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CAPÍTULO SESSENTA E NOVE

Nārada Muni Visita os Palácios do Senhor Kṛṣṇa em Dvārakā

Este capítulo narra o assombro de Nārada Muni ao ver os passatempos do Senhor Śrī Kṛṣṇa como pai de família e as orações que ele Lhe ofereceu.

Após matar o demônio Naraka, o Senhor Kṛṣṇa Se casou, ao mesmo tempo, com dezesseis mil donzelas, e o sábio Nārada queria observar as diversas atividades do Senhor nessa situação familiar única. Por isso, ele foi para Dvārakā. Nārada entrou em um dos dezesseis mil palácios e viu a deusa Rukmiṇī em pessoa prestando serviço subal­terno a Śrī Kṛṣṇa, embora ela estivesse na companhia de milhares de criadas. Logo que notou a presença de Nārada, o Senhor Kṛṣṇa levantou-Se de Seu leito, ofereceu reverências ao sábio e fê-lo aco­modar-se em Seu próprio assento. Então, o Senhor lavou os pés de Nārada e borrifou a água em Sua cabeça. Tal foi o comportamento exemplar do Senhor.

Depois de conversar um pouco com o Senhor, Nārada foi até outro dos palácios dEle, onde o sábio viu Śrī Kṛṣṇa jogando dados com Sua rainha e Uddhava. Saindo dali para outro palácio, encontrou o Senhor Kṛṣṇa acariciando Seus filhinhos. Em outro palácio, viu-O pre­parando-Se para o banho; em outro, executando sacrifícios de fogo; em outro, alimentando brāhmaṇas, e em outro, comendo os restos deixados pelos brāhmaṇas. Em um palácio, o Senhor Kṛṣṇa estava executando os rituais do meio-dia; em outro, murmurando o mantra Gāyatrī; em outro, dormindo em Sua cama; em outro, consultando Seus ministros, e ainda em outro, brincando na água com Suas companheiras. Em um lugar, o Senhor estava dando caridade aos brāhmaṇas; em outro lugar, Ele gra­cejava e ria com Sua consorte, e ainda em outro lugar, estava meditando na Superalma. Em um lugar, estava servindo a Seus mestres espirituais; em outro, estava providenciando o casamento de Seus filhos e filhas; ainda em outro lugar, estava indo caçar animais, e em outro, estava andando disfarçado para descobrir o que pensavam os cidadãos.

Tendo visto tudo isso, Nārada dirigiu-se ao Senhor Kṛṣṇa: “Só porque servi Teus pés de lótus é que pude compreender essas variedades de Tua potência yogamāyā, a qual os seres vivos comuns, de­sorientados pela ilusão, não conseguem começar a entender. Por isso, sou muito afortunado, e apenas desejo viajar por todos os três mundos cantando as glórias de Teus passatempos, que purificam todos os mundos.”

Śrī Kṛṣṇa pediu a Nārada que não se confundisse com a visão que este acabara de experimentar das opulências transcendentais do Senhor, e descreveu-lhe o propósito de Seus aparecimentos neste mundo. Então, honrou o sábio de modo adequado, segundo os princípios religiosos, e Nārada partiu absorto em meditação na Suprema Personalidade de Deus.

VERSOS 1-6: Śukadeva Gosvāmī disse: Ao ouvir que o Senhor Kṛṣṇa matara Narakāsura e casara-Se com muitas noivas, Nārada Muni desejou ver o Senhor nessa situação. Ele pensou: “É muito surpreendente que, em um único corpo, o Senhor Kṛṣṇa tenha casado, ao mesmo tempo, com dezesseis mil mulheres, cada qual em um palácio separado.” Assim, o sábio dentre os semideuses, dirigiu-se avidamente para Dvārakā.

VERSOS 7-8: Na cidade de Dvārakā, havia um belo bairro particular adorado pelos regentes dos planetas. Esse distrito, onde o semideus Viśvakarmā exibira toda a sua habilidade divina, era a área residen­cial do Senhor Hari, de modo que ali se localizavam os suntuosíssi­mos dezesseis mil palácios das rainhas do Senhor Kṛṣṇa. Nārada Muni entrou em um desses imensos palácios.

VERSOS 9-12: Sustentando o palácio, havia pilares de coral com decorativas incrustações de preciosas gemas vaidūryas. Safiras ornavam as paredes, e os assoalhos reluziam com brilho perpétuo. Nesse palácio, Tvaṣṭā construíra dosséis de onde pendiam cordões de pérolas; havia também assentos e leitos feitos de marfim e pedras preciosas. A cargo do serviço, estavam muitas criadas bem-vestidas, com medalhões no pescoço, e também guardas protegidos com armadura e trajados com turbantes, belos uniformes e brincos pre­ciosos. O clarão de numerosas lamparinas incrustadas de joias dissipava do palácio toda a escuridão. Meu querido rei, nas cumeeiras ornadas do telhado, dançavam pavões cantantes, que viam a fumaça do fragrante incenso aguru a evadir-se pelas frestas das gelosias e confundiam-na com uma nuvem.

