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Capítulo Cinco

Conversas de Vidura com Maitreya

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Vidura, ο melhor dentre a dinastia Kuru, que era perfeito no serviço devocional ao Senhor, chegou assim à nascente do celestial rio Ganges [Hardwar], onde Maitreya, ο grandioso, insondável e erudito sábio do mundo, estava sentado. Vidura, que era perfeito na brandura e estava satisfeito com a transcendência, perguntou-lhe.

VERSO 2: Vidura disse: Ó grande sábio, todos neste mundo ocupam-se em atividades fruitivas para atingir a felicidade, mas ninguém encontra a saciedade nem a mitigação da aflição. Pelo contrário, essas atividades só fazem por exasperar a todos. Portanto, por favor, dá-nos orientações sobre como devemos viver para atingir a verdadeira felicidade.

VERSO 3: Ó meu senhor, grandes almas filantrópicas viajam pela Terra em nome da Suprema Personalidade de Deus para mostrar compaixão pelas almas caídas que são avessas ao sentimento de subordinação ao Senhor.

VERSO 4: Por isso, ó grande sábio, instrui-me, por favor, sobre ο transcendental serviço devocional ao Senhor, para que aquele que está situado no coração de todos possa ter prazer em comunicar internamente ο conhecimento da Verdade Absoluta em termos dos antigos princípios védicos que são transmitidos somente àqueles que se purificam pelo processo do serviço devocional.

VERSO 5: Ó grande sábio, narra, por favor, como a Suprema Personalidade de Deus, que é ο Senhor independente e sem desejos dos três mundos e ο controlador de todas as energias, aceita encarnações e cria a manifestação cósmica com princípios reguladores dispostos perfeitamente para sua manutenção.

VERSO 6: Ele Se deita em Seu próprio coração estendido sob a forma do céu, e, colocando assim toda a criação nesse espaço, Ele Se expande em muitas entidades vivas, que se manifestam como diferentes espécies de vida. Ele não tem que Se esforçar para Sua manutenção, porque Ele é ο senhor de todos os poderes místicos e ο proprietário de todas as coisas. Assim, Ele é distinto das entidades vivas.

VERSO 7: Narra, também, sobre as auspiciosas características do Senhor em Suas diferentes encarnações para ο bem-estar dos duas vezes nascidos, das vacas e dos semideuses. Nossas mentes nunca se satisfazem por completo, apesar de ouvirmos continuamente sobre Suas atividades transcendentais.

VERSO 8: Ο Rei Supremo de todos os reis cria diferentes planetas e locais de habitação onde as entidades vivas se situam de acordo com os modos da natureza e ο trabalho, e cria seus diferentes reis e governantes.

VERSO 9: Ó principal entre os brāhmaṇas, por favor, descreve também como Nārāyaṇa, ο criador do universo e ο Senhor autossuficiente, cria diferentemente as naturezas, atividades, formas, características e nomes das diferentes criaturas vivas.

VERSO 10: Ó meu senhor, tenho ouvido repetidamente da boca de Vyāsadeva sobre esses status superiores e inferiores da sociedade humana, e estou completamente saciado de todos esses temas menores e sua felicidade. Eles não me satisfizeram com ο néctar dos tópicos sobre Kṛṣṇa.

VERSO 11: Quem na sociedade humana pode ficar satisfeito em ouvir conversas suficientes sobre ο Senhor, cujos pés de lótus são a soma total de todos os locais de peregrinação e que é adorado por grandes sábios e devotos? Esses tópicos podem cortar nosso cativeiro à afeição familiar simplesmente por entrarem nos orifícios de nossos ouvidos.

VERSO 12: Teu amigo, ο grande sábio Kṛṣṇa-dvaipāyana Vyāsa, já descreveu as qualidades transcendentais do Senhor em sua grande obra, ο Mahābhārata. A ideia, contudo, é atrair a atenção da massa popular para ο kṛṣṇa-kathā [Bhagavad-gītā] através de sua forte afinidade por ouvir tópicos mundanos.

