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CAPÍTULO OITENTA E QUATRO

Os Ensinamentos dos Sábios em Kurukṣetra

Este capítulo descreve a chegada de grandes sábios a Kurukṣetra para observar a ocasião auspiciosa de um eclipse solar, a glorificação do Senhor Kṛṣṇa feita pelos sábios e a entusiástica execução de sa­crifícios feita por Vasudeva.

Por ocasião de um eclipse solar em Kurukṣetra, damas gloriosíssimas como Kuntī, Draupadī e Subhadrā tiveram a oportunidade de asso­ciarem-se com as rainhas do Senhor Kṛṣṇa. Vendo o quanto as consortes do Senhor amavam seu marido, as damas ficaram maravilhadas. En­quanto as mulheres conversavam entre si, e os homens também assim o faziam, grandes sábios liderados por Nārada e Vyāsadeva chegaram ali desejando ver o Senhor Kṛṣṇa. Os vários reis e outras impor­tantes personalidades que estavam sentados à vontade, incluindo-se os Pāṇḍavas, Kṛṣṇa e Balarāma, levantaram-se assim que viram os sábios. Todos os líderes curvaram-se ante as grandes almas, perguntaram sobre seu bem-estar e adoraram-nos oferecendo-lhes assen­tos, água etc. O Senhor Kṛṣṇa, então, disse: “Nossas vidas, agora, são bem-sucedidas, pois alcançamos a meta da vida: a audiência com grandes sábios e mestres do yoga, a qual até os semideuses raras vezes conseguem. A água de um lugar santo de peregrinação e as formas de deidade dos deuses podem purificar apenas depois de muito tempo, mas os sábios santos purificam apenas por serem vistos. Aqueles que se identificam com o corpo e deixam de honrar sábios transcendentais como vós não são melhores do que asnos.”

Depois de ouvirem o Senhor Kṛṣṇa falar estas palavras como se fosse um simples mortal, os sábios permaneceram algum tempo em silêncio, perplexos. Então, disseram: “Como nosso Senhor é surpreendente! Ele encobre Sua verdadeira identidade com atividades semelhantes às humanas e finge estar sujeito a um controle superior. Com certeza, Ele falou dessa maneira apenas para iluminar as pessoas em geral. Este Seu comportamento é mesmo inconcebível.” Os sábios continuaram a glorificar o Senhor como a Suprema Personalidade de Deus, a Superalma e o amigo e adorador dos brāhmaṇas.

Depois que os sábios O louvaram, o Senhor Kṛṣṇa ofereceu-lhes Suas reverências, e eles pediram Sua permissão para regressar a seus eremitérios. Contudo, bem naquele momento, Vasudeva adiantou-se, prostrou-se diante dos sábios e perguntou: “Que atividades alguém pode executar para livrar-se do cativeiro do trabalho fruitivo?” Os sábios responderam: “Adorando o Senhor Supremo, Hari, através da execução de sacrifícios védicos, ficarás livre do cativeiro do trabalho fruitivo.” Vasudeva, então, pediu aos sábios que fossem seus sacerdo­tes e providenciou a execução de sacrifícios védicos com excelente parafernália. Depois, Vasudeva presenteou os sacerdotes com valio­sos presentes, tais como vacas, joias e também jovens brāhmaṇas em idade de se casarem. Então, ele tomou o banho ritualístico que marca o fim do sacrifício e alimentou todos suntuosamente, até mesmo os cães da vila. Em seguida, deu muitos presentes a seus parentes, aos vários reis e a outras pessoas, todos os quais se despediram do Senhor Kṛṣṇa e regressaram a seus lares.

