Capítulo Sete
O Sacrifício Executado por Dakṣa
VERSO 1: O sábio Maitreya disse: Ó Vidura de braços poderosos, o senhor Śiva, sendo assim apaziguado pelas palavras do senhor Brahmā, falou o seguinte em resposta ao pedido do senhor Brahmā.
VERSO 2: O senhor Śiva disse: Meu querido pai, Brahmā, não me importo com as ofensas cometidas pelos semideuses. Como esses semideuses são infantis e menos inteligentes, não levo a sério suas ofensas, e os puni apenas para corrigi-los.
VERSO 3: O senhor Śiva continuou: Uma vez que a cabeça de Dakṣa já se transformou em cinzas, ele terá a cabeça de um bode. O semideus conhecido como Bhaga será capaz de ver seu quinhão do sacrifício através dos olhos de Mitra.
VERSO 4: O semideus Pūṣā será capaz de mastigar somente por intermédio dos dentes de seus discípulos e, se estiver sozinho, terá de contentar-se comendo massa feita de farinha de grão-de-bico. Mas os semideuses que concordaram em me dar o meu quinhão do sacrifício se recuperarão de todos os ferimentos.
VERSO 5: Aqueles cujos braços foram cortados terão que trabalhar com os braços de Aśvinī-kumāra, e aqueles cujas mãos foram cortadas terão que trabalhar com as mãos de Pūṣā. Os sacerdotes também terão que agir dessa maneira. Quanto a Bhṛgu, ele terá a barba da cabeça do bode.
VERSO 6: O grande sábio Maitreya disse: Meu querido Vidura, todas as personalidades presentes ficaram muito satisfeitas de coração e alma ao ouvirem as palavras do senhor Śiva, que é o melhor entre os abençoadores.
VERSO 7: Depois disso, Bhṛgu, o principal dos grandes sábios, convidou o senhor Śiva a ir à arena de sacrifício. Assim, os semideuses, acompanhados pelos sábios, pelo senhor Śiva e pelo senhor Brahmā, foram todos ao local onde o grande sacrifício estava sendo realizado.
VERSO 8: Depois que tudo foi executado exatamente de acordo com as orientações do senhor Śiva, o corpo de Dakṣa foi unido à cabeça do animal destinado a ser morto no sacrifício.
VERSO 9: Quando a cabeça do animal foi fixada no corpo do rei Dakṣa, Dakṣa imediatamente voltou à consciência, e, como se tivesse acordado do sono, o rei viu o senhor Śiva diante dele.
VERSO 10: Nessa altura, quando Dakṣa viu o senhor Śiva, que monta um touro, seu coração, que estava poluído com inveja do senhor Śiva, purificou-se imediatamente, assim como as chuvas de outono purificam a água num lago.
VERSO 11: O rei Dakṣa quis oferecer orações ao senhor Śiva, porém, logo que se recordou da malfadada morte de sua filha Satī, seus olhos encheram-se de lágrimas, e, constrangido, sua voz embargou-se a ponto de ele não conseguir dizer nada.
VERSO 12: Nessa altura, o rei Dakṣa, movido de amor e afeição, ficou bem desperto em sua verdadeira razão. Com grande esforço, ele apaziguou sua mente, conteve seus sentimentos e, com consciência pura, colocou-se a oferecer orações ao senhor Śiva.
VERSO 13: O rei Dakṣa disse: Meu querido senhor Śiva, cometi uma grande ofensa contra ti, mas és tão bondoso que, ao invés de retirar tua misericórdia, fizeste-me um grande favor punindo-me. Tu e o Senhor Viṣṇu nunca negligenciais ninguém, nem sequer brāhmaṇas inúteis e desqualificados. Por que, então, deveríeis negligenciar a mim, que estou ocupado em executar sacrifícios?
VERSO 14: Meu querido, grande e poderoso senhor Śiva, primeiramente foste criado da boca do senhor Brahmā a fim de proteger os brāhmaṇas na aquisição de educação, austeridades, votos e autorrealização. Como protetor dos brāhmaṇas, proteges sempre os princípios reguladores que eles seguem, assim como um vaqueirinho mantém um bastão em sua mão para proteger as vacas.
VERSO 15: Não conheço a plenitude de tuas glórias. Por esta razão, disparei flechas de palavras ásperas contra ti em plena assembleia, embora não as levasses em conta. Eu estava descendo ao inferno devido à minha desobediência a ti, que és a personalidade mais respeitável, mas tiveste compaixão de mim e me salvaste punindo-me. Peço-te que te satisfaças com tua própria misericórdia, uma vez que não posso satisfazer-te com minhas palavras.
