Capítulo Oito
Brahmā Manifesta-se de Garbhodakaśāyī Viṣṇu
VERSO 1: Ο grande sábio Maitreya Muni disse a Vidura: A dinastia real do rei Pūru é digna de servir aos devotos puros porque todos os descendentes dessa família são devotados à Personalidade de Deus. Tu também nasceste nessa família, e é maravilhoso que, por causa de teu esforço, os passatempos transcendentais do Senhor estejam se renovando mais e mais a cada momento.
VERSO 2: Agora, então, começarei a falar sobre ο Bhāgavata Purāṇa, que é falado diretamente aos grandes sábios pela Personalidade de Deus para ο benefício daqueles que estão enredados em sofrimentos extremos por causa de um prazer ínfimo.
VERSO 3: Algum tempo atrás, tendo a curiosidade de saber, Sanat-kumāra, ο principal entre os meninos santos, acompanhado por outros grandes sábios, perguntou exatamente como tu sobre as verdades relativas a Vāsudeva, ο Supremo, ao Senhor Saṅkarṣaṇa, que está sentado no fundo do universo.
VERSO 4: Nesse momento, ο Senhor Saṅkarṣaṇa estava meditando em Seu Senhor Supremo, ο qual os eruditos estimam como ο Senhor Vāsudeva, mas, por amor ao avanço dos grandes sábios eruditos, Ele abriu ligeiramente os Seus olhos de lótus e começou a falar.
VERSO 5: Os sábios vieram dos planetas mais elevados para a região inferior através da água do Ganges, e por isso estavam com ο cabelo molhado. Eles tocaram os pés de lótus do Senhor, que as filhas do rei serpente adoram com parafernália variada quando desejam bons esposos.
VERSO 6: Os quatro Kumāras, encabeçados por Sanat-kumāra, que conheciam os passatempos transcendentais do Senhor, glorificaram ο Senhor em cadência rítmica com seletas palavras cheias de afeição e amor. Nesse momento, ο Senhor Saṅkarṣaṇa, com Seus milhares de capelos erguidos, começou a irradiar uma refulgência das resplandecentes pedras que havia sobre Sua cabeça.
VERSO 7: O Senhor Saṅkarṣaṇa, então, falou ο significado do Śrīmad-Bhāgavatam ao grande sábio Sanat-kumāra, que já havia feito ο voto de renúncia. Sanat-kumāra também, por sua vez, ao ser indagado por Sāṅkhyāyana Muni, explicou ο Śrīmad-Bhāgavatam tal como ο tinha ouvido de Saṅkarṣaṇa.
VERSO 8: Ο grande sábio Sāṅkhyāyana era ο principal entre os transcendentalistas, e, enquanto descrevia as glórias do Senhor em termos do Śrīmad-Bhāgavatam, sucedeu que tanto Parāśara, meu mestre espiritual, quanto Bṛhaspati, ouviram-no falar.
VERSO 9: Como se mencionou anteriormente, ao ser assim aconselhado pelo grande sábio Pulastya, ο grande sábio Parāśara falou para mim ο principal dos Purāṇas [Bhāgavatam]. Eu o descreverei diante de ti, meu caro filho, de acordo com ο que ouvi, visto que és sempre meu fiel seguidor.
VERSO 10: Naquela ocasião, em que os três mundos estavam submersos na água, Garbhodakaśāyī Viṣṇu estava só, deitado em Sua cama, a grande serpente Ananta, e, embora parecesse estar adormecido em Sua própria potência interna, livre da ação da energia externa, Seus olhos estavam semicerrados.
VERSO 11: Tal qual a força do fogo dentro da lenha, ο Senhor permanecia dentro da água da dissolução, submergindo todas as entidades vivas em seus corpos sutis. Ele Se deitou na energia autofortificante chamada kāla.
VERSO 12: Ο Senhor deitou-Se durante quatro mil ciclos de yuga em Sua potência interna, e, por Sua energia externa, Ele parecia estar dormindo dentro da água. Quando as entidades vivas começaram a surgir para ο desenvolvimento ulterior de suas atividades fruitivas, impulsionadas pela energia chamada kāla-śakti, Ele viu Seu corpo transcendental como sendo azulado.
VERSO 13: Ο assunto sutil da criação, no qual estava fixa a atenção do Senhor, foi agitado pelo modo material da paixão, em razão do que a forma sutil da criação irrompeu de Seu abdômen.
VERSO 14: Ao irromper, essa forma soma total da atividade fruitiva das entidades vivas tomou a configuração do botão de uma flor de lótus gerada a partir da Personalidade de Viṣṇu, e, por Sua vontade suprema, iluminou tudo, tal qual ο Sol, secando as vastas águas da devastação.
VERSO 15: Ο Senhor Viṣṇu entrou pessoalmente como a Superalma naquela flor de lótus universal e, ao ser então impregnada com todos os modos da natureza material, a personalidade da sabedoria védica, a quem chamamos de ο autógeno, foi gerada.
VERSO 16: Brahmā, nascido da flor de lótus, nãο pôde ver ο mundo, embora estivesse situado no verticilo. Ele, então, circum-ambulou todo ο espaço, e, enquanto girava os olhos em todas as direções, obteve quatro cabeças em termos das quatro direções.
VERSO 17: Ο senhor Brahmā, situado naquele lótus, nãο pôde entender perfeitamente a criação, ο lótus ou ele mesmo. Ao final do milênio, ο ar da devastação começou a agitar a água e ο lótus em grandes ondas circulares.
