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Capítulo Dezesseis

Como Parīkṣit Recebeu a Era de Kali

VERSO 1: Sūta Gosvāmī disse: Ó brāhmaṇas eruditos, Mahārāja Parīkṣit, então, começou a governar o mundo como um grande devoto do Senhor, sob as instruções dos melhores entre os brāhmaṇas duas vezes nascidos. Ele governou com aquelas grandes qualidades que foram preditas por competentes astrólogos na ocasião de seu nascimento.

VERSO 2: O rei Parīkṣit se casou com a filha do rei Uttara e gerou quatro filhos, encabeçados por Mahārāja Janamejaya.

VERSO 3: Após escolher Kṛpācārya como o mestre espiritual que o orientaria, Mahārāja Parīkṣit realizou três sacrifícios de cavalo às margens do Ganges. Eles foram executados com suficientes recompensas aos participantes. E naqueles sacrifícios, mesmo o homem comum podia ver os semideuses.

VERSO 4: Certa vez, quando Mahārāja Parīkṣit estava a caminho de conquistar o mundo, ele viu o senhor de Kali-yuga, que era inferior a um śūdra, disfarçado de rei e ferindo as pernas de um touro e uma vaca. O rei capturou-o de imediato para puni-lo o suficiente.

VERSO 5: Śaunaka Ṛṣi indagou: Por que Mahārāja Parīkṣit apenas o puniu, uma vez que ele era o mais baixo dos śūdras, tendo se vestido como se fosse rei e ferido uma vaca em sua perna? Por favor, descreve todos esses incidentes se eles têm relação com os tópicos sobre o Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 6: Os devotos do Senhor estão habituados a lamber o mel disponível nos pés de lótus do Senhor. Qual seria a utilidade de tópicos que apenas contribuíssem para desperdiçar nossa preciosa vida?

VERSO 7: Ó Sūta Gosvāmī, há entre os homens aqueles que desejam libertar-se da morte e obter a vida eterna. Eles escapam do processo de matança ao chamarem o controlador da morte, Yamarāja.

VERSO 8: Enquanto Yamarāja, que causa a morte de todos, estiver presente aqui, ninguém se encontrará com a morte. Os grandes sábios convidaram o controlador da morte, Yamarāja, que é o representante do Senhor. Os seres vivos que estão sob seu jugo devem tirar proveito disso ouvindo o néctar da imortalidade sob a forma desta narração dos passatempos transcendentais do Senhor.

VERSO 9: Os seres humanos preguiçosos, com inteligência mesquinha e uma curta duração de vida, passam a noite dormindo e o dia fazendo atividades inúteis.

VERSO 10: Sūta Gosvāmī disse: Enquanto Mahārāja Parīkṣit residia na capital do império Kuru, os sintomas da era de Kali começaram a infiltrar-se dentro da jurisdição de seu estado. Quando ele soube disso, não considerou o assunto muito agradável. Isso lhe deu, contudo, uma oportunidade de lutar. Ele apanhou seu arco e flechas e preparou-se para atividades militares.

VERSO 11: Mahārāja Parīkṣit sentou-se em uma quadriga puxada por cavalos negros. Sua bandeira estava marcada com o emblema de um leão. Estando assim decorado e cercado por quadrigários, cavalaria, elefantes e soldados de infantaria, ele deixou a capital para efetuar conquistas em todas as direções.

VERSO 12: Então, Mahārāja Parīkṣit conquistou todas as partes do planeta Terra – Bhadrāśva, Ketumāla, Bhārata, o Kuru setentrional, Kimpuruṣa etc. – e exigiu tributos de seus respectivos governantes.

VERSOS 13-15: Onde quer que o rei visitasse, ele ouvia continuamente as glórias de seus grandes antepassados, que eram todos devotos do Senhor, e também ouvia sobre os gloriosos atos do Senhor Kṛṣṇa. Ele também ouvia como ele mesmo fora protegido pelo Senhor contra o poderoso calor da arma de Aśvatthāmā. As pessoas também mencionavam a grande afeição entre os descendentes de Vṛṣṇi e Pṛthā devido à grande devoção da última pelo Senhor Keśava. O rei, estando muito satisfeito com os cantadores dessas glórias, abriu seus olhos com grande satisfação. Magnânimo como era, teve prazer em presenteá-los com colares e roupas muito preciosos.

