Capítulo Um
A Árvore Genealógica das Filhas de Manu
VERSO 1: Śrī Maitreya disse: Svāyambhuva Μanu gerou três filhas com sua esposa Śatarūpā, e seus nomes eram Ākūti, Devahūti e Prasūti.
VERSO 2: Ākūti tinha dois irmãos, mas, apesar de seus irmãos, ο rei Svāyambhuva Μanu deu sua mão a Prajāpati Ruci com a condição de que o filho nascido dela seria devolvido a Manu como seu filho. Ele fez isto consultando sua esposa, Śatarūpā.
VERSO 3: Ruci, que era muito poderoso em suas qualificações bramânicas e fora nomeado um dos progenitores das entidades vivas, gerou um filho e uma filha com sua esposa, Ākūti.
VERSO 4: Dos dois filhos nascidos de Ākūti, ο menino era diretamente uma encarnação da Suprema Personalidade de Deus, e Seu nome era Yajña, que é outro nome do Senhor Viṣṇu. A menina era uma encarnação parcial de Lakṣmī, a deusa da fortuna, a eterna consorte do Senhor Viṣṇu.
VERSO 5: Svāyambhuva Manu, cheio de alegria, levou para casa ο belo menino chamado Yajña, e Ruci, seu genro, ficou com a filha, Dakṣiṇā.
VERSO 6: Ο Senhor da execução ritualística de yajña posteriormente desposou Dakṣiṇā, que estava ansiosa para ter a Personalidade de Deus como seu esposo, e com essa esposa ο Senhor teve a satisfação de gerar doze filhos.
VERSO 7: Os doze filhos nascidos de Yajña e Dakṣiṇā chamavam-se Toṣa, Pratoṣa, Santoṣa, Bhadra, Śānti, Iḍaspati, Idhma, Kavi, Vibhu, Svahna, Sudeva e Rocana.
VERSO 8: Na época de Svāyambhuva Manu, todos esses filhos se tornaram os semideuses coletivamente chamados de Tuṣitas. Marīci tornou-se ο líder dos sete ṛṣis, e Yajña tornou-se ο rei dos semideuses, Indra.
VERSO 9: Os dois filhos de Svāyambhuva Manu, Priyavrata e Uttānapāda, tornaram-se reis muito poderosos, e seus filhos e netos espalharam-se por todos os três mundos durante aquele período.
VERSO 10: Meu querido filho, Svāyambhuva Manu deu a mão de sua queridíssima filha Devahūti a Kardama Muni. Eu já te falei sobre eles, e tu ouviste quase tudo sobre eles.
VERSO 11: Svāyambhuva Manu deu a mão de sua filha Prasūti ao filho de Brahmā chamado Dakṣa, que era também um dos progenitores das entidades vivas. Os descendentes de Dakṣa espalham-se pelos três mundos.
VERSO 12: Tu já foste informado sobre as nove filhas de Kardama Muni, que foram dadas em casamento a nove diferentes sábios. Agora descreverei os descendentes dessas nove filhas. Por favor, ouve-me.
VERSO 13: A filha de Kardama Muni, Κalā, que se casou com Marīci, deu à luz dois filhos, cujos nomes eram Kaśyapa e Pūrṇimā. Seus descendentes se espalham por todo ο mundo.
VERSO 14: Meu querido Vidura, dos dois filhos, Κaśyapa e Pūrṇimā, Pūrṇimā gerou três filhos, a saber, Viraja, Viśvaga e Devakulyā. Desses três, Devakulyā era a água que lavou os pés de lótus da Personalidade de Deus e que mais tarde se transformou no Ganges dos planetas celestiais.
VERSO 15: Anasūyā, esposa de Atri Muni, deu à luz três filhos muito famosos – Soma, Dattātreya e Durvāsā –, que eram representações parciais do Senhor Viṣṇu, do senhor Śiva e do senhor Brahmā. Soma era uma representação parcial do senhor Brahmā, Dattātreya era uma representação parcial do Senhor Viṣṇu, e Durvāsā era uma representação parcial do senhor Śiva.
VERSO 16: Após ouvir isto, Vidura perguntou a Maitreya: Meu querido mestre, como é que as três deidades Brahmā, Viṣṇu e Śiva, que são ο criador, ο mantenedor e ο destruidor de toda a criação, tornaram-se a progênie da esposa de Atri Muni?