VERSO 13: Naquele palácio, o erudito brāhmaṇa viu o Senhor dos Sātva­tas, Śrī Kṛṣṇa, junto de Sua esposa, que O abanava com um leque feito de cauda de iaque e cabo de ouro. Ela em pessoa O servia desta maneira, embora fosse auxiliada constantemente por mil criadas iguais a ela em caráter pessoal, beleza, juventude e trajes finos.

VERSO 14: O Senhor Supremo é o maior defensor dos princípios religio­sos. Por isso, ao perceber a presença de Nārada, Ele Se levantou imediatamente do leito da deusa Śrī, prostrou Sua cabeça coroa­da aos pés de Nārada e, de mãos postas, fez o sábio sentar-se em Seu próprio trono.

VERSO 15: O Senhor lavou os pés de Nārada e, então, colocou a água sobre Sua própria cabeça. Embora o Senhor Kṛṣṇa seja a suprema autoridade espiritual do universo e o amo de Seus devotos, convinha-Lhe comportar-Se dessa maneira, pois Seu nome é Brahmaṇya-deva, “o Senhor que favorece os brāhmaṇas”. Assim, Śrī Kṛṣṇa honrou o sábio Nārada banhando-lhe os pés, embora a água que banhe os pés do Senhor se torne o Ganges, o mais sagrado santuário.

VERSO 16: Depois de adorar perfeitamente o grande sábio entre os semi­deuses segundo os preceitos védicos, o Senhor Kṛṣṇa, que é Ele mesmo o sábio original – Nārāyaṇa, o amigo de Nara – conversou com Nārada, e a fala compassada do Senhor era tão doce quanto o néctar. Por fim, o Senhor perguntou a Nārada: “O que podemos fazer por ti, Nosso senhor e mestre?”

VERSO 17: Śrī Nārada disse: Ó Senhor Todo-Poderoso, não é surpreendente que Tu, o governante de todos os mundos, mostres amizade por todas as pessoas e, ainda assim, subjugues os invejosos. Como bem sabemos, apareces devido à Tua livre vontade a fim de con­ceder a este universo, por meio de sua manutenção e proteção, o bem supremo. Dessa maneira, cantam-se Tuas glórias em toda parte.

VERSO 18: Agora vi Teus pés, que concedem a liberação a Teus devotos, nos quais até mesmo o senhor Brahmā e outras grandes personalidades de insondável inteligência só podem meditar dentro de seus corações e aos quais recorrem em busca de salvação aqueles que caíram no poço da existência material. Por favor, abençoa­-me para que eu possa pensar sempre em Ti enquanto viajo. Por favor, concede-me o poder de me lembrar de Ti.

VERSO 19: Nārada, então, entrou no palácio de outra das esposas do Senhor Kṛṣṇa, meu querido rei. Ele estava ansioso para testemunhar a potência espiritual possuída pelo mestre de todos os mestres do poder místico.

VERSOS 20-22: Ali, ele viu o Senhor jogando dados com Sua amada consorte e Seu amigo Uddhava. Para adorar Nārada, o Senhor Kṛṣṇa levantou-Se, ofereceu-lhe um assento etc., após o que, como se não soubesse, perguntou-lhe: “Quando chegaste? O que pessoas necessitadas como Nós podem fazer por aqueles que são plenos em si mesmos? Em todo caso, Meu querido brāhmaṇa, por favor, torna Minha vida auspiciosa.” Ouvindo isso, Nārada ficou atôni­to. Simplesmente se levantou em silêncio e foi para outro palácio.

VERSO 23: Desta vez, Nāradajī viu o Senhor Kṛṣṇa, tal qual um pai afetuoso, ocupado em acariciar Seus filhos pequenos. Dali, foi para outro palácio e viu o Senhor Kṛṣṇa preparando-Se para tomar banho.

VERSO 24: Em um lugar, o Senhor estava oferecendo oblações aos fogos de sacrifício; em outro, realizando adorações por meio dos cinco mahā­yajñas; em outro, alimentando os brāhmaṇas; e ainda em outro, comendo os restos de comida deixados pelos brāhmaṇas.

VERSO 25: Em um lugar, o Senhor Kṛṣṇa, como parte do cumprimento dos rituais de adoração ao pôr do sol, estava abstendo-Se de falar e murmurando o mantra Gāyatrī; e em outro, movimentava-Se com Sua espada e escudo nos locais destinados à prática dessa arte.

VERSO 26: Em um lugar, o Senhor Gadāgraja estava montando em cavalos, elefantes e quadrigas; e em outro, estava descansando em Sua cama enquanto trovadores recitavam Suas glórias.

VERSO 27: Em algum lugar, estava consultando ministros reais como Uddhava, e em outro lugar, estava brincando na água, rodeado de muitas cortesãs da sociedade e outras jovens.

