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CAPÍTULO SETE

Os Descendentes do Rei Māndhātā

Neste capítulo, descrevem-se os descendentes do rei Māndhātā e, com relação a isso, são também contadas as histórias de Purukutsa e Hariścandra.

O filho mais destacado de Māndhātā foi Ambarīṣa, cujo filho foi Yauvanāśva, e cujo filho foi Hārīta. Essas três personalidades eram o que havia de melhor na dinastia de Māndhātā. Purukutsa, outro filho de Māndhātā, casou-se com a irmã das serpentes (sarpa-­gaṇa) chamada Narmadā. O filho de Purukutsa foi Trasaddasyu, cujo filho foi Anaraṇya. O filho de Anaraṇya foi Haryaśva, o filho de Haryaśva foi Prāruṇa, o filho de Prāruṇa foi Tribandhana, e o filho de Tribandhana foi Satyavrata, também conhecido como Triśaṅku. Quando Triśaṅku raptou a filha de um brāhmaṇa, seu pai o amaldiçoou por ele ter executado esse ato pecaminoso, e Triśaṅku tornou-se um caṇḍāla, pior do que um śūdra. Mais tarde, pela in­fluência de Viśvāmitra, ele se elevou aos planetas celestiais, mas, pela influência dos semideuses, ele recaiu. Entretanto, por influência de Viśvāmitra, sua queda não foi completa. O filho de Triśaṅku foi Hariścandra. Hariścandra certa vez realizou um Rāja­sūya-yajña, mas Viśvāmitra astutamente pegou todas as posses de Hariścandra como uma contribuição dakṣiṇa e castigou Hariścandra de várias maneiras. Por causa disso, surgiu uma desavença entre Viśvāmitra e Vasiṣṭha. Hariścandra não tinha filhos, mas, a con­selho de Nārada, adorou Varuṇa e, dessa maneira, obteve um filho chamado Rohita. Hariścandra prometeu que Rohita seria sacrificado em um Varuṇa-yajña. Varuṇa insistentemente lembrava a Hariścandra a realização deste yajña, mas o rei, devido à afeição por seu filho, apresentou vários argumentos para evitar sacrificá-lo. Assim, o tempo passou, e, gradualmente, seu filho cresceu. Para proteger sua vida, o garoto pegou, então, de arco e flechas e partiu para a floresta. Enquanto isso, em casa, Hariścandra sofria de hidropisia devido a uma investida de Varuṇa. Ao receber a notícia de que seu pai estava adoentado, Rohita quis retornar à capital, mas o rei Indra o alertou a não tomar essa atitude. Seguindo as instruções de Indra, Rohita viveu na floresta por seis anos e, em seguida, voltou para casa. Rohita adquiriu Śunaḥśepha, o segundo filho de Ajīgarta, e o deu a seu pai, Hariścandra, para que ele fosse usado como o animal a ser imolado no sacrifício. Dessa maneira, o sacrifício foi realizado, Varuṇa e os outros semideuses foram apaziguados, e Hariścandra livrou-se da doença. Neste sacrifício, Viśvāmitra foi o sacerdote hotā, Jama­dagni foi o adhvaryu, Vasiṣṭha foi o brahmā, e Ayāsya foi o udgātā. O rei Indra, estando muito satisfeito com o sacrifício, deu a Hariścandra uma quadriga de ouro, e Viśvāmitra deu-lhe conhecimento transcendental. Então, Śukadeva Gosvāmī descreve como Hariścandra alcançou a perfeição.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: O mais proeminente entre os filhos de Māndhātā foi aquele célebre como Ambarīṣa. Ambarīṣa foi aceito como filho por seu avô Yuvanāśva. Ambarīṣa teve um filho chamado Yauvanāśva, e o filho de Yauvanāśva foi Hārīta. Na dinastia Māndhātā, Ambarīṣa, Hārīta e Yauvanāśva destacaram-se muito.

VERSO 2: Os irmãos da serpente Narmadā deram Narmadā a Purukutsa. Por ordem de Vāsuki, ela levou Purukutsa à região infe­rior do universo.

VERSO 3: Ali em Rasātala, a região inferior do universo, Purukutsa, sendo dotado de poder pelo Senhor Viṣṇu, conseguiu matar todos os Gan­dharvas que mereciam ser mortos. Purukutsa recebeu das serpentes a bênção de que todo aquele que se lembrasse dessa história que re­lata como Narmadā o levou à região inferior do universo ficaria protegido contra o ataque das serpentes.

VERSO 4: O filho de Purukutsa foi Trasaddasyu, o pai de Anaraṇya. O filho de Anaraṇya, Haryaśva, foi o pai de Prāruṇa. Prāruṇa foi o pai de Tribandhana.

VERSOS 5-6: O filho de Tribandhana foi Satyavrata, que se tornou célebre com o nome de Triśaṅku. Porque raptou a filha de um brāhmaṇa quando ela estava se casando, seu pai o amaldiçoou a se tornar um caṇḍāla, inferior a um śūdra. Depois, por influência de Viśvāmitra, ele, em seu corpo material, foi ao sistema planetário superior, aos planetas celestiais, mas, devido ao poder dos semideuses, caiu novamente. En­tretanto, pelo poder de Viśvāmitra, ele não completou sua queda; mesmo hoje em dia, ainda pode-se vê-lo suspenso no céu, de ponta-cabeça.

VERSO 7: O filho de Triśaṅku foi Hariścandra. Devido a Hariścandra, houve uma desavença entre Viśvāmitra e Vasiṣṭha, que, tendo-se transfor­mado em pássaros, lutaram entre si por muitos anos.