VERSO 16: O grande sábio Maitreya disse: Sendo assim perdoado pelo senhor Śiva, o rei Dakṣa, com a permissão do senhor Brahmā, recomeçou a realização do yajña, juntamente com os grandes sábios eruditos, os sacerdotes e outros.
VERSO 17: Depois disso, a fim de recomeçar as atividades de sacrifício, os brāhmaṇas primeiramente providenciaram a purificação da arena sacrificatória da contaminação causada pelo contato de Vīrabhadra e dos outros seguidores fantasmagóricos do senhor Śiva. Em seguida, eles providenciaram a oferenda de oblações conhecidas como puroḍāśa ao fogo.
VERSO 18: O grande sábio Maitreya disse a Vidura: Meu querido Vidura, logo que o rei Dakṣa ofereceu a manteiga clarificada com mantras do Yajur Veda em santificada meditação, o Senhor Viṣṇu apareceu ali sob Sua forma original como Nārāyaṇa.
VERSO 19: O Senhor Nārāyaṇa estava sentado no ombro de Stotra, ou Garuḍa, que tinha grandes asas. Tão logo o Senhor apareceu, todas as direções se iluminaram, diminuindo o brilho de Brahmā e dos outros presentes.
VERSO 20: Sua tez era negra, Sua roupa amarela como ouro e Seu elmo ofuscante como o Sol. Seu cabelo era azulado, da cor das abelhas negras, e Seu rosto decorava-se com brincos. Suas oito mãos portavam búzio, roda, maça, flor de lótus, flecha, arco, escudo e espada, e estavam decoradas com ornamentos dourados como braceletes e pulseiras. Todo o Seu corpo se assemelhava a uma árvore florescente belamente decorada com várias espécies de flores.
VERSO 21: O Senhor Viṣṇu parecia extraordinariamente belo porque, sobre Seu peito, estavam situadas a deusa da fortuna e uma guirlanda. Ele tinha o rosto belamente decorado com uma atitude sorridente, capaz de cativar todos no mundo, especialmente os devotos. Abanos de pelos brancos em ambos os lados do Senhor pareciam cisnes brancos, e o dossel branco sobre Sua cabeça parecia a Lua.
VERSO 22: Assim que o Senhor Viṣṇu tornou-Se visível, todos os semideuses – o senhor Brahmā e o senhor Śiva, os Gandharvas e todos ali presentes – imediatamente ofereceram suas respeitosas reverências prostrando-se bem diante dele.
VERSO 23: Na presença da refulgência deslumbrante do brilho corpóreo de Nārāyaṇa, o brilho de todos os demais se esvaiu, e todos pararam de falar. Temerosos com respeito e veneração, todos os presentes saudaram-nO, levando suas mãos à cabeça, e se prepararam para oferecer suas orações à Suprema Personalidade de Deus, Adhokṣaja.
VERSO 24: Embora o poder mental inclusive de semideuses como Brahmā não conseguisse compreender as ilimitadas glórias do Senhor Supremo, todos eles puderam perceber a forma transcendental da Suprema Personalidade de Deus por graça dEle. Somente por tal graça puderam oferecer suas respeitosas orações de acordo com suas diferentes capacidades.
VERSO 25: Quando o Senhor Viṣṇu aceitou as oblações oferecidas no sacrifício, Dakṣa, o Prajāpati, começou com grande prazer a oferecer-Lhe respeitosas orações. A Suprema Personalidade de Deus é, na verdade, o senhor de todos os sacrifícios e o preceptor de todos os Prajāpatis, e é servido até mesmo por personalidades como Nanda e Sunanda.
VERSO 26: Dakṣa disse à Suprema Personalidade de Deus: Meu querido Senhor, sois transcendental a todas as posições especulativas. Sois inteiramente espiritual, desprovido de todo o temor, e sempre mantendes a energia material sob controle. Apesar de aparecerdes na energia material, estais situado transcendentalmente. Vós estais sempre livre da contaminação material por serdes inteiramente autossuficiente.
VERSO 27: Os sacerdotes dirigiram-se ao Senhor, dizendo: Ó Senhor, transcendental à contaminação material, através da maldição lançada pelos homens do senhor Śiva, ficamos apegados a atividades fruitivas, de modo que agora estamos caídos e por isso nada sabemos sobre Vós. Pelo contrário, estamos agora envolvidos nos preceitos dos três departamentos do conhecimento védico sob o pretexto de executar rituais em nome de yajña. Sabemos que fizestes arranjos para distribuir os respectivos quinhões dos semideuses.
