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CAPÍTULO NOVENTA

Resumo das Glórias do Senhor Kṛṣṇa

Este capítulo descreve como o Senhor Kṛṣṇa desfrutava com Suas rainhas nos lagos de Dvārakā. Relata também as orações extáticas das rainhas em humor de intensa separação dEle, e resume os passa­tempos do Senhor.

O Senhor Śrī Kṛṣṇa continuou a morar em Sua opulenta capital, Dvārakā, juntamente com os Yadus e Suas rainhas. Ele desfrutava brincar com Suas esposas nos lagos dos jardins dos palácios, esguichando água nelas com uma seringa e sendo borrifado por elas. Com Seus gestos graciosos, palavras amorosas e olhares de soslaio, Ele encantava seus corações. Deste modo, as rainhas absorviam-se cem por cento em pensar nEle. Às vezes, depois de brincarem com o Senhor na água, elas se dirigiam a várias criaturas – aves kurarīs e cakravākas, o oceano, a Lua, uma nuvem, um cuco, uma montanha, um rio etc. – declarando seu grande apego a Śrī Kṛṣṇa a pretexto de se compa­decerem dessas criaturas.

O Senhor Kṛṣṇa gerou dez filhos no ventre de cada uma de Suas rainhas. Dentre esses filhos, Pradyumna era o principal, por ser igual a Seu pai em todas as qualidades transcendentais. Pradyumna casou-se com a filha de Rukmī, e do ventre dela nasceu Aniruddha. Aniruddha, então, casou-se com a neta de Rukmī e gerou Vajra, que foi o único príncipe Yadu a sobreviver à batalha de maças de ferro travada em Prabhāsa. De Vajra, descendeu o restante da dinastia Yadu, a começar com Pratibāhu. Os membros da dinastia Yadu são virtualmente inumeráveis; de fato, apenas para educar seus filhos, os Yadus empregavam 38.800.000 professores.

Antes de o Senhor Kṛṣṇa aparecer, muitos demônios nasceram em famílias humanas para afligir o povo do mundo e destruir a cultura bramânica. Para subjugá-los, o Senhor ordenou aos semideuses que aparecessem na dinastia Yadu, a qual se expandiu, então, em cento e um clãs. Todos os Yadus reconheciam Śrī Kṛṣṇa como a Suprema Personalidade de Deus e tinham fé inabalável nEle. Enquanto descansavam, comiam, andavam etc., o que costumavam fazer em Sua companhia, eles se esqueciam de seus corpos devido à felicidade transcendental.

O décimo canto conclui com esta promessa de sucesso para o ouvinte sincero: “Por ouvir, cantar e meditar regularmente sobre os belos assuntos acerca do Senhor Mukunda com sinceridade sempre crescente, um mortal alcançará o divino reino do Senhor, onde o poder inviolável da morte não tem influência.”

VERSOS 1-7: Śukadeva Gosvāmī disse: O amo da deusa da fortuna residia feliz em Sua capital, Dvārakā, que era dotada de todas as opulências e povoada pelos mais eminentes Vṛṣṇis e suas esposas vestidas com os mais suntuosos trajes. Quando brincavam nos terraços das casas com bolas e outros brinquedos, essas belas mulheres na flor da juventude brilhavam como o relâmpago. As principais ruas da cidade viviam cheias de elefantes inebriados a transpirar mada, e também de cavalaria, homens de infantaria enfeitados com ricos adornos e soldados montados em quadrigas refulgen­temente ornamentadas de ouro. Embelezando a cidade, havia muitos jardins e parques com alamedas de árvores floridas, onde abelhas e aves se juntavam, enchendo todas as direções com seus cantos.

VERSOS 8-9: Enquanto os Gandharvas alegremente cantavam Suas glórias ao acompanhamento de tambores mṛdaṅga, paṇava e ānaka, e enquanto recitadores profissionais conhecidos como Sūtas, Māgadhas e Vandīs tocavam vīṇās e recitavam poemas em Seu louvor, o Senhor Kṛṣṇa brincava na água com Suas esposas. Rindo, as rainhas esguichavam água nEle com seringas, e Ele esguichava água de volta nelas. Assim, Kṛṣṇa Se divertia com Suas rainhas da mesma maneira que o senhor dos Yakṣas se diverte com as ninfas Yakṣīs.