VERSO 8: Hariścandra não tinha filhos e, portanto, era extremamente melancólico. Certa vez, portanto, seguindo o conselho de Nārada, ele se refugiou em Varuṇa e lhe disse: “Meu senhor, eu não tenho filhos. Poderias fazer a gentileza de conferir-me um filho?”

VERSO 9: Ó rei Parīkṣit, Hariścandra implorou a Varuṇa: “Meu senhor, se eu obtiver um filho, com este filho realizarei um sacrifício para a tua satisfação.” Quando Hariścandra disse isso, Varuṇa respondeu: “Assim acontecerá.” Devido à bênção concedida por Varuṇa, Hariścandra gerou um filho chamado Rohita.

VERSO 10: Depois, quando a criança nasceu, Varuṇa se aproximou de Hariścandra e disse: “Agora tens um filho. Com esse filho, podes oferecer-­me um sacrifício.” Em resposta a isso, Hariścandra disse: “Somente dez dias após o seu nascimento é que um animal torna-se adequado para o sacrifício.”

VERSO 11:  Passados dez dias, Varuṇa veio novamente e disse a Hariścandra: Agora, podes realizar o sacrifício.” Hariścandra respondeu: “Quando começa a desenvolver dentição, um animal torna-se bastante puro para ser sacrificado.”

VERSO 12: Quando os dentes cresceram, Varuṇa veio e disse a Hariścandra: “Agora cresceram os dentes do animal, e podes realizar o sacrifício.” Hariścandra respondeu: “Quando todos os dentes caírem, então ele estará em condições de ser sacrificado.”

VERSO 13: Quando os dentes caíram, Varuṇa retornou e disse a Hariścandra: “Agora, os dentes do animal caíram, e podes realizar o sacrifício.” Mas Hariścandra respondeu: “Quando os dentes do animal crescerem novamente, então ele será bastante puro para ser sacrificado.”

VERSO 14: Quando os dentes cresceram novamente, Varuṇa veio e disse a Hariścandra: “Agora, podes realizar o sacrifício.” Mas Hariścandra disse-lhe, então: “Ó rei, quando o animal do sacrifício se torna um kṣatriya e é capaz de defender-se para lutar com o inimigo, então ele estará purificado.”

VERSO 15: Certamente, Hariścandra era muito apegado a seu filho. Devido a essa afeição, ele pediu que o semideus Varuṇa aguardasse. Assim, Varuṇa esperou demoradamente pela hora.

VERSO 16: Rohita pôde entender que seu pai intencionava oferecê-lo como um animal de sacrifício. Portanto, apenas para salvar-se da morte, equipou-se com arco e flechas e partiu para a floresta.

VERSO 17: Ao tomar conhecimento de que, devido a Varuṇa, seu pai fora atacado de hidropisia e ficara com um abdômen enorme, Rohita desejou retornar à capital, mas o rei Indra o proibiu de tomar essa atitude.

VERSO 18: O rei Indra aconselhou Rohita a peregrinar por diferentes lugares sagrados, pois essas atividades são muito piedosas. Seguindo essa instrução, Rohita andou na floresta por um ano.

VERSO 19: Dessa maneira, no fim do segundo, terceiro, quarto e quinto anos, sempre que Rohita queria regressar à sua capital, o rei dos céus, Indra, sob a forma de um brāhmaṇa idoso, aproximava-se dele e o proibia de retomar, repetindo as mesmas palavras do ano anterior.

VERSO 20: Em seguida, após vagar seis anos pela floresta, Rohita retornou à capital de seu pai. Ele comprou de Ajīgarta seu segundo filho, chamado Śunaḥśepha. Então, ofereceu Śunaḥśepha a seu pai, Hariścandra, para que fosse usado como o animal a ser imolado em sa­crifício, e ofereceu suas respeitosas reverências a Hariścandra.

VERSO 21: Em seguida, o famoso rei Hariścandra, uma insigne personalidade histórica, realizou grandes sacrifícios, imolando um homem, e satisfez todos os semideuses. Dessa maneira, ele se curou da sua hidropisia criada por Varuṇa.

VERSO 22: Naquele grande sacrifício humano, Viśvāmitra era o principal sa­cerdote que fazia oblações, o perfeitamente autorrealizado Jamadagni tinha a responsabilidade de cantar os mantras do Yajur Veda, Va­siṣṭha era o principal sacerdote bramânico, e o sábio Ayāsya recitava os hinos do Sāma Veda.

VERSO 23: O rei Indra, estando muito satisfeito com Hariścandra, deu-lhe de presente uma quadriga de ouro. As glórias de Śunaḥśepha serão apresentadas durante a descrição do filho de Viśvāmitra.

VERSO 24: O grande sábio Viśvāmitra viu que Mahārāja Hariścandra, juntamente com sua esposa, era veraz, tolerante e interessado na essência das coisas. Por isso, deu-lhes conhecimento imperecível para que cumprissem a missão humana.

VERSOS 25-26: Mahārāja Hariścandra primeiro purificou sua mente, que estava cheia de gozo material, amalgamando-a com a terra. Em seguida, ele amalgamou a terra com a água, a água com o fogo, o fogo com o ar, e o ar com o céu. Depois, amalgamou o céu com a totalidade da energia material, e a totalidade da energia material com o conhe­cimento espiritual. Este conhecimento espiritual é a compreensão de que o eu pessoal é parte do Senhor Supremo. Ao ocupar-se em servir ao Senhor, a alma espiritual autorrealizada é eternamente imperceptível e inconcebível. Estabelecida nessa consciência espiritual, ela se livra por completo do cativeiro material.

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