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CAPÍTULO DOIS

Hiraṇyakaśipu, o Rei dos Demônios

Como se descreve neste capítulo, após a aniquilação de Hiraṇyākṣa, os filhos de Hiraṇyākṣa e seu irmão, Hiraṇyakaśipu, ficaram muito pesarosos. Hiraṇyakaśipu reagiu de modo muito pecaminoso, tentando diminuir as atividades religiosas das pessoas em geral. Entretanto, instruiu seus sobrinhos com uma história simplesmente para lhes aliviar o sofrimento.

Quando a Suprema Personalidade de Deus apareceu como um javali e matou o irmão de Hiraṇyakaśipu, Hiraṇyākṣa, Hiraṇyakaśipu ficou muito pesaroso. Irado, acusou a Suprema Personalidade de Deus de ter parcialidade por Seus devotos e zombou do fato de o Senhor ter aparecido como Varāha para matar seu irmão. Começou a agitar todos os demônios e Rākṣasas e a perturbar as cerimônias ritualísticas executadas pelos sábios pacíficos e por outros habitantes da Terra. Por falta de realização de yajña, sacrifícios, os semideuses, invisíveis, começaram a vagar pela Terra.

Concluídas as cerimônias ritualísticas fúnebres de seu irmão, Hiraṇyakaśipu passou a falar com seus sobrinhos e, citando os śāstras, ensinou-lhes sobre a verdade da vida. A fim de apaziguá-los, falou o seguinte: “Meus queridos sobrinhos, para os heróis, é glorioso morrer lutando contra o inimigo. De acordo com suas diferentes atividades fruitivas, as entidades vivas se unem dentro deste mundo material e, por imposição das leis da natureza, voltam a se separar. Entretanto, devemos sempre saber que a alma espiritual, que é diferente do corpo, é eterna, imutável, pura, onipenetrante e ciente de tudo. Quando atada pela energia material, a alma nasce em espécies de vida superior ou inferior, de acordo com a variedade de sua associação e, dessa maneira, recebe várias classes de corpos que lhe trazem sofrimento ou felicidade. A aflição de alguém, provocada pelas condições impostas pela existência material, é causa de felicidade ou infelicidade; não há outras causas, e ninguém deve ficar pesaroso ao ver as ações superficiais do karma.”

Hiraṇyakaśipu descreveu, então, um episódio histórico referente ao rei Suyajña, que residia na região chamada Uśīnara. Quando o rei foi morto, suas rainhas, dominadas pelo pesar, receberam instruções as quais Hiraṇyakaśipu repetiu para seus sobrinhos. Hiraṇyakaśipu contou a história de um pássaro kuliṅga, trespassado pela flecha de um caçador, enquanto o pássaro lamentava por sua esposa, que também fora golpeada pelo mesmo caçador. Narrando essas histórias, Hiraṇyakaśipu apaziguou seus sobrinhos e outros parentes e aliviou-lhes a lamentação. Assim apaziguadas, Diti e Ruṣābhānu, a mãe e a cunhada de Hiraṇyakaśipu, ocuparam suas mentes em compreensão espiritual.

VERSO 1: Śrī Nārada Muni disse: Meu querido rei Yudhiṣṭhira, quando o Senhor Viṣṇu, sob a forma de Varāha, o javali, matou Hiraṇyākṣa, Hiraṇyakaśipu, o irmão de Hiraṇyākṣa, ficou extremamente irado e começou a se lamentar.

VERSO 2: Cheio de raiva e mordendo seus lábios, Hiraṇyakaśipu contemplou o céu com olhos que ardiam em fúria, fazendo todo o céu encher-se de fumaça. Foi então que ele começou a falar.

VERSO 3: Exibindo seus dentes terríveis, seu olhar feroz e suas sobrancelhas franzidas, apavorantes de se ver, ele pegou de sua arma, um tridente, e passou, então, a falar com seus associados, os demônios reunidos.

