Capítulo Onze
Svāyambhuva Manu Aconselha Dhruva Mahārāja a Parar de Lutar
VERSO 1: Śrī Maitreya disse: Meu querido Vidura, ao ouvir as palavras encorajadoras dos grandes sábios, Dhruva Mahārāja executou ācamana tocando na água e, então, pegou sua flecha feita pelo Senhor Nārāyaṇa e fixou-a em seu arco.
VERSO 2: Logo que Dhruva Mahārāja introduziu a flecha nārāyaṇāstra em seu arco, a ilusão criada pelos Yakṣas desapareceu de imediato, assim como todas as dores e prazeres materiais se extinguem quando alguém se conscientiza plenamente do eu.
VERSO 3: Ainda enquanto Dhruva Mahārāja fixava a arma feita por Nārāyaṇa Ṛṣi em seu arco, este já disparava flechas com hastes douradas e penas semelhantes às asas de um cisne. Elas penetravam os soldados inimigos sibilando muito sonoramente, assim como pavões entram em uma floresta produzindo um som tumultuoso.
VERSO 4: Aquelas flechas afiadas apavoraram os soldados inimigos, que ficaram quase inconscientes, mas vários Yakṣas no campo de batalha, enfurecidos com Dhruva Mahārāja, de alguma forma pegaram suas armas e atacaram-no. Assim como serpentes agitadas por Garuḍa rastejam em direção a Garuḍa com seus capelos erguidos, todos os soldados Yakṣas prepararam-se para derrotar Dhruva Mahārāja empunhando suas armas.
VERSO 5: Ao ver os Yakṣas adiantando-se, Dhruva Mahārāja imediatamente pegou suas flechas e despedaçou os inimigos. Separando seus braços, pernas, cabeças e estômagos de seus corpos, ele libertou os Yakṣas, transferindo-os para o sistema planetário que está situado acima do globo solar e que só pode ser alcançado por brahmacārīs de primeira classe, que nunca ejacularam sêmen.
VERSO 6: Ao ver que seu neto Dhruva Mahārāja estava matando tantos dos Yakṣas que não eram realmente ofensores, Svāyambhuva Manu, por sua grande compaixão, aproximou-se de Dhruva junto com grandes sábios para dar-lhe boas instruções.
VERSO 7: O senhor Manu disse: Meu querido filho, por favor, descontinua isso que fazes. Não é bom tornar-se desnecessariamente irado – esse é o caminho para a vida infernal. Agora estás transpondo os limites adequados, matando Yakṣas que, em verdade, não são ofensores.
VERSO 8: Meu querido filho, teres matado os Yakṣas inocentes é um ato inteiramente reprovado pelas autoridades, e não é digno de nossa família, que é tida como conhecedora das leis da religião e da irreligião.
VERSO 9: Meu querido filho, está provado que tens muita afeição por teu irmão e estás muito pesaroso pelo fato de ele ter sido morto pelos Yakṣas, mas considera isto: pela ofensa de um Yakṣa, mataste muitos outros, que são inocentes.
VERSO 10: Não se deve aceitar o corpo como o eu e assim, como os animais, matar os corpos alheios. Isso é especialmente proibido pelas pessoas santas, que seguem o caminho do serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 11: É muito difícil alcançar a morada espiritual de Hari, nos planetas Vaikuṇṭha, mas és tão afortunado que já estás destinado a ir àquela morada, adorando-O como a morada suprema de todas as entidades vivas.
VERSO 12: Por seres um devoto puro do Senhor, o Senhor está sempre pensando em ti, e também és reconhecido por todos os Seus devotos íntimos. Tua vida se destina a servir de exemplo. Portanto, estou surpreso – por que empreendeste um ato tão abominável?
VERSO 13: O Senhor fica muito satisfeito com Seu devoto quando o devoto acolhe outras pessoas com tolerância, misericórdia, amizade e equanimidade.
VERSO 14: Uma pessoa que realmente satisfaz a Suprema Personalidade de Deus durante sua vida liberta-se das condições materiais grosseiras e sutis. Livrando-se assim de todos os modos materiais da natureza, ela alcança ilimitada bem-aventurança espiritual.
VERSO 15: A criação do mundo material começa com os cinco elementos, de modo que tudo, inclusive o corpo de um homem ou de uma mulher, é criado a partir desses elementos. Através da vida sexual entre homem e mulher, o número de homens e mulheres neste mundo material aumenta cada vez mais.
VERSO 16: Manu continuou: Meu querido rei Dhruva, é simplesmente pela energia material ilusória da Suprema Personalidade de Deus e pela interação dos três modos da natureza material que ocorrem a criação, a manutenção e a aniquilação.
VERSO 17: Meu querido Dhruva, a Suprema Personalidade de Deus não é contaminada pelos modos da natureza material. Ele é a causa remota da criação desta manifestação cósmica material. Quando Ele proporciona o ímpeto, muitas outras causas e efeitos se produzem, e, dessa maneira, todo o universo se move, assim como a força integrada de um ímã faz o ferro se mover.
VERSO 18: A Suprema Personalidade de Deus, por meio de Sua inconcebível energia suprema, o tempo, provoca a interação dos três modos da natureza material e, dessa forma, variedades de energia se manifestam. Parece que Ele age, mas Ele não é o agente. Ele mata, mas não é o matador. Assim, compreende-se que é somente por Seu poder inconcebível que tudo acontece.
