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CAPÍTULO QUARENTA E UM

Kṛṣṇa e Balarāma Entram em Mathurā

Este capítulo descreve como o Senhor Kṛṣṇa entrou na cidade de Mathurā, matou um lavadeiro e abençoou um tecelão e um guirlandeiro chamado Sudāmā.

Depois de mostrar Sua forma de Viṣṇu a Akrūra nas águas do Yamunā e de receber as preces de Akrūra, o Senhor Kṛṣṇa recolheu aquela visão da mesma forma que um ator encerra sua apresenta­ção. Akrūra emergiu da água e, com grande espanto, aproximou-se do Senhor, que lhe perguntou se ele vira algo maravilhoso durante o banho. Akrūra respondeu: “Quaisquer coisas maravilhosas que existam nos reinos aquáticos, terrestres ou celestiais, todas têm sua existên­cia dentro de Vós. Então, quando alguém Vos viu, nada mais resta a ser visto.” Em seguida, Akrūra começou outra vez a dirigir a quadriga.

Kṛṣṇa, Balarāma e Akrūra chegaram a Mathurā no fim da tarde. Após reunirem-Se com Nanda Mahārāja e os outros vaqueiros que ti­nham vindo na frente, Kṛṣṇa pediu a Akrūra que voltasse para casa, prometendo ir visitá-lo depois de ter matado Kaṁsa. Akrūra despediu­-se com tristeza do Senhor, foi ao rei Kaṁsa informar-lhe que Kṛṣṇa e Balarāma haviam chegado e, em seguida, dirigiu-se para sua casa.

Kṛṣṇa e Balarāma levaram os vaqueirinhos para conhecer a esplêndida cidade. Enquanto todos entravam em Mathurā, as mulheres da cidade saíram ansiosas de suas casas para verem Kṛṣṇa. Elas tinham ou­vido falar dEle muitas vezes e há muito tinham desenvolvido profun­da atração por Ele. Mas agora que O viam de fato, elas estavam dominadas pela felicidade, e toda a sua aflição decorrente da ausên­cia dEle esvaiu-se.

Kṛṣṇa e Balarāma, então, depararam-Se com o perverso lavadeiro de Kaṁsa. Kṛṣṇa pediu-lhe algumas das primorosas roupas que ele levava, mas este negou e até mesmo repreendeu os dois Senhores. Kṛṣṇa ficou muito aborrecido com isso e, com as pontas de Seus dedos, decapitou o homem. Os ajudantes do lavadeiro, vendo seu fim prematuro, larga­ram ali mesmo seus fardos de roupas e correram para todos os lados. Kṛṣṇa e Balarāma, então, pegaram algumas das roupas de que mais gostaram.

Depois, um tecelão aproximou-se dos dois Senhores e adornou-Os de forma conveniente, recebendo de Kṛṣṇa, por este serviço, opulências nesta vida e liberação na próxima. Kṛṣṇa e Balarāma, então, foram à casa do guirlandeiro Sudāmā. Sudāmā ofereceu-Lhes suas completas reverências, adorou-Os banhando-Lhes os pés e oferecendo-Lhes artigos tais como arghya e pasta de sândalo, e cantou preces em honra dEles. Ornou-Os, em seguida, com guirlandas de flores fragrantes. Satisfeitos, os Senhores ofereceram-lhe quaisquer bênçãos que ele desejasse, após o que seguiram em frente.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Enquanto Akrūra ainda oferecia orações, o Supremo Senhor Kṛṣṇa retirou a forma que Ele revelara na água, do mesmo modo que um ator encerra sua apresentação.

VERSO 2: Quando viu desaparecer a visão, Akrūra saiu da água e terminou bem depressa seus vários deveres ritualísticos. Então, maravilhado, voltou à quadriga.

VERSO 3: O Senhor Kṛṣṇa perguntou a Akrūra: Viste algo maravilhoso na terra, no céu ou na água? Por tua aparência, suspeitamos que sim.

VERSO 4: Śrī Akrūra disse: Quaisquer coisas maravilhosas que a terra, o céu ou a água contenham, todas existem em Vós. Como abran­ges tudo, ao ver-Vos, o que falta ser visto?