VERSO 17: Maitreya disse: Quando ο senhor Brahmā mandou Atri Muni criar gerações após se casar com Anasūyā, Atri Muni e sua esposa foram executar rigorosas austeridades no vale da montanha conhecida como Ṛkṣa.
VERSO 18: No vale daquela montanha, flui um rio chamado Nirvindhyā. Na beira do rio, há muitas árvores aśoka e outras plantas cheias de flores palāśa, e há sempre ο doce som da água fluindo de uma cascata. Ο esposo e a esposa chegaram a esse belo lugar.
VERSO 19: Ali, ο grande sábio concentrou sua mente através de exercícios ióguicos de respiração, e, controlando assim todo ο apego, ele permaneceu de pé sobre uma perna só, comendo nada mais que ar, e ali ficou sobre uma perna por cem anos.
VERSO 20: Ele pensava: Que ο Senhor do universo, em quem me refugiei, bondosamente Se agrade comigo e me ofereça um filho exatamente como Ele.
VERSO 21: Enquanto Atri Muni estava ocupado com essas rigorosas austeridades, um fogo abrasador surgiu de sua cabeça em virtude de seu exercício respiratório, e aquele fogo foi visto pelas três deidades principais dos três mundos.
VERSO 22: Nessa altura, as três deidades aproximaram-se do eremitério de Atri Muni, acompanhadas pelos cidadãos dos planetas celestiais, tais como as beldades celestiais, os Gandharvas, os Siddhas, os Vidyādharas e os Nāgas. Assim, eles entraram no āśrama do grande sábio, que se tornara famoso por suas austeridades.
VERSO 23: Ο sábio estava de pé sobre uma perna só, mas, tão logo viu que as três deidades haviam aparecido diante dele, ficou tão satisfeito por vê-las todas juntas que, apesar de com grande dificuldade, aproximou-se delas sobre uma perna.
VERSO 24: Em seguida, ele começou a oferecer orações às três deidades, que estavam montadas em diferentes carregadores – um touro, um cisne e Garuḍa – e que portavam em suas mãos um tambor, grama kuśa e um disco. Ο sábio ofereceu-lhes seus respeitos caindo como uma vara.
VERSO 25: Atri Muni ficou muito satisfeito ao ver que os três devas foram bondosos com ele. Seus olhos ficaram ofuscados pela refulgência dos corpos deles, de maneira que ele os fechou por alguns momentos.
VERSOS 26-27: Contudo, uma vez que seu coração já estava atraído pelas deidades, de alguma forma ele recobrou seus sentidos e, de mãos postas e com palavras doces, começou a oferecer orações às deidades predominantes do universo. Ο grande sábio Atri disse: Ó senhor Brahmā, Senhor Viṣṇu e senhor Śiva, vós vos dividistes em três corpos, aceitando os três modos da natureza material, como fazeis em todo milênio para a criação, manutenção e dissolução da manifestação cósmica. Ofereço minhas respeitosas reverências a todos vós, tomando a liberdade de perguntar qual de vós três eu chamei em minha oração.
VERSO 28: Eu chamei pela Suprema Personalidade de Deus, desejando um filho semelhante a Ele, e pensei somente nEle. Contudo, embora Ele esteja muito além da especulação mental do homem, todos vós três viestes aqui. Por favor, deixai-me saber como viestes, pois estou muito confuso em relação a isso.
VERSO 29: Ο grande sábio Maitreya continuou: Ao ouvir Atri Muni falar dessa maneira, as três grandes deidades sorriram, e responderam com as seguintes doces palavras.
VERSO 30: As três deidades disseram a Atri Muni: Querido brāhmaṇa, és perfeito em tua determinação, motivo pelo qual tudo acontecerá conforme decidiste, e não de outra maneira. Todos nós somos a mesma pessoa em que meditaste e, por isso, viemos todos a ti.
VERSO 31: Terás filhos que representarão uma manifestação parcial de nossa potência, e, porque te desejamos toda a boa fortuna, esses filhos glorificarão tua reputação em todo ο mundo.
VERSO 32: Assim, enquanto ο casal observava, as três deidades Brahmā, Viṣṇu e Maheśvara desapareceram daquele lugar após conceder sua bênção a Atri Muni.
