, Ṛbhu, Aṅgirā, Devala, Asita, Apāntaratamā [Vyāsadeva], Mārkaṇḍeya, Gautama, Vasiṣṭha, Bhagavān Paraśurāma, Kapila, Śukadeva, Durvāsā, Yājñavalkya, Jātukarṇa e Aruṇi. Outros são Romaśa, Cyavana, Dattātreya, Āsuri, Patañjali, o grande sábio Dhaumya, que é como a cabeça dos Vedas, o sábio Pañcaśikha, Hiraṇyanābha, Kauśalya, Śrutadeva e Ṛtadhvaja. Com certeza, estais incluídos neste meio.

VERSO 16: Como sois grandes personalidades, podeis dar-me verdadeiro conhecimento. Porque estou imerso na escuridão da ignorância, sou tão tolo que pareço um animal de vila – um porco ou um cão. Portanto, por favor, acendei o archote do conhecimento para que eu seja salvo.

VERSO 17: Aṅgirā disse: Meu querido rei, quando desejaste um filho, aproximei-me de ti. Na verdade, sou o mesmo Aṅgirā Ṛṣi que te propi­ciou ter esse filho. Quanto a este ṛṣi, ele é o grande sábio Nārada, filho direto do senhor Brahmā.

VERSOS 18-19: Meu querido rei, és um devoto avançado da Suprema Personalidade de Deus. Desfazer-se em lamentação pela perda de algo mate­rial é inadequado a alguém como tu. Portanto, nós dois viemos livrar-te dessa falsa lamentação, que se deve ao fato de estares imerso na escuridão da ignorância. Aqueles que, avançados em conheci­mento espiritual, deixam afetar-se pela perda ou ganho materiais, não adotam um procedimento muito recomendável.

VERSO 20: Quando cheguei à tua casa naquela primeira ocasião, poderia ter transmitido a ti o conhecimento transcendental, mas, quando vi que tua mente estava absorta em coisas materiais, apenas te propiciei a vinda de um filho, que te causou júbilo e lamentação.

VERSOS 21-23: Meu querido rei, realmente agora estás experimentando o sofrimento que aflige uma pessoa que tem filhos e filhas. Ó rei, proprietário do estado de Śūrasena, a esposa, o lar, a opulência do reinado e várias outras opulências e objetos de percepção sensorial são todos iguais, no sentido de que são temporários. O reino, o poder militar, o tesouro, os servos, os ministros, os amigos e os parentes – todos são causa de medo, ilusão, lamentação e angústia. São como um gandharva-nagara, um palácio inexistente que alguém imagina estar em uma floresta. Porque são impermanentes, não passam de ilusões, sonhos e invenções mentais.

VERSO 24: Esses objetos visíveis, tais como esposa, filhos e propriedade, são como sonhos e invenções mentais. Na verdade, aquilo que vemos não tem existência permanente. Ora se torna visível, ora invisível. É apenas devido às nossas ações passadas que criamos essas invenções mentais e, devido a essas invenções, continuamos executando outras atividades.

VERSO 25: A entidade viva que se atém ao conceito de vida corporal está absorta no corpo, que é uma combinação dos elementos físicos, dos cinco sentidos com os quais se adquire conhecimento e dos cinco sentidos funcionais, bem como da mente. Através da mente, a entidade viva sofre três classes de tribulações – adhibhautika, adhidai­vika e adhyātmika. Portanto, o corpo é a fonte de todos os sofrimentos.

VERSO 26: Portanto, ó rei Citraketu, analisa cuidadosamente a posição do ātmā. Em outras palavras, tenta entender quem és – se és o corpo, a mente ou a alma. Procura investigar de onde foi que vieste, aonde irás após abandonar este corpo, e por que estás sob o controle da lamentação material. Realiza este esforço para entender tua verda­deira posição, então serás capaz de abandonar teu apego desneces­sário. Também conseguirás perder a crença de que este mundo material, ou qualquer coisa não relacionada diretamente com o ser­viço a Kṛṣṇa, são eternos. Só assim poderás obter paz.

VERSO 27: O grande sábio Nārada prosseguiu: Meu querido rei, dedica tua atenção a este auspiciosíssimo mantra que lhe dou agora. Após recebê-lo de mim, passadas sete noites, serás capaz de ver o Senhor face a face.

VERSO 28: Meu querido rei, em épocas passadas, o senhor Śiva e outros semideuses refugiaram-se aos pés de lótus de Saṅkarṣaṇa. Assim, eles imediatamente se livraram da ilusão da dualidade e alcançaram glórias espirituais inigualáveis e insuperáveis. Muito em breve alcançarás essa mesmíssima posição.

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