Incapaz de partir por causa de sua intensa afeição por seus paren­tes, Nanda Mahārāja permaneceu três meses em Kurukṣetra, servido com reverência pelos Yādavas. Certa ocasião, enquanto descrevia a profunda amizade que Nanda Mahārāja lhe mostrara, Vasudeva chegou a derramar lágrimas em público. Terminados os três meses, Nanda partiu para Mathurā com as carinhosas despedidas de todos os Yādavas. Quando, afinal, viram que a estação das chuvas estava prestes a começar, os Yādavas voltaram para Dvārakā, onde contaram aos residentes de sua capital tudo o que acontecera em Kurukṣetra.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Pṛthā, Gāndhārī, Draupadī, Subhadrā, as esposas dos outros reis e as vaqueirinhas namoradas de Kṛṣṇa ficaram todas surpresas ao ouvirem sobre o profundo amor das rainhas pelo Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus e Alma de todos os seres, e seus olhos encheram-se de lágrimas.

VERSOS 2-5: Enquanto as mulheres conversavam entre si dessa maneira, e os homens entre eles, chegaram ali vários sábios eminentes, todos ávidos por ver o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Balarāma. Entre eles, encontravam-se Dvaipāyana, Nārada, Cyavana, Devala e Asita, Viśvāmitra, Śatānanda, Bharadvāja e Gautama, o Senhor Paraśurāma e seus discípulos, Vasiṣṭha, Gālava, Bhṛgu, Pulastya e Kaśyapa, Atri, Mārkaṇḍeya e Bṛhaspati, Dvita, Trita, Ekata e os quatro Kumā­ras, e Aṅgirā, Agastya, Yājñavalkya e Vāmadeva.

VERSO 6: Logo que viram os sábios aproximando-se, os reis e outros cavalheiros, incluindo os irmãos Pāṇḍavas e Kṛṣṇa e Balarāma, que estavam todos sentados, levantaram-se imediatamente. Todos eles, então, curvaram-se ante os sábios, os quais são honrados em todo o universo.

VERSO 7: O Senhor Kṛṣṇa, o Senhor Balarāma e os outros reis e líderes adoraram convenientemente os sábios, oferecendo-lhes palavras de saudação, lugares para se sentar, água para lavar os pés, água para beber, guirlandas de flores, incenso e pasta de sândalo.

VERSO 8: Depois que os sábios estavam confortavelmente sentados, o Supremo Senhor Kṛṣṇa, cujo corpo transcendental protege os princípios religiosos, dirigiu-Se a eles no meio daquela grande assembleia, enquanto todos, tomados de arrebatada atenção, ouviam em silêncio.

VERSO 9: O Senhor Supremo disse: Agora nossas vidas de fato são bem-sucedidas, porque alcançamos a meta máxima da vida: a audiên­cia com grandes mestres do yoga, algo que mesmo os semideuses apenas raramente conseguem.

VERSO 10: Como é que pessoas que não são muito austeras e que apenas reconhecem a Deus na forma de Sua Deidade no templo podem agora ver-vos, tocar-vos, interrogar-vos, curvar-se ante vós, ado­rar vossos pés e servir-vos de outras maneiras?

VERSO 11: Meros reservatórios de água não são os verdadeiros lugares sagrados de peregrinação; nem meras imagens de terra e pedra, as verdadeiras deidades adoráveis. Esses purificam apenas depois de muito tempo, mas os sábios santos purificam de imediato quem os vê.

VERSO 12: Nem os semideuses que controlam o fogo, o Sol, a Lua e as estrelas, nem as entidades encarregadas da terra, água, éter, ar, fala e mente eliminam de fato os pecados de seus adoradores, que continuam a ver em termos de dualidades. Mas os sábios destroem os pecados daquele que os serve com respeito ainda que apenas por alguns momentos.

VERSO 13: Aquele que se identifica com o corpo inerte composto de muco, bílis e ar, que se presume permanente proprietário de sua esposa e família, que pensa que uma imagem de argila ou a terra de seu nascimento são adoráveis, ou que vê um lugar de peregrinação como a mera água ali existente, mas que nunca se identifica nem sente afinidade com aqueles que são sábios na verdade espiritual, tampouco os adora ou sequer os visita – tal pessoa não é melhor do que uma vaca ou um asno.

VERSO 14: Śukadeva Gosvāmī disse: Ouvindo tais palavras insondáveis do ilimitadamente sábio Senhor Kṛṣṇa, os brāhmaṇas eruditos permaneceram em silêncio, com suas mentes perplexas.

