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CAPÍTULO OITENTA E DOIS

Kṛṣṇa e Balarāma Encontram-Se com os Habitantes de Vṛndāvana

Este capítulo descreve como os Yādavas e muitos outros reis encontraram-se em Kurukṣetra durante um eclipse solar e discutiram assuntos referentes ao Senhor Kṛṣṇa. Narra também como Kṛṣṇa encontrou-Se com Nanda Mahārāja e os outros residentes de Vṛndāvana em Kurukṣetra e concedeu-lhes grande alegria.

Ao ouvirem que logo ocorreria um eclipse total do Sol, pessoas de toda a Bhārata-varṣa, incluindo os Yādavas, convergiram para Kurukṣetra a fim de ganhar crédito piedoso especial. Depois de terem se banhado e cumprido outros rituais obrigatórios, os Yadus notaram que também tinham chegado ali os reis de Matsya, Uśīnara e outros lugares, bem como Nanda Mahārāja e os habitantes da comunidade pastoril de Vraja, que estavam sempre sentindo intensa ansiedade por estarem separados de Kṛṣṇa. Os Yādavas, tomados de imensa alegria por verem todos esses velhos amigos, abraçaram-nos um a um enquanto derrama­vam lágrimas de felicidade. Suas esposas também se abraçaram com grande prazer.

Quando viu seu irmão Vasudeva e outros membros da família, a rainha Kuntī deixou de lado sua aflição. Mesmo assim, ela disse a Vasudeva: “Ó irmão, sou imensamente desafortunada, pois todos vós me esquecestes durante minhas tribulações. Ai de mim! Até os parentes esquecem aquele que a Providência já não favorece mais.”

Vasudeva respondeu: “Minha querida irmã, todos nós não pas­samos de mero joguete do destino. Nós Yādavas fomos tão atormentados por Kaṁsa que fomos forçados a nos dispersar e buscar refúgio em terras estrangeiras. Por isso, não nos havia possibilidade de mantermos contato com tua pessoa.”

Tomados de admiração ao contemplarem o Senhor Śrī Kṛṣṇa e Suas esposas, os reis presentes puseram-se a glorificar os Yādavas por terem estes a companhia pessoal do Senhor. Vendo Nanda Mahārāja, os Yādavas ficaram extasiados, e cada um deles o abraçou fortemen­te. Vasudeva também abraçou Nanda com grande alegria e lembrou como Nanda, enquanto Vasudeva era atormentado por Kaṁsa, pro­tegera seus filhos, Kṛṣṇa e Balarāma. Balarāma e Kṛṣṇa abraçaram mãe Yaśodā e prostraram-Se diante dela, mas Suas gargantas se em­bargaram de emoção, e nada Eles conseguiram dizer a ela. Nanda e Yaśodā puseram seus dois filhos no colo e abraçaram-nOs e, desse modo, aliviaram a dor da saudade. Rohiṇī e Devakī abraçaram Yaśodā e, lembrando a grande amizade que esta lhes mostrara, disse­ram-lhe que o favor que ela fizera criando e amparando Kṛṣṇa e Bala­rāma não poderia ser pago nem mesmo com a riqueza de Indra.

Então, o Senhor Supremo aproximou-Se das vaqueirinhas em um lugar isolado. Kṛṣṇa as consolou ressaltando que Ele é onipenetrante, por ser a fonte de todas as energias, e, dessa maneira, indicou que elas jamais poderiam estar separadas dEle. Tendo afinal se reunido com Kṛṣṇa, as gopīs simplesmente oraram para que Seus pés de lótus se manifestassem em seus corações.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Certa vez, enquanto Balarāma e Kṛṣṇa moravam em Dvārakā, ocorreu um grande eclipse solar, como se tivesse chegado o fim do dia do senhor Brahmā.

VERSO 2: Sabendo de antemão deste eclipse, ó rei, muita gente foi até o lugar sagrado conhecido como Samanta-pañcaka a fim de ganhar créditos piedosos.

