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Capítulo Cinco

As Atividades de Sākṣi-gopāla

Em seu Amṛta-pravāha-bhāṣya, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura apresenta o seguinte resumo do quinto capítulo: depois de passar por Yājapura, Śrī Caitanya Mahāprabhu alcançou a cidade de Kaṭaka (Cuttack), onde foi visitar o templo de Sākṣi-gopāla. Enquanto esteve ali, ouviu da boca de Śrī Nityānanda Prabhu a história de Sākṣi-gopāla.

Certa vez, havia dois brāhmaṇas, um idoso e outro jovem. Ambos eram habitantes de um local conhecido como Vidyānagara. Após visitar muitos locais de peregrinação, os dois brāhmaṇas, por fim, chegaram a Vṛndāvana. O brāhmaṇa idoso ficou muito satisfeito com o serviço do brāhmaṇa jovem e, por isso, quis oferecer-lhe sua filha caçula em casamento. O brāhmaṇa jovem recebeu a promessa do brāhmaṇa idoso perante a Deidade de Gopāla em Vṛndāvana. Assim, a Deidade de Gopāla agiu como testemunha. Ao regressarem os dois brāhmaṇas a Vidyānagara, o brāhmaṇa jovem levantou a questão desse casamento, mas o brāhmaṇa idoso, devido às obrigações para com seus amigos e esposa, respondeu que não conseguia lembrar-se de sua promessa. Por causa disso, o brāhmaṇa jovem voltou a Vṛndāvana e narrou toda a história para Gopālajī. Desta maneira, Gopālajī, sentindo-Se grato ao serviço devocional do brāhmaṇa jovem, acompanhou-o até o sul da Índia. Gopālajī seguiu o brāhmaṇa jovem, que podia ouvir o tilintar dos sinos de tornozelo de Gopālajī. Ao reunirem-se todos os cavalheiros respeitáveis de Vidyānagara, Gopālajī confirmou a promessa feita pelo brāhmaṇa idoso ao brāhmaṇa jovem. Desta forma, realizou-se o casamento. Mais tarde, o rei daquela terra construiu um lindo templo para Gopāla.

Em outra ocasião, o rei de Kaṭaka insultou o rei Puruṣottama-deva, da Orissa, recusando-se a lhe dar sua filha em casamento e o chamando de varredor de rua do Senhor Jagannātha. Com o auxílio do Senhor Jagannātha, o rei Puruṣottama lutou com o rei de Kaṭaka e o derrotou. Deste modo, encarregou-se tanto da filha do rei quanto do estado de Kaṭaka. Naquela época, Gopālajī, estando muito agradecido pelo serviço devocional do rei Puruṣottama, deixou-Se trazer para a cidade de Kaṭaka.

Após ouvir esta narração, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo de Gopāla em grande êxtase de amor a Deus. De Kaṭaka, Ele foi a Bhuvaneśvara, onde visitou o templo do senhor Śiva. Dessa maneira, passo a passo, chegou a Kamala-pura e, margeando o rio Bhārgī, foi visitar o templo do senhor Śiva, onde confiou Seu bastão de sannyāsa a Nityānanda Prabhu. No entanto, Nityānanda Prabhu quebrou o bastão em três pedaços e o atirou no rio Bhārgī, em um local conhecido como Āṭhāranālā. Irritando-Se por não conseguir Seu bastão de volta, Śrī Caitanya Mahāprabhu deixou a companhia de Nityānanda Prabhu e foi sozinho visitar o templo de Jagannātha.

VERSO 1: Ofereço minhas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus [brāhmaṇya-deva], que apareceu como Sākṣi-gopāla para favorecer um brāhmaṇa. Ele viajou por cem dias através do país, caminhando com Suas próprias pernas. Quão maravilhosas são Suas atividades!

VERSO 2: Todas as glórias ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias ao Senhor Nityānanda Prabhu! Todas as glórias a Śrī Advaita Prabhu! E todas as glórias aos devotos de Śrī Caitanya Mahāprabhu!

VERSO 3: Caminhando sem parar, Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seu grupo chegaram, por fim, a Yājapura, no rio Vaitaraṇī. Ali, Ele viu o templo de Varāhadeva e Lhe ofereceu Suas reverências.

VERSO 4: No templo de Varāhadeva, Śrī Caitanya Mahāprabhu cantou, dançou e ofereceu orações. Ele passou aquela noite no templo.