VERSO 19: Meu querido Dhruva, a Suprema Personalidade de Deus existe eternamente, mas, sob a forma do tempo, Ele é o matador de tudo. Ele não tem começo, embora seja o começo de tudo, tampouco Ele Se esgota em algum momento, embora tudo se esgote no devido curso do tempo. As entidades vivas são criadas por intermédio do pai e mortas por intermédio da morte, mas Ele está perpetuamente livre do nascimento e da morte.
VERSO 20: A Suprema Personalidade de Deus, sob Seu aspecto do tempo eterno, está presente no mundo material e é neutro em relação a todos. Ninguém é Seu aliado, e ninguém é Seu inimigo. Dentro da jurisdição do elemento tempo, todos desfrutam ou sofrem o resultado de seu próprio karma, ou atividades fruitivas. Assim como, quando o vento sopra, pequenas partículas de poeira voam no ar, do mesmo modo, segundo nosso karma específico, sofremos ou gozamos da vida material.
VERSO 21: A Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, é todo-poderosa, e concede os resultados de nossas atividades fruitivas. Assim, embora a duração de vida de uma entidade viva seja muito pequena, ao passo que a de outra é muito grande, Ele sempre está em Sua posição transcendental, e não há possibilidade de Sua duração de vida diminuir ou aumentar.
VERSO 22: A distinção entre variedades de vida e suas condições de sofrimento e prazer são explicadas por alguns como sendo resultado do karma. Outros dizem que se devem à natureza, outros ao tempo, outros ao destino, e ainda outros dizem que tudo se deve ao desejo.
VERSO 23: A Verdade Absoluta, a Transcendência, jamais Se sujeita ao entendimento do esforço sensório imperfeito, tampouco Se sujeita à experiência direta. Ele é o senhor de variedades de energias, como a energia material plena, e ninguém pode entender Seus planos e ações; portanto, deve-se concluir que, embora Ele seja a causa original de todas as causas, ninguém pode conhecê-lO através da especulação mental.
VERSO 24: Meu querido filho, aqueles Yakṣas, que são descendentes de Kuvera, não são realmente os matadores de teu irmão; o nascimento e a morte de cada entidade viva são causados pelo Supremo, que é certamente a causa de todas as causas.
VERSO 25: A Suprema Personalidade de Deus cria este mundo material, o mantém e o aniquila no devido curso do tempo, mas, como Ele é transcendental a essas atividades, nunca é afetado pelo ego em tal ação ou pelos modos da natureza material.
VERSO 26: A Suprema Personalidade de Deus é a Superalma de todas as entidades vivas. Ele é o controlador e mantenedor de todos; por intermédio de Sua energia externa, Ele cria, mantém e aniquila a todos.
VERSO 27: Dhruva, Meu caro menino, por favor, rende-te à Suprema Personalidade de Deus, que é a meta última do progresso do mundo. Todos, incluindo os semideuses encabeçados pelo senhor Brahmā, trabalham sob Seu controle, assim como um touro, puxado por uma corda amarrada em seu focinho, é controlado por seu dono.
VERSO 28: Meu querido Dhruva, com apenas cinco anos de idade, foste muito dolorosamente afligido pelas palavras da co-esposa de tua mãe, e bem audaciosamente abandonaste a proteção de tua mãe e foste para a floresta a fim de te ocupares no processo ióguico de compreensão da Suprema Personalidade de Deus. Como resultado disso, já alcançaste a mais elevada posição em todos os três mundos.
VERSO 29: Meu querido Dhruva, portanto, por favor, volta tua atenção para a Pessoa Suprema, que é o Brahman infalível. Volta-te para a Suprema Personalidade de Deus em tua posição original, e assim, através da autorrealização, observarás que esta distinção material é meramente oscilante.
VERSO 30: Recuperando assim tua posição natural e prestando serviço ao Senhor Supremo, que é o reservatório todo-poderoso de todo prazer e que vive em todas as entidades vivas como a Superalma, muito em breve te esquecerás da compreensão ilusória de “eu” e “meu”.
VERSO 31: Meu querido rei, simplesmente considera o que acabo de te dizer, o que agirá como um tratamento médico sobre a doença. Controla tua ira, pois a ira é o principal inimigo no caminho da compreensão espiritual. Desejo-te toda a boa fortuna. Por favor, segue minhas instruções.
VERSO 32: Uma pessoa que deseja libertar-se deste mundo material não deve cair sob o controle da ira, porque, quando confundida pela ira, ela se torna uma fonte de temor para todas as outras.
VERSO 33: Meu querido Dhruva, pensaste que os Yakṣas mataram teu irmão e, em razão disso, mataste muitos deles. Mas, agindo assim, agitaste a mente de Kuvera, o irmão do senhor Śiva e tesoureiro dos semideuses. Por favor, observa que tuas ações foram muito desrespeitosas a Kuvera e ao senhor Śiva.
VERSO 34: Por essa razão, meu filho, deves imediatamente apaziguar Kuvera com palavras amáveis e orações, e assim sua ira talvez não afete a nossa família.
VERSO 35: Assim, Svāyambhuva Manu, após dar suas instruções a Dhruva Mahārāja, seu neto, recebeu respeitosas reverências deste. Em seguida, o senhor Manu e os grandes sábios voltaram aos seus respectivos lares.