VERSO 15: Por algum tempo, os sábios ponderaram acerca do comportamento do Senhor Supremo, o qual se assemelhava ao de um ser vivo subordinado. Concluindo que Ele agia dessa maneira para instruir o povo em geral, os sábios sorriram e dirigiram-se a Ele, o mestre espiritual do universo.

VERSO 16: Os grandes sábios disseram: Vosso poder de ilusão trouxe completa desorientação a nós, os mais elevados conhecedores da verdade e líderes entre os criadores universais. Oh! Como é surpreendente o comportamento do Senhor Supremo! Ele Se encobre com Suas atividades aparentemente humanas e finge sujeitar-Se a um controle superior.

VERSO 17: De fato, os passatempos aparentemente humanos do Onipo­tente são mero faz-de-conta! Sem esforço algum, Ele sozi­nho emite de Seu eu esta variegada criação, mantém-na e, depois, torna a engoli-la, tudo sem Se envolver, assim como o elemento terra assume muitos nomes e formas em suas várias transformações.

VERSO 18: Não obstante, nas ocasiões apropriadas, assumis o modo da bondade pura para proteger Vossos devotos e castigar os perversos. Dessa maneira, Vós, a Alma da ordem social varṇāśrama, a Suprema Personalidade de Deus, mantendes o caminho eterno dos Vedas desfrutando Vossos passatempos aprazíveis.

VERSO 19: Os Vedas são Vosso imaculado coração, e, através deles, podem­-se perceber – por meio de austeridade, estudo e autocontrole – o manifesto, o imanifesto e a existência pura e transcendental a ambos.

VERSO 20: Portanto, ó Brahman Supremo, honrais os membros da comunidade bramânica porque eles são os agentes perfeitos pelos quais alguém pode compreender-Vos através da evidência dos Vedas. Por essa mesma razão, sois o principal adorador dos brāhmaṇas.

VERSO 21: Hoje, nosso nascimento, educação, austeridade e visão, todos se tornaram perfeitos, visto que fomos capazes de nos associar com Vós, a meta de todas as pessoas santas. De fato, Vós mesmo sois a bênção derradeira e suprema.

VERSO 22: Ofereçamos reverências àquela Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Kṛṣṇa, a Superalma de inteligência infinita, que disfarçou Sua grandiosidade por meio de Sua yogamāyā mís­tica.

VERSO 23: Nem estes reis nem mesmo os Vṛṣṇis, que desfrutam de Vossa associação íntima, conhecem-Vos como a Alma de toda a existência, a força do tempo e o controlador supremo. Para eles, estais coberto pelo véu de māyā.

VERSOS 24-25: A pessoa adormecida imagina para si uma realidade alternati­va e, vendo-se como se tivesse vários nomes e formas, esquece a identidade que possui durante o estado de vigília, a qual é dis­tinta do sonho. De modo semelhante, os sentidos de alguém cuja consciência está desorientada pela ilusão percebem apenas os nomes e formas dos objetos materiais. Assim, tal pessoa perde a memó­ria e não pode conhecer-Vos.

VERSO 26: Hoje, vimos diretamente Vossos pés, a fonte do sagrado Ganges, que leva embora enormes quantidades de pecado. Yogīs perfei­tos podem, no melhor dos casos, meditar em Vossos pés dentro de seus corações. Mas apenas aqueles que Vos prestam serviço devo­cional de todo o coração e, dessa maneira, destroem a cobertura da alma – a mente material – é que Vos alcançam como seu destino final. Portanto, por favor, concedei misericórdia a nós, Vossos devotos.

VERSO 27: Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo assim falado, ó sábio rei, os sábios, então, despediram-se do Senhor Dāśārha, de Dhṛtarāṣṭra e de Yudhiṣṭhira e se prepararam para partir com destino a seus āśramas.

VERSO 28: Vendo que eles estavam prestes a partir, o renomado Vasudeva se aproximou dos sábios. Depois de prostrar-se diante deles e tocar seus pés, falou-lhes com palavras cuidadosamente esco­lhidas.