VERSO 5: Em seguida, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi à cidade de Kaṭaka para ver o templo do Gopāla testemunha. Ao ver a Deidade de Gopāla, Ele ficou muito satisfeito com Sua beleza.

VERSO 6: Enquanto esteve ali, Śrī Caitanya Mahāprabhu cantou e dançou por algum tempo e, no êxtase do amor a Deus, ofereceu muitas orações a Gopāla.

VERSO 7: Naquela noite, Śrī Caitanya Mahāprabhu hospedou-Se no templo de Gopāla e, juntamente com todos os devotos, ouviu com grande prazer a narração sobre o Gopāla testemunha.

VERSO 8: Anteriormente, ao viajar por toda a Índia em visita a diferentes locais de peregrinação, Nityānanda Prabhu também viera ver Sākṣi-gopāla em Kaṭaka.

VERSO 9: Naquela ocasião, Nityānanda Prabhu ouviu a história de Sākṣi-gopāla contada pelas pessoas da cidade. Agora, Ele a recitava de novo, e o Senhor Caitanya Mahāprabhu ouvia a narração com grande prazer.

VERSO 10: Outrora, em Vidyānagara, no sul da Índia, havia dois brāhmaṇas que empreenderam uma longa jornada para visitarem diferentes locais de peregrinação.

VERSO 11: Em primeiro lugar, eles visitaram Gayā, depois Kāśī, depois Prayāga. Enfim, com grande prazer, chegaram a Mathurā.

VERSO 12: Após chegarem a Mathurā, puseram-se a visitar as diversas florestas de Vṛndāvana e foram à colina Govardhana. Visitaram todas as doze florestas [vanas] e, por fim, chegaram à cidade de Vṛndāvana.

VERSO 13: Na vila de Pañcakrośī Vṛndāvana, no local onde agora está situado o templo de Govinda, havia um grande templo onde se realizava magnífica adoração a Gopāla.

VERSO 14: Após tomarem seus banhos em diferentes balneários ao longo do rio Yamunā, tais como o Keśī-ghāṭa e o Kāliya-ghāṭa, os peregrinos visitaram o templo de Gopāla. Em seguida, descansaram naquele templo.

VERSO 15: A beleza da Deidade de Gopāla cativou suas mentes, e, sentindo grande felicidade, permaneceram ali por dois ou quatro dias.

VERSO 16: Um dos dois brāhmaṇas era idoso, e o outro, jovem. O jovem auxiliava o idoso.

VERSO 17: Na verdade, como o brāhmaṇa jovem sempre prestava serviço ao idoso, este lhe ficou muito grato, estando satisfeito com seu serviço.

VERSO 18: O homem idoso disse ao jovem: “Tens me prestado diversas classes de serviço. Tens me ajudado a viajar por todos esses locais de peregrinação.”

VERSO 19: “Nem meu próprio filho me presta tal serviço. Por tua misericórdia, não fiquei cansado no decurso desta jornada.”

VERSO 20: “Caso eu não te prestasse algum respeito, seria um ingrato. Prometo, portanto, dar-te minha filha em caridade.”

VERSO 21: O brāhmaṇa jovem respondeu: “Meu querido cavalheiro, por favor, ouve-me. O que estás dizendo é muito incomum. Semelhante coisa jamais aconteceu.”

VERSO 22: “És um chefe de família muito aristocrático, bem educado e bastante rico. Eu não sou nada aristocrático. Além disso, não tenho educação decente nem riqueza.”

VERSO 23: “Senhor, não sou um noivo adequado para tua filha. É apenas para a satisfação de Kṛṣṇa que te presto serviço.”

VERSO 24: “O Senhor Kṛṣṇa fica muito satisfeito com o serviço prestado aos brāhmaṇas, e, estando o Senhor satisfeito, a opulência de nosso serviço devocional aumenta.”

VERSO 25: O brāhmaṇa idoso respondeu: “Meu caro rapaz, não duvides de mim. Eu te darei minha filha em caridade. Já decidi isto.”

VERSO 26: O brāhmaṇa jovem disse: “Tens esposa e filhos e um grande círculo de parentes e amigos.”

VERSO 27: “Sem o consentimento de todos os teus amigos e parentes, não te será possível dar-me tua filha em caridade. Considera bem a história da rainha Rukmiṇī e de seu pai, Bhīṣmaka.”

VERSO 28: “O rei Bhīṣmaka desejou dar sua filha, Rukmiṇī, em caridade a Kṛṣṇa, mas Rukmī, seu filho mais velho, objetou. O rei, portanto, não pôde levar a cabo sua decisão.”