VERSO 5: E agora que Vos vejo, ó Suprema Verdade Absoluta, em quem reside tudo o que há de admirável na terra, no céu e na água, o que de surpreendente eu poderia ver neste mundo?

VERSO 6: Tendo dito estas palavras, Akrūra, o filho de Gāndinī, colocou-se a dirigir a quadriga. No fim do dia, ele chegou a Mathurā com o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 7: Por onde passavam na estrada, ó rei, as pessoas da vila, com grande prazer, adiantavam-se para olhar os dois filhos de Vasudeva. De fato, os moradores da vila não conseguiam desviar os olhos dEles.

VERSO 8: Nanda Mahārāja e os outros residentes de Vṛndāvana, tendo chegado a Mathurā antes da quadriga, pararam em um jardim nos arredores da cidade para aguardar Kṛṣṇa e Balarāma.

VERSO 9: Depois de Se juntar a Nanda e os outros, o Supremo Senhor Kṛṣṇa, o controlador do universo, tomou a mão do humilde Akrūra em Sua própria e, sorrindo, falou o seguinte.

VERSO 10: [O Senhor Kṛṣṇa disse:] Pega a quadriga e entra na cidade antes de nós. Depois, vai para casa. Após descansarmos aqui um pouco, iremos ver a cidade.

VERSO 11: Śrī Akrūra disse: Ó mestre, não entrarei em Mathurā sem Vós dois. Sou Vosso devoto, ó Senhor, logo não é justo que me aban­doneis, visto que sois sempre afetuosos com Vossos devotos.

VERSO 12: Vinde! Vamos para minha casa com Vosso irmão mais velho, os vaqueiros e Vossos companheiros. Ó melhor dos amigos, ó Senhor transcendental, por favor, agraciai desse modo minha casa e seu dono.

VERSO 13: Sou simplesmente um pai de família comum e apegado a sacrifícios ritualísticos, então, por favor, purificai meu lar com a poeira de Vossos pés de lótus. Por esse ato de purificação, meus antepassados, os fogos de sacrifício e os semideuses, todos ficarão satis­feitos.

VERSO 14: Por banhar Vossos pés, o grandioso Bali Mahārāja alcançou não só gloriosa fama e poder inigualável, mas também o destino final dos devotos puros.

VERSO 15: A água do rio Ganges purificou os três mundos, tendo-se tornado transcendental por banhar Vossos pés. O senhor Śiva acei­tou essa água sobre sua cabeça, e, pela graça dessa água, os filhos do rei Sagara alcançaram o céu.

VERSO 16: Ó Senhor dos senhores, mestre do universo, são atos absolutamente piedosos ouvir e cantar Vossas glórias! Ó melhor dos Yadus, ó Vós cuja fama é narrada em excelente poesia! Ó Supremo Senhor Nārāyaṇa, ofereço-Vos minhas reverências.

VERSO 17: O Senhor Supremo disse: Irei à tua casa com Meu irmão mais velho, mas antes devo satisfazer Meus amigos e benquerentes matando o inimigo do clã dos Yadus.

VERSO 18: Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo o Senhor falado assim com ele, Akrūra entrou na cidade com o coração pesaroso. Ele infor­mou ao rei Kaṁsa acerca do sucesso de sua missão e, então, foi para casa.

VERSO 19: Como o Senhor Kṛṣṇa desejava ver Mathurā, Ele, no fim da tarde, levou conSigo o Senhor Balarāma e os vaqueirinhos e entrou na cidade.