VERSOS 4-5: Ó Dānavas e Daityas! Ó Dvimūrdha, Tryakṣa, Śambara e Śatabāhu! Ó Hayagrīva, Namuci, Pāka e Ilvala! Ó Vipracitti, Puloman, Śakuna e outros demônios! Todos vós, por favor, escutai atentamente e, então, não percais tempo e procedei de acordo com minhas palavras.

VERSO 6: Meus insignificantes inimigos, os semideuses, reuniram-se para matar meu querido e dócil benquerente, meu irmão Hiraṇyākṣa. Embora Viṣṇu, o Senhor Supremo, seja sempre igual tanto com eles quanto conosco – isto é, com os semideuses e com os demônios –, Ele, dessa vez, recebendo dos semideuses uma adoração irrepreensível, tomou o partido deles e os ajudou a matar Hiraṇyākṣa.

VERSOS 7-8: A Suprema Personalidade de Deus abandonou Sua tendência natural, em que Ele é equânime para com os demônios e semideuses. Embora Ele seja a Pessoa Suprema, agora, influenciado por māyā, Ele assumiu a forma de um javali para satisfazer Seus devotos, os semideuses, assim como uma criança inquieta que prefere a companhia de alguém específico. Portanto, com o meu tridente, separarei a cabeça do Senhor Viṣṇu de Seu tronco e, com o profuso sangue do Seu corpo, satisfarei meu irmão Hiraṇyākṣa, que tanto gostava de beber sangue. Somente assim eu também ficarei em paz.

VERSO 9: Quando a raiz de uma árvore é cortada e a árvore cai, seus ramos e brotos secam automaticamente. De igual modo, quando eu matar este diplomático Viṣṇu, os semideuses, para quem o Senhor Viṣṇu é a vida e alma, perderão a fonte de sua vida e definharão.

VERSO 10: Enquanto eu me dedicar à tarefa de matar o Senhor Viṣṇu, descei ao planeta Terra, que prospera devido à cultura bramânica e a um governo kṣatriya. Essa população se ocupa em austeridades, sacrifícios, estudos védicos, votos reguladores e caridade. Exterminai todos ocupados nesse tipo de atividades!

VERSO 11: O princípio básico da cultura bramânica é que o seguidor da mesma satisfaça o Senhor Viṣṇu, a personificação das cerimônias sacrificatórias e ritualísticas. O Senhor Viṣṇu em pessoa é o reservatório que abrange todos os princípios religiosos, e Ele é o refúgio de todos os semideuses, dos grandes pitas e das pessoas em geral. Morrendo os brāhmaṇas, não haverá ninguém para encorajar os kṣatriyas a realizarem yajñas, e assim os semideuses, não sendo aplacados pelo yajña, automaticamente morrerão.

VERSO 12: Imediatamente, ide a todos os lugares onde se confere proteção às vacas e aos brāhmaṇas e onde os Vedas sejam estudados em termos dos princípios do varṇāśrama. Ateai fogo a esses lugares e separai de suas raízes as árvores ali existentes, as quais são a fonte da vida.

VERSO 13: Assim, os demônios, sendo muito afeitos a atividades calamitosas, assimilaram com grande respeito as instruções de Hiraṇyakaśipu, a quem ofereceram suas reverências. De acordo com as orientações que ele lhes deu, ocuparam-se em atividades invejosas, prejudiciais a todos os seres vivos.

VERSO 14: Os demônios atearam fogo às cidades e vilas, aos campos de pastagem, aos estábulos, jardins, campos agrícolas e florestas naturais. Queimaram os eremitérios das pessoas santas, as importantes minas produtoras de metais valiosos, as casas dos agricultores, as povoações dos montanheses e as vilas dos protetores de vacas, os vaqueiros. Queimaram também as capitais dos governantes.

VERSO 15: Alguns demônios empunharam instrumentos de escavação e demoliram as pontes, os muros protetores e os portões [gopuras] das cidades. Outros se muniram de machados e começaram a cortar as importantes árvores que produziam mangas, jacas e outras fontes de alimento. E mais outros demônios pegaram tochas e incendiaram as residências dos cidadãos.