VERSO 29: O brāhmaṇa idoso disse: “Minha filha é minha propriedade privada. Caso eu resolva dar minha propriedade a alguém, quem tem o poder de me impedir?”

VERSO 30: “Meu caro rapaz, eu te darei minha filha em caridade sem considerar o posicionamento de todos os demais. Não duvides de mim a este respeito, mas simplesmente aceita minha proposta.”

VERSO 31: O brāhmaṇa jovem respondeu: “Se decidiste dar-me tua jovem filha, então, dize isso diante da Deidade de Gopāla.”

VERSO 32: Colocando-se perante Gopāla, o brāhmaṇa idoso disse: “Meu querido Senhor, por favor, testemunhai que dei minha filha a este rapaz.”

VERSO 33: Então, o brāhmaṇa jovem se dirigiu à Deidade, dizendo: “Meu querido Senhor, sois minha testemunha. Vou chamar-Vos mais tarde para depor, caso seja necessário.”

VERSO 34: Após esta conversa, os dois brāhmaṇas partiram para casa. Como de costume, o brāhmaṇa jovem acompanhou o idoso como se este fosse um guru [mestre espiritual] e lhe prestou serviço de diversas maneiras.

VERSO 35: Após regressar a Vidyānagara, cada brāhmaṇa foi para seu respectivo lar. Após algum tempo, o brāhmaṇa idoso ficou muito preocupado.

VERSO 36: Ele começou a pensar: “Dei minha palavra a um brāhmaṇa em um local sagrado, e o que prometi certamente terei de cumprir. Agora devo revelar isso à minha esposa, filhos, outros parentes e amigos.”

VERSO 37: Assim, certo dia, o brāhmaṇa idoso convocou uma reunião de todos os seus parentes e amigos, diante dos quais narrou o que acontecera perante Gopāla.

VERSO 38: Quando aqueles que pertenciam ao círculo familiar ouviram a narração do brāhmaṇa ancião, exclamaram desapontados: “Por favor, não faças tal proposta novamente.”

VERSO 39: Eles concordaram em unanimidade: “Caso ofereças tua filha a uma família degradada, tua nobreza se perderá. Ao ouvir falar disso, o povo fará piadas e rirá de ti.”

VERSO 40: O brāhmaṇa idoso disse: “Como poderei invalidar a promessa que fiz em um local sagrado enquanto eu peregrinava? Aconteça o que acontecer, devo dar-lhe minha filha em caridade.”

VERSO 41: Unânimes, os parentes disseram: “Se deres tua filha àquele rapaz, romperemos nossas relações contigo.” Enfaticamente, declararam sua esposa e seus filhos: “Se tal coisa acontecer, nos mataremos ingerindo veneno.”

VERSO 42: O brāhmaṇa idoso disse: “Se eu não der minha filha ao jovem brāhmaṇa, ele chamará Śrī Gopālajī para depor como testemunha. Assim, ele levará minha filha à força, e, nesse caso, ficarão desacreditados os meus princípios religiosos.”

VERSO 43: Seu filho respondeu: “Talvez a Deidade tenha servido de testemunha, mas Ela está em uma terra distante. Como poderá vir para prestar testemunho contra ti? Por que estás tão preocupado com isso?”

VERSO 44: “Não precisas negar abertamente que falaste tal coisa. Não há necessidade de fazer uma afirmação falsa. Simplesmente diz que não te lembras do que disseste.”

VERSO 45: “Basta dizeres: ‘Não me lembro de nada’, que eu me encarregarei do resto. Hei de derrotar o jovem brāhmaṇa com argumentos.”

VERSO 46: Ao ouvir isso, a mente do brāhmaṇa idoso ficou muito agitada. Sentindo-se desamparado, ele simplesmente voltou sua atenção para os pés de lótus de Gopāla.

VERSO 47: O brāhmaṇa idoso orou: “Meu querido Senhor Gopāla, abriguei-me a Vossos pés de lótus e, por essa razão, peço-Vos o obséquio de proteger meus princípios religiosos contra a violação e, ao mesmo tempo, de salvar meus parentes da morte.”

VERSO 48: No dia seguinte, o brāhmaṇa idoso meditava profundamente sobre esse assunto quando o jovem brāhmaṇa chegou a sua casa.

VERSO 49: O jovem brāhmaṇa se aproximou e lhe prestou respeitosas reverências. Então, com muita humildade e com as mãos postas, falou o seguinte.