VERSO 28: Os membros da assembleia disseram ao Senhor: Ó refúgio único para todos em uma vida problemática, nesta formidável fortaleza da existência condicionada, o elemento tempo, como uma serpente, está sempre procurando uma oportunidade de atacar. Este mundo é cheio de fossos das ditas aflição e felicidade, e há muitos animais ferozes sempre prontos a atacar. O fogo da lamentação arde continuamente, e a miragem da falsa felicidade vive enfeitiçando, mas não há abrigo contra eles. Assim, as pessoas tolas vivem no ciclo de nascimentos e mortes, sempre acabrunhadas no desempenho de seus ditos deveres, e nós não sabemos quando elas aceitarão o abrigo de Vossos pés de lótus.
VERSO 29: O senhor Śiva disse: Meu querido Senhor, minha mente e minha consciência estão sempre fixas em Vossos pés de lótus, os quais, sendo a fonte de todas as bênçãos e da satisfação de todos os desejos, são adorados por todos os grandes sábios liberados, porque Vossos pés de lótus são dignos de adoração. Com minha mente fixa em Vossos pés de lótus, já não me perturbam mais as pessoas que me blasfemam, alegando que minhas atividades não são puras. Não me importo com suas acusações, e perdoo-as por compaixão, assim como Vós demonstrais compaixão para com todas as entidades vivas.
VERSO 30: Śrī Bhṛgu disse: Meu querido Senhor, todas as entidades vivas, começando da mais elevada, ou seja, o senhor Brahmā, descendo até a formiga comum, estão sob a influência do insuperável encanto da energia ilusória, e assim elas ignoram sua posição constitucional. Todos creem no conceito corporal, e todos estão assim submersos na escuridão da ilusão. Na verdade, eles não conseguem compreender como Vós viveis em toda entidade viva como a Superalma, tampouco conseguem compreender Vossa posição absoluta. Vós, porém, sois o eterno amigo e protetor de todas as almas rendidas. Portanto, por favor, sede bondoso conosco e perdoai todas as nossas ofensas.
VERSO 31: O senhor Brahmā disse: Meu querido Senhor, Vossa personalidade e Vossa forma eterna não podem ser compreendidas por ninguém que esteja tentando conhecer-Vos através dos diferentes processos de aquisição de conhecimento. Vossa posição é sempre transcendental à criação material, ao passo que a tentativa empírica de Vos compreender é material, assim como o são seus objetivos e instrumentos.
VERSO 32: O rei Indra disse: Meu querido Senhor, Vossa forma transcendental com oito mãos e armas em cada uma delas aparece para o bem-estar de todo o universo, e é muito agradável para a mente e os olhos. Em tal forma, Vossa Onipotência está sempre preparado para castigar os demônios, que têm inveja de Vossos devotos.
VERSO 33: As esposas dos realizadores do sacrifício disseram: Meu querido Senhor, este sacrifício foi organizado sob a instrução de Brahmā, mas, infelizmente, o senhor Śiva, irritando-se com Dakṣa, devastou todo o cenário, e, devido à sua ira, os animais destinados ao sacrifício jazem mortos. Portanto, as preparações do yajña foram perdidas. Agora, pelo olhar de Vossos olhos de lótus, a santidade desta arena sacrificatória poderá ser novamente invocada.
VERSO 34: Os sábios oraram: Querido Senhor, Vossas atividades são admirabilíssimas, e, embora façais tudo através de Vossas diferentes potências, não estais apegado de modo algum a tais atividades. Não estais sequer apegado à deusa da fortuna, que é adorada pelos grandes semideuses como Brahmā, que oram para obter a misericórdia dela.
VERSO 35: Os Siddhas oraram: Assim como um elefante que sofreu em um incêndio florestal pode esquecer-se de todos os seus incômodos entrando num rio, nossas mentes, ó Senhor, sempre mergulham no rio nectáreo de Vossos passatempos transcendentais, sem que jamais desejem deixar tal bem-aventurança transcendental, que é tão boa como o prazer de mergulhar no Absoluto.
VERSO 36: A esposa de Dakṣa orou da seguinte maneira: Meu querido Senhor, é uma imensa fortuna que tenhais aparecido nesta arena de sacrifício. Ofereço-Vos minhas respeitosas reverências e peço-Vos que fiqueis satisfeito nesta ocasião. A arena de sacrifício não é bela sem Vós, assim como um corpo não é belo sem a cabeça.