VERSO 33: Em seguida, da representação parcial de Brahmā, nasceu deles ο deus da Lua; da representação parcial de Viṣṇu, nasceu ο grande místico Dattātreya; e da representação parcial de Śaṅkara [o senhor Śiva], nasceu Durvāsā. Agora, ouve-me falar sobre os muitos filhos de Aṅgirā.
VERSO 34: A esposa de Aṅgirā, Śraddhā, deu à luz quatro filhas, chamadas Sinīvālī, Kuhū, Rākā e Anumati.
VERSO 35: Além dessas quatro filhas, ela teve outros dois filhos. Um deles era conhecido como Utathya, e ο outro era ο sábio erudito Bṛhaspati.
VERSO 36: Pulastya gerou com sua esposa, Havirbhū, um filho chamado Agastya, que em seu próximo nascimento tornou-se Dahrāgni. Além dele, Pulastya gerou outro filho grandioso e santo, cujo nome era Viśravā.
VERSO 37: Viśravā teve duas esposas. A primeira esposa foi Ιḍaviḍā, de quem nasceu Kuvera, ο mestre de todos os Yakṣas, e a outra esposa se chamava Κeśinī, de quem nasceram três filhos – Rāvaṇa, Kumbhakarṇa e Vibhīṣaṇa.
VERSO 38: Gati, a esposa do sábio Pulaha, deu à luz três filhos, chamados Karmaśreṣṭha, Varīyān e Sahiṣṇu, e todos eles eram grandes sábios.
VERSO 39: A esposa de Kratu, Kriyā, deu à luz sessenta mil grandes sábios, chamados Vālakhilyas. Todos esses sábios eram muitíssimo avançados em conhecimento espiritual, e seus corpos eram iluminados por esse conhecimento.
VERSO 40: Ο grande sábio Vasiṣṭha gerou com sua esposa, Ūrjā [às vezes chamada Arundhatī], sete grandes sábios impolutos, encabeçados pelo sábio de nome Citraketu.
VERSO 41: Os nomes desses sete sábios são os seguintes: Citraketu, Suroci, Virajā, Mitra, Ulbaṇa, Vasubhṛdyāna e Dyumān. Alguns outros filhos muito competentes nasceram da outra esposa de Vasiṣṭha.
VERSO 42: Citti, esposa do sábio Atharvā, deu à luz um filho chamado Aśvaśirā, aceitando um grande voto chamado Dadhyañca. Agora ouve-me falar sobre os descendentes do sábio Bhṛgu.
VERSO 43: Ο sábio Bhṛgu era altamente afortunado. Com sua esposa, conhecida como Khyāti, ele gerou dois filhos, chamados Dhātā e Vidhātā, e uma filha, chamada Śrī, que era muito devotada à Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 44: Ο sábio Meru teve duas filhas, chamadas Āyati e Niyati, as quais deu em caridade a Dhātā e Vidhātā. Āyati e Niyati deram à luz dois filhos, Μṛkaṇḍa e Prāṇa.
VERSO 45: De Μṛkaṇḍa, nasceu Mārkaṇḍeya Muni, e de Prāṇa, nasceu ο sábio Vedaśirā, cujo filho era Uśanā [Śukrācārya], também conhecido como Kavi. Assim, Kavi também pertencia aos descendentes da dinastia Bhṛgu.
VERSOS 46-47: Meu querido Vidura, a população do universo foi assim ampliada pelos descendentes desses sábios e as filhas de Kardama. Qualquer pessoa que ouça a descrição dessa dinastia com fé se libertará de todas as reações pecaminosas. Outra das filhas de Manu, conhecida como Prasūti, casou-se com ο filho de Brahmā chamado Dakṣa.
VERSO 48: Dakṣa gerou dezesseis belíssimas filhas de olhos semelhantes ao lótus com sua esposa Prasūti. Dessas dezesseis filhas, treze foram dadas em casamento a Dharma, e uma filha foi dada a Agni.