VERSO 29: Śrī Vasudeva disse: Reverências a vós, a residência de todos os semideuses. Fazei a gentileza de ouvir-me, ó sábios. Por favor, dizei-nos como se podem neutralizar as reações do trabalho por meio do próprio trabalho.

VERSO 30: Śrī Nārada Muni disse: Ó brāhmaṇas, não é tão surpreenden­te que, em sua avidez por saber, Vasudeva nos tenha perguntado sobre seu benefício último, pois ele considera Kṛṣṇa um mero menino.

VERSO 31: Neste mundo, a familiaridade gera desprezo. Por exemplo, alguém que mora às margens do Ganges às vezes viaja até algum outro reservatório de água para se purificar.

VERSOS 32-33: A consciência do Senhor Supremo jamais é perturbada pelo tempo, pela criação e destruição do universo, por mudanças em suas próprias qualidades ou por qualquer outra coisa, intrínseca ou extrínseca em relação a Ele. Contudo, embora a consciência da Personalidade de Deus, que é o supremo, único e incomparável, jamais seja afetada pela aflição material, pelas reações do traba­lho material ou pelo fluxo constante dos modos da natureza, as pessoas comuns, todavia, pensam que o Senhor é encoberto por Suas próprias criações tais como prāṇa e outros elementos ma­teriais, assim como se pode pensar que o Sol é encoberto pelas nuvens, neve ou eclipse.

VERSO 34: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Os sábios, então, tornaram a falar, ó rei, dirigindo-se a Vasudeva enquanto todos os reis, juntamente com o Senhor Acyuta e o Senhor Rāma, ouviam.

VERSO 35: [Os sábios disseram:] Foi definitivamente concluído que se anula o trabalho por meio de outro trabalho quando alguém exe­cuta sacrifícios védicos como meio de adorar a Viṣṇu, o Senhor de todos os sacrifícios, com fé sincera.

VERSO 36: Autoridades eruditas que veem através dos olhos da escritu­ra demonstram que este é o método mais fácil de subjugar a mente agitada e alcançar a liberação, e é um dever sagrado que traz júbilo ao coração.

VERSO 37: Este é o caminho mais auspicioso para um pai de família religioso pertencente a alguma das ordens dos duas vezes nascidos – adorar abnegadamente a Personalidade de Deus com a riqueza obtida por meios honestos.

VERSO 38: Uma pessoa inteligente deve aprender a renunciar seu desejo por riquezas realizando sacrifícios e atos de caridade. Deve apren­der a renunciar seu desejo de ter esposa e filhos experimentan­do a vida familiar. E deve aprender a renunciar seu desejo de promoção a um planeta superior na próxima vida, ó santo Vasudeva, estudando os efeitos do tempo. Sábios autocontrolados que, dessa forma, renunciaram seu apego à vida familiar vão para a floresta executar austeridades.

VERSO 39: Querido Prabhu, um membro das classes dos duas vezes nascidos nasce com três espécies de dívidas – dívidas com os semideuses, com os sábios e com seus antepassados. Se deixar o corpo sem primeiro liquidar essas dívidas mediante a execução de sacrifícios, o es­tudo das escrituras e a geração de filhos, ele cai em uma condição infernal.

VERSO 40: Mas tu, ó alma magnânima, já estás livre de duas de tuas dí­vidas – com os sábios e com os antepassados. Agora, exime-te de tua dí­vida para com os semideuses executando sacrifícios védicos e, desse modo, livra-te por completo da dívida e renuncia todo abrigo ma­terial.

VERSO 41: Ó Vasudeva, é certo que outrora deves ter adorado o Senhor Hari, o mestre de todos os mundos. Tu e tua esposa devem tê-lO adorado perfeitamente e com suprema devoção, pois Ele aceitou o papel de vosso filho.

VERSO 42: Śukadeva Gosvāmī disse: Depois de ter ouvido essas declara­ções dos sábios, o generoso Vasudeva prostrou sua cabeça no chão e, louvando-os, pediu-lhes que fossem seus sacerdotes.