VERSO 16: Mahārāja Parīkṣit ouviu que, por Sua misericórdia sem causa, o Senhor Kṛṣṇa [Viṣṇu], que é obedecido universalmente, prestou todos os tipos de serviços aos maleáveis filhos de Pāṇḍu, aceitando postos que iam desde quadrigário até presidente, mensageiro, amigo, vigia noturno, etc., de acordo com a vontade dos Pāṇḍavas, obedecendo-lhes como se fosse um servo e oferecendo reverências como uma pessoa de idade mais jovem. Quando ouviu isso, Mahārāja Parīkṣit encheu-se de devoção aos pés de lótus do Senhor.

VERSO 17: Agora podes ouvir de mim o que aconteceu enquanto Mahārāja Parīkṣit passava seus dias ouvindo sobre as boas ocupações de seus antepassados e absorvia-se em pensar neles.

VERSO 18: A personalidade dos princípios religiosos, Dharma, estava perambulando sob a forma de um touro. E ele se encontrou com a personalidade da Terra sob a forma de uma vaca, que parecia tão pesarosa como uma mãe que perdeu seu filho. Ela tinha lágrimas em seus olhos, e a beleza de seu corpo se perdera. Então, o Dharma interrogou a Terra da seguinte maneira.

VERSO 19: Dharma [na forma de um touro] perguntou: Madame, não estás forte e vigorosa? Por que estás coberta com a sombra do pesar? Parece, por teu rosto, que te enegreceste. Estás sofrendo de alguma doença interna, ou estás pensando em algum parente ausente em um lugar distante?

VERSO 20: Perdi minhas três pernas e agora permaneço sobre uma só. Estás te lamentando por meu estado de existência? Ou estás em grande ansiedade porque, de agora em diante, os ilegais comedores de carne irão explorar-te? Ou te sentes magoada devido aos semideuses agora estarem privados de seu quinhão das oferendas sacrificatórias porque atualmente nenhum sacrifício está sendo executado? Ou estás pesarosa pelos seres vivos por causa de seus sofrimentos decorrentes da fome e da seca?

VERSO 21: Estás pesarosa pelas mulheres e crianças infelizes que são deixadas ao desamparo por pessoas inescrupulosas? Ou estás infeliz porque a deusa da sabedoria está sendo manipulada por brāhmaṇas entregues a atos contrários aos princípios da religião? Ou lamentas ver que os brāhmaṇas têm se refugiado em famílias administrativas que não respeitam a cultura bramânica?

VERSO 22: Os ditos administradores agora estão desorientados pela influência desta era de Kali e, desse modo, puseram em desordem todos os afazeres do estado. Agora te lamentas por essa desordem? Neste momento, a população em geral não segue as regras e regulações no comer, dormir, beber, acasalar-se etc., e estão propensos a executar essas atividades em toda e qualquer parte. Estás infeliz por causa disso?

VERSO 23: Ó mãe Terra, a Suprema Personalidade de Deus, Hari, encarnou como o Senhor Śrī Kṛṣṇa justamente para aliviar-te de teu pesado fardo. Todas as Suas atividades aqui são transcendentais, e elas pavimentam o caminho da liberação. Agora estás privada da presença dEle. Provavelmente estás pensando naquelas atividades neste momento, e sentindo-te pesarosa na ausência delas.

VERSO 24: Ó mãe, és o reservatório de todas as riquezas. Por favor, informa-me sobre a causa fundamental de tuas tribulações, pelas quais tens sido reduzida a tal estado de fraqueza. Creio que a poderosa influência do tempo, que conquista até mesmo o mais poderoso, deve ter tomado à força toda a tua boa fortuna, que era adorada mesmo pelos semideuses.

