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Capítulo Dezenove

A Morte do Demônio Hiraṇyākṣa

VERSO 1: Śrī Maitreya disse: Após ouvir as palavras de Brahmā, o criador, que estavam isentas de toda intenção pecaminosa e eram doces como néctar, o Senhor riu do fundo do coração e aceitou sua oração com um olhar carregado de amor.

VERSO 2: O Senhor, que aparecera da narina de Brahmā, saltou e apontou Sua maça contra o queixo de Seu inimigo, o demônio Hiraṇyākṣa, que se aproximava dEle intrepidamente.

VERSO 3: Aparada pela maça do demônio, no entanto, a maça do Senhor saltou de Sua mão e parecia esplêndida conforme caía em círculos. Era algo miraculoso, pois a maça brilhava maravilhosamente.

VERSO 4: Muito embora o demônio tivesse uma oportunidade excelente de ferir seu inimigo desarmado e indefeso, ele respeitou a lei do combate de igual para igual, atiçando, dessa maneira, a fúria do Senhor Supremo.

VERSO 5: Assim que a maça do Senhor caiu ao solo e gritos de alarme se fizeram ouvir da multidão de deuses e ṛṣis que testemunhavam a luta, a Personalidade de Deus reconheceu o amor do demônio pela retidão e, em razão disso, invocou Seu disco Sudarśana.

VERSO 6: Conforme o disco começou a girar nas mãos do Senhor e o Senhor Se empenhava no combate contra o principal de Seus assistentes de Vaikuṇṭha, que nascera como Hiraṇyākṣa, um filho indigno de Diti, surgiram de todas as direções expressões estranhas proferidas por aqueles que testemunhavam a luta de seus aeroplanos. Eles não tinham conhecimento da realidade do Senhor e, por isso, gritaram: “Que a vitória esteja conVosco! Suplicamos que o mateis! Não brinqueis mais com ele!”

VERSO 7: Quando o demônio viu a Personalidade de Deus, que tinha olhos semelhantes a pétalas de lótus, em posição de ataque diante dele e armado com Seu disco Sudarśana, seus sentidos foram tomados de indignação. Ele se pôs a silvar como uma serpente, mordendo os lábios com grande furor.

VERSO 8: O demônio, que tinha presas assustadoras, encarou a Personalidade de Deus como se quisesse incinerá-lO. Pulando no ar, ele apontou sua maça contra o Senhor, ao mesmo tempo em que exclamava: “Tu estás morto!”

VERSO 9: Ó santo Vidura, sob o olhar de Seu inimigo, o Senhor, em Sua forma de javali, o desfrutador de todas as oferendas sacrificatórias, jocosamente derrubou a maça com Seu pé esquerdo, apesar de ela ter sido atirada contra Ele com a força de uma tempestade.

VERSO 10: O Senhor disse, então: “Pega tua arma e tenta novamente, já que estás ansioso por vencer-Me.” Desafiado por essas palavras, o demônio mirou sua maça contra o Senhor e, mais uma vez, bradou estrondosamente.

VERSO 11: Ao ver a maça voando em Sua direção, o Senhor permaneceu firme onde estava e apanhou-a com a mesma facilidade que Garuḍa, o rei dos pássaros, capturaria uma serpente.

VERSO 12: Tendo sua valentia frustrada dessa maneira, o grande demônio sentiu-se humilhado e ficou fora de si. Ele relutou pegar de volta a maça quando esta lhe foi oferecida pela Personalidade de Deus.

VERSO 13: Ele, então, valeu-se de um tridente ávido como fogo flamejante e o atirou contra o Senhor, o desfrutador de todos os sacrifícios, assim como alguém praticaria penitências com más intenções contra um brāhmaṇa santo.

VERSO 14: Disparado pelo poderoso demônio com toda a sua força, o tridente arremessado brilhou intensamente no céu. A Personalidade de Deus, entretanto, despedaçou-o com Seu disco Sudarśana, que tinha uma borda cortante e afiada, da mesma forma que Indra cortou uma asa de Garuḍa.

VERSO 15: O demônio ficou enraivecido ao ver seu tridente despedaçado pelo disco da Personalidade de Deus. De tal modo, ele avançou de encontro ao Senhor e, rugindo estrondosamente, golpeou com seu duríssimo punho o peito do Senhor, que tinha a marca de Śrīvatsa. Em seguida, sumiu de vista.

VERSO 16: Golpeado dessa maneira pelo demônio, ó Vidura, o Senhor, que aparecera como o javali primordial, não sentiu nem mesmo o menor tremor em parte alguma de Seu corpo, assim como um elefante nada sentiria caso golpeado por um ramalhete de flores.

VERSO 17: O demônio, no entanto, empregou muitas artimanhas mágicas contra a Personalidade de Deus, que é o Senhor de yoga-māyā. Vendo isso, as pessoas ficaram alarmadas e pensaram que a dissolução do universo estava próxima.

VERSO 18: Ventos impetuosos começaram a soprar de todas as direções, espalhando a escuridão ocasionada pela poeira e pelas tempestades de granizo. Pedras eram arremessadas em rajadas para todos os lados, como se disparadas por metralhadoras.

VERSO 19: Os astros no espaço exterior desapareceram devido ao fato de o céu ter ficado coberto com massas de nuvens, que eram acompanhadas por raios e trovões. Do céu, chovia pus, cabelo, sangue, excremento, urina e ossos.

VERSO 20: Ó impecável Vidura, as montanhas despejaram armas de vários tipos, e demônias nuas, armadas com tridentes, apareceram com seus cabelos esvoaçantes.