VERSO 16: Sendo assim perturbada, repetidas vezes, pelas ocorrências desnaturais causadas pelos seguidores de Hiraṇyakaśipu, toda a população teve que cessar suas atividades que eram apoiadas na cultura védica. Não recebendo os resultados do yajña, os semideuses também se perturbaram. Deixaram suas residências nos planetas celestiais e, invisíveis aos demônios, começaram a vagar pelo planeta Terra para observar os desastres.

VERSO 17: Após realizar as cerimônias fúnebres de seu irmão, Hiraṇyakaśipu, estando extremamente infeliz, tentou apaziguar seus sobrinhos.

VERSOS 18-19: Ó rei, Hiraṇyakaśipu estava extremamente irado, mas, como era um grande político, ele sabia como agir de acordo com o tempo e as circunstâncias. Com palavras doces, começou a apaziguar seus sobrinhos, cujos nomes eram Śakuni, Śambara, Dhṛṣṭi, Bhūtasantāpana, Vṛka, Kālanābha, Mahānābha, Hariśmaśru e Utkaca. Consolou também a mãe deles, sua cunhada Ruṣābhānu, bem como sua própria mãe, Diti. Falou a todos da seguinte maneira.

VERSO 20: Hiraṇyakaśipu disse: Minha querida mãe, cunhada e sobrinhos, não deveis lamentar a morte do grande herói, pois o herói que morre nas mãos de seu inimigo é glorioso e louvável.

VERSO 21: Minha querida mãe, em um restaurante ou em um lugar onde se bebe água fresca, muitos viajantes se reúnem e, após beberem água, continuam rumo aos seus respectivos destinos. Igualmente, as entidades vivas se unem em uma determinada família e, mais tarde, como resultado de suas próprias ações, são separadas rumo aos seus próprios destinos.

VERSO 22: A alma espiritual, a entidade viva, não morre, pois é eterna e inexaurível. Estando livre da contaminação material, pode ir a qualquer parte do mundo material ou espiritual. Ela é plena de conhecimento e é inteiramente diferente do corpo material, mas, como se deixa desencaminhar pelo abuso de sua pequena independência, é obrigada a aceitar corpos grosseiros e sutis criados pela energia material e, assim, sujeita-se às aparentes felicidade e infelicidade. Portanto, ninguém deve lamentar o fato de a alma espiritual abandonar o corpo.

VERSO 23: Devido aos movimentos da água, as árvores às margens de um rio, quando refletidas na água, parecem mover-se. Igualmente, quando os olhos se movem devido a algum distúrbio mental, a terra também parece mover-se.

VERSO 24: Da mesma maneira, ó minha mãe gentil, quando a mente é agitada pelos movimentos dos modos da natureza material, a entidade viva, embora livre de todas as diferentes fases dos corpos sutil e grosseiro, pensa que mudou de uma condição para outra.

VERSOS 25-26: Em seu estado de confusão, a entidade viva, aceitando o corpo e a mente como o eu, considera algumas pessoas como seus parentes e outras como estranhas. Devido a essa concepção errônea, ela sofre. Na verdade, o acúmulo dessas ideias materiais imaginárias é a causa do aparente sofrimento e felicidade dentro do mundo material. A alma condicionada que tem este nível de compreensão deve nascer em diferentes espécies e trabalhar em várias categorias de consciência, criando, assim, novos corpos. Essa continuidade de vidas materiais se chama saṁsāra. Nascimento, morte, lamentação, tolice e ansiedade se devem a esses conceitos materiais. Algumas vezes, chegamos a uma compreensão correta e, outras vezes, recaímos em uma errônea concepção de vida.

VERSO 27: Com relação a isso, apresenta-se um exemplo encontrado em uma história antiga. Ela se refere a um diálogo entre Yamarāja e os amigos de um morto. Por favor, escutai esta história com atenção.

VERSO 28: No Estado conhecido como Uśīnara, havia um famoso rei chamado Suyajña. O rei foi morto em uma batalha por seus inimigos, e seus compatriotas, então, sentaram-se em torno do cadáver e começaram a lamentar a morte de seu amigo.