VERSO 43: Assim solicitados por ele, ó rei, os sábios ocuparam o piedoso Vasudeva na execução de sacrifícios de fogo naquele lugar sagra­do de Kurukṣetra segundo estritos princípios religiosos e com os mais excelentes arranjos ritualísticos.

VERSOS 44-45: Quando Mahārāja Vasudeva estava prestes a ser iniciado para o sacrifício, ó rei, os Vṛṣṇis, depois de terem-se banhado e colo­cado roupas finas e guirlandas de lótus, foram ao pavilhão de iniciação. Os outros reis, enfeitados com muito esmero, também foram, acompanhados de todas as suas alegres rainhas, que usavam medalhões de pedras preciosas em volta do pescoço e também se vestiam com roupas finas. As esposas reais estavam ungidas com pasta de sândalo e traziam objetos auspiciosos para a adoração.

VERSO 46: Mṛdaṅgas, paṭahas, búzios, bherīs, ānakas e outros instrumentos ressoaram, dançarinos e bailarinas dançaram, e sūtas e māgadhas recitaram glorificações. Gandharvīs com doces vozes cantaram, acompanhadas por seus maridos.

VERSO 47: Depois que os olhos de Vasudeva foram ornados com cosméti­co negro e seu corpo untado com manteiga fresca, os sacerdotes iniciaram-no segundo as regras das escrituras borrifando água sagrada sobre ele e suas dezoito rainhas. Rodeado por suas esposas, ele parecia a Lua régia cercada de estrelas.

VERSO 48: Vasudeva recebeu iniciação juntamente com suas esposas, que usavam sáris de seda e estavam enfeitadas com pulseiras, colares, guizos de tornozelo e brincos. Com o corpo enrolado em uma pele de veado, Vasudeva brilhava com muito esplendor.

VERSO 49: Meu caro Mahārāja Parīkṣit, os sacerdotes de Vasudeva e os membros oficiantes da assembleia, vestidos de dhotīs de seda e ornamentados com joias, pareciam tão refulgentes que era como se estivessem na arena de sacrifício de Indra, o matador de Vṛtra.

VERSO 50: Naquela ocasião, Balarāma e Kṛṣṇa, os Senhores de todas as entidades vivas, brilhavam com grande majestade em companhia de Seus respectivos filhos, esposas e outros familiares, que eram expansões de Suas opulências.

VERSO 51: Efetuando várias espécies de sacrifícios védicos de acordo com os regulamentos adequados, Vasudeva adorou o Senhor de toda a parafernália sacrificial, mantras e rituais. Ele executou sacri­fícios primários e secundários, oferecendo oblações ao fogo sa­grado e realizando outros aspectos da adoração feita através de sacrifícios.

VERSO 52: Então, no momento oportuno e de acordo com a escritura, Vasudeva remunerou os sacerdotes decorando-os com precio­sos ornamentos, embora eles já estivessem ricamente adorna­dos, e oferecendo-lhes valiosos presentes, tais como vacas, terras e moças casáveis.

VERSO 53: Depois de supervisionar os rituais patnī-saṁyāja e avabhṛthya, os grandes sábios brāhmaṇas se banharam no lago do Senhor Paraśurāma com o patrocinador do sacrifício, Vasudeva, que os liderava.

VERSO 54: Concluído seu banho sagrado, Vasudeva, juntamente com suas esposas, deu aos recitadores profissionais as joias e roupas que tinham usado. Então, Vasudeva vestiu roupas novas, depois do que ele honrou todas as classes de pessoas alimentando a todos, inclusive os cães.

VERSOS 55-56: Com presentes opulentos, ele honrou seus parentes, incluindo todas as esposas e filhos destes; a realeza dos reinos de Vidarbha, Kośala, Kuru, Kāśī, Kekaya e Sṛñjaya; os membros oficiantes da assembleia; e também os sacerdotes, semideuses que serviam de testemunha, seres humanos, espíritos, antepassados e Cāraṇas. Então, pedindo permissão ao Senhor Kṛṣṇa, o abrigo da deusa da fortuna, os vários hóspedes partiram enquanto cantavam as glórias do sacrifício de Vasudeva.