VERSO 10: Sob as roupas encharcadas das rainhas, era possível ver suas coxas e seios. As flores presas em suas grandes tranças espalhavam-se conforme elas borrifavam água em seu consorte, e a pretexto de tentar tomar Sua seringa, elas O abraçavam. Por tocarem nEle, seus sentimentos luxuriosos aumentavam, tornan­do seus rostos radiantes de sorrisos. Assim as rainhas do Senhor Kṛṣṇa brilhavam com beleza resplandecente.

VERSO 11: A guirlanda de flores do Senhor Kṛṣṇa ficava manchada com o kuṅkuma dos seios delas, e os abundantes cachos de Seu cabelo se despenteavam como resultado de Sua absorção na brincadei­ra. Enquanto o Senhor borrifava repetidas vezes Suas jovens es­posas e elas O borrifavam de volta, Ele Se divertia tal qual o rei dos elefantes a divertir-se na companhia de seu bando de elefantas.

VERSO 12: Depois disso, o Senhor Kṛṣṇa e Suas esposas davam os ornamentos e roupa que tinham usado durante suas brincadeiras na água aos artistas, que ganhavam a vida cantando e tocando instrumentos musicais.

VERSO 13: Dessa maneira, o Senhor Kṛṣṇa Se divertia com Suas rainhas, cativando por completo os corações delas com Seus gestos, conversas, olhares e sorrisos, e também com Seus gracejos, brincadeiras e abraços.

VERSO 14: As rainhas ficavam aturdidas em transe extático, com suas mentes absortas apenas em Kṛṣṇa. Então, pensando em seu Senhor de olhos de lótus, elas falavam como se estivessem loucas. Por favor, ouve-me enquanto relato suas palavras.

VERSO 15: As rainhas disseram: Ó ave kurarī, estás lamentando. Agora é noite, e em alguma parte neste mundo o Senhor Supremo está adormecido num lugar oculto. Mas tu estás bem acordada, ó amiga, incapaz de adormecer. Será que o âmago de teu coração, assim como o nosso, foi transpassado pelos olhares sorridentes, brincalhões e munificentes do Senhor de olhos de lótus?

VERSO 16: Pobre cakravākī, mesmo após fechares os olhos, continuas a chorar pateticamente a noite toda por teu companheiro desaparecido. Ou será que, como nós, tu te tornaste serva de Acyuta e desejas usar em teu cabelo trançado a guirlanda que Ele abençoou com o toque de Seus pés?

VERSO 17: Caro oceano, estás sempre rugindo, sem dormir à noite. Estás sofrendo de insônia? Ou será que, como fez conosco, Mukunda levou tuas insígnias e perdeste a esperança de recuperá-las?

VERSO 18: Minha querida Lua, tendo contraído uma severa tuberculose, emagreceste tanto que não consegues dissipar as trevas com os teus raios. Ou será que pareces atônita porque, como nós, não podes lembrar as promessas encorajadoras que Mukunda uma vez te fez?

VERSO 19: Ó brisa malaia, o que fizemos para te desagradar de tal modo que despertaste luxúria em nossos corações, que já foram destro­çados pelos olhares de soslaio de Govinda?

VERSO 20: Ó nuvem venerável, és de fato muito querida ao principal dos Yādavas, que traz a marca de Śrīvatsa. Assim como nós, estás preso a Ele por amor e estás meditando nEle. Teu coração está trans­tornado de grande ansiedade, como o estão os nossos corações, e ao te lembrares dEle repetidas vezes derramas uma torrente de lágrimas. A associação com Kṛṣṇa traz tamanho sofrimento!

VERSO 21: Ó cuco de doce garganta, com uma voz que pode reviver os mortos, estás vibrando os mesmos sons que uma vez ouvimos de nosso amado, o mais agradável dos oradores. Por favor, dize-me o que posso fazer hoje para te agradar.