VERSOS 29-31: Seu escudo de ouro, cravejado de joias, estava esmagado, seus adornos e guirlandas haviam caído, seu cabelo estava em desalinho e seus olhos não tinham brilho. O rei jazia morto no campo de batalha, com todo o seu corpo ensanguentado e seu coração trespassado pelas flechas do inimigo. Quando morreu, ele quis mostrar seu poder, e assim mordera seus lábios, e seus dentes permaneciam naquela posição. Seu belo rosto de lótus agora estava turvo e coberto de poeira no campo de batalha. Seus braços, com sua espada e outras armas, estavam cortados e quebrados. Ao verem seu esposo naquela posição, as rainhas do rei de Uśīnara passaram a se lamentar: “Ó senhor, agora que estás morto, também estamos mortas.” Repetindo essas palavras insistentemente, elas, esmurrando seus seios, caíram aos pés do rei morto.

VERSO 32: À medida que as rainhas choravam alto, suas lágrimas deslizavam pelos seus seios, avermelhando-se ao se misturarem com o pó de kuṅkuma, e caíam aos pés de lótus de seu esposo. Os cabelos das rainhas se desalinharam, seus ornamentos despencaram e, provocando a compaixão nos corações alheios, elas começaram a lamentar a morte de seu esposo.

VERSO 33: Ó senhor, a providência cruel acaba de te transferir a um estado que ultrapassa a nossa visão. Anteriormente, conferiste subsistência aos habitantes de Uśīnara, e, dessa maneira, eles foram felizes, mas a situação em que agora te encontras é a causa de sua infelicidade.

VERSO 34: Ó rei, ó herói, eras um esposo muito grato e o mais sincero amigo de todas nós. Como viveremos sem ti? Ó herói, para onde quer que estejas indo, por favor, mostra-nos o caminho até lá, para que possamos seguir teus passos e novamente nos ocupar a teu serviço. Permite que te acompanhemos!

VERSO 35: O momento era apropriado para que se cremasse o corpo, mas as rainhas, não permitindo que o levassem, continuaram a se lamentar pelo cadáver, mantendo-o em seus colos. Nesse ínterim, o Sol completou os movimentos que realiza antes de se pôr no Ocidente.

VERSO 36: Enquanto as rainhas lamentavam o corpo do rei morto, seu choro alto era ouvido até mesmo na morada de Yamarāja. Assumindo o corpo de um menino, Yamarāja se aproximou pessoalmente dos parentes do rei morto e lhes deu as seguintes instruções.

VERSO 37: Śrī Yamarāja disse: Oh! Isso é muito espantoso! Essas pessoas, que são mais velhas do que eu, têm plena experiência de que centenas e milhares de entidades vivas nasceram e morreram. Assim, elas devem entender que também estão destinadas a morrer, mas, ainda assim, confundem-se. A alma condicionada vem de um lugar desconhecido e, após a morte, retorna ao mesmo lugar desconhecido. Essa regra, conduzida pela natureza material, não possui exceção. Sabendo disso, por que se lamentam inutilmente?

VERSO 38: É surpreendente que estas respeitáveis senhoras saibam menos do que nós qual é o significado da vida. Na verdade, somos muito afortunados, pois, embora sejamos crianças e tenhamos sido deixados para lutar pela vida material, desprotegidos de pai e mãe, e, embora sejamos muito fracos, não fomos aniquilados ou devorados por animais ferozes. Assim, temos firme fé de que a Suprema Personalidade de Deus, que nos protegeu mesmo no ventre materno, irá nos proteger em toda parte.

VERSO 39: O menino se dirigiu às mulheres: Ó mulheres frágeis! Somente pela vontade da Suprema Personalidade de Deus, o qual jamais Se reduz, é que o mundo inteiro é criado, mantido e, novamente, aniquilado. Esse é o veredito do conhecimento védico. Esta criação material, consistindo em seres móveis e inertes, é exatamente como um brinquedo Seu. Sendo o Senhor Supremo, Ele tem plena competência tanto para destruir quanto para proteger.