VERSOS 57-58: Os Yadus foram todos abraçados por seus amigos, membros íntimos da família e outros parentes, entre os quais Dhṛtarāṣṭra e seu irmão mais novo, Vidura; Pṛthā e seus filhos; Bhīṣma; Droṇa; os gêmeos Nakula e Sahadeva; Nārada; e Vedavyāsa, a Personalidade de Deus. Com os corações derretidos de afeição, esses e os outros hóspedes partiram para seus reinos, embora sua marcha fosse lenta devido à dor da separação.

VERSO 59: Nanda Mahārāja mostrou afeição por seus parentes, os Yadus, ficando com eles um pouco mais, juntamente com os vaqueiros. Durante sua estada, Kṛṣṇa, Balarāma, Ugrasena e os outros o honraram com uma adoração especialmente opulenta.

VERSO 60: Tendo atravessado com tanta facilidade o vasto oceano de sua ambição, Vasudeva sentiu-se completamente satisfeito. Em companhia de seus muitos benquerentes, ele segurou a mão de Nanda e disse-lhe o seguinte.

VERSO 61: Śrī Vasudeva disse: Meu querido irmão, foi o próprio Deus quem deu o nó chamado afeição, o qual ata firmemente os seres humanos entre si. Parece-me que até grandes heróis e místicos acham muito di­fícil libertarem-se dele.

VERSO 62: De fato, o Senhor Supremo deve ter criado os laços da afeição, pois santos grandiosos como tu jamais deixaram de mostrar incomparável amizade a ingratos como nós, embora ela jamais tenha sido correspondida como se deve.

VERSO 63: Anteriormente, querido irmão, nada fizemos para te benefi­ciar porque éramos incapazes, e mesmo agora que estás presente diante de nós, nossos olhos estão tão cegos pelo inebriamento decorrente da boa fortuna material que continuamos a te ignorar.

VERSO 64: Ó respeitosíssima personalidade, que aquele que deseja o mais alto benefício da vida jamais ganhe opulência real, pois esta o deixa cego às necessidades de sua própria família e amigos.

VERSO 65: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Com o coração enternecido por sentimentos de íntima afinidade, Vasudeva chorou. Seus olhos encheram-se de lágrimas enquanto se lembrava da amizade que Nanda lhe demonstrara.

VERSO 66: E de sua parte, Nanda também estava cheio de afeição por seu amigo Vasudeva. Assim, durante os dias seguintes, Nanda anunciou repetidas vezes: “Vou-me embora hoje mais tarde” e “Vou-me embora amanhã”. Mas, por amor a Kṛṣṇa e Balarāma, ele permaneceu mais três meses ali, honrado por todos os Yadus.

VERSOS 67-68: Então, depois que Vasudeva, Ugrasena, Kṛṣṇa, Uddhava, Balarāma e outros tinham satisfeito os desejos dele e o tinham presen­teado com ornamentos preciosos, linho fino e grande sortimento de apetrechos domésticos de valor inestimável, Nanda Mahārāja aceitou todos esses presentes e se despediu. Na presença de todos os Yadus, ele partiu com os membros de sua família e os residen­tes de Vraja.

VERSO 69: Incapazes de retirar suas mentes dos pés de lótus do Senhor Govinda, aos quais as haviam entregado, Nanda, os vaqueiros e suas esposas voltaram para Mathurā.

VERSO 70: Uma vez que seus parentes haviam partido, e vendo que a estação das chuvas se aproximava, os Vṛṣṇis, cujo único Senhor era Kṛṣṇa, voltaram para Dvārakā.

VERSO 71: Eles contaram ao povo da cidade sobre os sacrifícios festivos executados por Vasudeva, o senhor dos Yadus, e sobre tudo o mais que acontecera durante sua peregrinação, especialmente como eles tinham-se encontrado com todos os seus entes que­ridos.

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