No edit permissions for Português

CAPÍTULO VINTE

A Dinastia de Pūru

Este capítulo descreve a história de Pūru e de seu descendente Duṣmanta. O filho de Pūru foi Janamejaya, cujo filho foi Pracinvān. Os filhos e netos na linha de Pracinvān foram, sucessivamente, Pravīra, Manusyu, Cārupada, Sudyu, Bahugava, Saṁyāti, Ahaṁyāti e Raudrāśva. Raudrāśva teve dez filhos – Ṛteyu, Kakṣeyu, Sthaṇḍileyu, Kṛteyuka, Jaleyu, Sannateyu, Dharmeyu, Satyeyu, Vrateyu e Vaneyu. O filho de Ṛteyu foi Rantināva, que teve três filhos – Sumati, Dhruva e Apratiratha. O filho de Apratiratha foi Kaṇva, e o filho deste foi Medhātithi. Os filhos de Medhātithi, encabeçados por Praskanna, eram todos brāhmaṇas. O filho de Rantināva chamado Sumati teve um filho chamado Rebhi, cujo filho foi Duṣmanta.

Enquanto caçava na floresta, Duṣmanta, certa vez, aproximou-se do āśrama de Mahārṣi Kaṇva, onde viu uma mulher extremamente bela e sentiu-se atraído por ela. Aquela mulher era a filha de Viśvāmitra, e seu nome era Śakuntalā. Sua mãe era Menakā, que a deixara na floresta, onde Kaṇva Muni a encontrou. Kaṇva Muni levou-a para o seu āśrama, onde a criou e cuidou de sua manutenção. Quando Śakun­talā aceitou Mahārāja Duṣmanta como seu esposo, ele a desposou de acordo com o gāndharva-vidhi. Mais tarde, o esposo de Śakun­talā engravidou-a, deixou-a no āśrama de Kaṇva Muni e retornou ao seu reino.

No decorrer do tempo, Śakuntalā deu à luz um filho vaiṣṇava, mas Duṣmanta, tendo regressado à capital, esqueceu-se do que acon­tecera. Por conseguinte, quando Śakuntalā se aproximou dele com o filho recém-nascido, Mahārāja Duṣmanta recusou-se a aceitá-los como es­posa e filho. Mais tarde, entretanto, após uma misteriosa revelação, o rei os aceitou. Depois da morte de Mahārāja Duṣmanta, Bharata, o filho de Śakuntalā, foi levado ao trono. Ele realizou muitos sacrifícios grandiosos, nos quais deu muitas riquezas em caridade aos brāhmaṇas. No final, esse capítulo descreve o nascimento de Bhara­dvāja e narra como Mahārāja Bharata aceitou Bharadvāja como seu filho.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Ó Mahārāja Parīkṣit, descendente de Mahārāja Bharata, agora descreverei a dinastia de Pūru, na qual nasceste, na qual apareceram muitos reis santos, e da qual surgiram muitas dinastias de brāhmaṇas.

VERSO 2: O rei Janamejaya nasceu na dinastia de Pūru. O filho de Janamejaya foi Pracinvān, cujo filho foi Pravīra. Depois, o filho de Pra­vīra foi Manusyu, e, de Manusyu, veio o filho chamado Cārupada.

VERSO 3: O filho de Cārupada foi Sudyu, e o filho de Sudyu foi Bahugava. O filho de Bahugava foi Saṁyāti. De Saṁyāti, veio um filho chamado Ahaṁyāti, de quem nasceu Raudrāśva.

VERSOS 4-5: Raudrāśva teve dez filhos, chamados Ṛteyu, Kakṣeyu, Sthaṇḍileyu, Kṛteyuka, Jaleyu, Sannateyu, Dharmeyu, Satyeyu, Vrateyu e Vaneyu. Desses dez filhos, Vaneyu era o mais novo. Assim como os dez sen­tidos, que são produzidos da vida universal, agem sob o controle da vida, esses dez filhos de Raudrāśva agiam sob o controle completo de Raudrāśva. Todos nasceram da Apsarā chamada Ghṛtācī.

VERSO 6: Ṛteyu teve um filho chamado Rantināva, que, por sua vez, teve três filhos, chamados Sumati, Dhruva e Apratiratha. Apratiratha teve apenas um filho, cujo nome era Kaṇva.

VERSO 7: O filho de Kaṇva foi Medhātithi, cujos filhos, todos brāhmaṇas, eram encabeçados por Praskanna. O filho de Rantināva chamado Sumati teve um filho chamado Rebhi. Mahārāja Duṣmanta é famoso como filho de Rebhi.