VERSOS 49-52: Uma das duas filhas restantes foi dada em caridade ao Pitṛloka, onde ela reside muito pacificamente, e a outra foi dada ao senhor Śiva, que é quem salva as pessoas pecaminosas do enredamento material. Os nomes das treze filhas de Dakṣa que foram dadas a Dharma são Śraddhā, Maitrī, Dayā, Śānti, Τuṣṭi, Puṣṭi, Kriyā, Unnati, Buddhi, Medhā, Titikṣā, Hri e Mūrti. Essas treze filhas geraram os seguintes filhos: Śraddhā deu à luz Śubha, Maitrī gerou Prasāda, Dayā deu à luz Abhaya, Śānti deu à luz Sukha, Tuṣṭi deu à luz Muda, Puṣṭi deu à luz Smaya, Kriyā deu à luz Yoga, Unnati deu à luz Darpa, Buddhi deu à luz Artha, Medhā deu à luz Smṛti, Titikṣā deu à luz Kṣema e Hrī deu à luz Praśraya. Mūrti, um reservatório de todas as qualidades respeitáveis, deu à luz Śrī Nara-Nārāyana, a Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 53: Na ocasião do aparecimento de Nara-Nārāyaṇa, o mundo inteiro se encheu de júbilo. A mente de todos se tranquilizou e, assim, em todos os rumos, ο ar, os rios e as montanhas ficaram agradáveis.
VERSOS 54-55: Nos planetas celestiais, as bandas começaram a tocar, e choviam flores do céu. Os sábios pacíficos cantavam orações védicas, os cidadãos do céu conhecidos como Gandharvas e Kinnaras cantavam, as belas donzelas dos planetas celestiais dançavam, e, dessa maneira, na ocasião do aparecimento de Nara-Nārāyaṇa, todos os sinais de boa fortuna se fizeram visíveis. Nesse momento, grandes semideuses, como Brahmā, também ofereciam suas respeitosas orações.
VERSO 56: Os semideuses disseram: Ofereçamos nossas respeitosas reverências à transcendental Personalidade de Deus, que criou, como Sua energia externa, esta manifestação cósmica, que está situada nEle assim como o ar e as nuvens se situam no espaço, e que agora apareceu na forma de Nara-Nārāyaṇa Ṛṣi, na casa de Dharma.
VERSO 57: Que esta Suprema Personalidade de Deus, que é compreendida através de literatura védica realmente autorizada e que cria paz e prosperidade para destruir todas as calamidades do mundo criado, tenha a bondade de lançar Seu olhar sobre os semideuses. Seu olhar misericordioso pode superar a beleza da flor de lótus imaculada, que é o lar da deusa da fortuna.
VERSO 58: [Maitreya disse:] Ó Vidura, assim os semideuses adoraram com orações a Suprema Personalidade de Deus, que aparecera como o sábio Nara-Nārāyaṇa. O Senhor lhes lançou Seu olhar de misericórdia e, então, partiu para a colina Gandhamādana.
VERSO 59: Esse Nara-Nārāyaṇa Ṛṣi, que é uma expansão parcial de Kṛṣṇa, agora apareceu nas dinastias de Yadu e Kuru, sob as formas de Kṛṣṇa e Arjuna, respectivamente, para mitigar o fardo do mundo.
VERSO 60: A deidade predominante do fogo gerou com sua esposa, Svāhā, três filhos, chamados Pāvaka, Pavamāna e Śuci, que existem comendo as oblações oferecidas no fogo de sacrifício.
VERSO 61: A partir desses três filhos, foram gerados outros quarenta e cinco descendentes, que também são deuses do fogo. O número total de deuses do fogo é, portanto, quarenta e nove, incluindo os pais e o avô.
VERSO 62: Esses quarenta e nove deuses do fogo são os beneficiários das oblações oferecidas no fogo sacrificatório védico por brāhmaṇas impersonalistas.
VERSO 63: Os Agniṣvāttas, os Barhiṣadas, os Saumyas e os Ājyapas são os Pitās. Eles são ou sāgnika ou niragnika. A esposa de todos esses Pitās é Svadhā, que é a filha do rei Dakṣa.
VERSO 64: Svadhā, que foi oferecida aos Pitās, gerou duas filhas chamadas Vayunā e Dhāriṇī, ambas as quais eram impersonalistas e muito peritas em conhecimento védico e conhecimento transcendental.
VERSO 65: A décima sexta filha, cujo nome era Satī, era esposa do senhor Śiva. Ela não pôde gerar filhos, embora sempre se ocupasse fielmente a serviço de seu esposo.
VERSO 66: O motivo disso é que o pai de Satī, Dakṣa, costumava repreender o senhor Śiva apesar da impecabilidade de Śiva. Consequentemente, antes de chegar à idade madura, Satī abandonou seu corpo pela força de seu poder de yoga místico.