VERSO 13: Para aquele que está ansioso por se ocupar constantemente em ouvir estes tópicos, ο kṛṣṇa-kathā gradualmente aumenta sua indiferença por todas as outras coisas. Essa lembrança constante dos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa por parte do devoto que atingiu a bem-aventurança transcendental subjuga todos os seus sofrimentos sem demora.

VERSO 14: Ó sábio, os que são dignos de compaixão apiedam-se das pessoas que, por causa de suas atividades pecaminosas, são avessas aos tópicos sobre a Transcendência e que, deste modo, ignoram ο propósito do Mahābhārata [a Bhagavad-gītā]. Eu também me apiedo delas porque vejo sua duração de vida sendo arruinada pelo tempo eterno enquanto elas se envolvem com apresentações de especulações filosóficas, teóricas metas últimas de vida e diferentes tipos de rituais.

VERSO 15: Ó Maitreya, ó amigo dos aflitos, somente as glórias do Senhor Supremo podem fazer ο bem para as pessoas em todo ο mundo. Por isso, assim como as abelhas colhem ο mel das flores, por favor, descreve a essência de todos os tópicos – os tópicos do Senhor.

VERSO 16: Por favor, canta todas essas transcendentais atividades sobre-humanas do supremo controlador, a Personalidade de Deus, que aceitou encarnações totalmente providas com toda potência para a completa manifestação e manutenção da criação cósmica.

VERSO 17: Śukadeva Gosvāmī disse: Ο grande sábio Maitreya Muni, depois de muito honrar Vidura, começou a falar, a pedido de Vidura, para ο bem-estar máximo de todas as pessoas.

VERSO 18: Śrī Maitreya disse: Ó Vidura, todas as glórias a ti. Perguntaste-me sobre a maior de todas as bondades, e assim mostraste tua misericórdia tanto para com ο mundo quanto para comigo, porque tua mente está sempre absorta nos pensamentos da Transcendência.

VERSO 19: Ó Vidura, não é nada surpreendente que tenhas aceitado ο Senhor assim sem desviar ο pensamento, pois nasceste do sêmen de Vyāsadeva.

VERSO 20: Sei que agora és Vidura devido à maldição de Māṇḍavya Muni e que anteriormente foste ο rei Yamarāja, ο grande controlador das entidades vivas após sua morte. Foste gerado pelo filho de Satyavatī, Vyāsadeva, na esposa amasiada do irmão dele.

VERSO 21: Vossa graça é um dos companheiros eternos da Suprema Personalidade de Deus, e, por atenção a vossa graça, ο Senhor, enquanto regressava à Sua morada, deixou instruções comigo.

VERSO 22: Portanto, descreverei para ti os passatempos através dos quais a Personalidade de Deus estende Sua potência transcendental para a criação, a manutenção e a dissolução do mundo cósmico da forma como ocorrem, um após ο outro.

VERSO 23: A Personalidade de Deus, ο Senhor de todas as entidades vivas, existia antes da criação como ο único e inigualável. É apenas por Sua vontade que a criação se torna possível e novamente tudo se funde nEle. Esse Eu Supremo é sintomatizado por diferentes nomes.

VERSO 24: Ο Senhor, ο proprietário indiscutível de todas as coisas, era ο único que via. A manifestação cósmica não estava presente naquela época, de modo que Ele Se sentiu imperfeito sem Suas partes integrantes plenárias e separadas. A energia material estava adormecida, ao passo que a potência interna estava manifesta.

VERSO 25: O Senhor é aquele que vê, e a energia externa, que é vista, funciona tanto como a causa quanto como ο efeito na manifestação cósmica. Ó afortunadíssimo Vidura, esta energia externa é conhecida como māyā, ou ilusão, e é somente através de sua atuação que toda a manifestação material se torna possível.