VERSOS 8-9: Certa vez, quando foi caçar na floresta e estava muito fatigado, o rei Duṣmanta aproximou-se da residência de Kaṇva Muni. Ali, ele viu uma belíssima mulher, que parecia exatamente a deusa da fortuna; ela estava sentada, iluminando todo o āśrama com sua refulgência. O rei sentiu uma natural atração por sua beleza e, portanto, acompanhado de alguns de seus soldados, acercou-se dela e falou-lhe as seguintes palavras.

VERSO 10: Vendo a bela mulher, o rei ficou muito revigorado, e a fadiga decorrente de sua caçada foi mitigada. Evidentemente, sentiu-se muito atraído devido aos desejos luxuriosos e, em razão disso, numa atitude jovial, indagou-lhe o seguinte.

VERSO 11: Ó bela mulher de olhos de lótus, quem és? De quem és filha? O que te traz a esta floresta solitária? Por que estás aqui?

VERSO 12: Ó belíssima donzela, minha mente acredita que és filha de um kṣatriya. Como pertenço à dinastia Pūru, minha mente nunca procura ter prazeres irreligiosos.

VERSO 13: Śakuntalā disse: Sou filha de Viśvāmitra. Minha mãe, Menakā, deixou-me na floresta. Ó herói, o poderosíssimo santo Kaṇva Muni sabe de tudo isso. Agora, dize-me: Como posso servir-te.

VERSO 14: Ó rei cujos olhos se assemelham às pétalas de um lótus, por favor, vem sentar-te e aceita a recepção que podemos oferecer-te. Temos um suprimento de arroz nīvārā que gentilmente podes comer. E se assim o desejares, não hesites em ficar aqui.

VERSO 15: O rei Duṣmanta respondeu: Ó Śakuntalā de belas sobrancelhas, nasceste na família do grande santo Viśvāmitra, e tua recepção mostra a dignidade da tua família. Além disso, as filhas de um rei geral­mente escolhem seus próprios esposos.

VERSO 16: Depois que respondeu à proposta de Mahārāja Duṣmanta com si­lêncio, Śakuntalā selou o acordo. Então, o rei, que conhecia as leis do casamento, imediatamente a desposou, cantando o praṇava védico [oṁkāra], de acordo com a cerimônia matrimonial que é realizada entre os Gandharvas.

VERSO 17: O rei Duṣmanta, que nunca ejaculara sem produzir um resultado, certa noite depositou seu sêmen no ventre de sua rainha, Śakuntalā, e retornou ao seu palácio na manhã seguinte. Depois, chegado o devido tempo, Śakuntalā deu à luz um filho.

VERSO 18: Na floresta, Kaṇva Muni realizou todas as cerimônias ritualísticas em benefício da criança recém-nascida. Mais tarde, o menino se tornou­ tão poderoso que capturava um leão e brincava com ele.

VERSO 19: Śakuntalā, a melhor das belas mulheres, juntamente com seu filho, cuja força era imbatível e o qual era uma expansão parcial da Divin­dade Suprema, aproximou-se de seu esposo, Duṣmanta.

VERSO 20: Quando o rei se recusou a aceitar sua esposa e seu filho, que eram ambos irrepreensíveis, uma voz ecoou do céu, como um testemunho, e foi ouvida por todos os presentes.

VERSO 21: A voz disse: Ó Mahārāja Duṣmanta, o filho, na verdade, pertence ao seu pai, ao passo que a mãe é apenas o recipiente, como o revestimento de um fole. De acordo com os preceitos védicos, o pai nasce como o filho. Portanto, fica com teu filho e não insultes Śakuntalā.

VERSO 22: Ó rei Duṣmanta, aquele que expele o sêmen é o verdadeiro pai, e seu filho liberta-o da custódia de Yamarāja. És o verdadeiro procriador dessa criança. De fato, Śakuntalā está dizendo a verdade.

VERSO 23: Śukadeva Gosvāmī disse: Quando Mahārāja Duṣmanta partiu desta Terra, seu filho se tornou o imperador do mundo, o proprietário das sete ilhas. Ele é tido como uma representação parcial da Suprema Personalidade de Deus neste mundo.

VERSOS 24-26: Mahārāja Bharata, o filho de Duṣmanta, tinha na palma de sua mão direita a marca do disco do Senhor Kṛṣṇa, e tinha, nas solas de seus pés, a marca do verticilo de um lótus. Adorando a Suprema Personalidade de Deus com uma grandiosa cerimônia ritualística, ele se tornou o imperador e mestre do mundo inteiro. Depois, sob o sacerdócio de Māmateya, Bhṛgu Muni, ele realizou cinquenta e cinco sacrifícios de cavalo às margens do Ganges, começando em sua desembocadura e terminando em sua nascente, e setenta e oito sacrifícios de cavalo às margens do Yamunā, começando na confluên­cia em Prayāga e terminando na nascente. Ele estabeleceu o fogo sacrificatório em um lugar excelente, e distribuiu grande riqueza aos brāhmaṇas. Na verdade, ele distribuiu tantas vacas que cada um dos milhares de brāhmaṇas recebeu um badva [13.084] como sua respectiva parte.