VERSO 37: Os governantes de vários planetas falaram como segue: Querido Senhor, acreditamos somente em nossa percepção direta. Nós Vos vemos, portanto, como uma criação do mundo material. Mas, nas atuais circunstâncias, não sabemos se realmente Vos estamos vendo com nossos sentidos materiais. Com nossos sentidos materiais podemos apenas perceber a manifestação cósmica, mas Vós estais além dos cinco elementos. Vós sois o sexto.
VERSO 38: Os grandes místicos disseram: Querido Senhor, as pessoas que Vos veem como não diferente delas próprias, sabendo que sois a Superalma de todas as entidades vivas, certamente são muitíssimo queridas para Vós. Sois muito favorável àqueles que se ocupam em serviço devocional, aceitando-Vos como o Senhor e a eles próprios como servos. Por Vossa misericórdia, estais sempre inclinado a favor deles.
VERSO 39: Oferecemos nossas respeitosas reverências ao Supremo, que cria variedades de manifestações e as põe sob o encanto das três qualidades do mundo material a fim de criá-las, mantê-las e aniquilá-las. Ele próprio não está sob o controle da energia externa; sob Seu aspecto pessoal, Ele é inteiramente desprovido da manifestação variada de qualidades materiais, não estando sob a ilusão da falsa identificação.
VERSO 40: Os Vedas personificados disseram: Oferecemos nossas respeitosas reverências a Vós, o Senhor, o abrigo da qualidade da bondade e, portanto, a fonte de toda a religião, austeridade e penitência, pois sois transcendental a todas as qualidades materiais e ninguém Vos conhece ou conhece a Vossa verdadeira situação.
VERSO 41: O deus do fogo disse: Meu querido Senhor, ofereço-Vos minhas respeitosas reverências porque, através de Vosso favor, sou tão luminoso como o fogo abrasador e aceito as oferendas misturadas com manteiga e oferecidas em sacrifício. Os cinco tipos de oferendas de acordo com o Yajur Veda são todos Vossas diferentes energias, e sois adorado por cinco espécies de hinos védicos. Sacrifício quer dizer Vossa Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 42: Os semideuses disseram: Querido Senhor, anteriormente, quando houve uma devastação, Vós conservastes todas as diferentes energias da manifestação material. Naquela ocasião, todos os habitantes dos planetas superiores, representados por almas liberadas tais como Sanaka, meditavam em Vós mediante a especulação filosófica. Vós sois, portanto, a pessoa original, e repousais na água da devastação sobre o leito da serpente Śeṣa. Agora, hoje, Vós sois visível a nós, que somos todos Vossos servos. Por favor, protegei-nos.
VERSO 43: Os Gandharvas disseram: Querido Senhor, todos os semideuses, incluindo o senhor Śiva, o senhor Brahmā, Indra e Marīci e os grandes sábios, são apenas partes integrantes diferenciadas de Vosso corpo. Vós sois o Supremo, o Grande, o Poderoso; toda a criação é como um brinquedo para Vós. Nós sempre Vos aceitamos como a Suprema Personalidade de Deus, e Vos oferecemos nossas respeitosas reverências.
VERSO 44: Os Vidyādharas disseram: Querido Senhor, esta forma de corpo humano destina-se a alcançar o mais elevado objetivo de perfeição, mas, impelida por Vossa energia externa, a entidade viva identifica-se falsamente com seu corpo e com a energia material e, em razão disso, influenciada por māyā, ela deseja ser feliz através do gozo material. Ela se desorienta e sempre se sente atraída pela temporária felicidade ilusória. Porém, Vossas atividades transcendentais são tão poderosas que, se alguém se dedica a ouvir e cantar tais temas, pode libertar-se da ilusão.
VERSO 45: Os brāhmaṇas disseram: Querido Senhor, sois o sacrifício personificado. Sois a oferenda de manteiga clarificada, sois o fogo, sois o canto de hinos védicos pelos quais se conduz o sacrifício, sois o combustível, a chama, a grama kuśa e os potes de sacrifício. Vós sois os sacerdotes que executam o yajña, sois os semideuses encabeçados por Indra, e sois o animal sacrificatório. Tudo o que é sacrificado sois Vós ou Vossa energia.
VERSO 46: Querido Senhor, ó conhecimento védico personificado, no milênio passado, muitíssimo tempo atrás, quando aparecestes como a encarnação do grande javali, tirastes o mundo da água, assim como um elefante tira uma flor de lótus de um lago. Quando vibrastes o som transcendental naquela gigantesca forma de javali, o som foi aceito como um hino sacrificatório, e grandes sábios, como Sanaka, meditaram nele e ofereceram orações para Vossa glorificação.