VERSO 50: “Prometeste dar-me tua filha em caridade. Agora não dizes nada. Qual é tua palavra final?”

VERSO 51: Após o jovem brāhmaṇa fazer essa pergunta, o brāhmaṇa idoso permaneceu calado. Aproveitando-se dessa oportunidade, seu filho apareceu de repente com uma vara para bater no rapaz.

VERSO 52: O filho disse: “Oh! És muito degradado! Queres casar-te com minha irmã, exatamente como um anão querendo agarrar a Lua!”

VERSO 53: Vendo a vara na mão do filho, o jovem brāhmaṇa fugiu. No dia seguinte, porém, reuniu todo o povo da vila.

VERSO 54: Então, as pessoas da vila foram chamar o brāhmaṇa idoso, levando-o até o local onde haviam se reunido. Dessa forma, o jovem brāhmaṇa começou a falar o seguinte perante eles.

VERSO 55: “Este cavalheiro prometeu que me daria a mão de sua filha, mas, agora, ele não cumpre sua promessa. Por favor, perguntai-lhe o motivo de ele se portar assim.”

VERSO 56: Todas as pessoas ali reunidas perguntaram ao brāhmaṇa idoso: “Se já prometeste dar-lhe tua filha em caridade, por que não cumpres a tua promessa? Tu deste tua palavra de honra!”

VERSO 57: O brāhmaṇa idoso respondeu: “Meus caros amigos, por favor, escutai o que tenho a dizer. Não me lembro exatamente de ter feito uma promessa desse tipo.”

VERSO 58: Ao ouvir isso, o filho do brāhmaṇa idoso aproveitou-se da oportunidade para fazer malabarismo com algumas palavras. De maneira muito insolente, levantou-se perante a assembleia e falou como segue.

VERSO 59: “Enquanto viajava por diversos locais sagrados de peregrinação, meu pai levava muito dinheiro consigo. Ao ver o dinheiro, esse patife decidiu roubá-lo.”

VERSO 60: “Não havia ninguém além desse homem com meu pai. Dando-lhe um tóxico chamado dhuturā para comer, esse patife fez meu pai enlouquecer.”

VERSO 61: “Pegando todo o dinheiro de meu pai, esse patife declarou que um ladrão levara todo esse dinheiro. Agora, afirma que meu pai prometeu dar-lhe sua filha em caridade.”

VERSO 62: “Todos vós reunidos aqui sois cavalheiros. Por favor, julgai se é justo oferecer a filha de meu pai a este brāhmaṇa pobre.”

VERSO 63: Ouvindo todas essas afirmações, as pessoas reunidas ali ficaram um pouco em dúvida. Acharam ser bem possível que, devido à atração pelas riquezas, alguém abandonasse seus princípios religiosos.

VERSO 64: Nessa altura, o jovem brāhmaṇa disse: “Meus caros cavalheiros, por favor, escutai. Só para sair vitorioso com seus argumentos, esse homem está mentindo.”

VERSO 65: “Tendo ficado muito satisfeito com meu serviço, esse brāhmaṇa me disse, por sua livre e espontânea vontade: ‘Prometo dar-te a mão de minha filha.’”

VERSO 66: “Naquele momento, eu o proibi de fazer aquilo, dizendo: ‘Ó melhor dos brāhmaṇas, não sou um esposo adequado para tua filha.’”

VERSO 67: “‘Tu és um estudioso erudito, um homem rico pertencente a uma família aristocrática, ao passo que eu sou um homem pobre, inculto e sem nenhuma pretensão à aristocracia.’”

VERSO 68: “Ainda assim, esse brāhmaṇa insistiu. Repetidas vezes, pediu-me que aceitasse sua proposta, dizendo: ‘Dei minha filha a ti. Por favor, recebe-a.’”

VERSO 69: “Então, eu disse: ‘Por favor, ouve. És um brāhmaṇa erudito. Tua esposa, amigos e parentes jamais concordarão com essa proposta.’”

VERSO 70: “‘Meu caro senhor, não serás capaz de cumprir tua promessa. Tua promessa será quebrada.’ Ainda assim, o brāhmaṇa confirmou sua promessa vezes e mais vezes.”

VERSO 71: “‘Eu te ofereci minha filha. Não hesites. Ela é minha filha, e eu a darei a ti. Quem poderá proibir-me?’”