VERSO 28: Em um lugar, estava presenteando brāhmaṇas excelentes com vacas bem enfeitadas; e em outro, estava ouvindo a narração auspiciosa de epopeias e Purāṇas.

VERSO 29: Em um lugar, encontrava-Se Kṛṣṇa a desfrutar, com trocas de gracejos, a companhia de determinada esposa. Em outro lugar, Ele, junto de Sua esposa, estava participando de funções ritualísti­cas religiosas. Em outro lugar, Kṛṣṇa estava ocupado em tratar de assuntos relacionados com o desenvolvimento econômico, e ainda em outro estava desfrutando a vida familiar de acordo com os princípios reguladores dos śāstras.

VERSO 30: Em um lugar, estava sentado sozinho, meditando na Suprema Personalidade de Deus, que é transcendental à natureza material, e em outro estava prestando serviço subalterno a Seus superiores, mediante o oferecimento de coisas desejáveis e de adoração reverencial.

VERSO 31 : Em um lugar, em consulta com alguns de Seus conselheiros, es­tava planejando batalhas; e em outro, estava travando acordos de paz. Em um lugar, o Senhor Keśava e o Senhor Balarāma estavam juntos ponderando o bem-estar dos homens piedosos.

VERSO 32: Nārada viu o Senhor Kṛṣṇa ocupado em casar Seus filhos e filhas com noivas e noivos adequados e no momento apropria­do, e as cerimônias matrimoniais estavam sendo executadas com grande pompa.

VERSO 33: Nārada observou como Śrī Kṛṣṇa, o mestre de todos os mestres de yoga, despedia-Se de Suas filhas e genros e também os recebia em casa de novo, por ocasião das grandes celebrações de festivais. Todos os cidadãos ficavam atônitos ao verem essas cele­brações.

VERSO 34: Em um lugar, Ele estava adorando todos os semideuses com sacrifícios esmerados, e em outro estava cumprindo Suas obrigações religiosas mediante atos de bem-estar público, tais como construção de poços, parques públicos e mosteiros.

VERSO 35: Em outro lugar, Ele estava em uma expedição de caça. Montado em Seu cavalo Sindhī e acompanhado pelos maiores heróis dentre os Yadus, Ele estava matando animais destinados a ser oferecidos em sacrifício.

VERSO 36: Em um lugar, Kṛṣṇa, o Senhor do poder místico, andava disfar­çado entre as casas dos ministros e outros cidadãos a fim de des­cobrir o que cada um deles pensava.

VERSO 37: Tendo assim visto essa exibição da yogamāyā do Senhor, Nārada riu suavemente e, então, dirigiu-se ao Senhor Hṛṣīkeśa, que estava adotando o comportamento de um ser humano.

VERSO 38: [Nārada disse:] Agora compreendemos Tuas potências místicas, que são difíceis de entender, até para grandes místicos, ó Alma Suprema, mestre de todo o poder místico. Só por servir a Teus pés é que fui capaz de perceber Teus poderes.

VERSO 39: Ó Senhor, por favor, permite-me partir. Eu vagarei pelos mundos, que estão inundados com Tua fama, cantando bem alto Teus passatempos, os quais purificam o universo.

VERSO 40: A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó brāhmaṇa, sou o orador da religião, seu executor e sancionador. Observo os princípios religiosos para ensiná-los ao mundo, Meu filho; logo, não te perturbes.

VERSO 41: Śukadeva Gosvāmī disse: Dessa maneira, em cada palácio, Nārada viu o Senhor em Sua mesma forma pessoal, executando os transcendentais princípios da religião que purificam aqueles que se ocupam nos assuntos domésticos.

VERSO 42: Tendo visto repetidas vezes a formidável exibição mística do Senhor Kṛṣṇa, cujo poder é ilimitado, o sábio surpreendeu-se e encheu-se de admiração.

VERSO 43: O Senhor Kṛṣṇa honrou Nārada imensamente, agraciando-o com presentes relacionados com a prosperidade econômica, gozo dos sentidos e os deveres religiosos. Assim, plenamente satisfeito, o sábio partiu, lembrando-se sempre do Senhor.

VERSO 44: Deste modo, o Senhor Nārāyaṇa imitava a conduta dos seres humanos comuns, manifestando Suas divinas potências para o benefício de todos os seres. Assim Ele desfrutava, querido rei, em companhia de Suas dezesseis mil excelentes consortes, que ser­viam o Senhor com seus olhares tímidos e risos afetuosos.

VERSO 45: O Senhor Hari é a causa última da criação, manutenção e destruição do universo. Meu querido rei, qualquer um que cante, ouça ou apenas aprecie as extraordinárias atividades que Ele executou neste mundo, as quais são impossíveis de imitar, com certeza desenvolverá devoção pelo Senhor Supremo, o outorga­dor da liberação.

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