Capítulo Vinte e Sete
Compreendendo a Natureza Material
VERSO 1: A Personalidade de Deus Kapila continuou: Quando a entidade viva deixa de estar assim afetada pelos modos da natureza material, por ser imutável e não reivindicar propriedade, ela permanece à parte das reações dos modos, apesar de residir num corpo material, assim como o Sol permanece separado de seu reflexo na água.
VERSO 2: Quando a alma está sob o encanto da natureza material e do falso ego, identificando-se com seu corpo como o eu, ela se absorve em atividades materiais e, pela influência do falso ego, acha que é proprietária de tudo.
VERSO 3: A alma condicionada, portanto, transmigra por diferentes espécies de vida, superiores e inferiores, por causa de sua associação com os modos da natureza material. A não ser que seja aliviada de atividades materiais, ela é obrigada a aceitar essa posição devido a seu trabalho defeituoso.
VERSO 4: Na verdade, a entidade viva é transcendental à existência material, mas, por causa de sua mentalidade de domínio sobre a natureza material, sua condição existencial material não cessa, e, assim como num sonho, ela é afetada por desvantagens de toda espécie.
VERSO 5: É dever de toda alma condicionada ocupar sua consciência poluída, que está agora apegada ao gozo material, em seríssimo serviço devocional, com desapego. Assim, sua mente e sua consciência ficarão sob pleno controle.
VERSO 6: É preciso tornar-se fiel, praticando o processo controlador do sistema de yoga, e elevar-se à plataforma de serviço devocional impoluto, cantando e ouvindo sobre Mim.
VERSO 7: Ao executar serviço devocional, é preciso ter visão equânime de todas as entidades vivas, sem inimizade contra ninguém, mas também sem ligações íntimas com ninguém. É preciso observar o celibato, ser grave e executar as próprias atividades eternas, oferecendo os resultados à Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 8: Como sua renda, o devoto deve contentar-se com aquilo que ele ganha sem muita dificuldade. Ele não deve comer mais do que o necessário. Deve viver num lugar retirado e sempre ser meditativo, pacífico, amistoso, compassivo e autorrealizado.
VERSO 9: Todos devem aumentar seu poder de visão através de conhecer o espírito e a matéria, não devendo identificar-se desnecessariamente com o corpo para, deste modo, deixar-se atrair por relações corpóreas.
VERSO 10: Todos devem situar-se na posição transcendental, além das fases de consciência material, e devem colocar-se à parte de todas as demais concepções de vida. Compreendendo então sua ausência de falso ego, devem ver seu próprio eu, assim como veem o Sol no céu.
VERSO 11: Uma alma liberada percebe a Absoluta Personalidade de Deus, que é transcendental e que Se manifesta como um reflexo mesmo no falso ego. O apoio da causa material é Ele. Ele entra em tudo, é absoluto, único e inigualável, e constitui os olhos da energia ilusória.
VERSO 12: Pode-se perceber a presença do Senhor Supremo assim como se percebe o Sol primeiramente como um reflexo na água e, então, como um segundo reflexo na parede de um quarto, embora o Sol propriamente dito esteja situado no céu.
VERSO 13: A alma autorrealizada reflete-se assim primeiramente no ego tríplice e, depois, no corpo, nos sentidos e na mente.
VERSO 14: Embora o devoto pareça estar imerso nos cinco elementos materiais, nos objetos de gozo material, nos sentidos materiais e na mente e inteligência materiais, ele é tido como desperto e livre do falso ego.
VERSO 15: A entidade viva pode vividamente sentir sua existência na posição de observadora, mas, devido ao desaparecimento do ego durante o estado de sono profundo, ela falsamente julga-se perdida, como um homem que perdeu sua fortuna e sente-se aflito, julgando-se perdido.
VERSO 16: Quando, pela compreensão madura, alguém pode perceber sua individualidade, então a situação que aceitou sob o falso ego manifesta-se para ele.
VERSO 17: Śrī Devahūti perguntou: Meu querido brāhmaṇa, acaso a natureza material alguma vez deixa a alma espiritual partir? Uma vez que uma é atraída pela outra eternamente, como é possível a separação delas?
VERSO 18: Assim como a terra não tem existência separada de seu aroma, ou a água de seu sabor, a inteligência não pode ter nenhuma existência separada da consciência.
VERSO 19: Logo, muito embora seja a autora passiva de todas as atividades, como pode haver liberdade para a alma enquanto a natureza material a influência e a prende?
VERSO 20: Mesmo que se evite o grande medo do cativeiro com especulação mental e com indagações acerca dos princípios fundamentais, ele poderá ainda reaparecer, uma vez que sua causa não cessou.
VERSO 21: A Suprema Personalidade de Deus disse: Pode-se obter a liberação praticando seriamente o serviço devocional a Mim e, com isso, ouvindo por longo tempo sobre Mim ou de Mim. Quem executar assim seus deveres prescritos não sofrerá reações e se livrará da contaminação da matéria.
VERSO 22: É preciso executar este serviço devocional fortemente, com conhecimento perfeito e visão transcendental. É preciso ser fortemente renunciado, submeter-se a austeridades e praticar yoga místico a fim de fixar-se firmemente em autoabsorção.
VERSO 23: A influência da natureza material cobre a entidade viva e, assim, é como se a entidade viva estivesse sempre queimando num fogo abrasador. Porém, pelo processo de seriamente praticar serviço devocional, pode-se eliminar essa influência, assim como os gravetos de lenha que provocam uma fogueira também são consumidos por ela.
VERSO 24: Descobrindo o erro de seu desejo de assenhorear-se da natureza material e abandonando-o por este motivo, a entidade viva torna-se independente e situa-se em sua própria glória.
VERSO 25: No estado de sonho, em que a consciência está quase coberta, vê-se muitas coisas inauspiciosas; porém, essas coisas inauspiciosas não podem confundir quem está acordado e plenamente consciente.
VERSO 26: A influência da natureza material não pode prejudicar uma alma iluminada, mesmo que ela se ocupe em atividades materiais, porque ela sabe a verdade sobre o Absoluto, e sua mente está fixa na Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 27: Quando uma pessoa se ocupa deste modo em serviço devocional e em autorrealização por muitos e muitos anos e nascimentos, ela reluta por completo em desfrutar de qualquer um dos planetas materiais, mesmo que seja o planeta mais elevado, que é conhecido como Brahmaloka. Sua consciência desenvolve-se plenamente.
VERSOS 28-29: Meu devoto se torna realmente autorrealizado por Minha ilimitada misericórdia imotivada, e assim, estando livre de todas as dúvidas, ele progride estavelmente rumo à morada de seu destino, que está diretamente sob a proteção de Minha energia espiritual de inadulterada bem-aventurança. Eis a meta de perfeição final da entidade viva. Após abandonar o atual corpo material, o devoto místico vai àquela morada transcendental e não retorna jamais.
VERSO 30: Quando a atenção do yogī perfeito não é mais atraída pelos subprodutos de poderes místicos, que são manifestações da energia externa, seu progresso em direção a Mim torna-se ilimitado, e assim o poder da morte não pode dominá-lo.