VERSO 72: “Naquele momento, concentrei minha mente e pedi ao brāhmaṇa que fizesse a promessa perante a Deidade de Gopāla.”

VERSO 73: “Então, esse cavalheiro disse diante da Deidade de Gopāla: ‘Meu querido Senhor, por favor, sede a testemunha. Ofereci minha filha em caridade a este brāhmaṇa’”

VERSO 74: “Após aceitar a Deidade de Gopāla como minha testemunha, propus o seguinte a Seus pés de lótus.”

VERSO 75: “‘Se esse brāhmaṇa, mais tarde, hesitar em me dar sua filha, meu querido Senhor, hei de chamar-Vos para que sejais minha testemunha. Por favor, atendei a isso com todo o carinho.’”

VERSO 76: “Assim, nessa transação, apelei para uma grande personalidade. Pedi que a Divindade Suprema fosse minha testemunha. O mundo inteiro aceita as palavras da Suprema Personalidade de Deus.”

VERSOS 77-78: Aproveitando-se dessa oportunidade, o brāhmaṇa idoso confirmou de imediato que aquilo realmente era verdade. Ele disse: “Se Gopāla vier pessoalmente aqui para servir como testemunha, com certeza darei minha filha ao jovem brāhmaṇa.”  O filho do brāhmaṇa idoso prontamente confirmou aquilo, dizendo: “Sim. Esse é um ótimo acordo.”

VERSO 79: O brāhmaṇa idoso pensou: “Como o Senhor Kṛṣṇa é muito misericordioso, certamente Ele virá para confirmar minha declaração.”

VERSO 80: O filho ateu pensou: “Não é possível que Gopāla venha e preste testemunho.” Pensando assim, tanto o pai quanto o filho concordaram.

VERSO 81: O jovem brāhmaṇa se aproveitou dessa oportunidade para falar: “Por favor, anotai isso no papel, pondo o preto no branco, de modo que não possais mudar vossa palavra de honra mais uma vez.”

VERSO 82: Todas as pessoas ali reunidas anotaram essa declaração, pondo o preto no branco, e, tomando as assinaturas das partes do acordo, serviram como mediadores.

VERSO 83: Então, o jovem brāhmaṇa disse: “Todos os cavalheiros presentes, por favor, escutai-me! Este brāhmaṇa idoso certamente é veraz e está seguindo os princípios religiosos.”

VERSO 84: “Ele não tinha desejo de quebrar sua promessa, mas, temendo que seus parentes cometessem suicídio, desviou-se da verdade.”

VERSO 85: “Devido à piedade do brāhmaṇa idoso, convocarei o testemunho da Suprema Personalidade de Deus. Assim, manterei intacta a veracidade de sua promessa.”

VERSO 86: Ao ouvir a afirmação enfática do jovem brāhmaṇa, alguns ateus ali presentes começaram a fazer gracejos. No entanto, outra pessoa disse: “Afinal, o Senhor é misericordioso e, se Ele quiser, poderá vir.”

VERSO 87: Após a reunião, o jovem brāhmaṇa partiu para Vṛndāvana. Chegando lá, primeiro prestou suas respeitosas reverências à Deidade e, em seguida, narrou tudo com todos os pormenores.

VERSO 88: Ele disse: “Meu Senhor, sois o protetor da cultura bramânica e sois, também, muito misericordioso. Portanto, por favor, mostrai Vossa grande misericórdia protegendo os princípios religiosos meus e do outro brāhmaṇa.”

VERSO 89: “Meu querido Senhor, não estou pensando em me tornar feliz, obtendo a filha do brāhmaṇa como noiva. Estou simplesmente pensando que ele quebrou sua promessa, e isso me causa grande dor.”

VERSO 90: O jovem brāhmaṇa prosseguiu: “Meu querido Senhor, sois muito misericordioso e sabeis tudo. Portanto, por favor, sede minha testemunha neste caso. Quem tem verdadeiro conhecimento dos fatos, mas ainda assim não presta testemunho, envolve-se em atividades pecaminosas.”

VERSO 91: O Senhor Kṛṣṇa respondeu: “Meu querido brāhmaṇa, volta para tua casa e convoca outro encontro com todos. Nesse encontro, simplesmente procura lembrar-te de Mim.”

VERSO 92: “Seguramente aparecerei lá e, nessa ocasião, protegerei a honra tua e do outro brāhmaṇa, prestando testemunho da promessa.”