VERSO 22: Ó montanha magnânima, não te moves nem falas. Deves estar ponderando algum assunto de grande importância. Ou tu, como nós, desejas manter em teus seios os pés do querido filho de Vasudeva?

VERSO 23: Ó rios, esposas do oceano, vossos lagos agora secaram. Ai! Fostes reduzidos a nada, e vossa exuberância de lótus desapa­receu. Sois, então, como nós, que estamos definhando por não receber o olhar carinhoso de nosso querido marido, o Senhor de Madhu, que enganou os nossos corações?

VERSO 24: Bem-vindo, cisne. Por favor, senta-te aqui e bebe um pouco de leite. Dá-nos alguma notícia do descendente de Śūra, querido. Sabemos que és mensageiro dEle. Está passando bem aquele Senhor invencível, e será que aquele nosso amigo volúvel ainda Se lembra das palavras que nos disse muito tempo atrás? Por que devemos ir adorá-lO? Ó servo de um amo mesquinho, vai e dize àquele que satisfaz nossos desejos que venha aqui sem a deusa da for­tuna. Ela é a única e exclusiva mulher devotada a Ele?

VERSO 25: Śukadeva Gosvāmī disse: Falando desse modo e agindo com tamanho amor extático pelo Senhor Kṛṣṇa, o mestre de todos os mestres do yoga místico, Suas amorosas esposas alcançaram a meta última da vida.

VERSO 26: O Senhor, a quem inúmeras canções glorificam de incontáveis maneiras, atrai à força as mentes de todas as mulheres que apenas ouvem falar sobre Ele. O que se dizer, então, daquelas mulhe­res que O veem diretamente?

VERSO 27: E como alguém poderia descrever as grandes austeridades a que se submeteram as mulheres que prestaram prefeito serviço a Ele, o mestre espiritual do universo, com amor extático e puro? Pensando nEle como seu marido, elas prestaram serviços muito ín­timos, como massagear-Lhe os pés.

VERSO 28: Observando assim os princípios do dever enunciados nos Vedas, o Senhor Kṛṣṇa, a meta dos devotos santos, demonstrou repetidas vezes como é possível alcançar em casa os objetivos da religiosidade, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos regulado.

VERSO 29: Enquanto seguia os mais elevados padrões da vida familiar religiosa, o Senhor Kṛṣṇa mantinha mais de 16.100 esposas.

VERSO 30: Entre essas mulheres semelhantes a joias, havia oito rainhas principais, encabeçadas por Rukmiṇī. Já as descrevi uma após a outra, ó rei, bem como os filhos delas.

VERSO 31: O Supremo Senhor Kṛṣṇa, cujo empenho jamais fracassa, gerou dez filhos em cada uma de Suas muitas esposas.

VERSO 32: Entre esses filhos, todos possuidores de valor ilimitado, dezoito eram mahā-rathas de grande renome. Agora, ouve os nomes deles.

VERSOS 33-34: Eles eram Pradyumna, Aniruddha, Dīptimān, Bhānu, Sāmba, Madhu, Bṛhadbhānu, Citrabhānu, Vṛka, Aruṇa, Puṣkara, Vedabāhu, Śrutadeva, Sunandana, Citrabāhu, Virūpa, Kavi e Nya­grodha.

VERSO 35: Ó melhor dos reis, desses filhos gerados pelo Senhor Kṛṣṇa, o inimigo de Madhu, o mais eminente era Pradyumna, filho de Rukmiṇī. Ele era tal qual Seu pai.

VERSO 36: O grande guerreiro Pradyumna se casou com a filha de Rukmī [Rukmavatī], que deu à luz Aniruddha. Ele era tão forte quan­to dez mil elefantes.

VERSO 37: O filho da filha de Rukmī [Aniruddha] se casou com a filha do filho de Rukmī [Rocanā]. Dela, nasceu Vajra, que permaneceria entre os poucos sobreviventes da batalha com maças travada pelos Yadus.