VERSOS 3-6: Depois de eliminar da Terra os reis, o Senhor Paraśurāma, o principal dos guerreiros, criou grandes lagos em Samanta­-pañcaka com o sangue dos reis. Embora jamais se contamine com reações kármicas, o Senhor Paraśurāma realizou sacrifícios ali para instruir as pessoas em geral – dessa maneira, agiu como um homem qualquer tentando livrar-se de pecados. De todas as partes de Bhārata-varṣa, um grande número de pessoas foi, então, para aquele Samanta-pañcaka em peregrinação. Ó descendente de Bharata, entre aqueles que chegaram ao lugar sagrado, havia muitos Vṛṣṇis, tais como Gada, Pradyumna e Sāmba, esperançosos de se livrarem de seus pecados. Akrūra, Vasudeva, Āhuka e outros reis também foram para lá. Aniruddha permaneceu em Dvārakā com Su­candra, Śuka e Sāraṇa para vigiar a cidade, juntamente com Kṛta­varmā, o comandante de suas forças armadas.

VERSOS 7-8: Os poderosos Yādavas passavam ao longo da estrada com grande majestade e acompanhados por seus soldados, que andavam em quadrigas mais imponentes do que aeroplanos do céu, em cavalos que se movimentavam com um passo ritmado, e em elefantes enormes como nuvens, que bramiam muito alto. Junto deles, havia muitos soldados de infantaria tão refulgentes como Vidyādharas celestiais. Os Yādavas estavam tão divina­mente vestidos – adornados com colares de ouro, guirlandas de flores e belas armaduras – que, ao prosseguirem pelo caminho com suas esposas, pareciam semideuses a voar no céu.

VERSO 9: Em Samanta-pañcaka, os santos Yādavas banharam-se e, então, observaram jejum com cuidadosa atenção. Depois, presentearam os brāhmaṇas com vacas enfeitadas de vestes, guirlandas de flores e colares de ouro.

VERSO 10: De acordo com os preceitos das escrituras, os descendentes de Vṛṣṇi, então, banharam-se mais uma vez nos lagos do Senhor Paraśurāma e alimentaram primorosos brāhmaṇas com um alimento suntuoso. A todo tempo, eles oravam: “Que recebamos devoção ao Senhor Kṛṣṇa.”

VERSO 11: “Então, com a permissão do Senhor Kṛṣṇa, seu único objeto de adoração, os Vṛṣṇis quebraram o jejum e sentaram-se à vontade debaixo de árvores de sombras refrescantes.”

VERSOS 12-13: Os Yādavas viram que muitos dos reis que haviam chegado eram velhos amigos e parentes – os Matsyas, Uśīnaras, Kauśalyas, Vidarbhas, Kurus, Sṛñjayas, Kāmbojas, Kaikayas, Madras, Kuntīs e os reis de Ānarta e Kerala. Também viram muitas cen­tenas de outros reis, tanto aliados quanto adversários. Além disso, meu querido rei Parīkṣit, viram seus prezados amigos Nanda Mahārāja e os vaqueiros e vaqueiras, que, devido à ansiedade, tinham sofrido durante tanto tempo.

VERSO 14: Enquanto a grande alegria de verem-se uns aos outros fazia os lótus de seus corações e rostos florescerem com viçosa beleza, os homens abraçavam-se cheios de entusiasmo. Com lágrimas a correr de seus olhos, os pelos arrepiados e as vozes embargadas, todos eles sentiam intensa bem-aventurança.

VERSO 15: As mulheres entreolhavam-se com sorrisos puros e de amiza­de amorosa. E quando se abraçavam, seus seios, untados com pasta de açafrão, apertavam-se uns contra os outros enquanto seus olhos enchiam-se de lágrimas de afeição.

VERSO 16: Todos eles, então, ofereceram reverências a seus superiores e, por sua vez, receberam respeito de seus parentes mais novos. Depois de perguntarem uns aos outros sobre como fora a viagem e sobre seu bem-estar, eles passaram a conversar sobre Kṛṣṇa.

VERSO 17: A rainha Kuntī encontrou-se com seus irmãos e irmãs e os filhos deles, e também com seus pais, cunhadas e com o Senhor Mukunda. Enquanto conversava com eles, ela se esqueceu de seu pesar.

VERSO 18: A rainha Kuntī disse: Meu querido e respeitável irmão, sinto que meus desejos foram frustrados, visto que, embora sejais muito santos, todos vós me esquecestes durante minhas calamidades.