VERSO 18: Em sua ignorância, ο senhor Brahmā contemplou: Quem sou eu que estou situado em cima deste lótus? De onde ele brotou? Deve haver algo abaixo, e aquilo de onde cresceu este lótus deve estar dentro da água.
VERSO 19: Contemplando desta forma, ο senhor Brahmā entrou na água através do canal do caule do lótus. Todavia, apesar de ter entrado no caule e se aproximado do umbigo de Viṣṇu, ele não conseguiu descobrir a raiz.
VERSO 20: Ó Vidura, enquanto investigava dessa maneira a respeito de sua existência, Brahmā alcançou seu tempo final, que é a roda eterna na mão de Viṣṇu e que infunde temor na mente da entidade viva sob a forma do medo da morte.
VERSO 21: Depois disso, sendo incapaz de alcançar ο destino desejado, ele desistiu desta busca e retornou para cima do lótus. Assim, controlando todos os objetivos, ele concentrou sua mente no Senhor Supremo.
VERSO 22: Ao fim de cem anos de Brahmā, quando se encerrou sua meditação, ele desenvolveu ο conhecimento necessário e, como resultado, pôde ver em seu coração ο Supremo dentro de si, ο qual ele nãο pudera ver anteriormente, nem mesmo com ο mais intenso esforço.
VERSO 23: Brahmā pôde ver que havia na água uma gigantesca cama branca semelhante ao lótus, ο corpo de Śeṣa-nāga, onde a Personalidade de Deus estava deitado sozinho. Toda a atmosfera era iluminada pelos raios das joias que enfeitavam ο capelo de Śeṣa-nāga, e essa iluminação dissipava toda a escuridão daquelas regiões.
VERSO 24: Ο brilho do corpo transcendental do Senhor ridicularizava a beleza da montanha de coral. A montanha de coral é muito belamente vestida pelo céu vespertino, mas a roupa amarela do Senhor ridicularizava sua beleza. Há ouro no cume da montanha, mas ο elmo do Senhor, ornado com joias, ο ridicularizava. As cascatas, ervas etc. da montanha, com um panorama de flores, pareciam guirlandas, mas ο gigantesco corpo do Senhor, e Suas mãos e pernas, decorados com joias, ridicularizavam a cena da montanha.
VERSO 25: Seu corpo transcendental, ilimitado em comprimento e largura, ocupava os três sistemas planetários – ο superior, ο intermediário e ο inferior. Seu corpo era autoluminoso devido às vestes e à variedade incomparáveis e estava devidamente adornado.
VERSO 26: Ο Senhor mostrou Seus pés de lótus, levantando-os. Seus pés de lótus são a fonte de todos os prêmios obtidos por intermédio do serviço devocional isento de contaminação material. Esses prêmios são para aqueles que Ο adoram com devoção pura. O esplendor dos raios transcendentais das unhas semelhantes à Lua de Seus pés e de Suas mãos parecia as pétalas de uma flor.
VERSO 27: Ele também reconheceu ο serviço dos devotos e mitigou-lhes a aflição com Seu belo sorriso. Ο reflexo de Seu rosto, decorado com brincos, era muito agradável porque ofuscava com os raios de Seus lábios e a beleza de Seu nariz e de Suas sobrancelhas.
VERSO 28: Ó meu caro Vidura, a cintura do Senhor estava coberta com um traje cuja cor amarela assemelhava-se ao pó açafroado da flor kadamba, e rodeada por um cinto bem decorado. Seu peito estava decorado com a marca śrīvatsa e um colar de valor ilimitado.
VERSO 29: Assim como a árvore de sândalo é decorada com flores fragrantes e ramos, ο corpo do Senhor estava decorado com joias e pérolas valiosas. Ele era a árvore autossituada, ο Senhor de todas as outras no universo. Ε assim como a árvore de sândalo é coberta por muitas cobras, ο corpo do Senhor também estava coberto pelos capelos de Ananta.
VERSO 30: Tal qual uma grande montanha, ο Senhor mantém-Se como a morada para todas as entidades vivas móveis e imóveis. Ele é ο amigo das cobras porque ο Senhor Ananta é Seu amigo. Assim como uma montanha tem milhares de picos dourados, da mesma forma ο Senhor era visto com os milhares de capelos com elmos dourados de Ananta-nāga, e assim como uma montanha às vezes está cheia de joias, da mesma forma Seu corpo transcendental estava completamente decorado com joias preciosas. Assim como uma montanha às vezes está submersa na água do oceano, da mesma forma ο Senhor às vezes está submerso na água da devastação.
VERSO 31: Ο senhor Brahmā, contemplando assim ο Senhor sob a forma de uma montanha, concluiu que Ele era Hari, a Personalidade de Deus. Ele viu que a guirlanda de flores em Seu peito glorificava-Ο com sabedoria védica em doces canções e era belíssima. Na luta, Ele era protegido pela roda Sudarśana, e nem mesmo ο Sol, a Lua, ο ar, ο fogo etc. podiam ter acesso a Ele.
VERSO 32: Quando ο senhor Brahmā, aquele que faz ο destino universal, viu então ο Senhor, ele simultaneamente lançou seu olhar sobre a criação. Ο senhor Brahmā viu ο lago no umbigo do Senhor Viṣṇu e a flor de lótus, bem como a água devastadora, ο ar secante e ο céu. Tudo se tornou visível para ele.
VERSO 33: Ο senhor Brahmā, sobrecarregando-se com ο modo da paixão, sentiu-se inclinado a criar, e, após ver as cinco causas da criação indicadas pela Personalidade de Deus, começou a oferecer suas orações respeitosas no caminho da mentalidade criadora.