VERSO 93: O jovem brāhmaṇa respondeu: “Meu querido Senhor, mesmo que apareçais lá como uma Deidade de Viṣṇu de quatro braços, ainda assim, nenhuma daquelas pessoas acreditará em Vossas palavras.”

VERSO 94: “Vosso testemunho só será ouvido por todo o povo se fordes até lá sob essa forma de Gopāla e, com Vosso belo rosto, falardes essas palavras.”

VERSO 95: O Senhor Kṛṣṇa disse: “Jamais ouvi falar de uma Deidade que caminhasse de um lugar para outro.” O brāhmaṇa respondeu: “Isso é verdade, mas como é que estais falando comigo, apesar de serdes uma Deidade?”

VERSO 96: “Meu querido Senhor, não sois uma estátua; sois diretamente o filho de Mahārāja Nanda. Agora, em benefício do brāhmaṇa idoso, podeis fazer algo que jamais fizestes antes.”

VERSO 97: Então, Śrī Gopālajī sorriu e disse: “Meu querido brāhmaṇa, simplesmente ouve-Me. Caminharei atrás de ti e, desta maneira, irei contigo.”

VERSO 98: O Senhor prosseguiu: “Não tentes olhar para Mim, voltando tua face para trás. Assim que olhares para Mim, permanecerei estacionado naquele mesmo lugar.”

VERSO 99: “Saberás que estou caminhando atrás de ti pelo som de Meus sinos de tornozelo.”

VERSO 100: “Cozinha um quilo de arroz diariamente e o oferece a Mim. Comerei desse arroz e seguirei atrás de ti.”

VERSO 101: No dia seguinte, o brāhmaṇa pediu permissão a Gopāla e partiu para a sua terra. Gopāla o seguia, passo a passo.

VERSO 102: Enquanto Gopāla seguia o jovem brāhmaṇa, podia-se ouvir o tilintar de Seus sinos de tornozelo. Sentindo-se muito contente, o brāhmaṇa cozinhou arroz de primeira classe para Gopāla comer.

VERSO 103: O jovem brāhmaṇa caminhou e caminhou dessa maneira até que, por fim, chegou à sua terra de origem. Ao se aproximar de sua vila natal, começou a pensar o seguinte.

VERSO 104: “Agora que cheguei à minha vila, irei até minha casa e contarei a todas as pessoas que a testemunha veio.”

VERSO 105: Então, o brāhmaṇa começou a pensar que, se as pessoas não vissem a Deidade de Gopāla diretamente, não acreditariam que Ela havia chegado. “Mas mesmo que Gopāla permaneça aqui”, pensou ele, “ainda assim, não há nada a temer.”

VERSO 106: Pensando assim, o brāhmaṇa se virou e olhou para trás, e viu que Gopāla, a Suprema Personalidade de Deus, encontrava-Se ali sorrindo.

VERSO 107: O Senhor disse ao brāhmaṇa: “Agora podes ir para casa. Permanecerei aqui e não sairei.”

VERSO 108: O jovem brāhmaṇa foi, então, para a vila e informou a todas as pessoas da chegada de Gopāla. Ouvindo isso, todos ficaram maravilhados.

VERSO 109: Todos os moradores da vila foram ver o Gopāla testemunha e, ao verem o Senhor realmente ali, ofereceram-Lhe suas respeitosas reverências.

VERSO 110: Ao chegarem, as pessoas ficaram muito satisfeitas de ver a beleza de Gopāla, e, ao ficarem sabendo que Ele realmente caminhara até ali, todos ficaram surpresos.

VERSO 111: Então, o brāhmaṇa idoso, estando muito satisfeito, adiantou-se e, de imediato, prostrou-se como uma vara em frente a Gopāla.

VERSO 112: Assim, na presença de todos os moradores da vila, o Senhor Gopāla prestou testemunho de que o brāhmaṇa idoso oferecera sua filha em caridade ao jovem brāhmaṇa.

VERSO 113: Após realizar-se a cerimônia de casamento, o Senhor informou aos dois brāhmaṇas: “Vós, os dois brāhmaṇas, sois Meus servos eternos, nascimento após nascimento.”

VERSO 114: O Senhor prosseguiu: “Fiquei muito satisfeito com a veracidade de vós dois. Agora, podeis pedir-Me uma bênção.” Assim, com grande prazer, os dois brāhmaṇas Lhe pediram uma bênção.

VERSO 115: Os brāhmaṇas disseram: “Por favor, permanecei aqui de modo que as pessoas do mundo inteiro saibam quão misericordioso sois para com Vossos servos.”