VERSO 27: Bharata, o filho de Mahārāja Duṣmanta, amarrou três mil e trezentos cavalos para aqueles sacrifícios, de modo que deixou atônitos todos os outros reis. Ele suplantou até mesmo a opulência dos semi­deuses, pois alcançou o supremo mestre espiritual, Hari.

VERSO 28: Ao executar o sacrifício conhecido como Maṣṇāra [ou um sacrifí­cio no lugar denominado Maṣṇāra], Mahārāja Bharata deu em cari­dade um milhão e quatrocentos mil excelentes elefantes, com presas brancas e corpos negros, inteiramente cobertos de enfeites de ouro.

VERSO 29: Assim como ninguém pode aproximar-se dos planetas celestiais recorrendo apenas a seus braços (pois quem pode tocar os planetas celestiais com suas mãos?), ninguém pode imitar as maravilhosas atividades de Mahārāja Bharata. Ninguém foi capaz de realizar tais atividades no passado, tampouco alguém o conseguirá no futuro.

VERSO 30: Ao sair numa jornada, Mahārāja Bharata derrotou ou matou todos os Kirātas, Hūṇas, Yavanas, Pauṇḍras, Kaṅkas, Khaśas, Śakas e os reis que se opunham aos princípios védicos da cultura bramânica.

VERSO 31: Anteriormente, após derrotarem os semideuses, todos os demônios haviam se refugiado no sistema planetário inferior conhecido como Rasātala, para onde também levaram todas as esposas e filhas dos semideuses. Mahārāja Bharata, entretanto, libertou das garras dos demônios todas aquelas mulheres, juntamente com suas associa­das, e as devolveu aos semideuses.

VERSO 32: Por vinte e sete mil anos, Mahārāja Bharata proveu de todas as necessidades os seus súditos, tanto nesta Terra quanto nos planetas celestiais. Ele fez circularem suas ordens e distribuiu seus soldados em todas as direções.

VERSO 33: Como governante de todo o universo, o imperador Bharata tinha as opulências de um grande reino e dispunha de soldados imbatíveis. Seus filhos e família pareciam-lhe ser toda a sua vida. Por fim, entretanto, ele considerou tudo isso um impedimento ao avanço espiritual, de modo que parou de desfrutar disso.

VERSO 34: Ó rei Parīkṣit, Mahārāja Bharata tinha três agradáveis esposas, que eram filhas do rei de Vidarbha. Depois que todas as três geraram filhos que não se pareciam com o rei, essas esposas pensaram que ele iria considerá-las rainhas infiéis e iria rejeitá-las, motivo pelo qual mataram seus próprios filhos.

VERSO 35: O rei, assim frustrado em sua tentativa de formar uma progênie, realizou um sacrifício chamado marut-stoma para obter um filho. Os semideuses conhecidos como Maruts, estando plenamente satisfeitos com ele, presentearam-no, então, com um filho chamado Bharadvāja.

VERSO 36: Ao sentir-se atraído por Mamatā, a esposa de seu irmão, que na ocasião estava grávida, o semideus chamado Bṛhaspati desejou ter relações sexuais com ela. O filho dentro do ventre dela proibiu isso, mas Bṛhaspati o amaldiçoou e, à força, introduziu sêmen no ventre de Mamatā.

VERSO 37: Mamatā muito temeu ser abandonada pelo seu esposo ao dar à luz um filho ilegítimo e, portanto, pensou em abandonar a criança. Nesse momento, entretanto, os semideuses solucionaram o problema, dando um nome à criança.

VERSO 38: Bṛhaspati disse a Mamatā: “Mulher tola! Embora tenhas gerado esta criança por intermédio do sêmen de um homem que não era teu esposo, deves mantê-la.” Ao ouvir isso, Mamatā respondeu: “Ó Bṛhaspati, este dever é teu!” Após esse diálogo, Bṛhaspati e Mamatā partiram. Assim, a criança ficou conhecida como Bhara­dvāja.

VERSO 39: Embora encorajada pelos semideuses a manter a criança, Mamatā considerou-a imprestável devido ao seu nascimento ilícito, de modo que a deixou. Consequentemente, os semideuses conhecidos como Ma­ruts mantiveram a criança, e, quando Mahārāja Bharata se mostrou desa­pontado por não ter filhos, ela lhe foi dada como filho.

« Previous Next »