VERSOS 20-23: O Senhor viu Mathurā, com seus altos portões e entradas domiciliares feitos de cristal, seus imensos arcos e portais de ouro, seus celeiros e outros depósitos feitos de cobre e bronze, e seus fossos inexpugnáveis. Embelezando a cidade, havia jardins e parques agradáveis. As principais encruzilhadas eram enfeitadas de ouro, e havia mansões com jardins de recreio particulares, junto de salões para reunião e muitas outras construções. Mathurā ressoava com os gritos de pavões e pombos de estimação, que se sentavam nas pequenas aberturas das treliças das janelas e nos assoalhos incrustados de pedras preciosas e também nas varandas sustentadas por colunas e nos caibros ornados na frente das casas. Estas varandas e cai­bros eram adornados com pedras vaidūrya, diamantes, quartzos de cristal, safiras, corais, pérolas e esmeraldas. Todas as avenidas reais e ruas comerciais, bem como as travessas e quintais, esta­vam borrifadas de água, e guirlandas de flores, brotos recém­crescidos, cereais torrados e arroz tinham sido espalhados por toda parte. Enfeitando os portais das casas, havia potes bela­mente decorados cheios de água, que eram enfeitados com folhas de manga, untados com iogurte e pasta de sândalo, e rodeados de pétalas de flores e fitas. Junto aos potes, havia bandeiras, fileiras de lamparinas, buquês de flores, troncos de bananeiras e nogueiras de bétel.

VERSO 24: As mulheres de Mathurā reuniram-se apressadamente e adiantaram-se para ver os dois filhos de Vasudeva enquanto Eles entravam na cidade pela estrada real, rodeados por Seus amigos vaqueirinhos. Algumas das mulheres, meu querido rei, subiram com muita avidez aos terraços de suas casas para vê-lOs.

VERSO 25: Algumas das mulheres puseram suas roupas e ornamentos ao contrário, outras esqueceram um de seus brincos ou tornozeleiras, e outras aplicaram maquiagem apenas em um dos olhos.

VERSO 26: Algumas mulheres que estavam comendo abandonaram a refeição, outras saíram sem acabar seus banhos ou massagens, ainda outras que dormiam, ao ouvirem o tumulto, levantaram-se na mesma hora, e mães que amamentavam seus bebês simplesmente puseram-nos de lado.

VERSO 27: O Senhor de olhos de lótus, sorrindo enquanto recordava Seus ousados passatempos, cativou a mente daquelas damas com Seus olhares. Ele andava com o passo de um majestoso elefante no cio, criando um festival para os olhos delas com Seu corpo transcendental, que é a fonte de prazer para a divina deusa da fortuna.

VERSO 28: As damas de Mathurā haviam escutado sobre Kṛṣṇa repetidas vezes, e, por isso, logo que O viram, seus corações se derreteram. Elas se sentiam honradas por Ele derramar sobre elas o néctar de Seus olhares e largos sorrisos. Colocando-O em seus corações através de seus olhos, elas abraçaram o Senhor, a personificação de todo o êxtase, e, com seus pelos arrepiados, ó subjugador dos inimigos, esqueceram a ilimitada aflição causada por Sua ausência.

VERSO 29: Com seus rostos de lótus florescendo de afeição, as damas que haviam subido aos terraços das mansões lançavam chuvas de flores sobre o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 30: Postados ao longo do caminho, brāhmaṇas honravam os dois Senhores com presentes de iogurte, cevada integral, potes cheios d’água, guirlandas, substâncias perfumadas, como pasta de sânda­lo, e outros artigos de adoração.

VERSO 31: As mulheres de Mathurā exclamaram: Oh! Que severas austeridades as gopīs devem ter praticado para conseguirem ver regular­mente Kṛṣṇa e Balarāma, que são a maior fonte de prazer para toda a humanidade!

VERSO 32: Vendo aproximar-se um lavador de roupas com alguns trajes que estivera tingindo, Kṛṣṇa pediu-lhe as roupas lavadas mais finas que ele tivesse.

VERSO 33: [O Senhor Kṛṣṇa disse:] Por favor, entrega roupas convenientes para Nós dois, que as merecemos com certeza. Se fizeres esta ca­ridade, não há dúvida de que receberás o mais alto benefício.

VERSO 34: Solicitado assim pelo Senhor Supremo, que é perfeitamente completo em todos os aspectos, aquele arrogante servidor do rei ficou irado e respondeu com insultos.

VERSO 35: [O lavador de roupas disse:] Seus meninos descarados! Estais acostumados a perambular por montanhas e florestas, e ainda ousaríeis vestir roupas desta categoria! Sabei que é propriedade do rei o que estais pedindo!