VERSO 19: Amigos e familiares – até mesmo filhos, irmãos e pais – esquecem um ente querido que a Providência já não favorece mais.

VERSO 20: Śrī Vasudeva disse: Cara irmã, por favor, não te zangues conosco. Somos apenas homens comuns, joguetes do destino. De fato, quer aja por sua própria conta, quer seja obrigada por outros, a pessoa está sempre sob o controle do Senhor Supremo.

VERSO 21: Atormentados por Kaṁsa, nós todos fugimos em várias dire­ções, mas, pela graça da Providência, agora pudemos, afinal, voltar para nossos lares, minha cara irmã.

VERSO 22: Śukadeva Gosvāmī disse: Vasudeva, Ugrasena e os outros Yadus honraram os vários reis, que ficaram sumamente bem-aventura­dos e contentes ao verem o Senhor Acyuta.

VERSOS 23-26: Todos os membros da realeza presentes, incluindo Bhīṣma, Droṇa, Dhṛtarāṣṭra, Gāndhārī e seus filhos, os Pāṇḍavas e suas esposas, Kuntī, Sañjaya, Vidura, Kṛpācārya, Kuntībhoja, Virāṭa, Bhīṣmaka, o grande Nagnajit, Purujit, Drupada, Śalya, Dhṛṣṭaketu, Kāśirāja, Damaghoṣa, Viśālākṣa, Maithila, Madra e Kekaya, Yudhāmanyu, Suśarmā, Bāhlika com seus associados e filhos, e os muitos outros reis subordinados a Mahārāja Yudhiṣṭhira –, todos eles, ó melhor dos reis, ficaram simplesmente atônitos ao verem a forma transcendental do Senhor Kṛṣṇa, a morada de toda a opulência e beleza, ali diante deles com Suas esposas.

VERSO 27: Depois que o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa os haviam prestado toda honra, esses reis começaram a louvar com grande alegria e entusiasmo os membros do clã Vṛṣṇi, os companheiros pessoais de Śrī Kṛṣṇa.

VERSO 28: [Os reis disseram:] Ó rei dos Bhojas, apenas vós entre os homens alcançastes um nascimento deveras elevado, pois vedes continuamente o Senhor Kṛṣṇa, que é raras vezes visto até mesmo por grandes yogīs.

VERSOS 29-30: Sua fama, como difundida pelos Vedas, a água que banha Seus pés, e as palavras que Ele fala sob a forma das escrituras revela­das – estas coisas purificam por completo este universo. Embora a boa fortuna da Terra tenha sido assolada pelo tempo, o toque de Seus pés de lótus a revitalizou, e, dessa maneira, ela está lan­çando sobre nós a chuva da satisfação de todos os nossos desejos. O mesmo Senhor Viṣṇu que faz alguém esquecer metas tais como o céu e a liberação agora aceitou vínculos de casamento e vínculos consanguíneos convosco, que, sob outros aspectos, viajais no caminho infernal da vida familiar. De fato, nesses relacionamentos, vós O vedes e tocais diretamente, andais a Seu lado, conversais com Ele e, juntamente com Ele, deitais-vos para descansar, sentais-vos à vontade e tomais vossas refeições.

VERSO 31: Śukadeva Gosvāmī disse: Quando soube que os Yadus haviam chegado, chefiados por Kṛṣṇa, Nanda Mahārāja foi vê-los de imediato. Os vaqueiros acompanharam-no, com suas várias posses transportadas em suas carroças.

VERSO 32: Ao verem Nanda, os Vṛṣṇis ficaram contentíssimos e se levantaram como cadáveres retornando à vida. Tendo ficado muito aflitos por não o verem há tanto tempo, eles o seguraram em um abraço apertado.

VERSO 33: Vasudeva abraçou Nanda Mahārāja com grande júbilo. Fora de si devido ao amor extático, Vasudeva se lembrou dos problemas que Kaṁsa lhe causara, forçando-o a deixar seus filhos em Gokula para a segurança dEles.

VERSO 34: Ó herói dos Kurus, Kṛṣṇa e Balarāma abraçaram Seus pais adotivos e prostraram-Se diante deles, mas Suas gargantas estavam tão embargadas de lágrimas de amor que os dois Senhores nada conseguiam dizer.