VERSO 26: Ο Ser Vivo Supremo, sob Seu aspecto de encarnação puruṣa transcendental, que é a expansão plenária do Senhor, fecunda a natureza material com seus três modos, e assim, pela influência do tempo eterno, as entidades vivas aparecem.

VERSO 27: Depois disso, influenciada pelas interações do tempo eterno, manifestou-se a suprema soma total de matéria chamada de ο mahat-tattva, e, nesse mahat-tattva, a bondade imaculada, ο Senhor Supremo, semeou as sementes da manifestação universal geradas de Seu próprio corpo.

VERSO 28: Em seguida, ο mahat-tattva diferenciou-se em muitas formas distintas como ο reservatório das futuras entidades. Ο mahat-tattva está principalmente no modo da ignorância e gera ο falso ego. Ele é uma expansão plenária da Personalidade de Deus, com total consciência dos princípios criadores e do tempo para a frutificação.

VERSO 29: Ο mahat-tattva, ou a grande verdade causal, transforma-se no falso ego, ο qual se manifesta em três fases – a causa, ο efeito e ο executor. Todas essas atividades estão no plano mental e baseiam-se nos elementos materiais, nos sentidos grosseiros e na especulação mental. Ο falso ego é representado em três modos diferentes – bondade, paixão e ignorância.

VERSO 30: Ο falso ego se transforma na mente pela interação com ο modo da bondade. Todos os semideuses que controlam ο mundo fenomenal também são produtos do mesmo princípio, a saber, a interação do falso ego com ο modo da bondade.

VERSO 31: Os sentidos são certamente produtos do modo da paixão no falso ego, e, em razão disso, ο conhecimento filosófico especulativo e as atividades fruitivas são predominantemente produtos do modo da paixão.

VERSO 32: Ο céu é um produto do som, e ο som é a transformação da paixão egoísta. Em outras palavras, ο céu é a representação simbólica da Alma Suprema.

VERSO 33: Depois disso, a Personalidade de Deus lançou para ο céu ο Seu olhar, parcialmente misturado com ο tempo eterno e a energia externa, e, dessa maneira, desenvolveu-se a sensação do tato, da qual foi produzido ο ar no céu.

VERSO 34: Depois disso, ο ar extremamente poderoso, interagindo com ο céu, gerou a forma da percepção dos sentidos, e a percepção da forma transformou-se em eletricidade, a luz para ver ο mundo.

VERSO 35: Quando a eletricidade se condensou no ar e ο Supremo lançou Seu olhar para ela, nesse momento, por uma mistura do tempo eterno com a energia externa, ocorreu a criação da água e do sabor.

VERSO 36: Depois disso, a Suprema Personalidade de Deus lançou Seu olhar sobre a água produzida pela eletricidade, e essa água misturou-se com ο tempo eterno e a energia externa. Assim, ela se transformou na terra, que é identificada fundamentalmente pelo odor.

VERSO 37: Ó cavalheiro, de todos os elementos físicos, começando do céu e descendo até a terra, todas as qualidades inferiores e superiores devem-se apenas ao toque final do olhar da Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 38: As deidades controladoras de todos os elementos físicos supramencionados são expansões do Senhor Viṣṇu dotadas de poder. Elas são corporificadas pelo tempo eterno sob a influência da energia externa, e são Suas partes integrantes. Por terem sido incumbidas de diferentes funções dos deveres universais e não terem sido capazes de executá-las, elas (as deidades controladoras) ofereceram fascinantes orações ao Senhor como se segue.

VERSO 39: Os semideuses disseram: Ó Senhor, Vossos pés de lótus são como um guarda-chuva para as almas rendidas, que as protege de todos os sofrimentos da existência material. Todos os sábios sob esse abrigo se livram de todos os sofrimentos materiais. Por isso, oferecemos nossas respeitosas reverências a Vossos pés de lótus.

VERSO 40: Ó Pai, ó Senhor, ó Personalidade de Deus, as entidades vivas no mundo material nunca podem ter nenhuma felicidade porque são oprimidas pelos três tipos de sofrimentos. Por isso, elas se refugiam à sombra de Vossos pés de lótus, que são plenos de conhecimento, e assim nós também nos refugiamos neles.