VERSO 21: Declarações cruéis e selvagens eram proferidas por hostes de rufiões Yakṣas e Rākṣasas, que marchavam a pé ou andavam sobre cavalos, elefantes e quadrigas.

VERSO 22: O Senhor, o desfrutador pessoal de todos os sacrifícios, disparou, então, Sua amada Sudarśana, que foi capaz de dispersar as forças mágicas exibidas pelo demônio.

VERSO 23: Naquele mesmo instante, um arrepio percorreu subitamente o coração de Diti, a mãe de Hiraṇyākṣa. Ao recordar-se das palavras de Kaśyapa, seu esposo, sangue escorreu de seus seios.

VERSO 24 : Quando o demônio viu suas forças mágicas dissipadas, ele mais uma vez foi à presença da Personalidade de Deus, Keśava, e, cheio de fúria, tentou apertá-lO entre seus braços para esmagá-lO. No entanto, para sua grande surpresa, deu com o Senhor fora do círculo de seus braços.

VERSO 25: O demônio, então, começou a golpear o Senhor com seus punhos rígidos, mas o Senhor Adhokṣaja acertou-lhe um forte tapa no pé do ouvido, assim como Indra, o senhor dos Maruts, golpeou o demônio Vṛtra.

VERSO 26: Embora golpeado indiferentemente pelo Senhor, o conquistador de todos, o corpo do demônio começou a girar. Seus olhos saltaram de suas órbitas. Com braços e pernas quebrados e o cabelo desgrenhado, ele caiu morto, como uma gigantesca árvore arrancada pelo vento.

VERSO 27: Aja [Brahmā] e outros chegaram ao local para ver o demônio de medonhas presas caído ao chão, mordendo seus lábios. O brilho de seu rosto ainda não se apagara, e Brahmā disse com admiração: Oh! Quem poderia se encontrar com uma morte tão abençoada?

VERSO 28: Brahmā continuou: Ele foi chutado pelo Senhor, em quem meditam os yogīs, procurando libertar-se de seus corpos materiais irreais, em locais solitários, absortos em transe místico. Enquanto contemplava-Lhe o semblante, essa joia preciosa entre os filhos de Diti abandonou seu invólucro mortal.

VERSO 29: Tendo sido amaldiçoados, esses dois assistentes pessoais do Senhor Supremo foram destinados a nascer em famílias demoníacas. Após alguns desses nascimentos, voltarão a suas posições pessoais.

VERSO 30: Os semideuses disseram ao Senhor: Todas as reverências a Vós! Sois o desfrutador de todos os sacrifícios, e assumistes a forma de javali, em bondade pura, com o propósito de manter o mundo. Para nossa boa fortuna, este demônio, que era um tormento para os mundos, foi morto por Vós, e nós, portanto, ó Senhor, estamos agora à vontade, com devoção a Vossos pés de lótus.

VERSO 31: Śrī Maitreya continuou: Após matar assim o formidabilíssimo demônio Hiraṇyākṣa, o Supremo Senhor Hari, a origem da espécie dos javalis, retornou à Sua própria morada, onde sempre há um festival ininterrupto. O Senhor foi louvado por todos os semideuses, encabeçados por Brahmā.

VERSO 32: Maitreya continuou: Meu querido Vidura, acabo de narrar-te como a Personalidade de Deus fez Seu advento como a primeira encarnação de javali e como matou, numa grande luta, um demônio com poderes sem precedentes, como se ele não passasse de um brinquedo. Toda esta narração eu ouvi de meu mestre espiritual predecessor.

VERSO 33: Śrī Sūta Gosvāmī continuou: Meu querido brāhmaṇa, Kṣattā [Vidura], o grande devoto do Senhor, alcançou bem-aventurança transcendental por ouvir a narração dos passatempos da Suprema Personalidade de Deus de fonte autorizada, o sábio Kauṣārava [Maitreya], e ficou muito satisfeito.

VERSO 34: As pessoas podem obter prazer transcendental só por ouvirem sobre as obras e feitos dos devotos, cuja fama é imortal. O que dizer então, de ouvir os passatempos do Senhor, cujo peito é marcado com a Śrīvatsa?

VERSO 35: A Personalidade de Deus libertou o rei dos elefantes, quem, ao ser atacado por um crocodilo, meditou nos pés de lótus do Senhor. Naquela ocasião, as elefantas que o acompanhavam estavam chorando, e o Senhor as salvou do perigo iminente.

VERSO 36: Que alma grata não prestaria seu serviço amoroso a tão grande mestre como a Personalidade de Deus? O Senhor pode ser facilmente satisfeito por devotos imaculados que recorrem exclusivamente a Ele quando necessitados de proteção, embora os homens injustos achem difícil agradá-lO.

VERSO 37: Ó brāhmaṇas, qualquer pessoa que ouça, cante ou sinta prazer na maravilhosa narração da morte do demônio Hiraṇyākṣa pelo Senhor, que apareceu como o primeiro javali para salvar o mundo, alivia-se de imediato dos resultados de atividades pecaminosas, inclusive do ato de matar um brāhmaṇa

VERSO 38: Esta sacratíssima narrativa confere extraordinário mérito, riqueza, fama, longevidade e todos os objetos de nossos desejos. No campo de batalha, ela promove a força de nossos órgãos vitais e órgãos de ação. Aquele que a ouve no último momento de sua vida é transferido para a morada suprema do Senhor, ó querido Śaunaka.

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