VERSO 116: O Senhor Gopāla ficou, e os dois brāhmaṇas se ocuparam a Seu serviço. Após ouvirem falar do incidente, muitas pessoas de diversas terras começaram a ir visitar Gopāla.

VERSO 117: Por fim, o rei daquela região, ouvindo falar dessa história maravilhosa, também foi visitar Gopāla e, assim, ficou muito satisfeito.

VERSO 118: O rei construiu ali um belo templo, onde se passou a prestar serviço regular à Deidade. Gopāla ficou muito famoso sob o nome de Sākṣi-gopāla [o Gopāla testemunha].

VERSO 119: Assim, Sākṣi-gopāla permaneceu em Vidyānagara e aceitou serviço por um tempo bastante prolongado.

VERSO 120: Mais tarde, houve uma luta, e essa região foi conquistada pelo rei Puruṣottama-deva, da Orissa.

VERSO 121: Esse rei venceu o rei de Vidyānagara, apossando-se de seu trono Māṇikya-siṁhāsana, que era cravejado de joias.

VERSO 122: Esse rei tornou-se conhecido como Puruṣottama-deva. Era um grande devoto e era avançado na civilização dos arianos. Ele suplicou aos pés de lótus de Gopāla: “Por favor, vinde ao meu reino.”

VERSO 123: Quando o rei suplicou-Lhe que fosse a seu reino, Gopāla, que já estava agradecido por seu serviço devocional, aceitou sua súplica. Assim, o rei pegou a Deidade de Gopāla e retornou para Kaṭaka.

VERSO 124: Após conquistar o trono Māṇikya, o rei Puruṣottama-deva o levou para Jagannātha Purī e o deu de presente ao Senhor Jagannātha. Nesse ínterim, também estabeleceu a adoração regular à Deidade de Gopāla em Kaṭaka.

VERSO 125: Quando a Deidade de Gopāla foi instalada em Kaṭaka, a rainha de Puruṣottama-deva foi vê-lO e, com grande devoção, presenteou-O com vários ornamentos.

VERSO 126: A rainha possuía uma pérola muito valiosa, que usava em seu nariz. Como desejava dá-la a Gopāla, começou a pensar o seguinte.

VERSO 127: “Se houvesse um furo no nariz da Deidade, eu Lhe poderia transferir a pérola.”

VERSO 128: Meditando sobre isso, a rainha prestou suas reverências a Gopāla e regressou ao seu palácio. Naquela noite, ela sonhou que Gopāla aparecia e começava a lhe falar o seguinte.

VERSO 129: “Durante Minha infância, Minha mãe fez um furo em Meu nariz e, com grande esforço, colocou uma pérola nele.”

VERSO 130: “Este mesmo furo ainda existe, e podes usá-lo para colocar a pérola que desejaste dar-Me.”

VERSO 131: Depois desse sonho, a rainha explicou tudo a seu esposo, o rei. Então, tanto o rei quanto a rainha foram ao templo com a pérola.

VERSO 132: Vendo o furo no nariz da Deidade, eles fixaram a pérola nele e, devido a se sentirem muito satisfeitos, promoveram um grande festival.

VERSO 133: Desde aquela época, Gopāla tem permanecido na cidade de Kaṭaka [Cuttack], sendo conhecido desde então como Sākṣi-gopāla.

VERSO 134: Foi assim que Śrī Caitanya Mahāprabhu ouviu a narração das atividades de Gopāla. Tanto Ele quanto Seus devotos pessoais ficaram muito satisfeitos.

VERSO 135: Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu estava sentado perante a Deidade de Gopāla, todos os devotos viram que Ele e a Deidade tinham a mesma forma.

VERSO 136: Ambos tinham o mesmo aspecto e ambos tinham os mesmos corpos gigantescos. Ambos usavam roupa açafroada e eram muito graves.

VERSO 137: Os devotos viram que tanto o Senhor Caitanya Mahāprabhu quanto Gopāla eram brilhantemente refulgentes e tinham olhos de lótus. Ambos estavam absortos em êxtase, e Seus rostos se assemelhavam à lua cheia.

VERSO 138: Ao ver a Deidade de Gopāla e Śrī Caitanya Mahāprabhu daquela maneira, Nityānanda começou a tecer comentários com os devotos, todos os quais sorriam.

VERSO 139: Assim, com grande prazer, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu passou aquela noite no templo. Após assistir à cerimônia de maṅgala-ārati de manhã, Ele prosseguiu com Sua jornada.