VERSO 47: Querido Senhor, estávamos esperando Vossa audiência, pois não conseguimos executar os yajñas de acordo com os rituais védicos. Oramos a Vós, portanto, que fiqueis satisfeito conosco. Simplesmente cantando Vosso santo nome, pode-se superar todos os obstáculos. Oferecemos nossas respeitosas reverências em Vossa presença.
VERSO 48: Śrī Maitreya disse: Após o Senhor Viṣṇu ter sido glorificado por todos os presentes, Dakṣa, com sua consciência purificada, providenciou o reinício do yajña que fora devastado pelos seguidores do senhor Śiva.
VERSO 49: Maitreya continuou: Meu querido e impecável Vidura, o Senhor Viṣṇu é, na verdade, o desfrutador dos resultados de todos os sacrifícios. Todavia, por ser a Superalma de todas as entidades vivas, Ele ficou satisfeito simplesmente com Seu quinhão das oferendas do sacrifício. Portanto, dirigiu-Se a Dakṣa em uma atitude amável.
VERSO 50: O Senhor Viṣṇu respondeu: Brahmā, o senhor Śiva e Eu somos a causa suprema da manifestação material. Eu sou a Superalma, a testemunha autossuficiente. Porém, do ponto de vista impessoal, não há diferença entre Eu, Brahmā e o senhor Śiva.
VERSO 51: O Senhor continuou: Meu querido Dakṣa Dvija, Eu sou a original Personalidade de Deus, mas, a fim de criar, manter e aniquilar esta manifestação cósmica, ajo através de Minha energia material, e, de acordo com os diferentes graus de atividades, Minhas representações recebem diferentes nomes.
VERSO 52: O Senhor continuou: Quem não tem conhecimento adequado pensa que semideuses como Brahmā e Śiva são independentes, ou pensa até mesmo que as entidades vivas são independentes.
VERSO 53: Uma pessoa com inteligência normal não pensa que a cabeça e outras partes do corpo são separadas. Do mesmo modo, Meu devoto não diferencia Viṣṇu, a onipenetrante Personalidade de Deus, de alguma coisa ou de alguma entidade viva.
VERSO 54: O Senhor continuou: Aquele que não considera Brahmā, Viṣṇu, Śiva ou as entidades vivas em geral como sendo separados do Supremo, e que conhece o Brahman, realmente obtém paz; os outros não.
VERSO 55: O sábio Maitreya disse: Assim, Dakṣa, o líder de todos os Prajāpatis, tendo sido muito bem instruído pela Suprema Personalidade de Deus, adorou o Senhor Viṣṇu. Após adorá-lO, executando as cerimônias sacrificatórias prescritas, Dakṣa adorou separadamente o senhor Brahmā e o senhor Śiva.
VERSO 56: Com todo o respeito, Dakṣa adorou o senhor Śiva com seu quinhão dos restos do yajña. Após terminar as atividades ritualísticas sacrificatórias, ele satisfez todos os demais semideuses e as outras pessoas ali reunidas. Depois, encerrados todos esses deveres com os sacerdotes, ele se banhou e ficou plenamente satisfeito.
VERSO 57: Adorando assim o Supremo Senhor Viṣṇu mediante a realização ritualística do sacrifício, Dakṣa situou-se inteiramente no caminho religioso. Além disso, todos os semideuses que se reuniram para o sacrifício abençoaram-no para que sua piedade aumentasse, após o que eles partiram.
VERSO 58: Maitreya disse: Contaram-me que, após abandonar o corpo que recebera de Dakṣa, Dākṣāyaṇī (sua filha) nasceu no reino dos Himalaias. Ela nasceu como filha de Menā. Isso eu ouvi de fontes autorizadas.
VERSO 59: Ambikā [a deusa Durgā], que era conhecida como Dākṣāyiṇī [Satī], novamente aceitou o senhor Śiva como seu esposo, assim como diferentes energias da Suprema Personalidade de Deus agem durante o decurso de uma nova criação.
VERSO 60: Maitreya disse: Meu querido Vidura, eu ouvi esta história do yajña de Dakṣa, que foi devastado pelo senhor Śiva, da parte de Uddhava, um grande devoto e discípulo de Bṛhaspati.
VERSO 61: Ο grande sábio Maitreya concluiu: Se alguém ouve e reconta, com fé e devoção, esta história do yajña de Dakṣa, tal como ele foi conduzido pela Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, então certamente se purifica de toda a contaminação da existência material, ό filho de Kuru.