VERSO 38: De Vajra, veio Pratibāhu, cujo filho foi Subāhu. O filho de Subāhu foi Śāntasena, de quem nasceu Śatasena.

VERSO 39: Ninguém nascido nesta família era pobre em riqueza ou filhos, de vida curta, fraco ou negligente em proteger a cultura bramânica.

VERSO 40: A dinastia Yadu produziu inumeráveis grandes homens de famosas façanhas. Nem mesmo em dezenas de milhares de anos, ó rei, alguém poderia contá-los todos.

VERSO 41: Ouvi dizer de fontes autorizadas que a família Yadu emprega­va 38.800.000 professores apenas para educar seus filhos.

VERSO 42: Quem pode contar todos os eminentes Yādavas, visto que, entre eles, apenas o rei Ugrasena era acompanhado de um séquito de trinta trilhões de auxiliares?

VERSO 43: Os selvagens descendentes de Diti que haviam sido mortos em eras passadas em batalhas entre os semideuses e demônios nasceram entre os seres humanos e arrogantemente perturbavam a população em geral.

VERSO 44: Para subjugar estes demônios, o Senhor Hari disse aos semi­deuses que aparecessem na dinastia de Yadu. Eles totalizavam cento e um clãs, ó rei.

VERSO 45: Porque o Senhor Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus, os Yādavas O aceitavam como sua autoridade máxima. E dentre eles, todos os que eram Seus companheiros íntimos floresceram de modo extraordinário.

VERSO 46: Os Vṛṣṇis viviam tão absortos em consciência de Kṛṣṇa que esqueciam seus próprios corpos enquanto estavam dormindo, sentados, andando, conversando, brincando, tomando banho e assim por diante.

VERSO 47: O celestial Ganges é um lugar sagrado de peregrinação porque suas águas lavam os pés do Senhor Kṛṣṇa. Mas quando o Senhor apareceu entre os Yadus, Suas glórias eclipsaram o Ganges como um lugar sagrado. Tanto os que odiavam Kṛṣṇa quanto os que O amavam obtiveram formas eternas como a dEle no mundo espiritual. A inatingível e sumamente autossatisfeita deusa da fortuna, por cujo favor todos lutam, pertence a Ele somente. Seu nome destrói toda a inauspiciosidade quando ouvido ou cantado. Ele sozinho estabeleceu os princípios de várias sucessões discipulares de sábios. O que há de espantoso no fato de Ele, cuja arma pessoal é a roda do tempo, ter aliviado o fardo da Terra?

VERSO 48: O Senhor Śrī Kṛṣṇa, conhecido como jana-nivāsa, o último recurso de todas as entidades vivas, também é conhecido como Devakī-nandana ou Yaśodā-nandana, o filho de Devakī e Yaśodā. Ele é o guia da dinastia Yadu e, com Seus poderosos braços, mata todas as coisas inauspiciosas, bem como todos os homens ímpios. Com Sua presença, Ele destrói tudo o que é inauspicioso para todas as entidades vivas, móveis e inertes. Seu rosto risonho e bem-aventurado sempre aumenta os desejos luxuriosos das gopīs de Vṛndāvana. Que com Ele sempre esteja toda glória e felicidade!

VERSO 49: Para proteger os princípios do serviço devocional a Ele mesmo, o Senhor Kṛṣṇa, o melhor dos Yadus, aceita as formas de passatempo que foram glorificadas aqui no Śrīmad-Bhāgavatam. Quem deseja servir fielmente a Seus pés de lótus deve ouvir as ativida­des que Ele executa em cada uma destas encarnações – ativida­des que imitam de modo adequado aquelas das formas que Ele assume. Ouvir as narrações desses passatempos destrói as reações ao trabalho fruitivo.

VERSO 50: Por ouvir, cantar e meditar regularmente sobre os belos assuntos acerca do Senhor Mukunda com sinceridade sempre crescen­te, um mortal alcançará o reino divino do Senhor, onde o poder inviolável da morte não tem influência. Por esse motivo, muitas pessoas, inclusive grandes reis, abandonaram seus lares munda­nos e partiram para a floresta.

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