VERSO 40: Algumas vezes, uma pessoa perde seu dinheiro em uma via pública, onde todos podem achá-lo, e, no entanto, seu dinheiro é protegido pelo destino e não é visto pelos outros. Assim, quem o perdeu o consegue de volta. Por outro lado, se o Senhor não outorga Sua proteção, mesmo o dinheiro mantido muito seguramente em casa acaba se perdendo. Se o Senhor Supremo concede proteção a alguém, muito embora não tenha protetor e esteja na selva, ele permanece vivo, ao passo que, algumas vezes, uma pessoa no lar, bem protegida por parentes e outros, morre e ninguém é capaz de protegê-la.

VERSO 41: De acordo com sua atividade, toda alma condicionada recebe uma classe diferente de corpo, e, acabada a ocupação, o corpo termina. Embora, em diferentes formas de vida, esteja situada em corpos materiais sutis e grosseiros, a alma espiritual não fica atada a eles, pois se sabe que ela sempre é inteiramente distinta do corpo manifesto.

VERSO 42: Um chefe de família, embora tenha uma identidade diferente de sua própria casa, pensa que sua casa é idêntica a ele; do mesmo modo, a alma condicionada, devido à ignorância, aceita o corpo como ela própria, embora o corpo realmente seja diferente da alma. Esse corpo é obtido através da combinação de porções de terra, água e fogo, e, quando a terra, a água e o fogo se transformam no decorrer do tempo, o corpo é aniquilado. A alma nada tem a ver com esta criação e dissolução do corpo.

VERSO 43: Assim como o fogo, embora situado na madeira, é percebido como diferente da madeira; assim como o ar, embora situado dentro da boca e das narinas, é percebido como estando separado, e assim como o céu, embora onipenetrante, nunca se mistura com nada, do mesmo modo, embora agora engaiolada dentro do corpo material, do qual é a fonte, a entidade viva é distinta dele.

VERSO 44: Yamarāja continuou: Ó lamentadores, sois todos tolos! A pessoa chamada Suyajña, por quem chorais, ainda jaz diante de vós e não foi a lugar algum. Então, qual é a causa de vossa lamentação? Antes, ele vos ouvia e vos respondia, mas agora, não o encontrando, vós vos lamentais. Esse comportamento é contraditório, pois, na verdade, nunca viste a pessoa dentro do corpo que vos ouvia e respondia. Não há motivo para vos lamentardes, pois o corpo que sempre vistes jaz aqui.

VERSO 45: No corpo, a substância mais importante é o ar vital, mas o ar vital também não é nem o ouvinte nem o orador. Superior inclusive ao ar vital, a alma também nada pode fazer, pois a Superalma é o verdadeiro diretor, e age em cooperação com a alma individual. A Superalma, que conduz as atividades do corpo, é diferente do corpo e da força vital.

VERSO 46: Os cinco elementos materiais, os dez sentidos e a mente todos se combinam para formar as várias partes do corpo grosseiro e do corpo sutil. A entidade viva entra em contato com os seus corpos materiais, quer superiores, quer inferiores, e mais tarde os abandona através de seus poderes pessoais. Pode perceber essa força quem analisa o poder pessoal que capacita a entidade viva para possuir diferentes espécies de corpos.

VERSO 47: Enquanto estiver coberta pelo corpo sutil, consistindo em mente, inteligência e falso ego, a alma espiritual ficará atada aos resultados de suas atividades fruitivas. Devido a essa cobertura, a alma espiritual estabelece um vínculo com a energia material e, nessas circunstâncias, deve submeter-se a condições e reveses materiais, continuamente, vida após vida.

VERSO 48: É improdutivo ver e comentar os modos da natureza material e sua resultante felicidade e infelicidade aparentes como se fossem reais. Quando a mente vagueia durante o dia e um homem começa a se julgar de suma importância, ou quando sonha à noite e vê uma bela mulher desfrutando com ele, tudo isso são meros sonhos falsos. Do mesmo modo, a felicidade e infelicidade causadas pelos sentidos materiais devem ser tidas como destituídas de valor.