VERSO 36: Tolos, deixai este lugar sem demora! Não mendigueis assim se quereis conti­nuar vivos. Quando alguém é atrevido demais, os homens do rei prendem-no, matam-no e tomam todos os seus bens.

VERSO 37: Enquanto o lavador de roupas falava com essa insolência, o filho de Devakī ficou irado e, então, apenas com as pontas dos dedos, decapitou o homem.

VERSO 38: Todos os empregados do lavador de roupas largaram seus fardos de roupas e fugiram estrada abaixo, dispersando-se em todas as direções. O Senhor Kṛṣṇa, então, pegou as roupas.

VERSO 39: Kṛṣṇa vestiu um conjunto de roupas que Lhe agradou de modo especial, e o mesmo fez Balarāma. Kṛṣṇa, então, distribuiu os tra­jes restantes entre os vaqueirinhos, deixando alguns espalhados no chão.

VERSO 40: Logo em seguida, adiantou-se um tecelão e, sentindo afeição pelos Senhores, adornou Seus trajes com belos enfeites de tecido de várias cores.

VERSO 41: Satisfeito com o tecelão, o Supremo Senhor Kṛṣṇa o abençoou com a dádiva de que, após a morte, ele conseguiria a liberação em que se tem uma forma semelhante à do Senhor, e que, enquanto vivesse neste mundo, desfrutaria de suprema opulência, força física, influência, memória e vigor sensorial.

VERSO 42: Kṛṣṇa e Balarāma pareciam resplandecentes, cada um com Seu traje incomparável e maravilhosamente ornamentado. Assemelhavam-se a um par de jovens elefantes, um branco e outro preto, enfeitados para uma ocasião festiva.

VERSO 43: Então, os dois Senhores foram à casa do guirlandeiro Sudāmā. Ao vê-lOs, Sudāmā levantou-se de imediato e, em seguida, prostrou-se, colocando a cabeça no chão.

VERSO 44: Depois de Lhes oferecer assentos e lavar Seus pés, Sudāmā adorou Kṛṣṇa e Balarāma e Seus companheiros com arghya, guirlandas, pān, pasta de sândalo e outros presentes.

VERSO 45: [Sudāmā disse:] Ó Senhor, meu nascimento agora está santificado, e minha família, livre de contaminação. Agora que Vós dois viestes aqui, meus antepassados, os semideuses e os grandes sábios com certeza estão todos satisfeitos comigo.

VERSO 46: Vós dois, Senhores, sois a causa última de todo este universo. A fim de proporcionar amparo e prosperidade a este reino, fizestes Vosso advento com Vossas expansões plenárias.

VERSO 47: Por serdes Vós os amigos benquerentes e a Alma Suprema de todo o universo, vedes a todos com visão imparcial. Portanto, embora correspondais à adoração amorosa de Vossos devotos, permaneceis sempre igualmente dispostos para com todos os seres vivos.

VERSO 48: Por favor, ordenai-me, Vosso servo, a fazer o que quer que desejais. Estar ocupado por Vós em algum serviço é decerto uma grande bênção para qualquer pessoa.

VERSO 49: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Ó melhor dos reis, tendo fa­lado estas palavras, Sudāmā pôde compreender o que Kṛṣṇa e Balarāma queriam. Então, com grande prazer, ele Os presenteou com guirlandas de flores frescas e perfumadas.

VERSO 50: Belamente adornados com essas guirlandas, Kṛṣṇa e Balarāma sentiram extremo prazer, e o mesmo se passou com Seus companheiros. Os dois Senhores, então, ofereceram ao rendido Sudāmā, que estava prostrado diante dEles, quaisquer bênçãos que de­sejasse.

VERSO 51: Sudāmā escolheu devoção inabalável a Kṛṣṇa, a Alma Supre­ma de toda a existência; amizade com Seus devotos, e compaixão transcendental por todos os seres vivos.

VERSO 52: O Senhor Kṛṣṇa não só concedeu essas bênçãos a Sudāmā, mas também lhe deu força, longevidade, fama, beleza e prosperidade sempre crescente para sua família. Então, Kṛṣṇa e Seu irmão mais velho Se despediram.

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