VERSO 25: A deidade terrestre [sob a forma de uma vaca] respondeu assim à personalidade dos princípios religiosos [sob a forma de um touro]: Ó Dharma, ficarás sabendo de tudo sobre o que me perguntaste. Tentarei responder a todas essas perguntas. Outrora, tu também te sustentavas nas tuas quatro pernas, e aumentavas a felicidade em todo o universo, pela misericórdia do Senhor.

VERSOS 26-30: No Senhor, habitam (1) a veracidade, (2) a limpeza, (3) a intolerância com a infelicidade alheia, (4) o poder de controlar a ira, (5) a autossatisfação, (6) a retidão, (7) a estabilidade mental, (8) o controle dos órgãos dos sentidos, (9) a responsabilidade, (10) a igualdade, (11) a tolerância, (12) a equanimidade, (13) a fidelidade, (14) o conhecimento, (15) a ausência de gozo dos sentidos, (16) a liderança, (17) o cavalheirismo, (18) a influência, (19) o poder de tornar tudo possível, (20) o desempenho apropriado do dever, (21) a independência completa, (22) a destreza, (23) a plenitude de toda a beleza, (24) a serenidade, (25) a amabilidade, (26) o talento, (27) a gentileza, (28) a magnanimidade, (29) a determinação, (30) a perfeição em todo o conhecimento, (31) a execução adequada, (32) a posse de todos os objetos de gozo, (33) a jovialidade, (34) a imobilidade, (35) a lealdade, (36) a fama, (37) a adoração, (38) a isenção de orgulho, (39) o ato de ser (como a Personalidade de Deus), (40) a eternidade, e muitas outras qualidades transcendentais, que estão eternamente presentes nEle e nunca podem ser separadas dEle. Essa Personalidade de Deus, o reservatório de toda bondade e beleza, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, acaba de encerrar Seus passatempos transcendentais sobre a face da Terra. Em Sua ausência, a era de Kali está espalhando sua influência por toda parte, de modo que estou muito pesarosa de ver esta condição de existência.

VERSO 31: Estou pensando em mim mesma e também, ó melhor entre os semideuses, em ti, bem como em todos os semideuses, sábios, cidadãos de Pitṛloka, devotos do Senhor e todos os homens obedientes ao sistema de varṇa e āśrama na sociedade humana.

VERSOS 32-33: Lakṣmījī, a deusa da fortuna, cujo olhar encantador era cobiçado por semideuses como Brahmā e por quem eles se renderam por muitos dias à Personalidade de Deus, abandonou sua própria morada na floresta de flores de lótus e ocupou-se a serviço dos pés de lótus do Senhor. Eu fui dotada com poderes específicos para suplantar a fortuna de todos os três sistemas planetários ao ser decorada com as impressões da bandeira, do raio, do bastão de conduzir elefantes e da flor de lótus, que são sinais dos pés de lótus do Senhor. Mas, por fim, quando estava me sentindo tão afortunada, o Senhor me deixou.

VERSO 34: Ó personalidade da religião, eu estava demasiadamente oprimida pelas hostis falanges militares dispostas pelos reis ateístas, mas fui aliviada pela graça da Personalidade de Deus. De modo semelhante, tu também estavas numa condição aflitiva, enfraquecido em tua força de sustentação, e, então, Ele encarnou através de Sua energia interna na família dos Yadus, para aliviar-te.

VERSO 35: Quem, portanto, pode tolerar as dores da separação dessa Suprema Personalidade de Deus? Ele pôde conquistar a gravidade e a ira passional de Suas amadas, como Satyabhāmā, com Seu doce sorriso amoroso, olhar agradável e apelos cordiais. Quando Ele atravessava a minha [da Terra] superfície, eu ficava imersa na poeira de Seus pés de lótus e, assim, ficava suntuosamente coberta de grama, que se assemelhava a cabelos sobre mim arrepiados devido ao prazer.

VERSO 36: Enquanto a Terra e a personalidade da religião estavam assim conversando, o santo rei Parīkṣit alcançou a margem do rio Sarasvatī, que fluía rumo ao leste.

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