VERSO 41: Os pés de lótus do Senhor são, por si mesmos, ο refúgio de todos os locais de peregrinação. Os sábios grandiosos e esclarecidos, transportados pelas asas dos Vedas, sempre buscam o ninho do Vosso rosto de lótus. Alguns deles se rendem a Vossos pés de lótus a cada passo, refugiando-se no melhor dos rios [ο Ganges], o qual pode salvar-nos de todas as reações pecaminosas.

VERSO 42: Simplesmente por ouvir sobre Vossos pés de lótus com avidez e devoção e por meditar neles dentro do coração, uma pessoa ilumina-se de imediato com conhecimento, e, em virtude do desapego, ela se tranquiliza. Devemos, portanto, refugiar-nos no santuário de Vossos pés de lótus.

VERSO 43: Ó Senhor, Vós assumis encarnações para a criação, a manutenção e a dissolução da manifestação cósmica, e, em razão disso, todos nós nos refugiamos a Vossos pés de lótus, visto que eles sempre propiciam a lembrança e a coragem para Vossos devotos.

VERSO 44: Ó Senhor, as pessoas que estão enredadas pela indesejável ansiedade do corpo temporário e dos parentes, e que estão atadas a pensamentos de “meu” e “eu”, não são capazes de ver Vossos pés de lótus, apesar de Vossos pés de lótus estarem situados dentro de seus próprios corpos. Apesar disso, dai-nos a permissão de nos refugiarmos a Vossos pés de lótus.

VERSO 45: Ó grandioso Senhor Supremo, as pessoas ofensoras cuja visão interna tem sido demasiadamente afetada por atividades materialistas externas não podem ver Vossos pés de lótus, mas eles são vistos por Vossos devotos puros, cujo único objetivo é desfrutar transcendentalmente de Vossas atividades.

VERSO 46: Ó Senhor, as pessoas que, por causa de sua atitude séria, chegam ao estágio do serviço devocional imaculado alcançam ο completo da renúncia e do conhecimento e atingem ο Vaikuṇṭhaloka no céu espiritual simplesmente por beberem ο néctar de Vossos tópicos.

VERSO 47: Os outros, que se tranquilizam por meio da autorrealização transcendental e subjugam os modos da natureza em virtude de um poder e conhecimento sólidos, também entram em Vós, mas, para eles, é muito doloroso, ao passo que ο devoto simplesmente executa serviço devocional e, deste modo, não sente nenhuma dor.

VERSO 48: Portanto, ó Pessoa Original, não somos nada mais do que Vossa propriedade. Apesar de sermos Vossas criaturas, nascemos, um após ο outro, sob a influência dos três modos da natureza e, por esse motivo, agimos separadamente. Assim, após a criação, não pudemos agir harmoniosamente para Vosso prazer transcendental.

VERSO 49: Ó não-nascido, por favor, esclarecei-nos a respeito dos processos e meios pelos quais possamos oferecer-Vos todos os grãos e objetos desfrutáveis para que tanto nós quanto todas as outras entidades vivas neste mundo possamos nos manter sem perturbaçãο e possamos facilmente acumular as necessidades da vida tanto para Vós quanto para nós mesmos.

VERSO 50: Vós sois ο original criador pessoal de todos os semideuses e das ordens de diferentes gradações, apesar do que sois ο mais velho e sois imutável. Ó Senhor, não tendes origem ou superior. Fecundastes a energia externa com ο sêmen da totalidade das entidades vivas e, não obstante, sois não-nascido.

VERSO 51: Ó Eu Supremo, por favor, concedei a nós, que fomos criados no começo do mahat-tattva, a energia cósmica total, Vossas amáveis orientações sobre como devemos agir. Por favor, concedei-nos Vosso conhecimento perfeito e potência para que possamos prestar-Vos serviço nos diferentes setores da criação subsequente.

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