VERSO 49: Aqueles que têm pleno conhecimento da autorrealização, que sabem muito bem que a alma espiritual é eterna ao passo que o corpo é perecível, não se enchem de lamentação. Mas as pessoas que carecem de conhecimento da autorrealização certamente se lamentam. Portanto, é difícil educar alguém que está na ilusão.

VERSO 50: Certa vez, havia um caçador que atraía os pássaros com alimentos e os capturava após abrir uma rede. Ele vivia como se a morte personificada o houvesse designado como um matador de pássaros.

VERSO 51: Enquanto vagava pela floresta, o caçador viu um casal de pássaros kuliṅga. Dos dois, a fêmea foi vitimada pela armadilha do caçador.

VERSO 52: Ó rainhas de Suyajña, o pássaro kuliṅga macho, vendo sua esposa posta em grande perigo no abraço apertado da Providência, ficou muito infeliz. Devido à afeição, o pobre pássaro, incapaz de libertá-la, começou a se lamentar por sua esposa.

VERSO 53: Oh! Quão cruel é a Providência! Minha esposa, sem ninguém para ajudá-la, está nessa situação muito difícil e chora por mim. O que a Providência ganhará levando esse pobre pássaro? Que proveito haverá nisso?

VERSO 54: Se a desagradável Providência arrebata a minha esposa, que é a metade do meu corpo, por que também não me leva? De que adianta eu viver só com a metade do meu corpo, sentindo-me tão abandonado por causa da perda de minha esposa? O que ganharei com isso?

VERSO 55: Os infelizes filhotes de pássaro, desprovidos de sua mãe, estão esperando que ela vá alimentá-los no ninho. Eles ainda são muito pequenos, e suas asas nem mesmo cresceram. Como serei capaz de mantê-los?

VERSO 56: Devido à perda de sua esposa, o pássaro kuliṅga se lamentava com lágrimas nos olhos. Enquanto isso, seguindo os ditames do tempo, o caçador, que estava cuidadosamente escondido a distância, disparou sua flecha, que trespassou o corpo do pássaro kuliṅga e o matou.

VERSO 57: Foi então que Yamarāja, disfarçado de um pequeno menino, disse a todas as rainhas: Sois todas tão tolas que vos lamentais, mas não vedes vossa própria morte. Afligidas por um pobre fundo de conhecimento, não sabeis que, embora leveis centenas de anos vos lamentando por vosso esposo morto, jamais conseguireis revivê-lo, e, enquanto isso, vossas vidas terminarão.

VERSO 58: Hiraṇyakaśipu disse: Enquanto Yamarāja, sob a forma de um menino, instruía todos os parentes que cercavam o cadáver de Suyajña, todos ficaram admirados com suas palavras filosóficas. Eles puderam entender que tudo o que é material é temporário e, portanto, a um determinado ponto, deixa de existir.

VERSO 59: Após instruir todos os parentes tolos de Suyajña, Yamarāja, sob a forma de um menino, desapareceu de sua visão. Então, os parentes do rei Suyajña executaram as cerimônias ritualísticas fúnebres.

VERSO 60: Portanto, nenhum de vós deve ficar aflito com a perda do corpo – sejam os vossos corpos, sejam os corpos alheios. Somente quem está na ignorância faz distinções corpóreas, pensando: “Quem sou eu? Quem são os outros? O que é meu? O que pertence aos outros?”

 VERSO 61: Śrī Nārada Muni continuou: Juntamente com sua nora, Ruṣābhānu, a esposa de Hiraṇyākṣa, Diti, a mãe de Hiraṇyakaśipu e Hiraṇyākṣa, ouviu as instruções de Hiraṇyakaśipu. Ela, então, deixou de lado seu pesar pela morte do filho e, dessa maneira, aplicou sua mente e atenção em compreender a verdadeira filosofia da vida.

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