VERSO 140: [Em seu livro Caitanya-bhāgavata,] Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura descreve muito vividamente os locais visitados pelo Senhor a caminho de Bhuvaneśvara.

VERSO 141: Chegando a Kamalapura, Śrī Caitanya Mahāprabhu tomou Seu banho no rio Bhārgīnadī, deixando Seu bastão de sannyāsa nas mãos do Senhor Nityānanda.

VERSOS 142-143: Quando o Senhor Caitanya Mahāprabhu visitou o templo do senhor Śiva conhecido como Kapoteśvara, Nityānanda Prabhu, que mantinha sob custódia Seu bastão de sannyāsa, quebrou-o em três partes e atirou-o no rio Bhārgīnadī. Mais tarde, esse rio ficou conhecido como Daṇḍa-bhāṅgā-nadī.

VERSO 144: Após ver o templo de Jagannātha de um local distante, Śrī Caitanya Mahāprabhu imediatamente ficou em êxtase. Após prestar reverências ao templo, começou a dançar no êxtase do amor a Deus.

VERSO 145: Todos os devotos ficaram em êxtase na companhia do Senhor Caitanya e, assim absortos em amor a Deus, dançavam e cantavam enquanto prosseguiam ao longo da estrada principal.

VERSO 146: Śrī Caitanya Mahāprabhu ria, chorava, dançava, ressoava e vibrava sons extáticos. Embora o templo estivesse a apenas dez quilômetros de distância, para Ele, a distância parecia de milhares de quilômetros.

VERSO 147: Caminhando sem parar, o Senhor chegou, enfim, ao local conhecido como Āṭhāranālā. Ao chegar lá, manifestou Sua consciência externa, falando com Śrī Nityānanda Prabhu.

VERSO 148: Tendo recobrado assim Sua consciência externa, o Senhor Caitanya Mahāprabhu pediu ao Senhor Nityānanda Prabhu: “Por favor, devolve o Meu bastão.” Nityānanda Prabhu, então, respondeu: “Ele se quebrou em três pedaços.”

VERSO 149: Nityānanda Prabhu disse: “Ao entrares em êxtase, Eu Te segurei, mas Nós dois caímos juntos sobre o bastão.”

VERSO 150: “Assim, o bastão se quebrou devido ao Nosso peso. Não posso dizer onde foram parar os pedaços.”

VERSO 151: “Com certeza, foi devido à Minha ofensa que o Teu bastão se quebrou. Agora, podes castigar-Me por isso como achares adequado.”

VERSO 152: Após ouvir a história sobre como Seu daṇḍa fora quebrado, o Senhor expressou certa tristeza e, demonstrando um pouco de raiva, começou a falar o seguinte.

VERSO 153: Caitanya Mahāprabhu disse: “Todos vós Me favorecestes ao Me trazer a Nīlācala. Entretanto, Minha única posse era aquele bastão, e vós não o guardastes.”

VERSO 154: “De tal maneira, todos vós deveis ir ver o Senhor Jagannātha antes ou depois de Mim. Não irei convosco.”

VERSO 155: Mukunda Datta disse a Śrī Caitanya Mahāprabhu: “Meu Senhor, deves ir na frente e permitir que todos os outros vão depois. Não iremos conTigo.”

VERSO 156: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu começou a caminhar com muita rapidez à frente de todos os outros devotos. Ninguém podia entender o verdadeiro propósito dos dois Senhores, Caitanya Mahāprabhu e Nityānanda Prabhu.

VERSO 157: Os devotos não podiam entender por que Nityānanda Prabhu quebrara o bastão, por que Śrī Caitanya Mahāprabhu permitira-Lhe fazer isso, nem por que, após permitir-Lhe, Caitanya Mahāprabhu ficara irado.

VERSO 158: O passatempo em que Nityānanda quebra o bastão é muito profundo. Só o pode compreender aquele cuja devoção está fixa nos pés de lótus dos dois Senhores.

VERSO 159: São imensas as glórias do Senhor Gopāla, que é misericordioso para com os brāhmaṇas. Nityānanda Prabhu fez a narração de Sākṣi-gopāla, e Śrī Caitanya Mahāprabhu a ouviu.

VERSO 160: Aquele que ouvir esta narração do Senhor Gopāla, com fé e amor, alcançará, dentro em breve, os pés de lótus do Senhor Gopāla.

VERSO 161: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.

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