VERSO 35: Pondo seus dois filhos no colo e segurando-Os nos braços, Nanda e a santa mãe Yaśodā esqueceram seus pesares.

VERSO 36: Então, Rohiṇī e Devakī abraçaram a rainha de Vraja, lem­brando a fiel amizade que ela lhes mostrara. Com a garganta embargada de lágrimas, elas lhe disseram o seguinte.

VERSO 37: [Rohiṇī e Devakī disseram:] Que mulher poderia esquecer a incessante amizade que tu e Nanda nos mostrastes, querida rainha de Vraja? Não há maneira de pagar-vos neste mundo, nem mesmo com a riqueza de Indra.

VERSO 38: Antes mesmo que estes dois meninos tivessem visto Seus verdadeiros pais, vós agistes como Seus pais e destes-Lhes todo o cuidado afetuoso, treinamento, alimento e proteção. Eles nunca tiveram medo, gentil dama, porque Os protegestes assim como as pálpebras protegem os olhos. De fato, pessoas santas como vós jamais distinguem entre estranhos e sua própria família.

VERSO 39: Śukadeva Gosvāmī disse: Enquanto olhavam fixamente seu amado Kṛṣṇa, as jovens gopīs condenavam o criador de suas pálpebras [que por um momento impediam que elas O vissem]. Agora, revendo Kṛṣṇa após tão longa separação, com seus olhos elas O levaram para dentro de seus corações, e lá O abraçaram para sua plena satisfação. Dessa maneira, absorveram-se por completo em meditação extática nEle, embora aqueles que pra­ticam constantemente o yoga místico achem tal absorção difícil de se alcançar.

VERSO 40: O Senhor Supremo aproximou-Se das gopīs em um lugar isolado enquanto elas estavam em seu transe extático. Depois de abraçar cada uma delas e perguntar sobre seu bem-estar, Ele riu e disse o seguinte.

VERSO 41: [O Senhor Kṛṣṇa disse:] Minhas queridas amigas, ainda vos lembrais de Mim? Foi por causa de Meus parentes que Me afas­tei por tanto tempo, com a intenção de destruir Meus inimigos.

VERSO 42: Por ventura pensais que sou ingrato e por isso Me desprezais? Afinal, é o Senhor Supremo que une os seres vivos e, depois, separa os mesmos.

VERSO 43: Assim como o vento junta massas de nuvens, folhas de relva, flocos de algodão e partículas de poeira apenas para tornar a espalhá-­los, o criador trata da mesma maneira os seres que Ele criou.

VERSO 44: A prestação de serviço devocional a Mim qualifica qualquer ser vivo para a vida eterna. Contudo, por vossa boa fortuna, desenvol­vestes uma atitude amorosa especial por Mim, através da qual Me conquistastes.

VERSO 45: Caras damas, Eu sou o princípio e o fim de todos os seres criados e existo tanto dentro quanto fora deles, assim como os elementos éter, água, terra, ar e fogo são o princípio e o fim de todos os objetos materiais e existem tanto dentro quanto fora deles.

VERSO 46: Dessa maneira, todas as coisas criadas residem dentro dos elementos básicos da criação, ao passo que as almas espirituais permeiam a criação, permanecendo em sua verdadeira identida­de própria. Deveis ver a ambos – a criação material e o eu – como manifestos dentro de Mim, a imperecível Verdade Su­prema.

VERSO 47: Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo assim sido instruídas por Kṛṣṇa em assuntos espirituais, as gopīs se libertaram de todos os vestígios de falso ego por causa de sua incessante meditação nEle. E com sua profunda absorção nEle, chegaram a compreendê-lO na íntegra.

VERSO 48: As gopīs falaram assim: Querido Senhor, cujo umbigo é igual a uma flor de lótus, Teus pés de lótus são o único refúgio para aqueles que caíram no poço fundo da existência material. Grandes yogīs místicos e filósofos altamente eruditos adoram Teus pés e meditam neles. Desejamos que esses pés de lótus também possam ser despertados dentro de nossos corações, embora sejamos apenas pessoas comuns ocupadas em afazeres domésticos.

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